Capitulo II E Ele se foi...

Mansão Kido, Japão.

Dia anterior – Noite

Hyoga estava na sala principal da mansão, deitado num dos sofás, a cabeça apoiada nos braços cruzados, olhava para o teto compenetrado em seus pensamentos, foi retirado de seu estado meditativo pela voz doce e alegre de Andrômeda chamando-lhe:

- Hyoga que você está fazendo aí sozinho?- Shun apareceu sorridente indo de encontro a Cisne e puxa um dos braços do cavaleiro – Vem, vamos fazer alguma coisa, não gosto de ti ver assim, vem...

Hyoga não respondeu de imediato, olhou por instantes a pequena figura a sua frente, havia um brilho em seus olhos que parecia despedir-se de Andrômeda.

- Que foi amor? Ei Terra chamando Hyoga, Terra chamando Hyoga!

- Oh me desculpe, estava viajando...

- É percebi T.T...Ultimamente você anda "viajando" muito, fica quieto pelos cantos, o que está acontecendo hein?

- Nada, já disse que não é nada.Diga-me você, o que você estava fazendo de bom? Esses dias, só vejo você com esse livro aí.

- Esquivando-se né, tudo bem, quando você quiser falar sobre o assunto você sabe que estou aqui sempre ao seu lado...Comprei esse livro dias atrás, é de uma poetisa bem conhecida Florbela Espanca.

- As poesias são engraçadas como o nome dela?

- Ah bobo n.n , grande parte das poesias dela são tristes isso sim, mas também tem umas lindas sobre o amor.

- Então deita aqui no meu colo e recita uma pra mim

- Claro! Ah essa aqui, 'Súplica':

'Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.

O meu colo é ninho imaculado
Duma brancura casta que entontece;
Tua linda cabeça loira e bela
Deita em meu colo, deita e adormece!

Os meus braços são brancos como o linho
Quando os cerro de leve, docemente...
Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te
Nessa cadeia assim eternamente! ...

Vem para mim, amor...Ai não despreze
A minha adoração de escrava louca!
Só te peço que deixes exalar
Meu último suspiro na tua boca!...'(Florbela Espanca)

- Lindo né? Hyoga! Você está aéreo de novo!

Hyoga olhava para o teto novamente, não ouvira o que Andrômeda acabara de dizer, em seus ouvidos ainda ecoavam cada palavra da poesia.Shun olhou preocupado para o amado, 'O que estaria acontecendo?O que está tomando tanto espaço nos pensamentos dele?', aproximou-se do rosto de Hyoga, acariciou os cabelos loiros e olhou-o nos olhos:

- 'Olha pra mim, amor, olha pra mim'...Diga-me o está acontecendo, porque você está assim? 'Vem pra mim, amor' deixe-me ajudar você

- Shun...'só te peço que deixes exalar meu último suspiro na tua boca...'

- Hyoga por que você está falando isso?Por que 'último suspiro'?

- Shhhhhh...Não fala mais nada Shun, não fala só me beija...

Apesar de toda preocupação que está afligindo Andrômeda, ele não resistiu ao pedido de Cisne e deixou-se envolver pelos beijos quentes, pelos braços fortes do amado que o conduziram até o quarto onde podiam ficar mais à vontade e entregarem-se ao desejo.

OooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooO

Andrômeda dormia confortavelmente nos braços de seu amado, depois de terem feito amor, logo, devido ao cansaço caiu em sono profundo. Cisne que até então permanecia de olhos fechados os abriu, quando percebeu que Shun dormia pesadamente e não acordaria, então com delicadeza tirou o corpo que estava sob o seu e depositou-o na cama macia. Levantou tentando fazer o mínimo de barulho, vestiu jeans e uma camiseta, pegou o livro que estava no criado mudo de Andrômeda e foi em direção ao seu antigo quarto, acendeu uma pequena luminária em cima da escrivaninha retirou da gaveta um caderno com rascunhos, permaneceu algum tempo olhando os rascunhos, mas sem lê-los, abriu o livro que tinha trazido consigo, sentou-se na escrivaninha e leu algumas páginas 'Realmente há muitos poemas tristes nesse livro', copiou nos rascunhos um poema que se identificou e começou a ler os rascunhos que tinha feito durante as ultimas semanas, suspirou e passou a limpo tudo que havia escrito .Logo que terminou, leu todo o conteúdo da carta que havia feito, colocou num envelope. 'Agora não há mais volta, está feito'. Voltou para o quarto com a carta nas mãos, entrou silenciosamente, pegou sua mochila que já estava arrumada embaixo da cama, e colocou o envelope sob seu travesseiro. Olhou para Andrômeda dormindo, beijou levemente os cabelos esverdeados e andou em direção a porta. Abriu-a lentamente para não acordar Shun, olhou-o uma última vez e sussurrou:

- Perdoe-me Shun...

E foi embora fechando a porta atrás de si

OooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooO

Sibéria.Rússia

O vento gélido cortava a pele branca, mas o cavaleiro já se acostumara com essa sensação, já se acostumara com a dor.Olhou para o imenso oceano a sua frente, coberto por uma grossa camada de gelo. 'Porque as coisas são assim? Porque tem que ser assim?' - uma doce voz parecia ecoar em sua mente.

Simplesmente porque são assim, mamãe...Não há nada que se possa fazer... Há certas coisas que nunca mudam e eu sou uma delas...

' Provavelmente neste mesmo instante ele já deve estar sabendo disso também...'

OooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooO

O sol já tinha acordado e inundava a cidade de luz e calor avisando a todos que o dia começara. Andrômeda abriu um grande bocejo e espreguiçou-se gostosamente entre os lençóis, sentiu a cama muito leve como se faltasse algo, alguém...

- Hyoga? – disse com a voz ainda sonolenta

Não obtendo respostas abriu os olhos e não encontrou Cisne ao seu lado na cama e suspirou:

- Ai Hyoga...não sei como você consegue levantar tão cedo todos os dias, ainda mais depois de ontem...Nossa tô cansado até agora...canseira boa hihi

Andrômeda senta-se na cama apoiando os braços nos joelhos examina o lado da cama pertencente ao amado e então nota em cima do travesseiro um envelope com seu nome e com uma caligrafia conhecida.

- Hmmmm...O que será que deve ser...n.n

Pega o envelope retirando uma carta e corre o olho curioso pelo conteúdo da carta:

"Shun

É madrugada, estou aqui no meu antigo quarto tentando começar uma carta, ou melhor, dizendo uma confissão, não encontro palavras certas para contar-te o furacão que está me devastando por dentro. Tento encontrar palavras cultas, mas do que adiantaria isso?Por mais rebuscadas que fossem as palavras ainda assim elas não seriam capazes de esconder a amargura que estou sentindo e muito menos impediriam a decisão que esta carta anuncia.

Estou no meio de uma estrada longa que agora se dividi em dois caminhos e chegou a hora de escolher, não posso mais brincar de esconde-esconde, não posso mais fingir que tudo está bem, porque não está. Nesse caminho eu sempre andei só, mesmo que houvesse pessoas ao meu redor eu sempre me senti só e agora é o momento de encarar e aceitar isso e seguir em frente, sozinho, porque eu não sou a pessoa certa pra você, você merece alguém que te faça feliz de verdade.

Durante muito tempo eu acreditei que eu tinha me livrado dessa dor, eu acreditei que pudesse amar de verdade e ser feliz e te fazer feliz, eu concedi essa chance para mim mesmo, mas eu falhei, sim eu falhei, porque no fundo eu sempre continuava o mesmo e um dia isso voltou à tona e eu caí em mim, eu nunca mudara e nunca mudaria, sempre serei solitário e nunca serei capaz de sentir o amor em sua essência.

Dói-me muito estar escrevendo essas palavras, durante muito tempo eu tentei fugir disso, tentei não ouvir o que minha consciência dizia e continuei sonhando nosso sonho bom, mas não posso mais fugir da realidade, este é o fato, eu não posso mais continuar sonhando, não tenho o direito de te enganar.Desculpe-me por destruir nosso sonho, essa angústia aqui dentro de mim, é muito maior que eu, a sensação que tenho é que isto está enraizado dentro de mim de tal maneira que não pode ser arrancado. É um sentimento que está em mim em todos os lugares, em todos os momentos, andando nas ruas, conversando com as pessoas eu ainda consigo sentir isso no fundo do meu peito latejando sempre, e uma dor profunda me esmagava por saber que eu sempre sentiria isso e nunca conseguiria ser feliz e amar alguém.

Há momentos que eu não sei onde estou é como se por segundos eu esquecesse tudo ao meu redor e fosse para outros lugares que não consigo me lembrar numa fração de segundos. Gostaria que isso acontecesse de outra forma, que esquecesse por segundos como eu sou, e que você pudesse me contar mentiras coloridas sobre mim e me mostrar de um jeito diferente...Seria muito bom, esquecer mesmo que por uma fração de segundos esses sentimentos tão ruins e frios, toda sensação de sempre querer estar sozinho. Meu coração está doendo tanto, um vazio no meio do peito que me dói tanto tanto tanto. Eu não quero ver ninguém sofrendo por isso...Eu não quero ver você sofrer, por isso estou indo embora.

Eu já não sinto o calor do sol, os pingos da chuva, nem a sua presença também, eu só sinto o frio que vem do meu coração. Estamos perto um do outro, mas eu estou tão longe de ti , é tão impossível de dizer, eu não consigo, gostaria de ter dito coragem de ter conseguido expressar verbalmente o conteúdo dessa carta, mas não consegui, a fala sempre me fugia e encontrei no papel a melhor forma de expressar o que estou sentindo e explicar-lhe a decisão que tomei.

Enquanto tentava escrever essa carta, peguei aquele seu livro de poesia, na esperança de achar algo que traduzisse ou ao menos ilustrasse o que há aqui dentro de mim...

"Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz de outrora miragem fugidia...

Tão risonho
Aquele dia foi, aquela tarde!
E morreu como morre todo o sonho
Deixando atrás de si só a saudade"

"Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar".

(Florbela Espanca).

Não sei se esses poemas ajudarão você a compreender o que estou sentindo, mas é isso.Sei que você saberá onde estou, mas lhe peço que não venha me procurar isso só tornaria as coisas mais difíceis e eu não mudarei minha decisão. Siga sua vida, não olhe para trás e seja feliz.

Alexei Hyoga Yukida'

Andrômeda segurava a carta, estático, sua mente rodava não conseguia por o raciocínio em ordem.

'Deve ser um pesadelo...só pode ser um pesadelo...Tudo estava tão bem...só pode ser um pesadelo...' Lagrimas escorriam do seu rosto, mas sua expressão estava em estado de choque e assim permaneceu.

Na sala da mansão, Seiya jogava videogame e Shiryu lia um livro.

- Seiya será que está acontecendo algo de errado com Shun e Hyoga?

P- or que Shi? Só porque eles ainda não acordaram? Sabe como é né, eles devem estar...Ah você entendeu né? Nem quero imaginar haha

- Ah Seiya não seja bobo...Já é quase 1 hora da tarde, eles não iam estar na cama até essa hora...e alias eu não sinto o cosmo do Hyoga próximo, parece estar distante daqui...acho que eu vou lá no quarto ver se está tudo bem.

- É verdade eu também não tô sentindo o cosmo do Hyoga. Ah, mas eu não vou lá no quarto deles não, não mesmo, eu não quero pegar ninguém no flagra...Vai você.

- Porque só eu me preocupo hein ¬¬

Shiryu sobe as escadas da mansão, e vai em direção ao quarto dos namorados e bate na porta:

- Shun...Hyoga...Vo-vocês estão aí?

- Tô aqui. Entra – uma voz chorosa responde

Shiryu abre a porta e encontra Shun embaixo dos edredons, os olhos vermelhos e tristes, um semblante que nada lembrava aquele garoto meigo e alegre que era seu amigo, Shiryu senta na beira da cama e pergunta assustado:

- Ei Shun que cara de velório é essa?O que aconteceu? E Hyoga onde está?

- Ele foi embora.

- Embora?Pra onde?Por quê?Vocês brigaram né?

- Acabou tudo – a voz de Andrômeda era apenas um sussurro triste.

- Acabou? Mas como? Vocês pareciam estar super bem...Você sabe que eu não entendo muito esse tipo de relacionamento, mas o que eu sei é que vocês são meus amigos, que eu gosto muito de vocês porque vocês são pessoas muito especiais e que vocês transmitiam muita felicidade quando estavam juntos.

Shun solta um pequeno sorriso, mas logo em seguida suas feições ficam tristonhas.

- É parecia...Mas ele acabou tudo...

- Por quê?

Shun olha nos olhos do amigo e se auto questiona 'por quê?'', ele também não sabia responder porque e entrega a carta que Hyoga lhe deixou para que Shiryu lê-se e talvez compreende-se o que ele não tinha conseguido. Shiryu lê a carta atentamente e conclui:

- Shun eu imagino como você deve estar se sentindo, você estava feliz e tudo parecia bem entre vocês, mas os caminhos do amor são misteriosos e nós nunca podemos ter plenamente certeza de nada...Para você foi mais fácil aceitar isso, aposto que você nunca pensou ou se questionou sobre o amor, porque pra você o amor é natural, você o sente e pronto, mas para algumas pessoas o amor não parece assim tão fácil e muitas vezes eles têm que passar por caminhos tortuosos para compreender o real valor do amor e Hyoga com certeza deve ser uma dessas pessoas, ao invés de apenas sentir o amor, ele ficava pensando, provavelmente ele não acredita que possa ser feliz, que uma coisa tão boa como o amor esteja acontecendo com ele, assim como ele disse na carta. O amor é incerto e por isso devemos ter segurança em nós mesmos e na pessoa que nos ama, isso basta para nos dar força para seguir e lutar, pelo jeito ele não tinha essa auto-confiança.

- Muito bonitas suas palavras meu amigo, mas isso não muda o que aconteceu e está acontecendo – nesse instante Shun não suporta mais segurar o choro e lágrimas brotam sucessivamente molhando o delicado rosto.

- Mas chorar também não vai mudar nada, nesse instante você tem que pensar o que você vai fazer, qual decisão vai tomar, se você vai atrás dele lutar pelo seu amor ou se você vai deixar isso para trás e seguir em frente.

- Falando parece fácil, mas não é, eu estou em estilhaços por dentro, a única coisa que quero fazer agora é chorar, por favor, me deixe sozinho...

- Mas Shun você não pode ficar aqui para sempre...

- Por enquanto eu posso, me deixe sozinho, por favor.

Shiryu decide fazer a vontade do amigo visto que ele não mudaria de decisão e sai do quarto deixando Andrômeda chorando baixinho embaixo dos edredons. Vendo Shiryu descer, Seiya vai ao seu encontro no saguão da mansão.

- Nossa você demorou, até pensei que tava rolando uma suruba lá em cima hahahaha!

- '¬¬ Seiya não ria, a situação não é pra brincadeira...

- Putz desculpe Shi, mas o que está acontecendo afinal?

- O Hyoga deixou uma carta pro Shun terminando tudo com ele e foi embora.

- Hmmmm entendi...briguinha de namorados ih daqui a pouco eles voltam e tudo vai ficar bem.

- Não Seiya dessa vez é sério...Hyoga deixou bem claro na carta que não tem volta, eu nunca vi o Shun tão triste desde que nos conhecemos ele é sempre tão alegre e agora ele está lá na cama chorando sem parar.

- Temos que fazer algo então!

- Acho que por enquanto não podemos fazer nada, eles têm que resolver, por enquanto não podemos nos meter...Só se as coisas ficarem piores...

- É o jeito mesmo...Ai tô começando a sentir saudades de Poseidon Hades, nossas batalhas eram menos complicadas que isso.

- Dessa vez você tem razão Seiya.

O dia passou, o sol foi embora dando lugar à lua, Andrômeda permanecia do mesmo modo em que acordou, ainda de pijamas, sob o edredom chorava. Chorou o dia inteiro, o rosto estava inchado, os olhos cansados. Decidiu –se levantar, enrolando o edredom em si e foi até a varanda do quarto olhou para o céu. A noite estava muito bonita, o céu limpo e estrelado, mas Andrômeda que sempre admirava a beleza da natureza, naquela instante parecia não se importar com isso, não reparava, olhou diretamente para uma constelação especifica, a constelação Cruz do Norte, que brilhava no céu. Permaneceu alguns instantes olhando-a, enxugou a última lágrima que teimava em cair.

- Não vou me dar por vencido, não vou ficar aqui me lamentando, chorando, eu vou atrás de você Hyoga, mesmo você tendo me falado que não era para ir, mas eu não vou aceitar facilmente isso, preciso tentar trazer você de volta pra mim...Eu não posso acreditar naquela carta, eu preciso ouvir todas aquelas coisas da sua boca para que eu possa acreditar...

Voltou para dentro do quarto e dormiu.