DDT.2: DESVENDANDO O PASSADO
Capítulo 2
AUTORAS: Lady K & TowandaBR
DISCLAIMER: Todos os personagens da série Sir Arthur Conan Doyle's The lost world não são nossos (infelizmente), então não venham nos encher o saco.
COMMENTS:
Claudia Roxton: Que bom ter você de volta! Esperamos q consiga acompanhar nossa fic. Prometemos altas revelações e maldades hahaha Um super abraço!
Cris: Essa fic vai ter de td! É q estamos recebendo influências maléficas do clã da maldade hahaha Até agora tenho conseguido apagar as cenas N&V, vamos ver até quando rs...
Maga: Você por aqui? Milagreeeeeee rs... Este capítulo é mais um histórico da Marg, mas recheado de maldades hihihi
Sinistro: Que bom ganhar um novo leitor! E sim, essa fic vai ser mto sangrenta e cheia de porrada, principalmente nos próximos capítulos ;-)
Fabi K Roxton: Se vc já estava com raiva da Hellen, imagina agora qdo vc vai conhecer o resto da família (é, parente a gente não escolhe né hahaha).
Jess: Como os produtores vieram com aquela balela de q o Rox casou com a "substituta" da Marg, eu resolvi melhorar isso. Se for analisar, se a Marg num tivesse sido raptada, provavelmente Rox e ela teriam se conhecido e... Sobre o sonho, a bocó da Marg só vai entender quase no final da fic (nem p/ comprar aqueles livrinhos de interpretação de sonhos hahaha). Um abraço especial, e vc sabe porque.
Rafinha: Essa foi apenas uma prévia para as próximas emoções e surpresas! Vai pegando a pipoca e o refri q vai esquentar ;-)
Máline: Sabemos mto bem q por vc deveríamos publicar todos os capítulos de uma vez hahaha mas e a emoção da espera? Fora os reviews né lol Mas quem ri mesmo diante do pc somos nós, qdo lemos suas super reviews e os seus comentários hilários hahaha como vc consegue dormir com tanta maldade? Lol
Elis: Nova leitora! Obrigada por nos acompanhar nesta nova fic, cheia de surpresas ;-)
Capítulo 2
"Malditas!" ecoou uma assustadora voz masculina, atrás de Marguerite. Virou-se rapidamente para trás, somente a tempo de ver Mordren enfiar-lhe uma espada no ventre.
Acordou assustada, suando frio. Roxton já havia percebido que estava agitada e lhe perguntou, na penumbra: "Sonho ruim?"
"É"... respondeu tentando parecer natural.
Aos poucos foi se acalmando - "Não foi nada..."
"Quer me contar?"
"Talvez amanhã." – ela bocejou, virando para o lado – "Estou morrendo de sono." – mentiu.
Sentia um temor que não sabia explicar a origem. Todas as vezes em que sonhava com os druidas ou qualquer coisa relacionada a Morrighan, inevitavelmente acabava pensando em sua família. Parecia-lhe muito irônico que soubesse quem havia sido em uma vida passada e, entretanto, não soubesse quem era hoje.
Tantas e tantas vezes havia imaginado um encontro com sua verdadeira família. Os anos passavam e, apesar de não admitir, continuava com o mesmo desejo.
Agora o que lhe preocupava era o sonho. Pressentia que era um aviso, mas aviso sobre o que, ou sobre quem? Se ao menos tivesse visto o objeto que havia na caixa durante o sonho... Ficou pensando nisso até que o sono a levou para muito distante.
Roxton a abraçou e logo pôde ouvir sua respiração tranqüila.
Muito distante do platô, da América do Sul, do outro lado do oceano, alguém também sonhava conhecer sua criança, que há muito fora raptada...
Anos antes, logo após a partida de Abigail e Thomas, Anne Mayfair sentira um grande alívio ao ver-se livre da responsabilidade de proteger o oroborus. Ao mesmo tempo, se lembrava com clareza do dia em que sua mãe a chamou para uma conversa...
Aos 14 anos Anne acabara de ter sua primeira menstruação, que de acordo a cultura e religião de sua família, é um momento mágico. Apesar de ter sido uma grande surpresa para a mocinha, também é verdade que já sabia o que a esperava. Tornar-se mulher representava uma grande responsabilidade: ser instruída a respeito da herança dos Mayfair.
Deslizando por entre o passado, pôde ouvir a voz de sua mãe naquele dia...
"Bem, por onde começar?" – questionava-se Suzanne Mayfair, sua mãe, diante dos olhos curiosos de sua pequena Anne.
"Ah, sim, os Deuses... os Deuses sempre são o começo de tudo. Poderíamos começar, então, da seguinte maneira: 'No princípio, havia Danna...' ou para simplificar, a Deusa".
"A Deusa, é a nossa mãe universal, a Terra. A principal divindade dos celtas era o princípio feminino da criação e isso acarretava conseqüências interessantes na vida cotidiana. Como é o caso da precedência da linhagem materna sobre a paterna. Na sociedade celta, era mais importante você saber quem era sua mãe do que saber quem 'poderia' ser seu pai, uma vez que naquela época o casamento não significava monogamia. Esse fato explica o motivo de nós, os Mayfair, mantermos o legado nas mãos de uma mulher, sempre."
"A Deusa era a entidade suprema, doadora da vida e distribuidora da morte, mãe caridosa e ceifadora implacável. Difícil imaginar uma Deusa tão boa e tão terrível? Os celtas sempre compreenderam que tudo segue um ciclo e que a harmonia e a beleza deste ciclo se justificava justamente porque ele tinha um começo, um meio e um fim".
"O símbolo que bem pode representar tudo isso é chamado oroborus".
"Uma cobra que engole o próprio rabo?" a interrompeu Anne.
"Sim! Esse símbolo tem o objetivo espiritual de alcançar a vida eterna. Essa serpente é um símbolo do Tempo, do qual só a Sabedoria emerge. Como um todo, o emblema pode ser interpretado como se significasse 'No fim, é meu início' ou 'O fim é encontrado no início'. Essas duas frases estão falando sobre a crença pagã na reencarnação".
"Diz a lenda que a Deusa entregou um presente aos sacerdotes que a adoravam: o oroborus, um medalhão que conferia grandes poderes a seu proprietário".
"Entretanto, com o passar do tempo, o amuleto passou a ser cobiçado por muitos homens. Foi quando Morrighan, a mais alta sacerdotisa de seu povo e nossa ancestral, devidamente aconselhada pelos anciões, decidiu que seria mais seguro partir o amuleto ao meio e entregá-lo a linhagens diferentes, com o juramento de jamais permitir que caísse em mãos erradas, pois isso seria fatal".
"Uma metade ficou com Morrighan e foi passada para seus descendentes, os Mayfair. A outra parte foi entregue a uma outra linhagem, a qual ninguém nunca soube dizer seu paradeiro durante séculos".
"Mamãe, se era uma força tão terrível, por que Morrighan não destruiu o oroborus? Indestrutível não imagino que seja, ou não o teriam partido em dois..." Anne, como sempre, possuía uma lógica infalível.
"Fiz a mesma pergunta à minha mãe quando fui instruída. Assim como Morrighan, todas nós, sucessoras, temos medo de desagradar a Deusa se destruirmos o oroborus. Acredito que foi um grande erro de Morrighan. Ela teve, sim, essa opção, mas sua escolha não foi essa e não é a nossa."
"Então, algo saiu errado: uma dinastia muito antiga de samurais, os Xang, que se dedicavam aos poderes das trevas, conseguiu roubá-la. A partir daí, seu objetivo principal passou a ser recuperar a metade faltante e, finalmente, unir as duas partes. Ah, o poder sempre fascinou os homens... e geralmente é a causa de sua destruição..."
Suzanne Mayfair, depois, mostrou à filha um compartimento secreto, em seu quarto, onde guardava alguns objetos.
"Preste bem atenção: este livro contém a nossa árvore genealógica desde o início, com Morrighan. Quando eu me for, você continuará a preenchê-lo com o nome dos novos descendentes. Nele existem feitiços e práticas espirituais."
"Mãe, nós somos algum tipo de bruxa?" a jovem se via confusa em meio a tantas novidades.
"Talvez a sociedade nos julgasse assim se soubessem a respeito disso..." sorriu. "A portadora do legado possui alguns poderes e as práticas deste livro a ajudam a desenvolvê-los. Podemos compreender e falar praticamente qualquer língua; ter sonhos premonitórios; invocar espíritos e falar com eles; saber a história de um objeto ao tocá-lo... e muitos outros dons. Com o passar do tempo, eu a ensinarei a usá-los."
Suzanne tirou do cofre uma pequena caixa de veludo. "E eis o que você precisa proteger. Como lhe disse, é só a metade do oroborus. E jamais deve deixar que se una à outra parte ou que caia em mãos erradas. Está entendendo?"
"Estou, mas fico triste quando a senhora fala assim. Parece que vai me deixar..."
"Oh, Anne! Todos nós nascemos para morrer. Não sabemos quanto tempo eu ainda viverei neste corpo físico e é meu dever instruí-la. A partir de hoje, passamos a compartilhar o legado, até o dia em que eu me vá."
Desde esse dia o abismo que havia entre Anne e sua irmã mais velha, Charlote, aumentou ainda mais. Charlote não se conformava de que a caçula da família fosse a herdeira e não ela, a primogênita. Quando ainda era uma criança e começou a entender o que significava a marca de nascença, passou a hostilizar e tentar provar que era superior a Anne.
Suzanne ressentia-se muito pela atitude de Charlote. Entretanto, nada que dissesse ou fizesse a dissuadia de acreditar que era a única merecedora do legado. Tratava as duas com todos os luxos e mimos possíveis, talvez até aparentando ter certa preferência por Charlote, porém era tudo inútil. Os anos se passaram e as duas irmãs se tornaram tão diferentes quanto água e vinho.
Charlote transformou-se em uma belíssima mulher de longos cabelos lisos e escuros e olhos azuis como o céu. Sabia tocar piano, falar francês, dançar, bordar e adorava freqüentar eventos da alta sociedade, compatíveis com sua posição social. Sua beleza era ofuscada apenas por sua arrogância.
Não havia como não notar que Anne era menos bonita que Charlote, mas conseguia superar a irmã em diversos aspectos. Os cabelos castanhos, levemente encaracolados, emolduravam o rosto de pele alva, lábios carnudos e olhos cor de mel. Nutria grande desejo em freqüentar a universidade. Entretanto, sua família não aprovara a idéia; não que em sua época esse luxo não fosse permitido às damas, apenas não era muito adequado. E como as Mayfair portadoras do legado já enfrentavam muitos problemas para que mantivessem o sobrenome após o casamento, Anne teve que se conformar em não realizar esse sonho.
Claro que isso foi em termos: sua mãe, Suzanne, não economizava um centavo que fosse com a educação de suas filhas. Dessa forma, desde cedo, pôde estudar com os melhores professores particulares tudo o que desejasse. Assim foi como Anne se tornou uma entendida em diversos tipos de conhecimento sem nunca haver sentado em uma cadeira universitária.
Anne nutria grande amor pelo avô materno cujas paixões pela arqueologia, o Egito Antigo, livros, antiguidades, museus e leilões eram compartilhadas com ela. Quando Alexandre Mayfair ficou viúvo, a neta tornou-se companhia ainda mais constante.
Numa agradável tarde de verão, o avô saiu de carro com o motorista para buscar a neta. Um grande amigo seu acabara de chegar do Egito, trazendo peças de inestimável valor e, como o Museu Britânico não aceitou o preço que pediu, preferiu leva-las a leilão.
Anne sabia que entre as peças havia um livro raríssimo, provavelmente contendo orações e encantamentos. Não pôde estar tranqüila desde então! E o avô, que não poupava esforços para mimar a jovem, disse que ela poderia fazer o lance que quisesse; pagaria o quanto fosse, pois seria um presente.
Para ela, não havia dúvidas de que, naquela tarde, faria uma grande aquisição.
Anne chegou ao clube onde seria o leilão acompanhada pelo avô, que sentia grande orgulho ao caminhar de braço dado com a jovem que tanta admiração causava. Sua elegância e beleza natural eram realçadas pela roupa elegante cuidadosamente escolhida.
O leilão já iria se iniciar e como o avô continuava a conversar com alguns amigos, Anne pediu-lhe licença, tomou assento no fundo do salão e aguardou até que o tão esperado artefato que cobiçava fosse anunciado pelo leiloeiro.
"Temos agora um valiosíssimo livro egípcio. Segundo os egiptólogos, trata-se de um manual para encaminhar o espírito errante rumo à reencarnação. Podem verificar em seus folhetos o valor inicial da peça."
E os lances começaram. Anne se manteve calada, não lhe interessava disputar com ninguém. Quando fosse dado o último lance, aí sim o cobriria.
Um jovem cavalheiro iniciou os lances, provocando grande burburinho. Era um valor altíssimo para a peça, muito mais do que a quantia mínima estabelecida. Nenhum dos presentes se atreveria a pagar tanto, pelo menos assim pensavam os presentes.
"Quem dá mais?... dou-lhe uma... dou-lhe duas."
Anne ergueu discretamente a mão.
"Temos novo lance, senhoras e senhores."
O mesmo jovem replicou com um gesto o lance da jovem, que fez o mesmo. Agora era uma questão pessoal entre os dois.
O jovem, possesso, ia dar mais um lance quando uma mão tocou-o no braço. "Leon, aconselho-o a desistir desta aquisição." Sem dar atenção ao tio, continuou oferecendo novo lance. O preço da peça há muito deixara de ser razoável.
Mais uma vez, Anne não se intimidou e ofereceu ainda mais.
"Quem essa mulher pensa que é?" resmungou.
"Eu avisei." – disse o tio – "Há horas em que um cavalheiro precisa saber quando se retirar, para não ser inoportuno. Esta mocinha é neta de um grande amigo meu e ela pagará o que for."
"Dou-lhe uma... dou-lhe duas... dou-lhe três... Vendido para a senhorita!"
Tendo conseguido o que queria, foi compartilhar com o avô sua alegria. Seus amigos se retiraram para poder observar o que ainda seria leiloado e um homem muito simpático, rechonchudo com muitos fios grisalhos na barba e cabelos escuros, seguido de um rapaz, se aproximou.
"Fez uma ótima aquisição, Mayfair!"
"Summerlee, meu bom amigo!" sorriu e abraçou o homem. "Tudo para minha princesa!" apontou para a neta.
"Como vai, senhorita? É um prazer encontra-la. Na última vez em que nos vimos, era uma garotinha e agora já é mais alta que seu avô! Mas deixe-me apresenta-los a meu sobrinho, Leon Summerlee."
Naquele instante, toda a frustração que Leon sentira ao perder no leilão havia passado. Boêmio, acostumado a desfrutar todos os prazeres oferecidos por belas mulheres, viu-se invadido por uma onda de emoções e sentimentos que nunca havia imaginado existirem. Ficou tão impressionado com a jovem que imediatamente esqueceu de duas coisas: a primeira que há pouco haviam estado em uma disputa e a segunda que havia rompido o noivado com Elizabeth Usher na semana anterior.
Enquanto os amigos conversavam, os jovens puderam trocar algumas palavras.
"É, fez uma ótima aquisição, senhorita. Mas, com todo o respeito, o que pretende fazer com um artefato desta magnitude?"
"Deveria reformular sua pergunta, senhor Summerlee. O que realmente quer dizer é: 'o que uma mulher quer com um livro egípcio que nem poderá ler?'"
Não pôde deixar de se sentir desnorteado com o comentário tão preciso. "Não quis ofendê-la, mas já que tocou no assunto..."
"Compartilho com meu avô o amor pelo Egito Antigo e seus mistérios. Cresci com histórias e lendas desse país, contadas por meus avós... depois, tive a oportunidade de viajar e estudar tudo que me foi possível a respeito."
"A senhorita teve uma educação bastante refinada, pelo que vejo."
"Aproveitei as oportunidades que me foram oferecidas."
"Por acaso tem algum parentesco com Charlote Mayfair?"
"Oh, claro, é minha irmã" sorriu virando os olhos.
"Imaginei, pelo sobrenome. A conheço de algumas festas, mas não me lembro de tê-la visto nesses eventos, ou estou me tornando um cego."
"Não, o senhor não está cego! Digamos que minha irmã e eu freqüentamos lugares diferentes por questão de afinidades."
"Entendo... A senhorita pretende ir à reunião dos Montclaire?"
Antes que pudesse responder, o avô a puxou suavemente pelo braço. "Com licença, mas Anne e eu precisamos ir! Foi um grande gosto encontra-lo, Summerlee! Você e a seu sobrinho! Dê lembranças a sua esposa!"
No caminho de volta, Anne ia pensando no homem que acabara de conhecer. Geralmente, lhe aborreciam os eventos sociais em que ia junto a Charlote e a família. Sua irmã adorava ser o centro de todas as atenções, especialmente dos jovens ricos. Entretanto, estes preferiam conversar com Anne, que era de agradável conversa, pois sempre tinha um comentário ou observação interessante a fazer. Logo, Charlote se irritava e passava vários dias dizendo a Anne que era uma oferecida. Então, sempre que possível, preferia ir a lugares onde a irmã não estivesse.
Leon Summerlee rapidamente passaria a habitar o imaginário da jovem Anne.
Ao que Leon se referiu como "reunião dos Montclaire" era, na verdade, uma grande festa para a alta sociedade, seguida de bebidas elegantes e pratos sofisticados.
Ao chegarem à festa, os Mayfair foram conduzidos a sua mesa. Estavam presentes Suzanne e o marido, o avô, Charlote e Anne. Em seguida, Elizabeth Usher foi sentar-se junto à amiga Charlote para conversarem.
Pouco depois, Leon e o tio, Arthur Summerlee, também se aproximaram para cumprimentar a família.
"Boa noite a todos." – fez uma discreta mesura – "Como vai, Elizabeth?"
"Muito bem, Leon. Não imagina o quanto." - disse sem esconder o sarcasmo.
"Por favor, sentem-se."
"Obrigado" aceitou Arthur, mas Leon estava desconfortável com a presença da ex-noiva.
"Vou pegar um ponche. Com licença."
Anne permaneceu algum tempo à mesa conversando, em especial com Arthur Summerlee, a quem admirou o humor e a inteligência. Mais tarde, querendo observar a bela noite, pediu licença e foi até a varanda. Virou-se ao ouvir uma voz que não lhe era estranha.
"E então, senhorita, como está na tradução do livro?"
"É verdadeiramente magnífico, senhor Summerlee, as inscrições..."
"Por favor, me chame de Leon. Se me chama de senhor Summerlee, pensarão que fala do meu tio."
"Leon... mas acho que só está sendo gentil, não vai querer ouvir uma de minhas palestras agora!"
"De maneira alguma! E se me permite, poderia me falar sobre a tradução enquanto dançamos uma música!".
"Ficaria encantada, Leon."
E entregando sua mão a ele, deixou-se conduzir até à área de dança.
"O que ela pensa que está fazendo?" Elizabeth perguntou irritada.
"Tenha calma! É sempre assim: onde Anne aparece, os homens parecem ficar bobos. Ela é mesmo muito esperta."
"Essa esperteza vai durar pouco, Charlote. Até dias atrás, Leon era o meu noivo e ele nem respeita minha presença. Isso é humilhante. Se duvidar, ele me deixou porque já a estava encontrando."
Charlote viu ali uma oportunidade única de comprometer a irmã.
"Você sabe que amo minha irmã... mas você é minha amiga e não posso esconder isso. Há dias tenho notado que Anne suspira pelos cantos, além de sair sozinha. Sem falar do estranho interesse que ela teve em vir a esta festa." - mentiu Charlote.
Com ódio, Elizabeth trincou os dentes.
Ignorando o que se passava às suas costas, Anne e Leon dançaram três músicas seguidas, até a jovem pedir para beber algo. Com a permissão de sua mãe, Anne passou a sentar-se à mesa dos Summerlee, onde se sentiu muito bem.
"Desculpe se pareço precipitado, Srta. Mayfair, mas..." – disse Leon ao se despedir da jovem – "já que fui vencido por sua oferta no leilão, gostaria de discutir um pouco mais a respeito do livro. Permite que em breve eu a visite em sua casa?"
Ela sorriu.
"Se minha família permitir, estou de acordo, desde que passe a me chamar apenas de Anne."
"Sinto-me honrado com a oportunidade. Amanhã à tarde, talvez?"
"Eu lhe enviarei uma confirmação através do mensageiro."
Anne ficou feliz pela perspectiva de encontrar Leon mais uma vez. Quando se dirigia ao coche, Elizabeth Usher, a puxou para trás murmurando em seu ouvido.
"Então foi por sua causa que Leon terminou comigo, não é?"
"Do que está falando?"
"Se está pensando que permitirei que se envolva com ele..."
"Não sei do que se trata, mas isso é um assunto entre você e ele, não é mesmo? Nem sabia que haviam sido noivos."
"Está mentindo!"
"Estou?" – Anne ignorou a rival e entrou na carruagem.
Quando Leon manifestou seu interesse em comprometer-se com Anne, a primeira atitude que tomaram foi falar-lhe abertamente a respeito do legado dos Mayfair, ao menos a parte legal, que impediria a moça a receber o sobrenome do marido. E este, se assim o desejasse, poderia tomar para si o nome de família da esposa.
Como qualquer homem de sua época, Leon possuía valores morais rígidos: ao casar-se esperava que sua esposa e filhos tivessem seu sobrenome. Aos poucos percebeu que, ou cederia àquela exigência ou perderia para sempre a mulher de sua vida - Anne Mayfair.
Alguns meses depois, foi marcado um jantar onde Leon pediria Anne em casamento.
Elizabeth Usher pensava em duas coisas. Reconquistar Leon ou, no mínimo, separá-lo de Anne, por quem se sentira humilhada. Obviamente não havia sido convidada para o noivado, mas juntamente com Charlote, acreditava ter criado o plano perfeito para que ele rompesse com Anne e nunca mais a procurasse.
O anúncio estava prestes a ser feito quando Charlote puxou Anne para o canto.
"Há um senhor na entrada que diz ser seu convidado, mas não possui convite..."
"Quem é?"
"Nunca o vi antes! Acho que deveria ir lá..."
"Hum, justo agora!" pediu licença a Leon e foi até a porta de entrada. De costas para a casa, viu um jovem muito bem trajado.
"Pois não?"
"Anne! Precisava falar com você antes que cometesse essa loucura de aceitar o pedido!" e veio em sua direção, mas ela empunhou as mãos, para que se afastasse.
"Perdoe-me, mas fui informada que havia aqui um convidado meu sem convite. Não o conheço e não entendo os disparates que está me dizendo. Peço que se retire ou chamarei a segurança."
"Você não entende? Calei meu amor por medo de você não aceita-lo e agora que vou perdê-la, pretendo lutar!"
E ao dizer isso, partiu para cima de Anne, forçando-lhe a um beijo, exatamente no momento em que Leon, também chamado pouco depois por Charlote, apareceu à porta.
"Me beije, querida.." – puxando a moça pela cintura foi de encontro a seus lábios. Num movimento rápido, ela acertou-lhe entre as pernas fazendo com que se dobrasse de dor.
"Que tal beijar o chão, imbecil?"
Leon imediatamente nocauteou o homem com um soco quando este tentou se levantar.
Segurou a noiva suavemente pelos braços. "O que aconteceu aqui? Ia perguntar se você está bem, mas seria melhor perguntar isso a ele!" e começaram a rir.
"Deve ter havido um engano! Charlote me disse que havia uma pessoa sem convite e quando cheguei, estava este louco aí."
"É, melhor acreditarmos que foi um equívoco de sua irmã, que me disse que havia algo que eu deveria ver." – ofereceu o braço à noiva ao mesmo tempo em que lançava um olhar de censura a Charlote – "Vamos entrar, querida?"
Quando o casal se retirou, Charlote virou furiosa para o homem, que recobrava a consciência.
"E você, seu incompetente, nem se atreva a procurar a mim ou a Elizabeth exigindo pagamento ou o colocaremos na cadeia."
Depois dessa tentativa frustrada de separar o casal, Elizabeth enterrou totalmente suas poucas esperanças de recuperar Leon, o que não significava esquecer que, para ela, fora trocada por Anne Mayfair.
Só então, Elizabeth cedeu à corte de Lord Roxton, homem riquíssimo, de excelente caráter, dedicado à família, que a adorava e de quem engravidou, sendo então apressado o casamento sem que tivessem nem ao menos ficado noivos. William nasceu e menos de dois anos depois, nascia John. Apesar de não amar o marido, Elizabeth foi feliz com ele, e os filhos que adorava.
Charlote também se casou com um poderoso político, Edgard Woods. Ficou profundamente magoada por ter que retirar o sobrenome Mayfair, porém, como não era a herdeira do legado, nada lhe restou além de se resignar. Algum tempo depois, soube que esperava uma criança. Teve plena certeza de que esta nasceria com o direito ao legado.
Mesmo quando Hellen nasceu sem a marca, sua obsessão a fazia crer cegamente que a irmã teria um casamento estéril, sem filhos, o que colocaria sua primogênita como a próxima na linhagem, por direito legal.
Anne casou-se apenas dois anos depois. Antes disso, juntamente com seu avô e o noivo Leon, fizeram diversas viagens pelo mundo.
Não poderia sentir-se menos feliz por nada. Tinha a seu lado um homem que a amava com devoção e com quem compartilhava suas paixões por história antiga, biologia, arqueologia e a sede por aventuras. Da mesma forma, amava Leon profundamente.
Alexandre Mayfair já estava com a idade bastante avançada e ela pressentia que logo partiria deste mundo. Acima de tudo, queriam assegurar que o bom homem vivesse com intensidade seus últimos momentos.
Meses após o falecimento do avô, os dois finalmente se casaram. Eram felizes e se adoravam, mas após um ano de casamento começaram a sentir falta de alguma coisa que completasse a felicidade: um filho.
Mas o tempo foi passando e por mais que tentassem, que consultassem proeminentes médicos da época, nada dava resultado, o que fazia com que as esperanças de Charlote aumentassem cada vez mais.
Seis anos se passaram e quando já haviam perdido toda e qualquer esperança, finalmente Anne engravidou e Charlote ficou possessa! Nove meses depois, recebeu incrédula a notícia de que a pequena Marguerite, sua sobrinha, havia nascido com o sinal.
Marguerite era uma criança adorável, amada por todos. Dias depois de seu nascimento, Leon entregou a Anne um presente que mandou fazer assim que escolheram um nome para a filha: uma correntinha com um relicário em forma de coração, ricamente trabalhado. Dentro, se lia a inscrição: "Para nossa filha Marguerite. Sempre em nossos corações."
Tinha seu próprio quarto onde, ao lado de seu berço, dormia a babá. Com quase um ano ainda acordava uma vez durante a noite para mamar.
Como de hábito, em uma noite, Anne se despertou no horário de alimentar a filha. Silêncio. A babá ainda não a havia chamado e a menina não chorava.
Levantou-se e caminhou até o quarto da filha. Abriu a porta sem fazer barulho. A babá estava na cama e preferiu não acorda-la. Foi até o berço e sentiu faltar-lhe o chão quando percebeu que a menina não estava.
Tentou em vão despertar a babá. Aumentou a chama da lamparina. Pela primeira vez em sua vida, conheceu o que era o verdadeiro pavor! A moça havia sido asfixiada; marcas de mãos manchavam seu pescoço alvo. As janelas do quarto estavam abertas. E sua filha não estava.
Desesperou-se, sem saber o que fazer. Alguns minutos depois, Leon a encontrou no quarto da filha, chorando e gritando, em estado de choque. Imediatamente ele correu para chamar a polícia.
Anne tentou se acalmar. Fazendo uso de seu legado, concentrou-se. Depois tocou a borda do berço. As imagens, a princípio, fracas e embaçadas, foram se tornando cada vez mais nítidas até que ela viu o que tinha acontecido.
Um estalido na janela. Alguém a estava abrindo por fora. Havia uma pequena sacada e depois de subir até aí, ficava fácil abrir e entrar. Viu sair de trás da cortina um homem vestido de negro, alto, olhos claros e profundo ódio na alma. Temeu por sua filha, mas continuou vendo. Rapidamente, ele foi até a cama, tapou a boca da babá e apertou seu pescoço até que parasse de respirar. Pegou Marguerite adormecida e saiu por onde entrou.
A visão acabava aí.
Enquanto os Mayfair empenharam todos os seus esforços em localizar sua herdeira, Charlote e Modren a levaram para Avebury onde, sem conhecimento do restante da família, Elizabeth deu abrigo à amiga na casa de campo de propriedade dos Roxton.
Quando tudo pareceu se acalmar, Mordren levou a criança a um orfanato no interior da Inglaterra. Dizendo que a menina era filha bastarda de sua irmã, ofereceu grande quantia à diretora para que a mantivesse, longe de olhares curiosos. A mulher não pôde deixar de sentir grande pena da criança tão doce que acabara de receber. Somente então, quando Mordren já havia partido, é que notou o relicário no pescoço da menina. "Para nossa filha Marguerite. Sempre em nossos corações". Retirou a jóia da pequena e guardou-a no cofre para entregar-lhe quando crescesse mais ou, na melhor das hipóteses, quando fosse adotada.
Mas a criança não permaneceu muito tempo por lá. Um casal que não podia ter filhos rapidamente deu entrada no processo de adoção. Embora a mulher não quisesse crianças em casa, teve que ceder à vontade do marido, que se encantou com a esperta menina. Imediatamente, a família mudou-se para a Bélgica. Foi quando Charlote e Mordren perderam sua presa de vista. E Anne e Leon Mayfair voltaram à estaca zero na busca pela filha raptada.
Poucos anos depois, a família adotiva da pequena Marguerite voltaria à Inglaterra e o pai que a adorava caiu doente e faleceu em alguns meses, deixando a menina com a mulher que, embora a tivesse adotado, nunca havia sentido amor pela criança.
Pressentindo o perigo que a rondava, Anne Mayfair quebrou a tradição e entregou o oroborus a Abigail Layton, que o levou para o platô, dando sua palavra de que somente o entregaria à sua legítima portadora: a filha desaparecida de Anne.
Por ironia do destino, a dinastia Xang foi roubada justamente pela herdeira dos Mayfair, que então se chamava Srta. Smith. Xangai Xang talvez pensasse duas vezes se soubesse que estava falando com a verdadeira dona do medalhão, por direito. É, ele não possuía a certidão de Marguerite. Quando investigou a seu respeito, soube que a vida toda ela havia procurado por sua família verdadeira. E dizer que possuía sua certidão de nascimento, o que era mentira, foi apenas um blefe para que a herdeira ficasse em suas mãos.
CONTINUA!
