Snack Bar:
Capítulo 2:
"Apenas uma questão de comunicação"
Com a mão a alguns centímetros da maçaneta da grande porta de vidro, Heero repassou mentalmente todos os seus objetivos, e o porquê de tentar a vaga para aquele emprego. Bom, inicialmente, o emprego possuía um bom salário. Em segundo, esta era uma das maiores empresas do mundo, e uma chance de trabalhar num lugar assim não caía do céu todo dia.E a mais nova adição à sua lista, "Motivos para conseguir este emprego", era a mais animadora e estimulante: Duo.
Heero não fazia exatamente o tipo sentimental. Claro, preferia esquecer do fatídico dia, quando ainda estava na terceira série, em que chorou feito um bebê ao assistir Cinderela. Por muitos anos a grande maioria da escola, incluindo os professores e funcionários, insistia em chamá-lo de "Yuy – A Gata Borralheira".
Mas , voltando ao motivo maior de querer esse emprego, Heero pegou-se imaginando mais algumas cenas, digamos... "impróprias", envolvendo mesas de escritório , cadeiras, e claro, envolvendo principalmente o jovem que a pouco conhecera.
Antes que uma certa região do seu corpo começasse a reparar nos seus pensamentos e resolvesse "se juntar à brincadeira", Heero achou mais prudente entrar logo na sala.
Abrindo a porta devagar, Heero espiou alguns segundos pela fresta na porta. E foi com surpresa que encontrou a visão mais aterrorizante da sua vida. Piscou algumas vezes, tentando acreditar que tudo não passava de um tremendo pesadelo.
Um homem , extremamente rotundo, estava sentado diante de um computador que se encontrava sobre uma pequena mesa de escritório. Tal cena não seria tão aterrorizante, se o homem não estivesse com a camisa semi-aberta, revelando, por baixo da peça de roupa, um minúsculo e estranho sutiã de couro negro, que reluzia à luz da tela do computador. Como se isso não fosse o bastante pra matar qualquer um de susto, segurava em uma das mãos um chicote também de couro, estilo ninfeta, e o balançava de lá pra cá, às vezes batendo no próprio peito com o objeto.
Heero tentou por um momento imaginar o porquê daquilo. Observou atentamente, encontrando uma webcam sobre o monitor do computador. Aparentemente, o homem estava por demais entretido para reparar em sua presença, pois ainda estava em seu...er...mundo particular, sussurrando Y.M.C.A. para a imagem refletida na tela.
- Você gosta disso, Jay? Hum? Você gosta? – Heero ouviu-o sussurrar, enquanto batia em si mesmo, soltando gemidos curtos e afetados .
Pensando no bem da sua própria sanidade, Heero decidiu interromper a performance pervertida do homem à sua frente. Revirou os olhos quando o homem de sutiã aumentou o volume da canção. Suspirando, Heero pigarreou alto, chamando finalmente a atenção do homem, que gritou de susto, se apressando em fechar sua camisa.
- Com licença....- Heero murmurou com uma voz aborrecida.
Ainda um pouco assustado, o homem tentou parecer normal, levantando-se de sua cadeira, não sem antes desligar o seu computador, estendendo uma mão em seguida:
- Ah, olá!Eu me chamo Budd, sou o responsável pelas entrevistas.
Heero ponderou alguns instantes, pensando se deveria ou não apertar a mão a si estendida, uma vez que não sabia exatamente em que outros "lugares" aquela mão estivera há pouco.
Tremendo internamente, o jovem aceitou o cumprimento, apertando e largando a mão gorducha rapidamente.
- É um prazer, senhor Budd...- tentou parecer formal.
O entrevistador lhe sorriu, indicando com uma das mãos uma poltrona do lado oposto ao seu na mesa:
- Por favor, sente-se.
Assentindo, Heero se sentou no lugar indicado, não sem antes reparar que o assento era revestido
Enquanto olhava alguns papéis , Budd parecia pensativo, recitando algumas partes em especial da ficha de Heero:
- Heero Yuy; 23 anos, formado com louvor pela Oxford, graduado em ciências contábeis e especialista em áreas administrativas e financeiras. Nossa, é um currículo e tanto! Me fale sobre seus feitos na área executiva, Senhor Yuy...
Bom, fora mais fácil do que parecia. Heero não gostava muito de falar bem de si mesmo, ou contar vantagem , mas se realmente queria aquele emprego, e queria, teria que deixar a modéstia de lado. Contou sobre como conseguiu diversos prêmios na faculdade, sobre suas graduações e especialidades.
Ao fim do seu relato, ao menos imaginava, se saíra bem. Budd parecia impressionado com as suas conquistas.
- Bom, senhor Yuy,eu...
O homem gorducho foi interrompido pelo som estridente de um dos telefones sobre a mesa. Suspirando, tomou-o em mãos, levando o aparelho até um dos ouvidos.
- Budd falando. Ah, bom dia Duo! Então aqueles papéis que te pedi já estão prontos?
Duo? Duo?! Onde?! Heero praticamente teve um surto ansioso ao saber que o belo jovem estava do outro lado da linha. Sem se conter, tomou o fone das mãos de Budd, levando-o até o próprio ouvido:
- Alô? Senhor Budd? Está tudo bem? – Heero ouviu a melodiosa voz pelo aparelho, e não pôde se impedir de ficar de boca aberta, imaginando como seria ter aquela voz sussurrada ao seu ouvido, falando coisas "censuradas"...
- Senhor Yuy, o que está fazendo?
Só então Heero percebeu o que estava fazendo. Praticamente havia subido na mesa para alcançar o telefone, e sua boca aberta deixava cair um pequeno filete de saliva.
- Ah,eu...eu… - o jovem pensou alguns instantes, tentando arrumar qualquer desculpa por praticamente ter agido feito um idiota.
- Você...?
- Eu estava...checando a qualidade das linhas telefônicas da empresa! É isso! Porque o sucesso de uma empresa depende da qualidade de sua comunicação, não concorda? – Heero inventou qualquer coisa, rezando para que o "pervertido do couro" acatasse sua desculpa como verdadeira.
O senhor ficou alguns segundos em silêncio, até liberar uma exclamação longa e admirada:
- Oh sim! O senhor tem toda razão, senhor Yuy!
- "Ufa! Que sorte a minha ele ser um idiota!" – Heero se congratulou em pensamentos, soltando o ar preso em seus pulmões, aliviado.
Percebendo que ainda mantinha o telefone firmemente preso em uma das mãos, Heero sorri constrangido, entregando o aparelho ao homem a sua frente:
- Aqui está. Esta linha está em perfeitas condições!
Com um olhar ainda impressionado, o homem levou o fone ao ouvido esquerdo, escutando do outro lado da linha um irritante bipe repetitivo.A linha havia caído. Depositando o aparelho novamente ao seu lugar, o velho Budd voltou a sorrir:
- Estou impressionado, senhor Yuy! Por favor, poderia me passar a ficha que você preencheu na sala de espera?
- Claro...
Abrindo sua pasta, Heero retirou a comprida ficha com os seus dados pessoais, entregando-a para o entrevistador. O jovem se assustou ao encontrar o homem mais velho encarando de uma forma suspeita asua pasta executiva.
- Essa sua pasta...ela é de couro? – os olhos de Budd praticamente saltavam das órbitas. Qualquer um que o visse agora diria que estava tendo um ataque epilético ou algo do tipo.
Passando seu olhar rapidamente do pervertido a sua frente para a pasta em seu colo, Heero sorriu internamente, encontrando uma ótima oportunidade. Não era do tipo manipulador, mas poderia ser se o seu prêmio final de um provável joguinho fosse ficar perto de Duo.
- Oh, sim! É couro italiano! De um dos melhores curtumes de Roma. Sabe, eu sou aficionado por couro...algumas pessoas não entendem... – Heero se calou, aguardando o efeito das suas palavras.
O entrevistador parecia ter entrado em choque. Um dos seus olhos piscava levemente, encarando o nada.
- Não me diga!! Eu também sou fascinado por couros! – finalmente o homem parecia ter acordado do seu transe, e agora parecia uma "Maria-fogo-na-saia" , aparentando estar surpreso demais por encontrar mais alguém que "dividia" dos seus interesses.
- É mesmo? Que agradável surpresa!
Após alguns minutos nos quais o jovem de olhos azuis fingiu ser um fanático por couro e seus mais variados usos, e nos quais trocou informações sobre as melhores lojas de couro da cidade com um afobado Budd, Heero deixou a sala de entrevistas, com a promessa de que na próxima vez que viesse, traria sua "coleção completa de carteiras de couro turco". Claro, não possuía uma coleção assim, nem sequer sabia se o couro turco era bom mesmo. Mas uma mentirinha "inocente"( leia-se extremamente enganadora e ilusória) não faria mal, faria?
Assim que se viu fora da sala de entrevistas, Heero sorriu, uma estranha leveza correndo por seu corpo. Estava tão perto de Duo! Ok, estava agindo no momento como um pervertido que persegue suas vítimas onde quer que elas forem, mas isso não parecia relevante .
Enquanto assobiava uma música qualquer, Heero segue a passos calmos pelo corredor, embora estivesse eufórico com a possibilidade de trabalhar com Duo. Tão distraído que estava, não ouviu sequer as palavras de Hank, o velho zelador:
- Hey, rapaz! Cuidado! O chão está...
O velho homem virou o rosto para o lado no exato momento em que Heero escorregara numa poça de água, caindo de costas no chão, tonto.
- ...molhado..
- Hum...nossa, quantos elefantinhos de trança... – Heero murmurou,com um sorriso demente no rosto, antes de apagar completamente.
- Hummm....
Ainda de olhos fechados, um ainda tonto Heero tenta se lembrar de onde está. Abrindo um dos olhos, tenta se acostumar com a claridade do ambiente. Sua cabeça parecia ter se partido em duas, e suas costas doíam terrivelmente. Será que fora atropelado por um caminhão?
- Que bom que você acordou! – uma voz conhecida soou às suas costas.
Arregalando seus olhos azuis, Heero imediatamente levou uma mão ao nariz, procurando uma hemorragia nasal que com certeza aquela voz sensual deveria ter provocado. Aliviado, pelo menos parcialmente, seus olhos encontram com uma figura que se aproximava da cama onde estava. Agora que estava reparando, o lugar parecia uma enfermaria ou algo do tipo.
- Você sofreu um pequeno acidente, e como a Mary, nossa enfermeira, não veio hoje, eu tive que cuidar de você. Eu não sou nenhum profissional da área médica, espero que não se importe! – novamente aquele sorriso que o encantava tanto. Ahhh! Heero estava perdido!
- Eu...não tem problema...
Recebendo outro sorriso aberto em resposta, Heero se arrepia todo quando Duo dá um passo a frente, entregando-lhe uma bolsa de gelo:
- Aqui está! É melhor usar isso se não quiser que um galo enorme apareça na sua cabeça! – o jovem de olhos violetas riu da própria piada, jogando a sua enorme trança para trás do ombro direito.
- Eu...digo...obrigado...
- Ah, não precisa agradecer!Sabe? Eu fiquei surpreso quando te vi estatelado no chão do corredor! Nunca imaginaria que sua entrevista seria aqui! – Duo comentou, indo até um pequeno armário branco, retirando um frasco transparente, com uma espécie de gel azulado em seu interior.
- Eu...também não esperava te ver por aqui...- Heero tentou engatar realmente a conversa.
- Ah, isso! É uma longa história!
- Uh...nossa...- agora sim Heero estava mais perdido na situação.
Claro, era realmente estranho um executivo funcionário de uma das maiores empresas do mundo trabalhando numa lanchonete, mas quando a situação se aplicava a Duo, pelo menos para Heero, isso parecia extremamente cabível e aceitável, e também excitante, sensual, completamente voluptuoso ,e sem falar nas possibilidades em fetiches e fantasias que um uniforme de lanchonete combinado com uma máquina de café e um belo balcão poderiam dar à sua mente já fantasiosa.
- Bom, agora deixa eu passar isso nas suas costas, senão nós teremos um "Corcunda da Disney" aqui na empresa! - o jovem de trança sorriu, se posicionando ao lado da cama de Heero.
- Er...na empresa?
- Ah, sim! Como sou esquecido! – o jovem de olhos violetas repetiu o mesmo gesto como quando estavam lanchonete, batendo na própria testa – Me pediram pra te avisar que você conseguiu o emprego! O senhor Budd disse que você tinha "interesses únicos",ou algo assim...- explicou, abrindo o frasco com alguma dificuldade.
- Eu...isso é ótimo! – Heero praticamente saltou da cama, mas o simples fato de estar todo arrebentado o impediu da pior forma possível.
- Hey, mocinho, cuidado aí! Não quer que isso piore, quer?
- Ah, eu...desculpa...
- Hahaha, você é engraçado, sabia?
Com um pequeno sorriso no rosto, Heero tentou se sentar, de costas para Duo, retirando sua camisa:
- Sabia sim...
Recebendo um sorriso em resposta, sentiu um tremendo calafrio de antecipação correr por todo o seu já quente corpo. Logo sentiria aquelas mãos tentadoras em seu corpo...claro, o simples fato de estar todo quebrado e dolorido, além de não haver realmente "segundas intenções" nos atos de Duo não ajudavam muito, mas já era o bastante pra deixar um certo jovem de olhos azuis nas alturas.
- Olha só, isso aqui pode parecer gelado no começo, mas depois fica morninho...
Molhando uma das mãos no gel medicinal, Duo o espalhou pelas costas nuas de Heero, suavemente.
Aaaahhhhhhhh! Que calor! Que delícia! Que tortura! Heero não sabia o que sentir, só sabia que era muito bom! E novamente seu corpo o traiu, e uma parte particularmente traidora resolveu ganhar vida novamente.
Mais do que rapidamente, a bolsa de gelo ganhou outro destino. Enfiando a bolsa gelada na própria calça, discretamente, Heero fez uma careta desolada, tremendo todo ao sentir o gelo em contato com sua pele quente. Mas era o único jeito que possuía no momento para acalmar seu "filho pródigo".
Reparando na mudança de comportamento do outro jovem, Duo apoiou a cabeça em seu ombro, falando ao seu ouvido, preocupado:
- Nossa, está tão frio assim?
Aquilo era demais para o seu pobre e quente corpo agüentar! Sufocando um gemido, Heero se encolheu um pouco, juntando forças e controle pra responder:
- Não!Está ...bom... "Ahhhh! A quem eu estou querendo enganar? Está tudo mais do que maravilhoso!! Será que você poderia massagear outra parte do meu corpo?" – novamente Heero viu-se inundado por uma espécie de dupla personalidade pervertida, talvez quando conseguisse, mais tarde, juntar algumas palavras em uma frase, chamasse esse seu "outro eu" de Bad Heero.
Mais aliviado, Duo iniciou uma massagem gentil nas costas de Heero, espalhando o gel com cuidado:
- A propósito, eu me chamo Duo. E você?
- Eu..eu me chamo Heero...
Heero até tentou continuar a conversa, mas quando as mãos macias de Duo tocaram a sua nuca, o mais sensível dos sensíveis dos seus pontos sensíveis, tudo pareceu não ter mais sentido. Seu corpo esquentara tanto com o toque, que era até possível o gelo ter derretido dentro das suas calças.
Sentindo sua cabeça girar, vai de encontro ao chão, caindo de forma espalhafatosa da cama, deixando um Duo aturdido, parado, observando o novamente desacordado e mais novo executivo da empresa W & T Corp¹ .
- Eu sabia que ele não estava bem...
CONTINUA....
¹ Vocês vão entender esse nome mais na frente, em capítulos futuros! Hehehe!
ÊÊÊÊÊ! Mais um capítulo non-sense! XD Eu gostaria muito de agradecer os reviews que recebi pelo primeiro capítulo! Muito obrigado mesmo, pessoal!
Beijão!
