Snack Bar
Capítulo 7:
" Ossos do ofício são mais duros!!"
Heero havia decidido. Assim que chegasse em casa,daria um grande beijo na agora sagrada torradeira, já que sem ela, não teria encontrado Duo. Ponderou seriamente a possibilidade de lustra-la também, mas deixou rapidamente seus pensamentos de lado, voltando à deliciosa e macia, muito macia, realidade que era os lábios do atendente.
Nunca em sua vida poderia ter imaginado algo mais perfeito do que sentir aqueles lábios cheios e macios contra os seus, o corpo do atendente moldado ao seu próprio. Heero podia sentir suas pernas fracas, aliás, todo o seu corpo parecia completamente privado de ossos, e estava bem perto de perder o chão. Era tão bom...! Lentamente, seus lábios se separaram, mas não mais que alguns centímetros. Só então se deram conta que a velha vitrola havia parado de funcionar.
Okay, quem disse que a música fazia falta? Tudo bem que uma boa canção dava ao momento um delicioso ar de conto de fadas, mas definitivamente a falta dela não impediria que, digamos, o conto de fadas acontecesse.
A baixa intensidade da luz conseguiu esconder com perfeição os seus rostos corados, mas suas respirações descompassadas estraçalhavam qualquer dúvida de que aquele beijo fora de tirar o fôlego!E que beijo!
Ainda se mantinham firmemente presos um ao outro, indecisos entre se separarem e se atacarem como adolescentes com sérios problemas hormonais. Duo pareceu pensar mais rápido, pois se afastou lentamente do corpo do japonês, com um sorriso confuso em seu rosto. Algo definitivamente estava ameaçando mergulhar o atendente num doce momento " Oh, nós nos beijamos! Quero mais!", mas teve que se conter. Por sua vontade, se atracaria com aquele executivo maluco e quando os clientes chegassem de manhã, encontrariam algo nada casto sobre o balcão.
- Isso foi...
Heero sentiu uma imensa vontade de se jogar do alto de um prédio ao encontrar uma expressão bem estranha no rosto do atendente. "Yuy, seu retardado! Por que diabos você se apressou tanto?! Agora ele deve estar pensando que você é um pervertido , e além de tudo, louco!", Heero martirizou-se mentalmente, dando um chute mental no seu lado Bad.
- Ruim? – o japonês arriscou, desejando mais que qualquer coisa que a resposta de Duo fosse diferente.
O modo como Duo o olhou a seguir confirmou ao menos um dos seus medos: ele parecia acha-lo um louco!
- Não, não foi ruim! Foi...simplesmente ...wow! – o atendente parecia encantado demais com o momento, olhando para o nada com um sorriso sonhador, passando os dedos pelos lábios de uma forma extremamente imbecil.
"Wow!" ? Parecia ser algo bom, pelo menos era no que Heero desejava acreditar. Tudo bem que o japonês queria uma resposta do tipo " Isso foi demais! Quero que me beije até amanhecer, seu japonês sexy e incrivelmente atraente!", seguida de um beijo de matar qualquer um sem ar, mas com certeza seria pedir demais. Um sorriso se formou em seu rosto quando o atendente o encarou sorridente, pedindo para que o levasse para casa.
Uma noite merecida de sono após três dias de gravações era o que qualquer ator desejava. E Quatre Raberba Winner não era diferente. O jovem e consagrado ator árabe apenas desejava cair na sua cama quentinha e apagar. No alto dos seus 21 anos, bonito, dono dos claros olhos azuis mais lindos do mundo, loiro como um anjo, e talentoso. Alguém poderia querer mais?
Já era tarde quando chegara no seu apartamento. No momento, morava no Japão, seu atual trabalho pedia isso, afinal, ser o protagonista de um filme sobre o império japonês pode exigir muitas coisas. Gostava daquele país, tinha inúmeros amigos e familiares na terra do sol nascente. Mas no momento, a parte do Japão que mais amava era sua cama.
Com certeza você já ouviu falar que vida de ator não é fácil, não? Se não, pode acreditar. Após um delicioso e relaxante banho quente, o ator caminhou até a sua cama, como quem segue até a luz no fim do túnel. Mas antes que alcançasse o seu objetivo, o seu celular gritou ruidosamente, fazendo-o desejar queimar o aparelho e jogar as cinzas fora. Com um suspiro, atendeu a ligação, um pouco surpreso com o nome no identificador de chamadas:
- Senhor Peacecraft?
- Ah, boa noite, Quatre, meu jovem! – a voz bondosa soou do outro lado. – Desculpe-me por ligar tão tarde, mas eu soube que você estava no Japão e te liguei para te fazer uma proposta!
As famílias Peacecraft e Winner eram grandes amigas, não só nos negócios. Mesmo sendo herdeiro da grande rede de empresas de sua família, Quatre decidira deixar o comando do empório Winner de lado e fazer o que mais gostava: atuar. Seus pais não aprovaram a idéia inicialmente, mas logo que viram o grande talento do seu único filho, se transformaram nos seus maiores incentivadores.
Conhecia o bom Senhor Peacecraft desde criança. Sempre fora um homem bondoso e gentil, que amava sua família acima de tudo. Talvez no meio disso tudo o grande empresário tenha cometido um pequeno erro. Mimara DEMAIS a sua filha mais nova, Relena Peacecraft, transformando-a numa caricatura de Barbie: irritante, patricinha e extremamente apegada à coisas rosas. Como se isso não fosse o bastante, a garota agora se metia à empresária, fundando uma rede japonesa de cosméticos. Quatre nunca entendera o grande sucesso dos seus produtos, mas algo o dizia que havia dedo de pai coruja nisso tudo.
Sorrindo finalmente, Quatre sentou-se em sua cama, levando o celular consigo:
- Não precisa pedir desculpas, senhor Peacecraft! Não nos falamos há muito tempo, não? Como o senhor está? – sempre gentil, o loiro imaginou se Relena ainda não havia enlouquecido seu pobre pai com as suas intermináveis vontades.
- Muito bem, meu jovem! E você?
- Ah, estou muito bem também! – mentiu, desejando mais do que tudo afundar na cama e dormir.
- Que ótimo! Mas, eu tenho que ser rápido. Me diga, Quatre, amanhã você estará ocupado?
O ator pensou por alguns instantes, analisando sua vida extremamente corrida. Sua cabeça terminaria se transformando numa agenda, era o que sua mãe dizia, reclamando por seu filho viver de acordo com seus compromissos, muitas vezes não tendo tempo para ficar com a família ou amigos. Para sua sorte, ou o seu azar, lembrou-se que o seu diretor daria algumas semanas de merecido descanso à toda equipe, enquanto trataria dos direitos autorais de algumas cenas que mostravam monumentos históricos do Japão com o governo do país.
- Na verdade não, senhor Peacecraft. Tenho algumas semanas de folga. Mas, me desculpe perguntar, o que o senhor tem em mente? – um arrepio estranho o alertou que algo de muito ruim estava para acontecer, e com certeza arcaria com as conseqüências.
- QUE ÓTIMO!!!!! – Quatre teve que afastar o telefone do rosto, ou o grito do empresário o deixaria surdo – Quatre, deixe-me explicar a minha proposta: você aceitaria participar da gravação de um comercial? Eu garanto que pagarei muito bem!
"Lá se vão meus dias de folga...". Sentiu-se tentando a recusar, mas sentia-se no dever de aceitar participar do tal comercial, em respeito à sua amizade com o patriarca da família Peacecraft. Claro que não aceitaria dinheiro nenhum do bondoso homem:
- Oh, senhor Peacecraft, eu me sentiria ofendido por receber dinheiro do senhor, esqueça isso! Eu farei sim o comercial, mas não quero nem ouvir falar em pagamento, ouviu? Considere um favor de um amigo! - Continuou, com sinceridade, imaginando do que se trataria o tal comercial. Deveria ser algo extremamente fantástico para que recebesse uma ligação tão tarde. – Mas, me diga senhor Peacecraft, é um comercial para suas empresas?
A resposta que recebeu da voz orgulhosa do empresário o fez acreditar que o seu infalível "arrepio-lá-vem-problema" estava certo.
- Na verdade não! Será um comercial feito para a empresa da minha filhinha, a Relena's Charm (1)! Ah, e o comercial será dirigido por ela!
- Bom...obrigado pela noite, foi muito divertida! – Duo murmurou enquanto abria a porta de casa, voltando-se com um sorriso todo especial para o rapaz de olhos azuis em seguida.
- Eu é que devo agradecer... – uma sensação estranha indicou ao executivo que o seu lado Bad novamente tentava tomar conta da situação. Se bem que isso poderia ser bom.
Ficaram assim por algum tempo, apenas se encarando. Heero passou a língua pelos lábios inconscientemente quando a lembrança do beijo que haviam trocado na lanchonete o assaltou, e desejou ardentemente repetir a dose. O japonês ficou completamente perdido quando Duo se aproximou do seu corpo, arrumando com as mãos a gola da sua camisa, esbarrando em seu pescoço no caminho, provocando arrepios nada pequenos em cada célula pervertida da sua mente.
- Poderíamos fazer isso mais vezes, não acha?
"Oh, com certeza!" Heero sacudiu a cabeça freneticamente, um tanto desajeitado, é verdade, mas se tentasse responder com palavras, com certeza diria uma besteira.
Um grande sorriso surgiu nos lábios tentadores do atendente, obrigando o executivo piscar algumas vezes para se controlar e não atacar aquela boquinha tão deliciosa. Mas pelo visto, não precisaria se controlar. Duo se aproximara lentamente, deixando seus lábios a milímetros de distância. Deus! Será que o atendente sabia o que estava fazendo com o pobre Heero? O japonês sentiu todo o seu corpo gritar, esquentar, tremer, fraquejar, tudo ao mesmo tempo ! Sua mente pareceu ficar enevoada, e suas mãos voaram até a cintura de Duo, pousando levemente ali.
- Heero!!!!!!! Você está aí!!!
O japonês congelou ao ouvir aquelas vozes. Não poderia ser verdade...
Com uma gargalhada, Duo se afastou, observando o momento em que Jay e Budd cruzavam a rua, sacudindo pequenos chicotes de couro nas mãos.
- Eles são meus vizinhos. – Duo explicou, rindo da expressão confusa de Heero.
Antes que a dupla bizarra o alcançasse, Heero puxou o atendente para um beijo rápido, mas nem por isso menos intenso. Adoraria ficar mais, mas no momento precisava fugir da "legião do couro", ou teria que dar explicações que não tinha.
Chegou ao se carro e rapidamente fugiu dali, deixando para trás um Duo bem zonzo, sorrindo como um bobo. Pôde ouvir os gritos histéricos de Budd e Jay, mas não ligou. Estava ocupado demais tentando guardar o doce dos lábios de Duo na memória.
Seus olhos correram pelo papel, tentando encontrar algum sentido naquilo tudo. Definitivamente Relena Peacecraft não nascera para ser diretora de cinema. Releu o roteiro do tal comercial mais algumas vezes, tentando não ficar perturbado pela cor rosa-berrante das palavras e pelos pontos finais em forma de pequenos corações.
Aproveitando o grande movimento no set de gravação, comandado aos gritos por Relena e seu amaldiçoado amplificador, Quatre se esgueirou até o pai da garota, sentado a um dos cantos do estúdio. Como se a voz da garota não pudesse quebrar vidraças sem o aparelho, ela tratava de berrar com meio set, reclamando de qualquer coisa, ou mesmo reclamando do calor do Japão naquela época:
- EI, VOCÊ!!!!!!! POR QUE ESTÁ FAZENDO TANTO CALOR?! EU NÃO ESTOU USANDO MAQUIAGEM A PROVA DE SUOR, SABIA?!!!!! – Quatre pôde ouvi-la praticamente ensurdecer uma pobre criança que passava por ali, provavelmente filha de algum dos funcionários. O garotinho aparentemente enlouquecera com os milhares de watts de potência jogados contra seus ouvidos, pois saiu gritando por todos os lados, até dar de cara com uma parede e cair completamente desorientado no chão, sendo socorrido por uma mulher que parecia ser sua mãe.
- "Quem teve a maldita idéia de dar essa coisa pra ela?" – era o que todos, inclusive Quatre, se perguntavam, cada um imaginando uma forma diferente e extremamente dolorosa de torturar a irritante diretora.
Assim que alcançou o bondoso homem, sorriu um pouco sem graça, sem saber por onde começar:
- Senhor Peacecraft...bom...sobre o roteiro...o senhor não acharia melhor se... – Quatre sentiu-se imensamente aliviado quando o empresário poupou-o de dizer que aquele roteiro estava uma droga
- Eu sei, meu jovem, a minha filhinha não é uma boa roteirista.
Quatre teve que concordar, tremendo ligeiramente ao lembrar-se que, segundo o roteiro escrito por Relena, ele teria que se vestir com uma fantasia ridícula de embalagem de cosmético e enumerar as inúmeras (e inexistentes, na sua opinião) qualidades da linha de produtos da Relena's Charm.
O ator suspirou aliviado quando o empresário pegou seu celular, trocando algumas palavras entusiasmadas com alguém, antes de voltar-se com um sorriso:
- Precisamos de alguém que compreenda os pensamentos do nosso público alvo para reescrever o roteiro! Ele virá hoje! É o psicólogo da nossa família, Trowa Barton.
Quatre não soube porque diabos ficou completamente arrepiado com a menção daquele nome. Nunca ouvira falar de tal psicólogo, mas algo insistia em causar-lhe sensações estranhas quanto àquela pessoa que nem ao menos conhecia.
Não teve muito tempo para pensar nisso, pois todos no estúdio tiveram suas atenções voltadas para uma nova e enlouquecida figura que invadira o local, saltando pelos cantos carregando algo que parecia ser um pequeno saco de batatas em uma das mãos.
Ao lado de Quatre, o senhor Peacecraft escondeu o rosto entre as mãos, abafando um gemido quando Zechs, seu filho mais velho, veio correndo até ele, rindo de um jeito desengonçado.
A beleza realmente era comum naquela família. O patriarca, apesar da idade um pouco avançada, era um homem charmoso, de porte altivo. A própria Relena seria considerada por Quatre um belo exemplar de mulher, se não fosse é claro o constante desejo de todos, inclusive seu, de estrangular a maldita. Mas Zechs superava o resto da sua família. Herdara os cabelos loiros de sua mãe, longos e brilhantes. Os seus olhos azuis eram perfeitas jóias cravadas no rosto bonito e másculo, sem se falar do seu corpo digno de um deus.
Quatre e o primogênito Peacecraft sempre foram bons amigos, mas o ator reparava agora, que ele estava agindo um tanto...estranhamente. O olhar de Quatre chegou ao curioso objeto nas mãos de Zechs. Percebia agora que não era um velho saco de batatas, muito embora estivesse bem próximo de um. Na verdade, era uma boneca bizarra, com olhos grandes e cabelo de palha seca, com a boca costurada com lã grosseira.
- Ah! Quatre! Que bom ver você! – Zechs saltou até Quatre, sacudindo a boneca-monstro numa das mãos – Diz "Oi" pro Quatre, Xeppa! (2)
O ator sorriu, exasperado, quando o outro rapaz sacudiu os bracinhos da boneca, dizendo ele próprio um "oi" pelo cantinho da boca.
-Han...é bom ver você também, Zechs!
Mas Zechs não estava mais ali. Quatre apenas viu de relance os cabelos loiros desaparecerem pela porta que levava ao hall do hotel onde estavam hospedados, e também onde ficava o estúdio:
- Desde que viajamos pra África em férias este ano ele não larga aquela boneca vodu! E ele tem feito coisas assustadoras de noite, sempre encontramos objetos estranhos no quarto dele, como cachimbos africanos e ovos velhos. – o empresário lamentou, voltando a esconder o rosto entre as mãos.
Quatre apenas sorriu, batendo de leve no ombro do milionário, quando Relena passou correndo por eles, seguindo seu irmão bicho-grilo:
- ZECHS! ESPERE JÁ! NÃO ESQUEÇA DO NOSSO TRATO!
Heero saltou do seu carro com um enorme sorriso perverso brincando em seus lábios. A porta automática da lanchonete se abriu normalmente para a sua passagem. Antes de sair de casa, deixara sua gravata propositalmente desalinhada, afinal, não era bobo nem nada e adoraria ficar sob os cuidados das mãozinhas habilidosas de Duo. Se bem que preferia aquelas mãozinhas cuidando de uma parte bem mais sensível do seu corpo...
E lá estava ele, muito mais lindo do que Heero se lembrava.Era sempre assim a cada vez que encontrava o outro rapaz: o executivo sempre tinha a impressão de que sua beleza aumentava a cada dia. O atendente lançou-lhe um sorriso especial ao terminar de atender mais um cliente, chamando-o com o dedo.
Uhhhhh! Aquilo sim fora um golpe baixo! Heero engoliu em seco, sentindo sua pobre mente pervertida trabalhar a toda. Logo seus olhos ganharam uma deliciosa ilusão, onde Duo estava coberto de mel e o chamava para ajuda-lo a se limpar...e Heero adorava mel!
Respirou fundo e tentou voltar à realidade, correndo até o balcão:
- Bom dia, Duo! – assim que se sentou, o executivo fez questão de estufar o peito, deixando em evidência a gravata completamente desarrumada. Estava ficando viciado nos cuidados de Duo, mesmo que simples como aquele.
- Bom dia, senhor! Em que posso ajudá-lo hoje? – se apoiando no balcão, Duo assumiu uma pose extremamente provocadora aos olhos de Heero, girando a ponta da trança entre os dedos.
" Heero! Vamos, não se esqueça do que você ensaiou em casa! Não diga nenhuma besteira!" . Tentando organizar as palavras certas, Heero sentiu-se estranho, como se algo dentro dele tomasse as rédeas da situação. E sabia bem o que, ou melhor, quem era:
- Como pode me ajudar? Você me ajudaria muito se deixasse eu te beijar agora....ah, e um copo do seu café também cairia bem!
De repente aquela estória de dupla personalidade poderia até ser legal, afinal, a gargalhada melodiosa que o ataque do Bad Heero havia arrancado de Duo era certamente motivo de orgulho para o japonês:
- Desculpe-me, senhor, o seu primeiro pedido não consta no nosso cardápio, vê?- sorrindo marotamente, Duo apontou por sobre o próprio ombro, indicando um grande painel enumerando os serviços da lanchonete.
- O que é realmente uma pena... – Heero gemeu, fingindo um suspiro, para o divertimento de Duo.
- Mas eu posso servi-lo com um bom copo de café! – o atendente confidenciou, sorrindo ao passar a ponta de sua trança por sobre os lábios sorridentes do executivo.
- Só isso? – o japonês logo tratou de colocar um biquinho nos lábios, fazendo birra.
- Isso mesmo, senhor, só o café...pelo menos no horário de trabalho! – e com uma piscadela, Duo estendeu as mãos, pondo em ordem o nó da gravata de Heero, que mais parecia ter sido feito por um bebê.
Mais do que tranqüilizado por não precisar seguir a direção de Relena, pelo menos por enquanto, já que o pai da garota a havia convencido, há muito custo, a deixar o roteiro passar pelas mãos do tal psicólogo antes, Quatre decidiu que assim que tudo aquilo acabasse, pensaria em férias. Sentia seu estômago reclamar, não havia comido nada naquele dia, tudo por culpa das exigências imbecis de Relena, que o obrigou a comparecer ao estúdio antes do amanhecer.
Pelo menos, ao contrário de sua irritante filha, o senhor Peacecraft pensava nas pessoas que estavam envolvidas com o projeto. O empresário providenciara uma parte particular do hotel em que hospedara toda a equipe para as refeições.
Ao passar pela porta, Quatre foi puxado por um dos produtores para um pequeno grupo a um canto, que aparentemente se divertia muito com alguma coisa. Uma foto foi empurrada em suas mãos, e quando realmente prestou atenção no que havia ali, teve que cobrir a boca com as mãos para não rir como um idiota. O pequeno grupo explodiu em risadas quando Quatre gargalhou insanamente, apoiando-se numa parede para não beijar o chão com a foto ridícula.
As risadas pararam no mesmo instante em que o senhor Peacecraft apareceu no hall, sendo substituídas por incontáveis acessos de tosse, enquanto cada um seguia para um canto, alguns assobiando e outros apenas olhando para o chão. Quatre rapidamente tratou de enfiar a foto num dos bolsos, tentando engolir o riso. A expressão assustada do empresário o surpreendeu, e sem mais nem menos, novamente estava sendo puxado, desta vez em direção ao elevador:
- Quatre, meu jovem, uma vez você interpretou um padre num dos seus filmes, não é verdade? – praticamente jogando o loiro dentro do elevador, o empresário acionou o botão do sétimo andar, encarando-o ansioso.
- É verdade....mas por que a pergunta, senhor Peacecraft?
O homem, que aparentava estar a beira de um colapso nervoso, pareceu não o ouvir, novamente o puxando quando a porta do elevador se abriu, desta vez o guiando para algum lugar do luxuoso corredor. Quatre pegou-se imaginando se Relena havia surtado por causa de um "grave" problema, como uma ponta dupla em seu cabelo. Novamente suas palavras foram parcialmente ignoradas pelo milionário:
- Você ainda lembra do texto dessa personagem?! – agora sim Quatre estava assustado. O rosto geralmente bondoso do empresário agora mais parecia com uma imitação perfeita de um zumbi.
- Sim, eu lembro, mas ainda não entendi o porq...
O homem-zumbi o parou diante de um dos quartos, o 666. Quando a porta foi aberta, ambos se assustaram quando uma galinha preta extremamente magricela passou correndo por seus pés, cacarejando pelos corredores.
Mas nada assustou mais o árabe do que quem viu naquele quarto. A primeira impressão que teve foi de que uma banana gigante particularmente estragada estava sobre a enorme cama no centro do quarto, mas olhando melhor, percebeu que a tal banana era Zechs. Mas ele estava diferente...
- Nossa! O que houve com ele? Por que o rosto dele está assim? – Quatre recuou um passo, encarando o rosto do loiro, que ganhara um tom esverdeado, e estava repleto de cortes e ferimentos extremamente feios. Sua cabeça funcionou rápido e logo entendeu tudo. Meu Deus! Ou Zechs entrara em estado de decomposição, ou estava completamente possuído! E a segunda alternativa lhe pareceu bem mais aceitável, levando em conta a mania do rapaz de longos cabelos de "brincar" com rituais vodus nas horas livres.
- Ah, isso? Bom...é que a Relena testou os produtos de sua nova linha facial nele... – o empresário esclareceu calmamente, um tom orgulhoso ganhando a sua voz pelo "crescimento empresarial" de sua filhinha.
Oh, aquilo fazia sentido. Quatre suspirou mais aliviado, mas um gato preto jogado por sobre suas cabeças garantiu que algo não estava bem. Reparando melhor no jovem sobre a cama, que agora agourava uma musiquinha qualquer numa voz infantil, percebeu que este estava firmemente preso contra a cabeceira da cama com correias largas, pelos pulsos:
- E porque ele está preso?
- Para que não fugisse quando tivesse que experimentar os produtos...- desta vez o milionário revirou os olhos, encarando o chão distraidamente, analisando os diversos diagramas africanos e círculos de umbanda desenhados por todos os lados.
Onde Quatre fora se meter?!! Se algum dia dissessem-no que estaria enfiado num quarto de hotel com um loiro burro endemoniado e um multimilionário mundial, com certeza não acreditaria.
- Mas, por que o senhor me trouxe aqui, senhor Peacecraft?
Quando seus olhos procuraram o empresário, não o encontraram. Completamente aturdido, percebeu o homem já na porta, acenando com um sorriso nervoso:
- Boa sorte, Quatre! Você vai precisar disso aqui! - O empresário lançou pelo ar uma enorme bíblia, atingindo em cheio a cabeça do pobre Quatre, que caiu de costas no chão, vendo o mundo girar ao seu redor – É só fingir que é um padre e fazer o meu filho acreditar nisso!
A porta foi fechada, e o árabe pôde ouvir o barulho da chave girando, trancando-o ali com a personificação loira do diabo. Quatre se ergueu com muito esforço, tentando mandar embora as estrelas que dançavam diante dos seus olhos. Um calafrio desagradável o alertou para Zechs, que seguia todos os seus movimentos com o olhar mais assustador que já encontrara.
Os olhos do ator correram desesperados todo o quarto, a procura de algo para se defender. Encontrou o que queria na pequena mesinha de centro do lugar. Assobiando, andou discretamente até o móvel, ainda sendo observado por Zechs. Quatre suspirou aliviado ao alcançar sua salvação: uma enorme tesoura deixada sobre a mesinha. Gemendo baixinho, encarou o teto de madeira corrida, fazendo o sinal da cruz (3), completamente trêmulo :
- Que Deus me perdoe, mas se alguma coisa nesse quarto começar a flutuar, eu vou capar aquele desgraçado! – murmurou baixinho, apertando a tesoura entre as mãos.
Voltando a assobiar, e escondendo a tesoura atrás das costas, o ator caminhou até a bíblia largada no chão, tratando de agarra-la com todas as suas forças antes de se postar diante da cama de Zechs, com um sorriso forçado no rosto:
- Oi, Zechs! Como você est...
- Não enche meu saco, seu ator de feira oxigenado!! – Quatre girou a tesoura entre os dedos, mortalmente tentado a fazer algum uso dela quando Zechs se esticou na cama, gritando a pelos pulmões, enquanto seu dedo médio se erguia num cumprimento nada educado.
Definitivamente Zechs; ou o demônio dentro dele; não sabia onde estava se metendo. Observou atentamente quando Quatre retirou um papel do bolso, desdobrando-o lentamente com um sorriso sádico estampado no rosto angelical:
- Você pediu por isso...
Os olhos demoníacos de Zechs se arregalaram com a visão mais aterrorizante de toda a sua vida. Era uma foto. Mas não uma foto qualquer. Nela, pôde reconhecer a sua irmã, Relena. Isso já seria bastante assustador pra qualquer um, mas um detalhe tornava tudo ainda pior. Na imagem, ela aparecia vestida com enormes ceroulas de bolinhas vermelhas, tendo o rosto coberto por uma gosma esverdeada e com os cabelos amarrados em rolinhos de papelão, num conjunto maligno! Era crueldade demais para uma só pessoa!!!!
Quatre sorria satisfeito observando o pânico evidente no rosto deformado do loiro, imaginando que, se algum dia deixasse de ser ator, poderia virar um exorcista profissional só por causa daquela foto infernal!
A porta do quarto foi aberta, e um vulto cor-de-rosa e extremamente revoltado voou para dentro, escandalizado:
- MAS QUE GRITARIA É ESSA?! UMA DAMA NÃO PODE TER MAIS UM MERECIDO MOMENTO DE SILÊNCIO?!!!!
Relena praticamente havia arrombado a porta, e deixado-os surdos com seus gritos em alta - freqüência! Com certeza um pobre amplificador seria destruído mais tarde. Mas algo muito pior que isso alertou o jovem ator. À sua frente, Zechs ficava ainda mais esverdeado, claramente nauseado com a perturbadora visão de Relena vestida com ceroulas perturbadoras.
O árabe só teve tempo de se jogar no chão, desviando do enorme jato de vômito que ganhou um destino bem menos desagradável. Relena, coberta pela gosma verde, saiu porta à fora gritando histericamente, enquanto Zechs contorcia-se de rir sobre a cama. Aproveitando sua oportunidade, Quatre agarrou a enorme bíblia, atingindo o topo da cabeça do endemoniado loiro.
- Isso! – batendo palmas, o ator observou orgulhoso o agora desmaiado e (temporariamente) livre de malfazejos Zechs Peacecraft.
Mas outra pessoa não teve tanta sorte. Escandalizada e mal-cheirosa, Relena encontrou seu pai no corredor, e logo estava gritando com o pobre homem:
- PAPAI!!!!!!! OLHA O QUE O ZECHS FEZ COMIGO!!!!!!
O empresário encarou, incrédulo, a gosma nojenta cobrindo todo o corpo da sua filha. Umadesagrdável bolase formou em seu estômago, revirando tudo o que havia acabado de comer no café da manhã,e....
A irritante patricinha apenas pôde fechar os olhos ao receber sobre si o café da manhã do seu pai em sua forma mais líquida e asquerosa.
Quatre abandonou o quarto com um grande sorriso no rosto, esfregando as mãos num claro sinal de alívio. Esbarrou em alguém próximo à porta do quarto de Zechs, mas a grande satisfação por ter sobrevivido a um maldito encontro com um demônio vodu o impediu de prestar atenção à sua frente. Apenas se desculpara, seguindo seu caminho. Não percebera o par de olhos verdes que o seguiram até o momento em que entrou no elevador, cantarolando alguma sinfonia manjada.
Parado à porta do quarto 666, Trowa Barton desejava ardentemente conhecer o mais estranho e bonito exorcista que já vira. Estava com sorte, porque pelo visto, aquele jovem mais parecido com um anjo não usava um colarinho branco...
CONTINUA....
(1) Hauhuahuaahuuha, esse nome não tem sentido algum, como se a baranga de ceroulas tivesse algum charme ..mas já que a empresa é dela, ela tem o direito de criar ilusões XD
(2) Ahhhh, esse é o mesmo nome da bonequinha vodu da Lilo, do filme Lilo & Stitch (eu adoro esse filme XD). Só não sei se eu escrevi certo XP
(3) Eu resolvi deixar o Quatre católico nessa fic, porque nesse capítulo e nos capítulos futuros, isso será preciso XD
Diretamente do hospício: as notas do autor
OO Estou impressionado com a falta de senso desse capítulo! Ah, meu Deus, eu estou pior!!!!!! Acho melhor tomar direitinho os remédios que o Doutor D.Mente passou, porque minha capacidade de escrever besteiras está aumentando assustadoramente! o.o''''
Eu sei, ficou completamente sem sentido! Mas isso não me preocupa, tudo o que eu escrevo é sem sentido mesmo n.n' Tipo, eu tentei nesse capítulo me concentrar um pouco no núcleo 3x4 e japonês da história, pq eu só estava dando atenção ao Hee-chan e ao Duo Bom, eu tb queria muito aprontar com a Relena XD Vocês acham que eu fui mau com ela? Ahuhauhahuauhahuahu, não, né?XD O pior ainda está por vir! Muhahahahahahah! E o que acharam do Zechs metido com vodu? XD Muito bobo, né? XP Acho que vai ter gente querendo me matar por ter feito isso com ele...XD Ah, e espero que nao tenham se assustado muito com o Quatre falando aquelas coisas ("inutlizar" o Zechs) XD foi só por causa do desespero!ahauhahahauhah
Bom, é isso ;) O 3x4 que eu amo está chegando XD
Obrigado por lerem! (se é que alguém ainda lê isso o.o) E, mais uma vez, agradeço muito pelos comentários, sempre me deixam muito feliz XD
Beijão, e até a próxima!
