Snack Bar

Capítulo 8:

" Tudo é relativo!"

Definitivamente, um dos maiores defeitos do ser humano é a distração. E a distração é infinitamente pior quando se deixa passar um pequeno detalhe que com certeza poderia fazer a diferença depois. E Quatre aparentemente não ligava para as conseqüências de sua total distração ao entrar no elevador. E o pior: o "pequeno detalhe" que ele nem sequer percebera era capaz de causar um orgasmo com apenas um olhar, até mesmo nos mais distraídos. Trowa Barton, o jovem, moreno, lindo, másculo, deliciosamente alto (...) e conceituado psicólogo dos ricos e famosos de todo o Japão, e até de outras partes do mundo, estava ainda parado diante do quarto 666, tentando colocar seus hormônios momentaneamente descontrolados em qualquer estado que não o fizesse saltar sobre o anjo loiro que a pouco passara ao seu lado, deixando-o extremamente tentado a tom�-lo nos braços e fazer coisas nada angelicais contra o chão do corredor.

Ow! O que estava fazendo parado, afinal! Seu milagre loiro estava indo embora! Com algum esforço, Trowa obrigou-se a deixar de lado seus pensamentos pecaminosos e acordar para a realidade. Precisava, e deveria conhecer aquele anjo.Estalando os dedos rapidamente, o psicólogo colocou o seu sorriso mais sensual nos lábios antes de correr em direção ao elevador:

- Segura a porta! – gritando o mais alto que pôde, nem ligou para os muxoxos e xingamentos nada lisonjeiros vindos dos ocupantes dos demais quartos.

Aquilo pareceu funcionar, pois Quatre finalmente percebera a sua existência, acionando imediatamente o botão de cancelamento no painel do elevador. As portas metálicas pararam de se mover, e o ator esperou que o próximo ocupante do elevador, que pelo grito imaginava ser um cantor de ópera, chegasse logo. Aquela voz...não sabia bem porque, mas seu corpo tremera instintivamente quando o grito ensurdecedor chamou sua atenção.

Suspirando aliviado, o psicólogo apressou ainda mais o passo, ansioso ao extremo por ficar sozinho com o delicioso loiro num pequeno cubículo fechado repleto de espelhos por todos os lados. Com certeza um elevador poderia se tornar algo completamente cômodo e excitante se tratando de certos "usos".

Mas certamente o pobre Trowa nunca estaria preparado para o que seus olhos verdes encontraram ao correrem pelo elevador. Um sorriso. Um simples sorriso agitou até o último dos seus pervertidos hormônios e também seus neurônios. Encantado demais com o mais belo sorriso que já vira em toda a sua vida, Trowa simplesmente esquecera de comandar seu corpo para que este parasse de correr. Retribuindo debilmente o sorriso, o moreno acenou freneticamente sob o olhar agora curioso de Quatre. Parece que a distração é contagiosa e...perigosa.

Dentro do elevador, Quatre gemeu dolorosamente quando o belo psicólogo passou correndo por ele, até encontrar uma parede nada delicada a sua frente. Colocando a cabeça para fora do elevador, o loiro teve que conter uma risada. Trowa ainda se mantinha com a cara colada na parede, murmurando algo próximo de palavrões abafados:

- Você está bem? – Não conseguindo conter o divertimento em sua voz, Quatre se aproximou, parando a alguns metros do acidentado psicólogo.

Okay, pelo menos agora Trowa poderia sentir-se orgulhoso pelo sorriso que sabia estar desenhado nos lábios suculentos do seu anjo. Abafando um gemido entre os dentes ao desgrudar o rosto dolorido da parede, o psicólogo apalpou discretamente o nariz, verificando se havia quebrado algo.

- Oh, sim, estou. – Trowa tentou sorrir , mas a pancada na cara aparentemente havia colocado seus músculos em greve. O máximo que conseguiu foi inclinar os lábios numa careta de dor. – É que essa parede carpetada está particularmente perfumada, então me aproximei pra verificar melhor...

Mas que diabos de desculpa era aquela! Em sua cabeça, um enorme letreiro com os dizeres "Idiota, idiota, IDIOTA!" insistia em piscar. Como esperava, o ator pareceu não engolir aquilo, mas o sorriso doce que apareceu em seus lábios deu a Trowa a certeza de que a calamidade de sua desculpa não fora de todo ruim.

- Que bom. Mas...você pediu para parar a porta, certo?

Quatre se sentia estranho. Uma parte insana da sua mente o mandava simplesmente se jogar nos braços daquele desconhecido e fazer coisas que não existiram nem nos roteiros dos filmes mais pornográficos do mundo, e a outra parte...instigava-o a fazer a mesma coisa! Quando se transformara em alguém com problema de instabilidade hormonal?

- Isso mesmo. Eu sou Trowa Barton, é um prazer. – aliviado por seus músculos faciais terem voltado a responder, o moreno logo tratou de lançar um sorriso cheio de significados (nada castos) ao seu belo anjo, além de sua mão, num cumprimento educado.

Aquilo sim fez com que Quatre tremesse! Aquele nome de novo! O mesmo que o fazia tremer somente com sua menção...e agora não tinha dúvidas que as razões para sentir-se quente somente com aquele nome eram muitas, afinal, o seu dono definitivamente era capaz de fazer até uma montanha tremer.

Enquanto aguardava uma resposta do belo ator, Trowa acompanhava atentamente todas as mudanças em seus olhos. Uma das maiores vantagens de trabalhar como psicólogo é saber reconhecer cada uma das emoções e todos os comportamentos humanos. E pela rápida análise do brilho levemente febril nos olhos azuis mais lindos que poderia algum dia encontrar, descobriu que não era o único a ter pensamentos impróprios.

Quando a mão macia de Quatre encostou na sua, o irritante letreiro mental foi substituído por um bem maior e mais chamativo: "Sortudo, sortudo, SORTUDO!"


Mesmo a contragosto, Heero teve que se afastar do balcão para que Duo pudesse atender os outros clientes da lanchonete, afinal , as constantes indiretas e insinuações do seu lado Bad estavam desconcentrando o atendente. Mas do que adiantaria ter um lado malvado se não poderia se aproveitar dele? E Heero achou um ótimo meio de ser compensado pelo afastamento temporário:

- Um beijo. –apoiando-se no balcão, Heero murmurou, resoluto, já curvando os lábios num leve biquinho.

- Heero! Eu já te disse... – Mesmo tentando parecer irritado, Duo não conseguiu esconder o sorriso maroto ao imaginar a confusão em que se meteria se fosse pego aos beijos com um dos seus clientes.

- Se quiser que eu pare, vai ter que fazer. – Heero sorriu consigo mesmo, fechando os olhos para desta vez entreabrir os lábios maldosamente.

- Você vai me pagar por isso depois, seu japonês maluco... – derrotado, Duo também resolveu que poderia tirar proveito, se aquele era o jogo.

Espiando furtivamente ao redor, o atendente sorriu antes de puxar Heero pela gola de sua camisa, tomando seus lábios lentamente. Ouviu o executivo suspirar, entreabrindo ainda mais os lábios macios.

HÁ! Agora Duo via a chance perfeita para a sua vingança! Antes que o japonês pudesse corresponder ao beijo, se afastou, sorrindo brilhantemente. Alguém pareceu ficar bem insatisfeito com isso. Heero continuava de olhos fechados, e sua língua ainda procurava a boca do atendente, completamente esquecida.

- Heero?

- Hum...só mais um pouquinho... – Heero gemeu dolorosamente, sentindo sua calça já apertada por causa de um simples beijo. Mas se tratando de um beijo de Duo...aquilo era completamente normal!

- Nada disso! Se você for um bom garoto e me obedecer, eu te dou um "presentinho" mais tarde...

Um presente! Se a sua perversão não reagisse a isso, com certeza seu lado Bad estaria morto e enterrado:

- Hum...e por acaso as suas calças estão servindo de embrulho para este "presente"?

Na mesma hora foi enxotado por um Duo completamente corado e exasperado para um dos cantos da lanchonete.

Sentado numa das últimas mesas, Heero observou atentamente todos os movimentos do rapaz de olhos violetas. Cada sorriso gentil, risada, comentário, sugestão de pedidos...Heero ainda não acreditava que tivera tanta sorte. Conhecera a perfeição nos olhos mais encantadores de todo o universo, e não gostaria nem um pouco de algum dia não poder ver aquele brilho peculiar que sempre o deixava sem chão.

Sua vida era bem confusa, era verdade, mas no meio de toda a loucura dos seus dias, uma bênção viera para lev�-lo a uma loucura ainda maior, mas completamente diferente e maravilhosa. Sim, Duo o deixava louco apenas com um sorriso. O transformava em um animal apenas com um olhar. Fazia-o feliz a cada palavra. E o levava ao céu com apenas um beijo. Agora o executivo percebia o quanto a sua vida era estranha antes de Duo. Mas depois dele...viver nunca pareceu tão perfeito!

Permaneceu mergulhado em pensamentos por algum tempo, sorrindo como um bobo. Não percebeu quando Duo se aproximou sorridente, apenas atentando para a sua chegada ao ter um beijo roubado pelos lábios marotos do atendente.

- Meu expediente já terminou, Heero...

Ainda atordoado, Heero piscou algumas vezes, tendo a certeza de que realmente estar ao lado do seu Duo era tudo o que queria. O atendente pareceu não entender o sorriso misterioso desenhado no rosto de Heero, que parecia estar bem longe dali. E entendeu menos ainda quando o japonês tomou sua mão, acariciando-a com veneração. Mas, mesmo que repentino, aquele doce carinho foi muito bem-vindo.

- Então, acho melhor irmos, não? – Ignorando o olhar dos poucos clientes que agora estavam na lanchonete, Heero beijou suavemente a mão macia do atendente, deliciado com a textura de sua pele.

- Sim...vamos...


Que maldito retardado estaria brincando com a sua campainha àquela hora da manhã! Será que só porque Wuffei era chinês que tinha de ficar aturando aquilo!

Se havia uma coisa que Wuffei odiava, e odiava mesmo, era ser acordado pelos outros. Esse era um motivo bem plausível para um assassinato com requintes de maldade e carnificina, e com direito a partes vitais decapitadas por sua katana nova. Quando o primeiro toque estridente da campainha soou por toda a casa, o chinês apenas tentou ignorar; " Tomara que vá embora logo...". O segundo toque veio em seguida, mais demorado; " Se não parar agora..." . Mas o terceiro toque conseguiu explodir completamente sua irritação.

Levantou-se pesaroso, ignorando o frio que passava pelo seu corpo vestido apenas pela parte de baixo do seu pijama. Ah, alguém iria morrer! Deixando de lado também os seus cabelos negros que jaziam soltos sobre seus ombros, Wuffei agarrou a afiadíssima katana que ganhara do seu avô no último aniversário, girando-a entre os dedos. O caminho até a porta só fez o seu desejo por morte aumentar, porque a campainha ainda soava continuamente, agredindo sua audição recém-desperta.

Estreitando os olhos, o chinês abriu a porta rapidamente, apontando ameaçadoramente a espada para o desgraçado que ousara atrapalhar o sono de Kung-Love, o maior conhecedor de sentimentos - e de artes marciais e pintura, nas horas vagas – da cidade. Mas quem encontrou parado a sua porta o surpreendeu, fazendo com que baixasse a lâmina que estava a poucos milímetros do pescoço de Treize:

- O que você faz aqui? – revirando os olhos, Wuffei puxou o moreno para dentro, fechando a porta em seguida.

Treize parecia estar à beira de um ataque psicótico, pois seus olhos famintos rapidamente varreram o corpo esguio de Wuffei, se demorando nos músculos definidos e na barriga durinha. Com certeza era uma visão que animaria qualquer um, literalmente. O chinês era um pouco mais baixo que ele próprio, tinha os olhos negros e ferinos como o fundo de um lago, e seus cabelos lisos e escuros eram o toque perfeito para realçar mais ainda a beleza oriental e exótica que tanto atormentava Treize.

- Eu...vim trazer isso! – Momentaneamente recuperado da sessão "seca-tanquinho", o moreno estendeu, um tanto hesitante, um lindo buquê de rosas vermelhas.

Golpe baixo. Sim, aquele havia sido um golpe baixo. Os olhos negros do chinês pousaram, incrédulos, sobre as lindas rosas, vermelhas como o sangue. Oh, droga! Sentia seu coração amolecer instantaneamente, e um sorriso maravilhado surgir em seus lábios. Treize com certeza era um romântico sem causa. E o pior (ou melhor): Wuffei também era um, irrecuperável.

- Você veio aqui...só para traze-las pra mim? – suas mãos trêmulas chegaram ao arranjo, pegando-o delicadamente.

- Isso mesmo...

Okay, talvez não fosse uma completa verdade. Treize bem que queria ganhar ao menos um beijo do chinês, para reavivar a lembrança dos que trocaram na noite anterior, e que não o haviam deixado dormir . Fora uma completa surpresa descobrir que estava se apaixonando por aquele chinês birrento, mas se essa era a verdade, faria de tudo para que o seu deus oriental sentisse o mesmo.

- Eu...obrigado, Treize... –seus olhos ainda estavam perdidos por entre as pétalas delicadas, e com certeza poderia dizer que aquele maldito cara o havia fisgado de jeito.

- Não precisa agradecer. Agora, acho melhor eu ir... – suspirando, Treize deu uma última olhada em seu monumento nipônico. Parecia uma linda obra de arte. As pétalas vermelhas em contraste com a pele dourada, sob o olhar encantado do lindo chinês. E Treize sentia-se mais do que feliz por saber que havia sido o autor daquele lindo quadro. Mas um beijinho de agradecimento não faria mal, faria?

- Espera! Você...quer tomar café comigo?

Alguém estava com sorte naquele dia! Treize por pouco não saltou no ar, gritando como uma criança feliz. Com um enorme esforço, conseguiu sorrir levemente, concordando imediatamente em participar do que com certeza seria uma das melhores refeições da sua vida. Principalmente se o prato principal fosse "Wuffei à moda da casa".


Quando as portas do elevador se abriram, Quatre e Trowa sabiam mais um do outro do que imaginavam ser possível.

Trowa sabia há algum tempo que estava diante do famoso Quatre Winner, um dos maiores e mais jovens atores da atualidade, afinal, conhecia os seus filmes. Mas como fã, o que mais desejava era ver ao vivo uma de suas cenas preferidas, onde o loirinho aparecia vestindo apenas uma cueca negra, minúscula o bastante para gerar idéias nada educadas em sua mente. Se bem que seria melhor que a cuequinha desse lugar a algo bem mais...invisível. Ah! Desejava ver o ator completamente pelado, e de preferência, gemendo sob o seu corpo. Essa era a mais pura e excitante verdade!

O árabe sentia-se estranhamente carente perto de Trowa. Quando soube que o moreno era psicólogo, se recriminou mentalmente por não ter seguido o exemplo de várias outras pessoas do seu ramo, e entrado em choque ou depressão por nada especial, pois assim teria um bom motivo para visitar o escritório de Trowa bem antes. Mas o importante, e desconcertante, era a proximidade que mantinham no elevador. Por diversas vezes, o ator achou que Trowa fosse o imprensar contra a parede de metal do cubículo, devido às aproximações repentinas por algum motivo banal, mas que infelizmente nunca davam em nada. Estava muito envergonhado na verdade, mas o seu desejo por sentir aquele corpo forte contra o seu suprimia qualquer vergonha.

Continuavam conversando a caminho dos estúdios. De longe já podiam ouvir os gritos de Relena aumentados pelo amplificador. Aparentemente a garota já havia superado o grotesco banho esverdeado de há pouco, e voltara mais irritante do que nunca ao seu posto de diretora. Mas nem mesmo isso foi capaz de fazer com que a leveza do ar que Quatre e Trowa compartilhavam se dispersasse. Falavam sobre nada em especial, e sorriam como velhos conhecidos.

Constantemente esbarravam um no outro enquanto caminhavam, talvez não totalmente de propósito, mas algo parecia atrair seus corpos de uma forma irresistível, e Trowa parecia decidido a ceder. Com um sorriso, procurou a mão de Quatre com a sua, envolvendo-a com cuidado.

Ohhhhhh! Por que Trowa estava fazendo aquilo! Por acaso queria mat�-lo? Com os olhos levemente arregalados, Quatre baixou a cabeça, sentindo todo o seu rosto corar. Para dizer a verdade, o que o incomodava não era o contato em si, afinal era maravilhoso sentir a grande mão de Trowa sobre a sua, causando arrepios de antecipação; o que realmente estava tirando-o do sério era sentir que queria bem mais que aquilo! O que dera no ator? Haviam acabado de se conhecer, e tudo o que queria era ser beijado pelo moreno. Nunca havia sido beijado. Sempre dissera a si mesmo que guardaria o seu primeiro beijo para alguém especial. Não sabia se estava certo, ou se estava louco, mas Trowa era especial. Muito. Hesitante, o ator se inclinou levemente, se apoiando com cuidado no corpo maior.

Um sorriso leve se desenhou nos lábios do psicólogo. Não poderia desejar momentos melhores como os que viviam agora. Suspirando, fez com que Quatre parasse de andar, e o encarasse nos olhos:

- Quatre... eu quero muito fazer uma coisa, mas não sei se você me permite.

Sim, sim, sim! Era tudo o que Quatre queria! Se essa "coisa" fosse um beijo, desejava-a mais do que tudo!

- Eu...tudo bem...

Mesmo sentindo-se idiota por parecer tão fácil, fechou os olhos, dando passagem a qualquer desejo do psicólogo.

O moreno engoliu em seco, passando a língua pelos lábios ressecados de ansiedade. Estavam tão próximos...praticamente podia beber a respiração quente do ator. Sim...era o que mais queria no momento. Fechando os olhos como Quatre fizera, aproximou os seus rostos com veneração, desejando ao máximo sentir os lábios macios sob os seus.

- TROWA!TROWA! VENHA JÁ AQUI! VOCÊ TEM QUE VER O ROTEIRO!

Se raiva matasse, Relena estaria morta há muito tempo. O grito estridente amplificado pela tecnologia, vindo dos sets de filmagem, chegou aos seus ouvidos, causando uma tontura momentânea. A caçula Peacecraft com certeza merecia uma bela tortura por ser tão inoportuna.

Com um suspiro frustrado, Trowa se afastou, massageando as têmporas. Estivera tão perto...

- Acho melhor você ir... – O árabe se chutou internamente por não ter dado um fim ao maldito amplificador de voz. Agora tinha que aturar aquilo...

- Você tem razão...mas eu quero muito continuar isso depois. – O psicólogo voltou a sorrir gentilmente, depositando pequenos beijos em ambas as mãos de Quatre.

- "Ele é tão gentil e educado..." – o árabe sorriu envaidecido pelo carinho tão íntimo.

Permaneceram mais algum tempo se encarando, ambos receosos demais em se separar. Mas os gritos de Relena continuaram, ensurdecendo metade do hotel:

- TROWAAAA! ANDA LOGO!

- EU JÁ ESTOU INDO, BRUXA INFERNAL! – perdendo sua já curta paciência, Trowa explodiu, desejando ter dito coisas bem menos educadas para a garota escandalosa. Se bem que de nada adiantaria, afinal ela não ouviria mesmo.

Quatre o encarou levemente exasperado. Bom...pelo menos o moreno era gentil e educado quando estava ao seu lado! E isso era o importante.


Heero estacionou o carro no pátio externo da empresa. Duo sorria, sentado ao seu lado, esperando que o que ambos queriam acontecesse. Seus olhos se encontraram mais uma vez, como deveria ser. Beijaram-se. Um beijo lento e saboroso, que com certeza injetaria ânimo para um dia repleto de trabalho. Somente se separaram quando foram assaltados pela lembrança de que seres humanos precisavam respirar para viver.

Era tudo tão delicioso! Sentiam que a cada momento poderiam se perder um no outro, apenas vivendo e assimilando o que os unia. Talvez ainda não pudessem definir esse "algo mais" com as palavras certas, mas estavam satisfeitos por poderem falar sobre os mais lindos sentimentos com um único olhar.

Deixaram as chaves com Steve, o jovem e raquítico manobrista da empresa, cujo os cabelos ruivos contrastavam com a pele branca e sardenta. Era um bom rapaz, sempre fora amigo de Duo e pareceu imensamente feliz por conhecer o novo executivo da W & T Corp.

Foi obrigado a se separar de Duo no hall de entrada:

- Heero, alguém vai te mostrar a sua nova sala, está bem?

- Não pode ser você? – com um muxoxo, Heero sentiu suas esperanças pervertidas se esvaírem. Logo agora que queria testar o quanto uma mesa de escritório poderia ser confortável...

- Não, eu tenho que trabalhar também, esqueceu? – sorrindo carinhosamente, Duo plantou um beijo estalado na bochecha do executivo, seguindo em direção a um dos elevadores.

Hey...agora que pensava melhor, Heero ainda não sabia o que o rapaz de olhos violetas fazia na empresa. Estava extremamente curioso, sempre que tocava nesse assunto, Duo tratava de desconversar.

- Duo! Em que parte da empresa você trabalha? – Heero gritou pouco antes que a porta do elevador se fechasse, mas a única resposta que recebeu foi uma piscadela.

Frustrado, Heero seguiu até outro elevador, decidido a encontrar alguém que o mostrasse seu novo ambiente de trabalho. A porta metálica se abriu, e o pobre executivo perguntou a si mesmo por que diabos sempre acontecia algo para estragar o seu dia. Parado à sua frente no pequeno cubículo, estava Jay, ajustando cuidadosamente a alça de um novo modelo de sutiã de couro, este com pequenas tiras trançadas nas laterais. Será que Jay havia nascido num curtume? Não sabia, mas o homem pareceu aliviado em vê-lo, e logo o puxou para dentro do elevador, pressionando um botão para que a porta se fechasse:

- Menino! Encontrei você! O que acha? – Jay estufou o peito, acariciando maliciosamente o sutiã de couro.

- Ahn...eu... – Onde fora se meter! Por que aquele tipo de coisa sempre acontecia com ele? Com certeza estar num cubículo fechado com um maníaco por couro com inclinações ao sadomasoquismo não poderia ser chamado de "sorte".

- Ah, eu sabia que você ia adorar! Até ficou sem palavras! Depois eu arranjo um pra você, sei que está morrendo por um desses! – piscando com afetação, Jay sorriu quando o elevador parou – Mas antes eu preciso te mostrar a sua nova sala!

Ah, parecia que estava ao menos com o mínimo de sorte. Se ficasse mais um minuto com aquele cara trancado no elevador, seria capaz de se matar batendo a cabeça na parede. Caminhou ao lado de Jay em silêncio até uma grande porta no fim do corredor, tentando ignorar seus comentários constantes sobre como " um japonês ficava bem vestindo um sutiã de couro".

- Aqui est�, menino! – O homem sussurrou teatralmente, empurrando a porta e permitindo sua passagem.

Woooow! Foi o que Heero por pouco não gritou. Definitivamente trabalhar naquela empresa era vantajoso. Diante de si, um enorme escritório se estendia, com móveis funcionais, um computador de última geração sobre a luxuosa mesa de trabalho, além de uma belíssima poltrona, que parecia ser extremamente confortável. Mas nada se comparava à vista que aquela sala proporcionava. Através das enormes janelas de vidro transparente, podia enxergar a parte sul da cidade, e também o parque municipal. Hum...agora sim gostaria de testar aquela mesa de escritório junto a Duo, ainda mais com aquela vista maravilhosa. Será que a poltrona era vibratória?

- Bonito, né? Fique a vontade, esse lugar é todo seu! Em cima da sua mesa você vai encontrar as instruções iniciais, e durante o dia pode esperar muito trabalho, porque aqui queremos o melhor, meu bem! – Discursando espetaculosamente, Jay se afastou, parando a porta –Ah, e dentro das gavetas, você vai encontrar uma surpresinha... – e acenando, o carrapato de couro sumiu da sala.

Heero poderia jurar que, se abrisse aquelas gavetas, se arrependeria amargamente depois. Mas isso não o impediu de caminhar cautelosamente até as pequenas gavetas embutidas com a mesa de trabalho, tremendo levemente ao destrancar a fechadura principal. Mas o que diabos era aquilo!

- "Loucuras e couro no sábado a noite"; "Jack – aprendiz de sadô"; " O couro azul", "Sexo e loucuras no curtume"! – Erguendo as sobrancelhas, Heero reconheceu o que parecia ser uma pequena coleção de filmes pornográficos. Em todas as capas, homens musculosos cobertos de couro e acessórios que Heero nunca vira pousavam com olhares maliciosos.

Heero entrou em choque por alguns segundos, antes de agarrar a pequena escola para sadomasoquistas em vídeo e lançar tudo pela janela, em direção ao estacionamento. Com certeza teria muitos contratempos com a bizarra "Legião do Couro", como gostava de chamar Budd e Jay, seus "colegas de trabalho".


Após estacionar mais um carro, Steve suspirou, passando as mãos pela testa suada. E foi com surpresa que percebeu um pequeno embrulho cair diante de si. Olhou para o alto, incerto sobre o que pensar. Dando de ombros, o jovem se aproximou, verificando o conteúdo do pacote cadente.

Um sorriso afetado surgiu em seu rosto, e logo se ajoelhou para um agradecimento rápido, antes de enfiar os vídeos sadô mais raros do mundo dentro da camisa, fugindo furtivamente dali.


- Sim, senhorita Érika, eu cuidarei disso. Claro, tudo bem. Creio que em uma hora já terei providenciado tudo. – alcançando um pequeno bloco de papel do outro lado da mesa, Heero tratou de anotar todas as indicações de sua superior, tentando ao mesmo tempo equilibrar o fone contra o ouvido – Sim, eu retornarei a ligação. Tenha um bom dia.

Com um suspiro satisfeito, o executivo depositou o telefone no gancho, estalando os dedos antes de voltar a meter a cara no trabalho. Sentia-se bem podendo ser útil, e claro, ganhando por isso.

Um novo sinal sonoro chamou a sua atenção. Este era diferente do normal, mas o japonês preferiu ignorar esse detalhe e atender logo a ligação:

- Heero falando.

- Nossa, um comportamento profissional exemplar! – imediatamente reconheceu a voz divertida de Duo do outro lado da linha.

Sorrindo abertamente, Heero se acomodou melhor na poltrona, colocando os pés sobre a espaçosa mesa:

- Você acha mesmo? Deveria ver o quanto eu posso ser "profissional" em outros lugares...numa cama, por exemplo...

O japonês já estava se acostumando com as intervenções repentinas do seu lado Bad. Pelo menos até agora todas elas haviam sido benéficas, e ajudado a conseguir pequenos e maravilhosos feitos, como a risada cristalina que soou do outro lado da linha:

- Eu vou fingir que não ouvi isso! Mas na verdade eu liguei pra outra coisa...

- Sou todo ouvidos.

Sim, ele era todo ouvidos. Mas talvez não tanto. O que Duo disse a seguir o derrubou da cadeira, e Heero se perguntou se estava ficando louco. Esperava que não, porque adoraria saber que as palavras de Duo eram reais, e só suas:

- Eu só liguei pra dizer que...te amo...

CONTINUA...

Notas do autor mentalmente descontrolado:

Olá a todos! Como vão? Espero que bem! J

Bom, aqui está mais um capítulo. Eu tentei maneirar mais na comédia, porque o último estava completamente bobo XP Eu tentei ser um pouco mais romântico...vocês gostaram?

Ah, eu peço perdão pela demora no desenrolar dos fatos, mas eu garanto que a partir do próximo capítulo a história vai começar a evoluir, e podem esperar muitas confusões! XD

Esse capítulo vai como um pedido de desculpas a duas pessoas que eu amo muito: Goddess e Yoru no Yami. Eu queria pedir desculpas por ainda não ter conseguido terminar as fics-presente que eu havia prometido dar nos seus nivers! É que esse final de ano e também o começo de 2005 foram muito conturbados para mim, e realmente não tive tempo de terminar as fics. Mas eu estou me esforçando muito para terminar o quanto antes! Espero que gostem do capítulo, moças, ele é pra vocês!

Bom, é isso! XD

Espero comentários!

Beijão!