Capítulo II – Relações

Algumas horas se passaram desde a chegada de uma moça chamada Yorae à Base Militar da Elite Kyouki. Encontravam-se num dos corredores, Juno junto com Taku e Kyou que tinha acabado de chegar da tal missão no Monte Suiken. Dos três, o mais preocupado de todos era sem dúvida, Taku, mas este dava sempre a desculpa que "um anjo deve sempre se preocupar com os terceiros, quando for o caso". Estavam os três mesmo ao lado do laboratório médico da Base, aguardando notícias da Kaori a qualquer momento. Um silêncio incómodo se instalava cada vez mais no ar e aí Juno decide quebrá-lo, já um pouco ansiosa.

Juno: 'Ah…Suzume…como foi a sua missão?'

Kyou apenas olha com ar zangado para Juno, virando o rosto em seguida, dando a entender a ela que a pedrada não fora nada uma boa ideia.

Kyou: 'Eu vou andando, quando ela acordar, me avisem. Mas antes…'

Do nada, pega a Juno pela cintura de surpresa e fala bastante perto do rosto dela, deixando-a irremediavelmente vermelha.

Kyou: 'Não pense que é com pedrinhas que você vai me dominar, senhorita Takahashi…na verdade, já a subjugo bem apenas lhe agarrando…'

Juno: 'M-Me larga, Suzume…'

Kyou: 'Com todo o prazer.'

Assim que solta Juno repentinamente, ela cai de bunda no chão, barafustando contra o Kyou, mesmo ele já indo longe com o típico sorriso debochado dele. Taku olha para a cena, bem baralhado.

Taku: 'Que relação a vossa, não?'

Juno se levanta fungando de raiva, ajeitando a roupa poeirenta do chão.

Juno: 'Eu nunca que iria me juntar com uma peste daquelas! Onde já se viu, usar os artifícios dele para tentar me pegar!'

Taku: 'Ahh…afinal ele tem artifícios? Engraçado, mas…penso que ele já te pegou, Juno.'

Juno limitou-se a olhar para Taku com cara de quem não aceita brincadeiras. Mesmo assim, Taku lá mantinha a opinião dele. O mesmo silêncio de antes continuou até a porta do laboratório abrir-se com Kaori de papéis na mão, exames médicos. Taku nem esperou Kaori falar, dirigindo-se a ela apressadamente.

Taku: 'Kaori! Então, ela está bem?'

Kaori: 'Calma anjinho…A garota está em óptimas condições, mas apresenta várias falhas na memória, apenas se lembra do nome dela e de que carrega "algo importante" no pescoço, segundo a própria diz. Masss…'

Fica folheando as páginas dos exames com um brilhozinho nos olhos como quem descobriu alguma coisa bastante necessária, algo característico de Kaori. Assim que acha a página certa, até pigarreia com ênfase como quisesse toda a atenção deles.

Kaori: 'Mas…quando ela me disse o nome dela, me bateu uma ideia na cabeça e lembrei que vocês disseram que ela se encontrava na mansão, aí pesquisei a fundo e…meus caros, aquela garota é sem dúvida alguma, Yorae Mizuno, a caçulinha sobrevivente da família assassinada por demónios de que falavam os jornais.'

Juno: 'Nossa…para ter perdido assim a memória, o assassinato deve ter sido suficientemente trágico para ela.'

Kaori: 'Deve sim, mas todo o mistério que ronda na vida dela…o assassinato foi à uns bons anos e só agora que ela aparece? Aquilo ocorreu quando ela era ainda uma criança, na altura da guerra…como terá sobrevivido? Deve ter algo a ver com aquele crucifixo…'

Kaori ficou absorvida nas perguntas dela, desaparecendo pelo corredor e tentando responder às perguntas que ela própria fazia. Taku entrou sem delongas no laboratório para ver Yorae, mas Juno permaneceu bastante parada no meio do corredor…a voz de Kaori ecoava na sua cabeça. '…na altura da guerra…Como terá sobrevivido?' Olhou para as mãos dela, absorta. "Certamente do mesmo jeito que eu sobrevivi com 4 anos de idade…sem saber de nada, abandonada ao acaso…Nem meu nome sabia. Apenas soube o meu sobrenome ao ver a placa queimada da casa onde eu vivia. O nome que tenho é falso, assim como a minha vida. Quem me deu o nome Juno…foi a minha mestra…que me deu uma nova existência. E eu…matei-a." Assim que começa a ressoar esse pensamento na mente de Juno, ela olha para suas mãos de novo e as vê ensanguentadas, assim como sua roupa. Consternada, olha para os lados e apenas vê a escuridão como sua parceira. Parecia ouvir os batimentos do seu coração aumentar cada vez mais. Assim que olha para a frente, vê alguém rastejando no chão em sua direcção, sua mestra, com o mesmo sorriso sereno mas que naquele momento assustava Juno de morte. Ela sussurrava algo como "a minha escolha foi certa…certa…". Vendo ela aproximar-se mais, Juno tenta fugir mas nada acontece. Aterrada, Juno solta um grito contido, caindo no vazio e sente alguém lhe amparando por trás. Depois disso, a escuridão desaparece, dando lugar ao corredor da base onde Juno se encontrava antes. Para surpresa dela, quem lhe amparava era o Kyou que olhava para ela um pouco preocupado.

Kyou: 'Você estava paralisada olhando para a porta…você…está bem?'

Juno não conseguia dar resposta à pergunta de Kyou. Sentia as mãos e as pernas tremerem como varas verdes e assim que tentou se levantar, desequilibrou-se, caindo de novo nos braços do Kyou. Olha para outro lado, ainda com a insistência de se levantar mesmo com os membros não lhe obedecendo correctamente.

Juno: 'Pode me largar.'

Kyou: 'Mentirosa. Você nem se aguenta em pé, Tenente Takahashi.'

Sorriu debochadamente e pegou-a no colo como quem pega uma criança, mesmo com Juno lhe ralhando para não pegá-la, abrindo a porta em frente para deixar ela no laboratório médico. Taku, que estava ao lado da cama da Yorae, naquele momento a descansar, assim que viu Juno sendo levada no colo pelo Kyou, desconfiou. Juno não era daquelas garotas que se rendiam facilmente às investidas do Kyou, alguma coisa devia ter se passado com ela.

Taku: 'O que se passou?'

Kyou: 'Encontrei ela parada no meio do corredor, os olhos dela estavam brancos, sem brilho algum…ainda chamei ela mas só quando ela ia cair é que pude pega-la, e só assim que reagiu…estranho.'

Taku: 'Isso é normal nela, sobretudo quando se lembra ou vê coisas relativas ao seu passado.'

Kyou: 'Você…conhece alguma coisa sobre o passado da Takahashi?'

Taku: 'Não, não sei. Ela nunca quis que alguém soubesse, mesmo a General Tsubame. Eu respeito a Juno e optei por não me intrometer…Mas se quisesse, eu poderia saber, apenas faria como fiz com você para lhe ajudar, nii-san.'

Kyou: 'Não refira mais isso na minha frente. Prefiro não recordar tamanha coisa.'

Kyou cerrou os olhos, falando de uma forma soturna. Taku olhou para Kyou e fitou ele com a mão no peito, de cabeça baixa. Curiosamente, a mão dele estava em cima da mão de Juno, parecia agarrá-la com força, como quem procurava apoio. Sem saber porquê, lembrou-se da conversa que tivera com Juno na sala de armas. 'Eu não sou assim tão aterradora, Taku. Eu não sou nenhum monstro.' De alguma forma, ela negava sempre tal facto, tentando parecer mais humana do que ela já era. Mas, não sabia porquê, Juno sempre lhe surgia como algo além do humano…não sabia definirera o quê.

Taku: 'Juno…menina preciosa, ela. Você não devia menosprezá-la tanto. Ela é a alma dessa elite.'

Kyou: 'Ai é?...Não sabia. Para mim é uma garotinha idiota que se acha demais, só porque foi nomeada Tenente apenas depois da sua 1ª missão. Além disso, pode ser até muito boa em combate mas…eu não consigo vê-la mais do que uma idiota tentando me roubar o lugar.'

Taku: 'E tem todo o seu mérito. Aliás, se ela é assim tão idiota…porque você está agarrado nela?'

O rosto do Kyou enrubesceu ao Taku mencionar aquilo. Tinha se esquecido completamente que tinha Juno no seu colo e ainda por cima, estava de mão agarrada na dela. Nem se deu conta que ela havia adormecido com a fraqueza. Limitou-se a levantar-se e virar costas ao Taku.

Kyou: 'Você não viu nada, não sei nem quero saber de nada…eu cá vou indo.'

Taku: 'Mesmo com ela adormecida no seu colo?'

Kyou: 'Claro que não, deixo ela aqui mesmo.'

Taku: 'Que bela atitude cavalheiresca da sua parte para Juno…'

Taku sorriu abertamente virando-se para Yorae, que continuava dormindo. O anjo novamente desarmou o amigo de palavras e este sai do laboratório calado, caminhando pelas camas até a chegar a uma mais afastada, assobiando uma deleitosa melodia. Deixou Juno nessa cama, observando-a por segundos e depois indo embora.

Kyou: "Mesmo sendo bastante bonita, continua sendo uma garota irritante."

A porta fecha-se com Kyou assobiando a mesma melodia enquanto caminhava de volta pelos corredores.
Dia seguinte. Juno sentada na cama do laboratório recentemente acordada por um despertador. Desta vez não sonhara nada de especial, mas a alucinação no dia anterior valeu-lhe uma dura dor de cabeça naquele momento. Olhara em volta. Pensou como teria chegado a uma cama daquelas do jeito que estava. Fechou os olhos, tentando se lembrar do que passara depois da ilusão. Não sabendo porquê, um fino assobiar que entoava uma doce ária chegou aos seus ouvidos no meio da escuridão e Juno não pode deixar de sorrir. A melodia era tão suave que ela se sentia estranhamente envolvida por ela como se a melodia fosse um manto para lhe tapar nos dias mais frios. Assim que abriu os olhos, a melodia deixou-se de ouvir, para pena de Juno.

Juno: 'De onde veio esse assobio?'

"Eu ainda estou tensa demais…queria ouvir mais um bocadinho", pensou. Suspirou resignada e saiu do laboratório, com Kyou passeando pelos corredores. Este, estranhando a boa-disposição de Juno, não resistiu a perguntar qualquer coisa para provocá-la.

Kyou: 'Isso…foi o passarinho verde ou quê?'

Juno: 'Nada não…eu queria relaxar agora, por isso, licença…se é que você me dá alguma, "senhor coronel galinha".'

Olhou para ele e viu uma das veias a ressaltar na sua testa.

Kyou: 'Sua…sua…'

Sorriu vitoriosa e prosseguiu caminho até o quarto dela. Do quarto, chegou ao banheiro, sentando-se mesmo vestida em baixo do chuveiro. Abriu a torneira de água quente toda e deixou a água correr em cima dela, fechando os olhos. Passado alguns minutos, ouviu o mesmo assobiar de à pouco se aproximar e depois o silêncio. Um silêncio bastante constrangedor até, sentia que estava a ser observada minuciosamente. Logo depois, ouviu uma voz masculina conhecida para ela.

'É isso que você chama de…ahn…relaxar?'

Abriu os olhos e viu Kyou na sua frente, não satisfeito por ter ficado sem resposta ao último comentário de Juno. Esta olhou-o de expressão cerrada, se levantando molhada.

Juno: 'Isso é invasão de privacidade, sabia?'

Kyou apenas sorriu debochadamente e Juno fechou um dos punhos, não se contentando apenas com aquele sorriso que tanto detestara, vindo dele como resposta. Depois se lembrou. O assobio…ele que estava assobiando daquele jeito?...Não podia ser. Como que um rapaz daqueles podia assobiar uma melodia tão…tão calma. Nem parecia dele. Juno ainda piscou os olhos para ver se estava vendo bem. Mas sim, quem estava na sua frente era mesmo o Kyou. Esse olhava para ele, estranhando-a.

Kyou: 'O que você tem?'

Juno: 'Você que assobia essa melodia…você assobiou isso ontem…Quer dizer que foi você que me levou até ao laboratório! Ei! Eu não lhe dei permissão para isso!'

Kyou: 'Você adormeceu em seguida, deixei você lá mesmo. Porquê? Acha mesmo que eu iria fazer das minhas para pegar você, é?...Muito convencida, a garotinha.'

Sorrira de forma trocista de novo, irritando Juno de tal maneira que só não andou à porrada com ele porque ainda tinha uma réstia de vergonha na cara. Mesmo assim, não resistiu a barafustar abespinhadamente com ele, fazendo-o recuar um pouco com as respingas de água que apanhava de vez em quando, tentando pará-la.

"Mas que confusão é essa!"

Uma voz se aproximava e os dois se aperceberam disso. Kyou olhou para trás e reparou que tinha deixado a porta do quarto da Juno aberta, o que despertava ainda mais atenções. Juno, alarmada, arrastou o Kyou para debaixo do chuveiro, fechando a porta do banheiro.

Kyou: 'Eiiii! Você está me molhando todo, me deixa sair daqui!'

Juno: 'Fica calado, Suzume! Senão apanham você no meu quarto e eu cá prefiro manter a minha reputação!

Kyou: 'Reputação de quê? Menina idiota?...E eu não me calo, que me apanhem, que se dane…Me larga!'

Juno: 'Humph…você fala demais, Suzume.'

Kyou olhou para Juno estranhando o tom bastante calmo e conformado com que ela falara, mas essa acabou de perder a paciência e pensando que não tinha mesmo outro remédio do que atacar a serpente com o próprio veneno, fechou os olhos. Em poucos segundos, puxou o Kyou subtilmente para perto dela e encostou os seus lábios na boca dele, caindo tudo finalmente no silêncio. Apenas se ouvia o barulho da água a correr. Um dos vigilantes da Base chegou no quarto, olhando em volta. Tudo vazio e solitário, como quase sempre foi aquele quarto. Resignou-se, encolhendo os ombros.

Vigilante: 'Ah…não era nada mesmo.'

Foi-se embora, fechando a porta atrás de si. No entanto, debaixo do chuveiro, a confusão era mais que muita. O último truque de Juno para calar Kyou havia resultado na perfeição; o beijo tinha tirado toda a acção do Kyou, o deixando atónito. Ora aí estava uma coisa que ele não esperava…ser beijado pela Juno, a garota que ele dizia odiar com toda a convicção que possuía. Esta, pensando já ser o suficiente, separou-se do Kyou, tentando não olhar para o rosto dele, esperando ele ir embora. Mas Kyou permaneceu no mesmo lugar onde estava, olhando para Juno ainda um pouco perplexo do gesto dela, ignorando as gotas de água que corriam pelos seus cabelos e rosto abaixo.

Kyou: 'J-Juno…'

Os olhos de Juno abriram-se um pouco quando esta notou o seu nome ser falado. Continuou a olhar para o lado, já arrependida de ter feito tal coisa com o Kyou, mesmo o odiando como ela odiava.

Kyou: 'Olhe para mim.'

Juno: 'Gomen ne…eu não devia.'

Kyou: 'Você sequer precisava.'

Olhou para Kyou e o viu corado olhando para cima. O arrependimento que quase tomou conta dela transformou-se em regozijo por ter deixado ele assim dessa forma. Provocou-o, com pose triunfante.

Juno: 'Agora já sabe, não se meta comigo!'

Kyou: 'Você ainda não viu nada.'

Juno olhou para Kyou interrogada, e viu este se aproximar. Uma ideia lhe veio logo à mente: ia levar resposta, e das boas. Juno recuou, até dar conta que já estava encostada na parede do chuveiro. As mãos do Kyou pousaram na parede ao lado da cabeça de Juno, ficando ele frente-a-frente com ela.

Juno: 'O que…você vai fazer?'

Obteve um sorriso devasso do Kyou como resposta, seguido de um beijo. Um beijo longo e profundo. Juno, apesar de tentar resistir, finalmente se rendeu, fechando os olhos. Poisou as mãos no peito do Kyou, cerrando os punhos, sentindo o coração dele palpitar como um louco. Aquele instante, que pareceu uma eternidade para os dois, demorou até Juno separar-se do Kyou, olhando para ele admirada, recuperando o fôlego que havia perdido.

Juno: 'Isso…não aconteceu.'

Saiu do banheiro apressada, se secando com uma toalha, recusando-se a olhar para Kyou. Este nem falava, olhando para baixo. Caminhou até a porta, completamente molhado sem sequer se secar. Olhou para Juno, falando num tom seco, mas algo decepcionado.

Kyou: 'Se assim você o deseja, tudo bem. Prefiro que não se repita mesmo.'

Dito aquilo, saiu do quarto assobiando, como se quisesse disfarçar alguma coisa. Assim que a porta se fechou, Juno sentou-se na cama, cabisbaixa. No meio do retrato melancólico do seu rosto, um ténue sorriso se distinguiu.

Juno: 'Tonto…me molhou todo o chão.'

Já no outro lado do corredor, Kyou caminhava até ao quarto dele, quando viu uma silhueta conhecida encostada na parede mais próxima, Taku. Olhava para baixo, pensativo, depois olhou para Kyou, indagado.

Taku: 'Por onde você andou, nii-san? Está bastante encharcado e apenas por acaso…não está chovendo lá fora.'

Terminando o trocadilho, sorriu enigmaticamente. Kyou ignorou-o, continuando a andar, até fechar a porta do seu quarto sem qualquer satisfação. Estranhando, Taku entrou de rompante pelo quarto de Kyou, sem pedir sequer permissão. Kyou olhou-o aborrecido, virando-lhe as costas. Taku apenas se encostou na porta, olhando-o.

Kyou: 'Agora os anjos perderam toda a educação, é?'

Taku: 'Não venha com essa. Você nunca se importou com isso mesmo…que você tem? Está esquisito.'

Kyou: 'Não tenho nada. Ah, e se quer saber por onde andei, pergunte ao chuveiro mais próximo.'

Taku: 'Já agora…foi no chuveiro da Juno?'

Mesmo não vendo o rosto do Kyou, Taku viu ele parar por alguns segundos ao ouvir o nome da Tenente.

Taku: 'Penso que acertei…'

Kyou: 'Odeio quando você começa a supor essas coisas e me deixa nesse estado.'

Taku: 'Você só ficou nesse estado porque eu falei nela. Melhor você contar tudo agora, do que deixar isso encerrado aí…'

Colocou a própria mão no peito, apontando para o coração. Kyou se virou, olhando para cima. Não estava com vontade alguma de contar seja lá o que fosse.

Kyou: 'Porque é que eu vou lhe dizer uma coisa que você já sabe?...A Takahashi…Juno…preferia que você não falasse dessa garota.'

Taku: 'Hm…você fez algo a ela?'

Kyou: 'Beijei-a debaixo do chuveiro.'

Olhou rapidamente para baixo, um tanto corado. Taku passou a mão nos cabelos loiros, desalinhando-os mais do já estavam, interrogado e com alguma admiração.

Taku: 'A Juno?..! Nossa…Então porque está desse jeito? Você não tinha dito que ela era uma garota como as outras?'

Kyou: 'Tinha. Mas penso que me enganei…'

Taku: 'Eu bem tinha mencionado que ela era especial. Talvez assim, você a veja com outros olhos.'

Sorriu, começando a ir embora, quando sentiu ser agarrado pelo braço. Olhou para trás e viu Kyou ainda de cabeça baixa, com voz soturna.

Kyou: 'Mas eu…me arrependo de a ter beijado. Ela me lembrou a Meguki.'

Taku: 'A Hahibara?...Mas ela…essa foi a única garota que…'

Recebeu um olhar sepulcral do Kyou para ele não falar mais nada.

Kyou: 'Ela mesmo. Não permito que me façam recordar ela dessa maneira. Essa tenente…agora que a odeio mesmo.'

Taku: 'Mas…a Juno não tem culpa se lhe despertou as memórias que você tinha da Hahibara.'

Kyou: 'Você sabe muito bem o que aconteceu entre mim e a Meguki e as consequências dessa relação. Você sabe…o que eu passei.'

Largou o braço do Taku, sentando-se na cama e ficando com as mãos na cabeça, taciturno, remexendo os cabelos molhados. Naquele momento, Taku sentiu pena do amigo de infância.

Taku: 'Sei sim. Ao mesmo tempo que lhe trouxe o amor tão esperado, a Hahibara também lhe deu sofrimento, e a dificuldade de uma vida a dois. Você era um humano. Agora já não é o que era, por causa dela.'

Desanimado, Taku afaga os cabelos do Kyou numa tentativa de confortá-lo, sem sucesso.

Taku: 'Mas já é tempo de você esquecer isso…quem me dera ser um anjo possuidor de verdadeiras autoridades, lhe apagaria as memórias que tanto lhe atormentam.'

Kyou: 'Não. Quero que fique marcado na minha memória, o erro que cometi, para me lembrar que não devo mais sentir amor por alguém. Apenas isso.'

Taku: 'Não dever mais sentir amor por alguém…isso nem parecem palavras de um anjo.'

Taku gracejou, fazendo o sorriso matreiro do Kyou aparecer de novo no rosto dele.

Kyou: 'Você sabe o que eu quis dizer, nii-san.'

Taku: 'Óbvio que sei…mas quem sabe se Deus não lhe abrirá as portas de novo?...'

Acabada a estranha pergunta, Taku desaparece pela porta fora, deixando o amigo intrigado.

oOoOoOoOo

Horas depois, uma ruivinha de roupas escuras, Yorae, movia-se cautelosamente pelos corredores da Base. De tão distraída que estava, esbarrou com um rapaz e se agarrou a ele para não cair. Assim que olhou para o rosto do rapaz, viu que era o jovem loiro que lhe salvara a vida, com o rosto corado no momento, sem ela saber o porquê. Na verdade, aquela aproximação toda fez o coração do anjo falhar uma batida, mesmo o próprio dono negando tal sentimento.

Yorae: 'Olá, moço. Ah…como se chama?'

Esperando ouvir a resposta do rapaz, via os orbes safiras dele fixos no rosto dela. O jovem parecia de tal forma atrapalhado que nem falava nada. Vendo que não ia obter resposta tão cedo, tentou se lembrar do primeiro encontro com ele. Veio-lhe à cabeça uma garota de cabelos lilases a gritar de tal maneira com ele, que até ela própria acordou. "Já sei quem ele é…" Sorri do nada, adoptando uma postura mais descontraída.

Yorae: 'O seu nome é Katanami Taku, não é?'

A pergunta da misteriosa ruiva soou como um alarme para acordar Taku do transe. Na verdade, ainda deixou ele mais absorto do que já estava. Como diabos uma mocinha que ele nem conhecia, sabia o seu nome?..!

Taku: 'Ah…é meu nome sim…como você sabe?'

Yorae: 'Eu pareço saber tudo sobre os outros, mas os outros desconhecem-me, até eu mesma.'

Taku: 'Estranho…você é alguma espécie de Deus ou algo parecido?'

Yorae: 'Devo ser, porventura…senão Lúcifer não andaria atrás de mim com tanto interesse.'

Taku franziu o sobrolho com a resposta de Yorae. O Diabo andava atrás dela?...Porque é que o chefe do Inferno iria se incomodar a perseguir uma garota?...Talvez Yorae tivesse mais valor do que aparentava ter. Valor…isso lhe fez lembrar do Terceiro Deus. Era um ser que até o Diabo temia, segundo ele sabia. Óbvio que ele sabia. Ele estava lá, naquela guerra de há centenas de anos atrás. Ele próprio avistou o Terceiro Deus. Era algo de majestoso e inexplicável, nem se conseguia ver a sua verdadeira forma. Quem sabe, se passados mais de 100 anos, esse ser não voltaria na forma de uma garota como a ruiva que estava na sua frente? Quem sabe…


Próximo Capítulo: O vazio dentro de mim
Uma doce jovem se mostra uma fria guerreira...personalidades distintas, sofrimentos similares...O mesmo vazio se impõe...muitas vezes chegando ao exterior.


Weee! Mais um capítulo e mais ah...enfim, leiam XD
E obrigado pelas reviews, Chaos e Cathy, seus escritores com futuro promissor (eu sei do que falo)
As pessoas não fazem ideia de como reviewsde fansrevivem a nossa inspiração XD
E façam mais perguntas e...REVIEWS, pliz o.o
Ok, eh isso...
Kissus Ja ne o/