CAPÍTULO TRÊS
Coisa de irmãos
-----------------
Passava das oito horas da manhã de domingo e a Mansão Potter já estava repleta de ruídos. Totalmente alheios à esses sons, Tiago e Sirius dormiam profundamente num quarto amplo e escuro. Era óbvio que o quarto pertencia a uma família rica e renomada, pois toda a mobília era fina, de muitíssimo bom gosto, apesar de simples. A porta do aposento foi aberta silenciosamente por uma criatura pequena, de vestes surradas (se é que podia-se chamar aquilo de vestes), orelhas grandes de morcego e nariz fino e comprido. A luz da manhã inundou o quarto, fazendo Tiago resmungar e virar-se para a criatura, apertando os olhos.
- Meu senhor, a Senhora pediu para que levantassem. Chegou correspondência para o senhor e seu amigo. Posso ser útil em algo? – disse o elfo domestico, numa voz esganiçada.
- Não, Péricles, nós sabemos nos vestir e escovar os dentes, não se preocupe – respondeu o garoto, mal-humorado, com a voz pastosa de sono.
- Com licença, meu senhor.
Tão silenciosamente quanto se aproximou, o elfo se retirou, fazendo reverências exageradas, quase tocando o chão com o nariz. Tiago espreguiçou-se ruidosamente, batendo com vontade no rosto do garoto da cama ao lado enquanto esticava os braços. Sirius resmungou algo incompreensível e virou-se na cama, ficando de frente para a janela.
Tiago sorriu marotamente. Tateou o criado mudo em busca de seus óculos, encaixou-os no rosto e levantou-se derrubando as cobertas. Dirigiu-se para a janela e abriu-a de uma só vez com estrondo. Então debruçou-se na janela dissimuladamente, como se admirado com a paisagem do lado de fora. Tiago usava pijamas de um tecido sedoso e mole, que caia suavemente por seu corpo magro e comprido. Apesar de serem de manga comprida, eram muito confortáveis, mesmo sendo uma manhã de verão. A veste era repleta de bolinhas douradas que agitavam as asas com uma rapidez incrível. Presente de Natal que ganhara de Sirius no ano passado. Seus cabelos, naturalmente bagunçados, pareciam ainda mais rebeldes que o usual e um sorriso zombeteiro brincava em seu rosto.
Um travesseiro o atingiu em cheio na cabeça, fazendo-o virar-se para encarar o amigo, que estava sentado na cama, esforçando-se para acostumar-se com a claridade.
- Vai caçar sapos, Pontas. Por que você tem que me fazer madrugar todos os dias? Inclusive aos domingos? – perguntou ele com a voz embargada pelo sono. Uma mão postada acima dos olhos cinzentos tentava filtrar um pouco da claridade. Os cabelos totalmente negros e sedosos ocultavam-lhe parcialmente o rosto levemente inchado. Nem mesmo uma noite inteira de sono era capaz de despenteá-los. Ele vestia uma samba-canção repleta de pegadas caninas negras e o peito estava nu, exibindo seu físico invejável. A peça de roupa também fora presente de Natal, apesar de não se tratar exatamente de pijamas.
- Ora, Almofadinhas, eu não pedi para você fugir de casa... – respondeu Tiago, encolhendo os ombros.
- Ótimo. Tem razão, sabe, no próximo verão acho que vou pedir para o Aluado me deixar ficar na casa dele. Os Lupin devem ser muito mais hospitaleiros do que um certo Potter...
Sirius recebeu uma travesseirada em resposta dessa vez e uma careta de ciúmes mal disfarçado.
- Vamos, levante! Temos que tomar café. Mamãe já deve estar arrancando os cabelos lá embaixo, sabe como é... Péricles disse que chegou correspondência para nós.
- Seriam os NOM's? – questionou Sirius, deixando a mão cair, desistindo de lutar contra a luz solar.
- Não, ainda é muito cedo para isso.
Sirius resmungou novamente e levantou-se, ficando de frente para o espelho largo pendurado na parede.
- Vá lavar o rosto, moleque! – esganiçou-se o espelho. Sirius mostrou a língua para o próprio reflexo enquanto Tiago se acabava de rir do comentário.
- Há há! Eca, melequento! – mas em meio a seu ataque de riso, acabou por colocar-se em frente ao espelho também, recebendo também um comentário intrometido.
- Penteie os cabelos, garoto! – foi a vez de Sirius cair na gargalhada.
- Ninguém pediu sua opinião, seu espelho intrometido. – respondeu Tiago, com um gesto de impaciência, bagunçando ainda mais os cabelos. Na verdade, não havia sentido em tentar pentear os cabelos. O que ele podia fazer, se eles simplesmente cresciam para todos os lados, espetando-se na parte de trás?
Os dois garotos se trocaram, espalhando roupas para todos os lados durante o processo. Depois disputaram uma curta - e desonesta - corrida até o banheiro, que Tiago só ganhou por puxar os cabelos de Sirius até tomar a dianteira. Depois de devidamente arrumados, eles saíram para o corredor e já se encaminhavam para o andar de baixo quando ouviram um estrondo.
Ambos estacaram e se entreolharam, trocando sorrisos igualmente malandros. Então, com muito cuidado para não fazerem barulho, eles retrocederam um pouco e tomaram um outro corredor, parando em frente à uma tapeçaria. Como toda mansão antiga que se preze, a Mansão Potter possuía diversas passagens secretas. E como perfeitos marotos que eram, Tiago e Sirius conheciam todas elas. Inclusive aquela minúscula que se escondia por trás da tapeçaria em que eles se encontravam parados. Era um atalho baixo e estreito, que Tiago costumava usar quando criança, porém agora só era utilizado pelos elfos domésticos para facilitar o acesso às despensas.
Os dois garotos abaixaram-se e espiaram por uma fresta da tapeçaria. Imediatamente o cheiro da cola que os trouxas usavam invadiu suas narinas. Mesmo diluída em água, a substância ainda era tinha um cheiro marcante. Eles se viram encarando Péricles coberto pela substância gosmenta e pegajosa. Ambos sufocaram risadinhas ao assistir o pequeno elfo resmungar e escorregar ao tentar ficar em pé. Eles tinham preparado essa armadilha na noite anterior, só não esperavam assistir a brincadeira se completar diante dos olhos deles.
O elfo doméstico já estava mais do que arisco com relação às brincadeiras dos dois e se prevenia ao máximo, usando da magia característica dessas criaturas para detectar artefatos mágicos nos lugares mais improváveis. Isso tinha forçado os dois marotos a recorrerem a táticas trouxas, incluindo armadilhas com linhas esticadas rente ao chão.
Depois de muito esforço, Péricles finalmente conseguiu colocar-se em pé e ensaiar alguns passos à diante, ainda resmungando. Porém não deu nem dois passos e já estava no chão novamente. Mas dessa vez não tinha escorregado. Tinha tropeçado em uma corda fina e esticada, fazendo com que esta se partisse. A figura pequena do elfo foi coberta por uma nuvem de pó colorido e brilhante, que caiu sobre sua cabeça, grudando em cada parte visível de seu corpo melecado.
Sirius e Tiago soltaram sons estranhos pelo nariz, com dificuldade para conter o riso.
- Ora, aquelas duas pestes! – resmungou o elfo em meio à um acesos de tosse por inalar um pouco daquela poeira brilhante.
- Pestes? - Tiago finalmente fez-se notar, tendo cuidado para manter somente indignação na voz, o que era muito difícil já que Sirius estava praticamente rolando de rir logo ao lado. – Quem você está chamando de peste, Péricles?
O elfo arregalou os olhos para o jovem mestre e então começou a bater a própria cabeça contra a parede lateral da passagem em que se encontrava, a poeira brilhante agitando-se ao seu redor.
- Perdão, meu senhor! Péricles mal! Péricles mal!
- Humm... sim, acho que isso responde minha pergunta – disse Tiago pensativo. – Está bem, eu te perdôo, Péricles. Mas você não vai contar nada pra mamãe, vai?
O elfo parou de se agredir e concordou com acenos enfáticos, fazendo com que alguma poeira brilhante levantasse ao seu redor.
- Assim está ótimo então! – Tiago sorriu de orelha a orelha. – Gostei do seu novo estilo, bastante moderno! Mas receio que mamãe não goste muito desse tipo de inovação. Ela acha meio rebelde. Ainda mais para um elfo doméstico. Então não deixe que ela te veja assim, ok?
Outro aceno de cabeça e o elfo virou-lhes as costas andando apressado. Os dois garotos finalmente abaixaram a tapeçaria, mas ainda mantiveram os ouvidos grudados nela. Instantes depois ouve um barulho parecido com vidro se entrechocando, um gritinho estridente de Péricles e outro "BAM!" que indicava que o elfo estava no chão novamente. Sirius e Tiago desabaram cada um para um lado no corredor, segurando a barriga de tanto que riam.
- Caracoles, amei esse pozinho trouxa! – Sirius enxugou uma lágrima que escorria no canto dos olhos. – Como se chama mesmo?
- Purpurina – respondeu Tiago, tentando normalizar a respiração, porém ainda mantendo a face contorcida pelo riso silencioso.
- Cada coisa que esses trouxas inventam, né! Essa purpurinha e aquelas bunicas!
- O que você disse? - Tiago arqueou uma sobrancelha, divertido. Era impressionante como Sirius tinha dificuldade para articular palavras tão simples simplesmente por serem de origem trouxa! Devia ser herança do ódio que os Black tinham pelas pessoas sem sangue mágico correndo nas veias.
- Ah, você sabe! – impacientou-se Sirius, sentando-se de pernas cruzadas no chão. – Aquelas bolinhas coloridas de vidro que nós espalhamos pelo chão!
- Oh, sim, as buricas! Ou bolinhas de gude, não é?
- Isso mesmo, as bolinhas de grude – Tiago revirou os olhos, porém Sirius não se deu conta de que falara errado novamente. – Nós poderíamos pedir mais para seu pai, né? Aquele amigo dele que trabalha no Departamento de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas poderia conseguir mais pra ele, né!
- Arthur Weasley?
- Isso mesmo, aquele ruivo. Nós poderíamos estudar algum modo de enfeitiçá-los em Hogwarts!
- Verdade! A gente podia testar no Sebosão, né! – sugeriu Tiago com os olhos brilhando por trás das lentes.
- Com toda certeza, meu caro! – disse Sirius, pondo-se em pé e estendendo uma mão para ajudar o amigo a se levantar. – Agora vamos, pois se sua mãe pegar a gente na cena do crime, vamos ficar sem sobremesa.
- Oh, sim, vam'bora.
Os dois desceram para o café da manhã com carinhas inocentes, parecendo dois anjinhos educados pedindo "Por favor, mamãe, me passe o cereal?" ou "A senhora poderia, por favor, me emprestar o Profeta Diário para que eu faça as cruzadinhas, Sra. Potter?".
A bondosa senhora ficou mais do que desconfiada com toda essa educação dos dois. Certamente estavam tentando desviar sua atenção de alguma de suas travessuras. Mas achou melhor continuar na ignorância, pois era péssima quando se tratava de punir seus filhos adoráveis. Afinal, toda aquela energia e inteligência que eles empregavam em travessuras era sinal de que ambos eram bastante saudáveis! Bem, pelo menos ela pensava assim e não gostava de ter que repreender o filho por nada nesse mundo. Conhecia o filho que tinha, sabia que Tiago, como seu pai, sabia ser responsável quando a situação assim exigia. Não queria fazê-lo desperdiçar sua vivacidade, fazê-lo crescer rápido demais.
Depois do café da manhã, a Sra. Potter finalmente entregou a correspondência para os dois garotos, que sentaram-se na mesinha da sala e começaram a ler.
- De quem é? – perguntou Tiago esticando o pescoço para o pergaminho meio amassado que Sirius segurava em frente aos olhos.
Sirius demorou ainda um pouco para responder, enquanto seus olhos corriam de um lado a outro.
- Meu tio, Alphard Black.
- Quem é esse? – questionou Tiago, intrigado.
- Sei lá! – Sirius deu de ombros sem desviar os olhos da carta. - Pelo menos ele diz que é meu tio!
Tiago cansou de esperar por mais alguma palavra e juntou sua cabeça com a de Sirius, de modo a poder ler também.
Caro Sirius,
Você provavelmente não se lembra de mim, pois a última vez que fui visitar seus pais você tinha pouco mais que cinco anos (e devo acrescentar que já parecia bastante rebelde, tocando fogo na cortina da sala com um simples olhar enraivecido).
No momento em que pus os olhos em você, acendeu-se uma esperança de que finalmente alguém dessa família teria coragem o suficiente para ir contra todos os princípios mesquinhos dessa família que ainda carrego o nome. Coloquei minhas esperanças em você, uma vez que nunca tive coragem para tanto. Mas ainda assim consegui colocar alguma coisa do que sentia para fora.
Nesse dia eu fui convidado a me retirar da sua casa por aprovar seu comportamento e também por dizer algumas verdades a seu pai. Também fui avisado de que não era bem-vindo na mansão pelo resto dos dias dos Black, mas realmente estou me lixando para isso.
Qual não foi minha alegria quando a jovem Andrômeda renunciou seu dote e sua herança para casar-se com um trouxa muito honesto e gentil (apesar de um tanto quanto porcalhão, devo admitir). E agora também você veio reascender minhas esperanças se rebelando e fugindo daquele antro de loucos que é a Mansão Black.
Expresso por meio desta o meu regozijo em receber tal notícia de muito longe, apesar dos esforços de sua família para contê-la e evitar escândalo. Esforço inútil, é claro.
Ficarei grato em ajudá-lo no que se fizer necessário, meu caro sobrinho. Qualquer dia demonstro meu contentamento com algo muito mais palpável do que meras palavras de congratulações e desejos de felicidade com essa nobre família que o acolheu.
De seu orgulhoso tio,
Alphard Black.
Tiago tinha a sobrancelha franzida ao terminar a leitura.
- Algo mais palpável do que palavras? O que ele quis dizer com isso, Almofadinhas?
- Não sei, Pontas. Não sei – Sirius sacudiu a cabeça para expulsar o leve torpor que o tomara, como um cachorro que sacode a água do corpo, e voltou-se então para as cartas que Tiago ainda segurava. – Vamos, abra logo essas aí!
Tiago ajeitou-se melhor na cadeira, empurrou os óculos com o dedo médio e analisou melhor o pergaminho que tinha em mãos.
- É do Rabicho – informou, já desenrolando-o e posicionando-o de modo que os dois pudessem ler a caligrafia grande e garranchosa de seu amigo, Pedro Pettigrew.
Caros Pontas e Almofadinhas,
Por todas as tortinhas de abóbora da Inglaterra! Eu não acredito que você fugiu de casa, Almofadinhas! Eu imagino a cara que sua m... quero dizer, que a Sra. Black deve ter feito quando descobriu, e... oh, é assustador mesmo em meus pensamentos!
E... uau! Que coragem!
Ora, vocês sabem que não sou muito bom com palavras, né...
Parabéns! Imagino que você deve estar feliz na casa dos Potter. Também, quem não ficaria feliz podendo comer todos os dias as tortinhas deliciosa que só a Sra. Potter sabe fazer?
Falando nisso... será que vocês poderiam me mandar algumas? Minha mãe cismou que eu estou precisando fazer regime, dá pra acreditar? Oh, por favor, sim?
Pontas, eu já pedi para minha mãe e ela me deixou passar as duas últimas semanas de agosto na sua casa. Espero que Aluado também possa ir... Ele ainda não me escreveu... deve estar passando por maus bocados, se é que vocês me entendem...
Não vejo a hora de ir para sua casa, Pontas! É tão chato aqui, sozinho... os vizinhos me acham esquisitos, sabe...
Não se esqueçam de escrever,
Rabicho.
Sirius nem sequer chegara ao fim da carta e já estava gargalhando.
- Rabicho de regime? Caramba, a Sra. Pettigrew está tentando torná-lo ainda mais pirado que o de costume! Ele já não fala três palavras seguidas que não tenha muito açúcar e ela inventa essa agora?
Tiago acompanhou o riso do outro, embora estivesse bem mais comovido com o estado do amigo.
- Eu vou pedir para mamãe fazer algumas tortinhas para ele – assegurou, enrolando novamente o pergaminho.
Sirius pegou o outro, meio amassado e começou a desenrolar.
- Esse é do Aluado, com toda a certeza – disse, terminando de abri-lo sobre a mesa e alisando-o.
Ambos tentavam parecer descontraídos, mas estavam mais apreensivos por essa carta. Naquela semana, estava acontecendo a primeira transformação que o amigo lobisomem sofria sozinho, depois de meses com a companhia dos amigos animagos. Eles tinham medo de que Aluado voltasse a ficar violento e agressivo.
Meus caros Almofadinhas e Pontas,
Em primeiro lugar, quero assegurá-los de que estou passando a semana muito bem, não há motivo para se preocuparem. Não é nada com que eu já não esteja acostumado. Meus pais estão me dando bastante apoio.
De qualquer forma, agradeço a preocupação de vocês. Também estou com saudades de nossas aventuras pelos terrenos de Hogwarts (Aluado também, se é que vocês me entendem...), mas de qualquer forma eu lhes asseguro que estou bem e não haverá problema nenhum ao completar o próximo ciclo lunar.
Os dois garotos se entreolharam, apreensivos, um tanto incrédulos. Porém continuaram a leitura.
Em segundo lugar, é claro que meus pais me deixaram passar as duas últimas semanas de férias em sua casa, Pontas! A princípio eles ficaram um pouco relutantes em me deixar ir logo no segundo dia depois das transformações, porém eu consegui convencê-los de que a Sra. Potter cuidará muito bem de mim, estou enganado?
- Certamente que não! Mamãe adora o Aluado! – exclamou Tiago e Sirius concordou com um resmungo que poderia até parecer meio enciumado.
Ainda não escrevi para o Rabicho, mas tenho certeza que não haverá problemas para que ele também consiga autorização.
Em terceiro lugar, Almofadinhas! Céus! Como você pôde fazer isso? Que audácia!
Sirius deu um meio sorriso arrogante para o pergaminho e Tiago meneou a cabeça, também sorrindo.
Em parte estou feliz por você se ver finalmente livre daquela casa que te inspira tanto rancor, mas também tenho medo da reação deles!
Bem, de qualquer forma isso não me impede de te apoiar em sua decisão. Tenho que admitir que não estou de todo surpreso. Já esperava que você não permanecesse muito tempo com sua família. Achei até que você agüentou as pontas por muito tempo! (me desculpe pelo trocadilho, Pontas... não resisti!).
- Humpt! – fungou Tiago. – Esse monitorzinho de araque está me saindo muito maroto mesmo!
- Melhor para nós! – Sirius deu de ombros. – Mas por que ele tem sempre que parecer tão onisciente? Caramba, nada o surpreende! Tudo ele "já sabia", "já esperava por isso", humpt! – desdenhou. - E ainda insiste em ser um poço de modéstia! A quem ele pensa que engana?
- Talvez ele tente enganar a si mesmo – sugeriu Tiago.
Sirius revirou os olhos.
- Oh, claro... complexo de inferioridade...
O tempo custa a passar por aqui, vocês sabem... Ainda não pude ir ao Beco Diagonal compras meus materiais, e já li todos os livros da biblioteca de meu pai, então não me resta muito o que fazer senão ajudar minha mãe a cuidar da casa.
Sirius desatou a gargalhar.
- Pombas! Você também imaginou o Aluado fazendo tricô agora?
- Oh, não! Eu não precisava ter imaginado isso, Almofadinhas! - Tiago seguiu-o nas gargalhadas.
Espero que estejam aproveitando bastante as férias de vocês. E eu me refiro a diversão saudável, viu?
Pobre Sra. Potter!
- Ora essa! Nossas diversões são as mais saudáveis possíveis! – indignou-se Sirius.
- Sim, para nós é muito saudável, mas eu não diria o mesmo para Péricles... – ponderou Tiago.
Então eles se entreolharam e riram, lembrando-se da recente travessura.
Agora estou num impasse. Sei que quanto mais eu desejar que as férias cheguem ao final, maior será meu remorso quando elas finalmente terminarem. E eu sei que o tempo que eu passar em sua casa, Pontas, vai passar em um piscar de olhos!
De qualquer maneira, até breve. Não deixem de escrever, por favor.
Abraços,
Aluado.
- Só ele mesmo pra desejar que as férias acabem logo! Aposto que está com saudade da McGonagall! – caçoou Sirius.
Porém Tiago não acompanhou-o no riso debochado.
- Você teria saudades até do Snape se ainda estivesse sozinho na casa de seus pais – disse, sério.
Sirius fechou a cara e Tiago suspirou um tanto arrependido por suas palavras.
- Pobre Aluado, deve estar entediado... queria poder visitá-lo. Queria poder fazer companhia para ele na Lua Cheia...
- Ora, nós teremos bastante oportunidade para isso em Hogwarts – Sirius tentava ignorar o aperto em seu coração causado pela comparação que o outro fizera, mascará-lo em desprezo. – Além disso, o Aluado é forte, sabe se cuidar. E a Sra. Lupin não é nenhuma megera, que eu saiba. Ele tem os pais dele lá! Tem pais de verdade!
Tiago achou melhor mudar de assunto, vendo o quanto Sirius começava a se alterar. No entanto, assim que abriu a boca, ouviu um berro de sua mãe, vindo de algum lugar próximo à cozinha:
- Tiago Potter! Aqui! Agora!
- O-ow – disseram os dois ao mesmo tempo, encolhendo-se instintivamente
----------------
A Mansão Potter possuía em torno de sete elfos domésticos responsáveis por cuidar da ordem e limpeza de todos os seus aposentos – que não eram poucos, obviamente, tratando-se de uma Mansão antiga como aquela. Nindiely Potter não era uma pessoa exigente, mas se havia uma coisa que ela era intransigente era quanto à ordem de seu lar. Ela fazia questão que tudo fosse limpo diariamente, apesar de poucos aposentos serem realmente usados constantemente. Todos os sete elfos domésticos eram responsáveis pela limpeza. Porém de uma coisa ela não abria mão: cozinhar. A cozinha era um lugar sagrado para ela. Ela se encarregava pessoalmente de deixá-la sempre organizada de acordo com sua preferência e preparava todas as refeições com as próprias mãos (e a varinha!). Só solicitava a ajuda de algum elfo quando recebiam visitas, ou quando tinha algum compromisso com o marido, mas ai da criatura que guardasse um talher no lugar errado! Não era à toa que todos gostavam de visitar a família, uma vez que a culinária da Sra. Potter era muitíssimo saborosa.
Nessa manhã, depois de limpar a louça do café da manhã, a Sra. Potter tinha resolvido que já estava na hora de organizar novamente a despensa, pois não encontrara alguns ingredientes que ela tinha certeza que não estavam faltando. Já fazia algum tempo que estava lá, cantarolando junto com o rádio - que flutuava a uma distância segura dela, acompanhando-a onde quer que fosse. Estava estranhando Péricles não ter aparecido por lá ainda, já que ele sempre ficava encarregado de limpar o porão depois de acordar os garotos e costumava ficar passando pela dispensa com baldes e panos a todo o momento. Mas talvez o elfo já tivesse limpado, ou talvez não estivesse tão sujo a ponto de precisar ficar trocando a água dos baldes...
Depois de terminada a organização do primeiro armário – em ordem alfabética – ela deu uma espanada no pó da roupa e limpou o suor da testa. Então desceu da cadeira em que estava em pé, arrastando-a até o segundo armário. Não gostava muito desse armário, era mais alto e mais fundo. Deu uma espiada na última prateleira e bufou, colocando as mãos na cintura. Lá estavam os ingredientes que ela procurara de manhã!
- Ora essa, quem foi a criatura infeliz que socou minhas compras lá no fundo! Eu não alcanço! – disse ela para si mesma, irritada.
Teria que pedir a ajuda de algum elfo. Desceu novamente da cadeira e foi até o alçapão que levava ao porão, erguendo a tampa e abaixando-se para espiar. Estava tudo escuro, o que era muito estranho.
- Péricles? Hey, Péricles, você está aí?
Ninguém respondeu, e ela voltou a levantar-se, com uma ruga na testa e as mãos novamente na cintura. O que teria acontecido com Péricles? Será que estava antevendo a bronca que levaria por ter bagunçado os ingredientes? Caso tenha sido realmente ele, obviamente...
A Sra. Potter acenou a varinha para o rádio, que aquietou-se e pousou cuidadosamente no chão a seu lado. Então ela pôde ouvir um barulho fraco, parecido com o som de vidro se entrechocando. Aguçou os ouvidos e o som parou, como se de repente tivesse percebido o silêncio carregado. Mas ela já tinha identificado de onde vinha o barulho.
Caminhou até uma portinha estreita de madeira junto ao chão, que ela sabia ser a saída de uma das passagens de acesso ao segundo andar. Puxou a madeira, mas a porta estava emperrada. Não gastou mais seus esforços, apontando a varinha para o trinco, que se abriu de uma vez com um estampido. De dentro, rolou um punhado de bolinhas coloridas de vidro esquisitas e um embolado brilhante de trapos que se parecia muito com...
- Péricles? – intrigou-se a Sra. Potter.
O elfo estava completamente coberto por uma camada de pó brilhante e quando se levantou parecia ter certa dificuldade para se movimentar, como se seus músculos estivessem enrijecidos.
- Péricles! O que aconteceu com você!
- N-nada! Nada, minha senhora! – o elfo pareceu apavorado e já começou a olhar para os lados, aparentemente a procura de algum objeto para se punir. A Sra. Potter estreitou os olhos, começando a entender. - Péricles muito burro, minha senhora! Péricles tropeçar em bolinhas e... e rolar em sujeita e...
- Já chega! – interrompeu ela, levantando a varinha, ao que o elfo se encolheu.
Porém a Sra. Potter tocou a própria garganta com a varinha e sua voz magicamente ampliada reverberou pela despensa:
- Tiago Potter! Aqui! Agora! – então ela abaixou novamente a varinha e apontou um dedo ameaçador a Péricles, que esticava os dedos para uma lata vazia ao lado. – Não ouse se mexer, ouviu bem?
O elfo congelou no mesmo lugar, ainda com o braço esticado e os olhos esbugalhados. Segundos depois, ouviram-se passos e dois garotos risonhos apareceram da cozinha.
- Chamou, mamãe? – perguntou Tiago, tremelicando as pálpebras de um jeito angelical.
Sirius acompanhou-o de perto, com o rosto parcialmente escondido pelos cabelos e as mãos nos bolsos das vestes de bruxo. Só faltavam as auréolas e as azinhas nas costas.
- É claro que chamei! – ralhou a Sra. Potter apontando para Péricles, que tremeu levemente. – Como você explica isso?
- Isso o q...? Hum? Péricles? – dissimulou o garoto, olhando para o elfo com curiosidade. – Você andou mexendo nas coisas do papai, Péricles? Tsk tsk, que coisa feia... Papai não vai gostar nada, nada...
Sirius pigarreou, disfarçando uma risada.
- Ora, rapazinho! – a Sra. Potter cruzou os braços diante do corpo. – Pensa que consegue enganar a própria mãe? Por acaso você ainda pensa que vai ter sobremesa hoje?
Tiago pareceu verdadeiramente chocado. E então indignado.
- Ora, e ele? – apontou para Sirius, que limitou-se em arquear uma sobrancelha, despreocupadamente. - A senhora nunca tira a sobremesa dele!
- Ora não seja infantil, mocinho! – ralhou a Sra. Potter.
- Ai, como você é infantil, mocinho – caçoou Sirius em um sussurro grave que só Tiago ouviu e rangeu os dentes.
- Sirius nunca se atreveria a fazer uma coisa dessas se você não aceitasse! – continuou a exaltada senhora. - Além disso ele não seria capaz de mexer nas coisas de seu pai sem permissão.
- Mas papai me deu essas coisas! – Tiago estava lutando com todos os recursos para não perder a sobremesa dessa vez, mesmo sabendo que Sirius dividiria a sua com ele. Bem, pelo menos ele sempre fazia isso, mas não estava certo de que isso aconteceria novamente depois desse seu ataque de ciúme infantil.
A Sra. Potter abriu a boca para continuar, porém impediu-se, franzindo o cenho.
- Ele te deu?
- Bem, ele não me deu, na verdade... – sua mãe já ia recomeçar a bronca quando Tiago resolveu ser mais claro. - Mas falou que eu podia usar se quisesse! Verdade! Até me disse onde estavam!
A Sra. Potter estreitou os olhos, desconfiada e Tiago bufou.
- Ora, pergunte a Sirius! Ele não é o menino exemplar? O garoto bem-comportado da casa? – disse, zombeteiro. – Pergunte a ele!
A mulher desviou seu olhar desconfiado para Sirius, que murmurou um inocente "um-hum", reforçado com um aceno positivo de cabeça.
- Eu não acredito que Howard tenha feito isso! Como ele p...
Porém ela foi interrompida por um barulho metálico, fazendo com que ela se virasse. Tinha-se descuidado do elfo doméstico, e ele agora atirava a lata vazia contra a própria cabeça repetidas vezes. Arregalou os olhos e correu segurar a lata.
- Hey, pare com isso! Eu disse para não se mexer, elfo tolo! – ela levantou o objeto, mas Péricles recusava-se a largá-lo, agitando os pezinhos descalços ao ser erguido do chão. – Ora, solte isso!
A Sra. Potter começou a chacoalhar lata e elfo. Péricles fechou os olhos com força e mordeu os lábios, resmungando baixinho. Tiago e Sirius tentavam conter as risadas, tapando a boca com as mãos, entretanto se dobravam e soluçavam, emitindo alguns fracos sons nasais.
No instante em que a mão do elfo finalmente escorregou pelo objeto, fazendo-o cair sentado no chão, outra criaturinha pequena vestida de trapos apareceu na porta da despensa, fazendo reverências e desculpando-se por interromper o que quer que estivesse se passando.
- Minha senhora, Welly pedir perdão, minha senhora, mas tem uma pessoa querendo falar com a senhora na lareira. Ela também chamar pelo menino Black, minha senhora.
Tiago e Sirius, que recuperavam a compostura, arregalaram os olhos e trocaram um olhar curioso, antes de se voltarem ao mesmo tempo para a Sra. Potter, que tinha uma ruga de preocupação na testa.
- Quem é, Welly? – questionou, com a voz mais aguda que o normal.
A pequena elfa torceu as mãos nervosamente, fazendo círculos no chão com um dos pés.
- Welly não saber, minha senhora... achar falta de educação perguntar...
A Sra. Potter ignorou as marteladas metálicas - que indicavam que Péricles tinha voltado a se agredir – e aproximou-se de Sirius, preocupada. Segurou o queixo do rapaz de maneira firme, porém carinhosa. Toda a irritação de momentos atrás tinha-se esvaído.
- Meu querido, é melhor você não se mostrar até nós termos certeza de que está tudo bem, ok?
- Sim, senhora – respondeu roucamente Sirius, com todo o respeito que tinha por aquela mulher.
Ainda assim, a mulher abriu a boca algumas vezes, com os olhos ligeiramente estreitos em desconfiança.
- Tiago, você segura ele, ouviu bem?
- Sim, senhora - o garoto bateu continência, ao que sua mãe ignorou e deu-se por satisfeita, saindo apressada.
Sirius trocou outro olhar significativo com Tiago e ambos viraram-se para segui-la. Porém, Tiago voltou-se mais uma vez para o elfo, que já tinha os olhos vesgos de tanto que batia na própria cabeça.
- Está tudo bem, Péricles. Nós três nos safamos da bronca! Não precisa se punir, ok?
O elfo abaixou a lata lentamente, acenou positivamente e cambaleou, estirando-se no chão logo em seguida. Tiago meneou a cabeça e olhou para o lado, pronto para fazer algum comentário com o amigo, porém sentiu um friozinho na barriga ao perceber que ele já não estava mais na despensa.
Saiu correndo, passando pela cozinha e agarrando a manga das vestes de Sirius, fazendo-o levar um tranco.
- O que você está fazendo, Almofadinhas! - sussurrou reprovadoramente, não se amedrontando com a cara de poucos amigos do mais alto.
- Só quero ouvir, oras! - impacientou-se Sirius puxando o braço com força para soltar-se. - Não vou fazer nenhuma besteira!
Tiago meneou a cabeça e apertou os lábios, sem outra alternativa que não seguí-lo na ponta dos pés através do corredor que levava à sala. Assistiram a Sra. Potter entrar na sala, apreensiva, e encostaram-se na parede do corredor, para que pudessem escutar tudo o que se passava.
- Andrômeda?
Sirius arregalou os olhos e apertou, inconscientemente, a manga das vestes de Tiago. Seu coração pareceu perder um compasso enquanto aguardava a resposta com expectativa.
- Olá, Nindiely! – ouviu-se a voz grave, apesar de bastante feminina, de Andrômeda Tonks, prima de Sirius.
- Andy! - sussurrou Sirius de um jeito meio sonhador que fez Tiago ficar intrigado.
Desde seus doze anos de idade que Sirius não via Andrômeda Black - ou melhor, Andrômeda Tonks agora. Ela tinha se formado quando ele acabara de cursar seu primeiro ano em Hogwarts. Só guardava boas recordações da prima, que estava sempre com um livro de romance ou aventura - bruxo ou trouxa - nas mãos. Enquanto suas outras irmãs mais novas, Narcissa e Bellatrix, ficavam brincando de duelar ou maltratando os elfos domésticos, Andy sempre ia até seu quarto ler ou contar histórias de aventura que o deixavam fascinado! Ela também gostava de fazer cafuné em seus cabelos, tentando bagunçá-los.
Sirius tinha ficado muito feliz pela prima ao saber que ela tinha renunciado seu dote e seu sobrenome para se casar com um trouxa, porém também lamentou-se por perder o contato com ela, já que nem em Hogwarts eles se veriam mais. Na mansão Black, ninguém tocava no nome dela. Nem mesmo suas irmãs se davam ao trabalho de mencioná-la.
Esses pensamentos fizeram com que Sirius se impelisse para frente, ansioso por ver a prima mais uma vez, entretanto sentiu-se ser puxado pelas vestes, trombando com a parede novamente.
- Me solta, Pontas! - rosnou, tentando desvencilhar-se, porém Tiago colocou uma mão sobre sua boca.
- Shhh! Quieto! - sussurrou Tiago, aguçando os ouvidos para tentar ouvir o que se passava na sala. - Mamãe disse para esperar! Nós ainda não sabemos o que sua prima quer! E se ela quiser te delatar?
Sirius mordeu a mão do amigo, que abafou um grito.
- Uhh, qual é, Almofadinhas?
- Eu é que pergunto! - trovejou com sua voz grave, fazendo a conversa das duas mulheres cessar. - É a Andy, Pontas! Ela é tão bem-vinda na minha família quanto eu!
Dizendo isso, Sirius arrumou as vestes, que tinham se entortado com o puxão de Tiago, e não deu tempo do amigo dizer mais nada, entrando no outro cômodo. Tiago examinou irritado a marca vermelha dos dentes de Sirius na palma da sua mão antes de segui-lo.
- Sirius! - exclamou a cabeça flutuante sobre as chamas verdes da lareira.
- Olá, Andy! - o garoto deu um sorriso genuíno e correu até a lareira, sentando-se no chão para encará-la ao mesmo nível.
Andrômeda Tonks tinha os cabelos compridos, negros e sedosos como os seus. Seus olhos, porém, eram castanhos escuros e seu rosto já apresentava algumas poucas rugas precoces. Sirius sabia que ela batalhava muito para ajudar o marido a sustentar a casa. Tinha ouvido sua tia comentando horrorizada com sua mãe, certa vez, que ela lavava roupa e fazia outros serviços domésticos para trouxas.
Tiago procurou o olhar da mãe, encolhendo os ombros com uma expressão sem-graça no rosto, no entanto recebeu um sorriso tranqüilizador da Sra. Potter, que chamou-o para sentar-se no sofá.
- Tem certeza que não quer vir para cá, Andrômeda, querida? - questionou ela docemente assim que acomodou-se.
- Não, obrigada, Nindiely. Ninfadora está dormindo, tenho que ficar de olho nela. Só queria dar uma olhada em você, Sirius! - ela voltou-se para o primo, que voltara a adquirir a postura confiante de sempre, mesmo sentado no chão como estava, com um sorriso enviesado no rosto. - Você está tão crescido! Tão bonito!
O garoto empertigou-se, colocando uma mecha do cabelo para trás da orelha charmosamente. Um comentário desse tipo: "Puxa, mas como você cresceu!", sempre deixava-o irritado. Mas vindo de Andrômeda, ele aceitaria até alguns apertões nas bochechas. Ela sorriu com os olhos brilhando e então seu olhar adquiriu um ar mais grave.
- Oh, Sirius! Você sabe que eu quase não tenho mais contato com o mundo bruxo, mas estive no Beco Diagonal ontem à noite e encontrei alguns conhecidos. Só então fiquei sabendo que você tinha fugido de casa! Fiquei tão preocupada! Achei que você poderia estar perdido por esse mundo, se escondendo sabe-se lá onde! Oh, tive tanto medo por você! Mas então resolvi investigar mais e descobri que você era o melhor amigo do filho dessa pessoa maravilhosa que é Nindiely Potter, o que me acendeu uma fagulha reconfortante de esperança! Tive que vir perguntar por você! - ela lançou um olhar agradecido à Sra. Potter e voltou-se para o primo novamente, já voltando a sorrir com emoção. - Agora já posso ficar tranqüila! Sei que você está em boas mãos...
- Ora, bondade sua, minha cara - agradeceu a Sra. Potter.
Andrômeda abriu ainda mais o sorriso, com os olhos ainda brilhando de emoção.
- Estou tão orgulhosa de você, rapazinho! - acrescentou, sinceramente.
E por mais incrível que isso parecesse aos olhos de Tiago, Sirius pareceu levemente encabulado, mordendo o lábio inferior e tornando a mexer nos cabelos, dessa vez por falta de reação.
- Como está a pequena Ninfadora? - questionou a Sra. Potter.
Tiago torceu o nariz para o nome. Da primeira vez que ouvira o nome, achara que não tinha ouvido direito, ou talvez se tratasse de alguma cadela, uma coruja, algum bichinho com muita falta de sorte. Mas não! O garoto inclinou a cabeça para o lado, com uma sobrancelha arqueada, tentando encontrar algum sinal de distúrbio psicológico nessa tal prima de Sirius. Que tipo de mãe colocaria um nome desse na filha? Então olhou para Sirius, esperando aquela troca de olhares significativa entre eles, mas o amigo parecia não ter se abalado com o nome da infeliz criança.
- É mesmo! - exclamou Sirius, parecendo genuinamente entusiasmado. - Como está minha priminha? Queria tanto conhecê-la...
Tiago nunca imaginou que viveria para ver o dia em que Sirius Black ficaria tão entusiasmado por causa de uma criança! Mas essa visita estava trazendo à tona um lado desconhecido de seu melhor amigo. Nunca tinha-no ouvido comentar sobre essa prima dele, apesar de saber que era a pessoa com quem mais tinha afeição de sua família - ou talvez a única - pelos poucos momentos em que eles se encontravam em Hogwarts durante o primeiro e segundo ano deles.
- Ela está uma gracinha! Você tem que vê-la!
- Qual a idade dela, Andy? - Sirius não teve vergonha em demonstrar sua falta de conhecimento a respeito da vida e da família da prima, pois tinha certeza que ela entenderia as razões disso.
- Três anos - informou Andrômeda.
- Tudo isso? - admirou-se Sirius. - Eu só fiquei sabendo que você teve bebê nas férias do ano passado!
- Pois é, muito poucas pessoas sabem dela. Mas isso é minha culpa mesmo, eu não tenho saído de casa e, principalmente, não saio com ela. Ela chama muita atenção. Além disso, eu admito que talvez seja um pouco protetora demais com meu bebê...
Sirius tinha franzido a testa, intrigado com o comentário da prima.
- Por que ela chama muita atenção?
- Oh... - Andrômeda pareceu pensar um pouco sobre o que dizer. - Bem, como eu disse, muito poucas pessoas sabem dela, mas ela é um tanto especial, sabe. É uma metamorfomaga - contou, sem esconder seu orgulho e preocupação.
- Wow! - exclamaram Sirius e Tiago ao mesmo tempo. Por estudarem muitos livros de Transfiguração, pesquisando sobre animagia, eles já conheciam bastante sobre a implicação de ser um metamorfomago. Significava que a pessoa podia alterar a própria aparecia sem muito esforço, de acordo com sua vontade.
- Puxa, isso é fantástico! - admirou-se também a Sra. Potter. - Ora, essa ou não sabia, querida! - Andrômeda deu um sorrisinho culpado e ela continuou, tentando não deixá-la sem jeito por seu comentário. - Você poderia trazê-la aqui qualquer dia, o que acha? - convidou. – Howard adoraria conversar com Ted também!
Andrômeda pareceu um pouco sem graça, mordendo o lábio inferior.
- Eu... não sei se devo... Ted tem trabalhado muito ultimamente, sabe... E Ninfadora... bem, ela não está acostumada a sair de casa, sabe...
- Então esse é mais um motivo para você vir trazê-los! – insistiu a Sra. Potter. – Ora, Andrômeda, querida, você precisa se divertir um pouco! Venha passar uma tarde conosco! Um domingo, quem sabe?
- Por favor, Andy – pediu Sirius, aproveitando o momento para usar de sua mais que perfeita carinha de cachorro pidão, encarando-a com o rosto baixo, deixando os cabelos caírem parcialmente sobre os olhos e fazendo um biquinho adorável.
Andrômeda pareceu ainda mais sem graça depois desse pedido.
- Oh, eu... sinto muito... Ted tem trabalhado inclusive nos finais de semana, esses últimos meses. Não sei se será possível – o bico de Sirius ficou ainda mais pronunciado e ele inclinou ainda mais a cabeça para baixo, sem deixar de encará-la. – Mas eu posso pedir que ele arrume alguma folga, afinal já faz tempo que ele não tira nenhuma mesmo...
E num piscar de olhos Sirius estava radiante e exultante novamente, colocando os obedientes - e úteis - cabelos para trás da orelha.
- Então está ótimo! – comemorou a Sra. Potter. - Vou contar a Howard, ele vai ficar satisfeitíssimo!
- Obrigada, Nindiely. Pelo convite e por hospedar esse garoto adorável – Andrômeda sorriu docemente para Sirius, que fez uma careta.
- Garoto! – reclamou. – Você diz como se eu ainda tivesse 5 anos! Quando é que vão começar a me tratar como homem?
- Talvez quando você for um? – ironizou Tiago, recebendo um olhar fulminante do amigo.
- Ora, crianças, não briguem – foi a vez da Sra. Potter levar olhares fulminantes.
- Bem, eu tenho que ir – informou Andrômeda com certa urgência. – Só espero que Ninfadora ainda esteja encima do berço! Eu aviso quando puder vir, Nindiely. Ah, e comporte-se, Sirius. Adeus!
Sirius já se preparava para protestar, porém não houve tempo. As chamas verdes engoliram totalmente a cabeça flutuante de Andrômeda Tonks, extinguindo-se logo em seguida.
A Sra. Potter soltou um suspiro resignado voltando a se levantar.
- Meninos – ela sorriu com as caretas dos dois garotos e então continuou. – Alguém tem que fazer almoço por aqui...
- E a sobremesa! – provocou Tiago, falsamente inocente, muito interessado nas próprias unhas.
Sua mãe abriu a boca várias vezes antes de soltar os ombros em uma atitude derrotada e menear a cabeça.
- E a sobremesa – concordou, fazendo os dois garotos trocarem sorrisos vitoriosos.
------------------
N.A. Demorei mais que o usual dessa vez, né... mas espero que tenham gostado do capítulo! Eu queria ter colocado uma cena da Lily, mas ia ficar muito extenso o capítulo, então ficou para o próximo. Gostaram de Péricles? XD Palmas para Andy!
Respostas por e-mail para: Alice, Nessa Reinehr, Mione Lupin, Lunnafe, LeNaHhH, Mazinha Black, Larissa, aRTHuR BlaCK, Jeh Tonks, Rodrigo Black Potter, .Miss.H.Granger., aNiTa JOyCe BeLiCe, LeLeCaSaPeCa, Cherryx, Luthien Elessar, Lucca BR, MiLaChaN, Thiago Potter First, Washed Soul, Juh Radcliffe. Me avisem caso não tenham recebido!
E pra quem não deixou e-mail: Eu (ok, vou me usar de suas palavras então: James é gostoso! Fazer o que? XXD) Miri (Sim, eu concordo plenamente com você, o Sirius foi muito duro com Regulus. Eu até acredito que Sirius poderia ter ajudado o irmão a não se tornar um comensal da morte se tivesse se empenhado nisso, mas nós conhecemos o temperamento de Sirius Black, não é mesmo? Ele faz muitas besteiras com sua impulsividade... Valeu por comentar!) Lena lupin (wow! Que bom que você está adorando! Espero que continue sempre gostando, valeu!)
Espero não ter me esquecido de ninguém... estou amando os comentários de vocês! Valeu! Espero poder postar no próximo sábado novamente...
-----------------
No próximo capítulo...
- Muito prazer, Ninfadora, eu me chamo Sirius!
Remo observou maravilhado a adorável garotinha fazer um gesto discreto com a outra mãozinha e Sirius abaixou-se, chegando mais perto dela, como ela dera a entender pelo gesto. Ninfadora aproximou-se de seu ouvido e disse, num sussurro que foi ouvido por todos na sala:
- Me chame de Tonks – disse graciosamente em sua vozinha infantil.
- Ninfadora! – ralhou Andrômeda, parecendo indignada.
