CAPÍTULO CINCO

Brincadeiras

-----------------

A piscina da propriedade era cercada por paredes de pedra não muito altas, sendo que eles podiam ter uma ampla visão da paisagem à volta. A mansão ficava de fundo para um vale verdejante, sendo que não havia necessidade de um muro mais alto uma vez que havia um grande barranco logo abaixo. Isso garantia também que não haveria trouxas bisbilhotando-os por aquele lado.

O acesso aos fundos era feito por um longo corredor que saía da mansão como um túnel que desembocava numa parte coberta com cadeiras de todos os tipos, algumas mesas, aparelhos estranhos entulhados em um canto e um cômodo fechado – o banheiro.

A cobertura lançava sombras até a metade da imensa piscina, sendo que a outra metade ficava diretamente exposta ao sol – uma vantagem tanto em dias de chuva quanto de sol, já que o aquecimento da água era feito por meio de feitiços simples e duradouros.

Novamente eles apostaram corrida até a piscina. Sirius e Tiago chegaram ao mesmo tempo, pulando na água de uma só vez. Remo foi o terceiro a chegar, porém freou bruscamente ao chegar na borda, invadido subitamente por um medo de a água estar gelada demais – ilusão causada pela sombra. Apoiou-se nos joelhos, tentando normalizar a respiração. Seu corpo ainda dava mostras de fadiga, mas ele teimava em não entregar-se a ela.

- Oh, esqueci de pedir para mamãe enfeitiçar meus óculos... olhem só, a lente fica cheia de gotinhas! – reclamou Tiago, então olhou para a borda da piscina. - Ando logo, Aluado! – chamou se agitando euforicamente. – A água está uma delícia!

- É, tira logo essa camisola e pula! – Sirius apontou para a enorme camiseta preta que lhe atingia o meio das coxas parecendo realmente uma camisola.

Remo ainda respirava pesadamente com dificuldade, mas esforçou-se por responder:

- Eu não vou tirar a camis... aaaaaahhh! – ele gritou ao ser empurrado por Pedro para dentro da água.

O loiro, como sempre, chegou por último e não resistiu ao ver o lobisomem junto à beirada da piscina, apoiando-se nos joelhos. Ainda correndo, Pedro empurrou-o, caindo logo em seguida na água e levantando ondas nada modestas ao fazê-lo.

Então começou a algazarra. Remo convenientemente esqueceu-se de seu cansaço, uma vez dentro da água com seus melhores amigos. Estava se divertindo tanto que não havia espaço para isso. Sirius pareceu se conformar com os trapos que os dois usavam – ou talvez tivesse se esquecido momentaneamente. Depois de muito pularem e gritarem, organizaram-se em pares para começarem as brincadeiras, como de costume. Tiago subiu nos ombros de Sirius, preparando-se para derrubar Remo, que por sua vez tentava se ajeitar conforme podia nos ombros de Pedro. Aproveitando-se disso, Tiago cochichou alguma coisa no ouvido de Sirius e os dois avançaram, derrubando Remo sem esforço nenhum, já que Pedro simplesmente encolheu-se diante da cara sapeca dos outros dois.

- Hey! Não valeu! – protestou Pedro depois de o estrago já ter sido feito.

- Seus trapaceiros! – ralhou Remo jogando os cabelos molhados para trás. – Pedro, será que você não consegue ficar quieto um segundo?

- Erm... – Pedro coçou a cabeça. – Me desculpe...

- Deixa que eu vou com o Pedro agora – Tiago bateu com os calcanhares nos lados de Sirius, que dobrou-se instintivamente, permitindo que ele descesse com facilidade.

Sirius fez uma careta de ciúme, mas não disse nada, mergulhando para que Remo se sentasse em seus ombros e então emergindo com o maroto firmemente acomodado. Ainda estava de cara feia quando percebeu Tiago tentando chamar sua atenção.

Tiago já estava acomodado em cima de um estranhamente quieto Pedro – isso se devia ao fato de que o moreno segurava firmemente os cabelos do loiro, como rédeas, e que este não ousava se mexer. Então reparou mais uma coisa: Tiago estava piscando e apontando para Remo silenciosamente, com o tão famoso sorriso travesso nos lábios.

- O que foi, Pontas? – perguntou Remo, desconfiado.

Mas Sirius já tinha entendido. Sem dar tempo do lobisomem reagir, ele empurrou suas pernas para a frente com força, fazendo com que ele se desequilibrasse e caísse para trás com outro grito.

Remo emergiu respirando com força, os cabelos cobrindo-lhe completamente a face, e antes que os arrumasse para trás foi saudado por mais montes de água sendo jogados contra ele pelos outros três. E começou uma deliciosa guerra, que durou por vários minutos.

Depois eles ainda apostaram em várias modalidades de nado – até do tipo "cachorrinho", que Sirius ganhou por muito pouco de Remo; viraram cambalhotas; plantaram bananeiras, e finalmente chegou a hora de disputar no salto.

Havia dois trampolins em extremidades opostas da piscina. Eles escolheram o que estava do lado que batia sol e então fizeram fila para saltar. Remo e Pedro saltaram primeiro, sem muita técnica, na verdade. Tiago era o próximo, seguido diretamente por Sirius. Sirius já estava mais do que impaciente aguardando Tiago preparar-se.

- Anda logo, Pontas! – impacientou-se Sirius. - Caramba, parece uma garota se arrumando pra sair!

- Ta com pressa pra ser humilhado, Almofadinhas? – provocou Tiago, virando a cabeça para trás.

- Há-há, essa eu quero ver.

- Pois então veja! Tome, segure meus óculos! – Tiago passou os óculos para ele e flexionou levemente as pernas para tomar impulso.

Antes, porém, que saltasse, Sirius avançou rapidamente e segurou ambos os lados do calção do maroto, de modo que quando Tiago saltou, a peça de roupa ficou nas mãos de Sirius. Este se preparou para cair às gargalhadas, no entanto não esperava que Tiago tivesse outra peça de roupa por baixo da bermuda.

Depois de uma queda precisa e silenciosa na piscina, Tiago emergiu com a cara mais sapeca do mundo, rindo de se acabar.

- Que foi, Almofadinhas? Você me parece... desapontado? - Sirius deu uma olhada torta para a bermuda que tinha em mãos, provocando risos nos demais. - Você realmente não achou que eu viria para a piscina com mais três marotos sem usar mais nada além de bermudas?

Sirius puxou o elástico de sua bermuda para frente, olhando para seu conteúdo, e então deu de ombros, emburrado.

- Ora, e o que há de errado nisso?

Os outros três caíram na gargalhada. Sirius bufou e finalmente pulou ruidosamente, espalhando água para todos os lados.

- Ihhh, péssimo, péssimo – Tiago zombou de sua performance.

- Vocês arruinaram minha concentração.

- Ta bom, Almofadinhas, mas agora você poderia por favor me devolver meu calção? – pediu Tiago, lá de baixo.

Sirius deu um sorriso torto e segurou a peça mais no alto, devolvendo apenas os óculos do maroto, que os vestiu imediatamente, pulando para tentar alcançar o calção.

- Está com vergonha de mostrar as coxas, Pontas? – provocou, querendo virar o jogo.

- Suas pernas são bonitas, meu querido – os quatro garotos voltaram-se para a única porta de acesso, por onde a Sra. Potter acabava de entrar acompanhada por dois elfos domésticos com bandejas.

Pedro agitou-se, empinando o nariz como se farejasse o ar.

- É claro que minhas pernas são bonitas, mãe, mas eu não estou interessado em ficar me exibindo para um bando de peludos!

A Sra. Potter riu e indicou a mesinha na qual os elfos colocavam as bandejas.

- Hora do lanche!

- Onde estão Andy e a pequena? – perguntou Sirius, aproximando-se da borda.

Tiago aproveitou-se da distração do amigo e puxou o calção de suas mãos, vestindo-o em seguida.

- Estão na sala tomando chá. Andrômeda está um pouco relutante em trazer Ninfadora para cá, você sabe...

- Tudo bem – não parecia que estava nada bem mesmo, mas a Sra. Potter deu um sorriso compreensivo e tratou de encerrar o assunto.

- Meus queridos, é desnecessário dizer que vocês devem aguardar alguns minutos para voltar a entrar na água, sim?

- Bem, se é desnecessário, então por que a senhora disse? – alfinetou Tiago, já deixando a piscina.

- Só para lembrá-los – explicou ela, severamente, lançando um feitiço nos óculos do filho, que se secaram imediatamente. – Agora eu vou voltar para a sala, se precisarem de qualquer coisa, chamem Péricles. Vou deixar umas toalhas bem aqui – ela acenou a varinha no ar e quatro toalhas macias se materializaram no encosto de uma das cadeiras. – Ah, não se esqueçam de beber todo o leitinho, ok? E não faça essa careta, Tiago Potter!

Ela sumiu mansão a dentro deixando Tiago com uma expressão assassina no rosto.

- Odeio quando ela faz isso – rosnou o maroto, apossando-se de uma toalha e começando a se enxugar. Remo e Pedro logo o seguiram – ou melhor, Pedro nem se enxugou, foi direto para as tortinhas de chocolate.

- Você não vem, Sirius? – perguntou Pedro, com a boca cheia enquanto Tiago e Remo começavam a se servir.

Sirius não respondeu. Ele aproveitava a calmaria da água para boiar com os braços e pernas estendidos, ouvindo as vozes dos amigos como se estes estivessem muito distantes.

Tiago encolheu os ombros como se não se importasse e resolveu ignorar a atitude do outro, porém Remo tinha uma ruga na testa. Ele caminhou até a beirada e abaixou-se, mergulhando as pernas na água, com o tronco envolto por uma toalha laranjada.

- Por que você nunca contou que sua priminha é uma metamorfomaga?

Seguiu-se silêncio, então Tiago respondeu por ele:

- Ele não sabia. Ficou sabendo mês passado e nós esquecemos de dizer nas cartas.

- Almofadinhas – recomeçou suavemente, determinado a arrancar alguma reação do maroto. – Eu não quero fingir que sei tudo o que se passa com sua prima, mas pelo que pude entender, ela só não está acostumada a ter tanta gente olhando com tanto interesse para a filha. Imagino que ela só esteja agindo instintivamente, protegendo Ninfadora da curiosidade dos outros. O que é uma atitude sábia, já que a garotinha é especial. Isso não significa que ela não confie em você.

Por um momento, Remo achou que Sirius não responderia novamente, porém de repente ouviu-se seu murmúrio rouco, sem que ele se movesse.

- Pois é o que parece.

- Tente entendê-la, Almofadinhas. Tenha paciência e deixe que ela se sinta à vontade. Garanto que isso não demora a acontecer. Agora venha comer alguma coisa antes que Pedro devore tudo, venha.

Isso pareceu surtir algum efeito no maroto, que finalmente levantou-se e deixou a piscina, num movimento ágil. Então lançou um olhar para a única toalha seca que restava e deu um meio sorriso, que precedia as melhores travessuras.

POC!

E no instante seguinte, no lugar em que antes havia um garoto seminu completamente molhado, agora havia um imenso cão negro peludo – igualmente encharcado.

- Almofadinhas! – gritaram os três garotos, apesar de usarem entonações diferentes.

Pedro estava espantado, Tiago divertido e Remo... bravo, é claro! O lobisomem levantou-se de um salto, porém a reação do cão foi muito mais rápida. Ele sacudiu os fartos pêlos com vontade, espantando a água do corpo e consequentemente encharcando Remo, que tentou cobrir-se com a toalha, mas não obteve tanto êxito nisso.

Tiago e Pedro caíram na gargalhada, enquanto Almofadinhas latia e abanava o rabo para eles, aparentemente satisfeito consigo mesmo. Quando Remo achou seguro levantar os olhos da toalha, voltou-os imediatamente para a entrada, e o que viu fez seu sangue gelar. Parada ali no batente da porta, estava uma garotinha de olhos arregalados, cobrindo a boca com a mão.

- Almofadinhas! – gritou Remo, dando um passo para frente e um tapa na coxa do animal, que ganiu e voltou-se para ele instintivamente. – Olhe!

Remo apontou a porta, mas quando todos olharam, já não havia mais nada. Remo correu até lá e observou Ninfadora Tonks já longe, correndo desabalada. Os outros três logo se juntaram a ele – Sirius novamente na forma humana.

- Oh, não! Não me diga que...? – lamentou-se Tiago.

Remo limitou-se a lançar um olhar acusador a Sirius, que estava lívido.

- Ai, que mancada! Vocês acham que ela viu Sirius se transformando em Almofadinhas? – Pedro colocou em palavras a dúvida de todos.

- Bem, isso nós vamos ter que esperar para saber – suspirou Remo, cansado demais para fazer algum sermão para Sirius. Além disso, pelo que parecia, Sirius não precisava que ninguém lhe dissesse o tamanho da besteira que ele tinha feito.

- Ora, ela não deve ter visto muita coisa – Tiago tentava se convencer de suas próprias palavras. – Quer saber? Eu acho que mesmo que ela tenha visto alguma coisa, ninguém vai acreditar. Quero dizer, a menina tem três anos! Não é mesmo?

- Talvez, Pontas... talvez – ponderou Remo, coçando o queixo. – Bem, agora nós só podemos esperar e agir normalmente enquanto isso.

- Isso! Vamos comer! – Pedro esfregou as mãos uma na outra e correu para a mesa, voltando a atacar as tortinhas.

Os outros três sentaram-se ao redor da mesa e serviram-se também de algumas frutas e doces. O resultado daquelas horas na piscina era que eles estavam famintos. Provavelmente teriam que aguardar bem mais do que alguns minutos, dada a quantidade que estavam comendo. Sirius estava silencioso, o que não era nada normal, e Remo já não sabia o que fazer para quebrar aquele clima tenso. Observou o conteúdo de uma jarra ainda intocada. Tinha alguma coisa leitosa e rosada dentro e o cheiro não sugeria muita coisa.

- O que é isso? – perguntou.

- Leite com morango – informou Tiago, fazendo pouco caso.

Remo revirou os olhos. Estava explicado então por que ninguém tinha tocado na jarra – nem mesmo Pedro! Que coisa mais infantil! Só porque era o tal "leitinho" de que a Sra. Potter tinha falado! Será que era tão mal assim para a reputação de um garoto gostar de leite?

O lobisomem serviu-se e bebeu um gole para experimentar. Costumava beber leite puro a maioria das vezes. Não tinha costume de bater frutas ou qualquer outra coisa junto.

- Hummm que delícia! – disse sinceramente, embora fizesse isso também para atiçar os outros. – Humm, muito bom mesmo! – Remo tinha consciência de que havia se formado um bigodinho de espuma em sua boca, mas não se importou com isso, para o deleite dos outros três, que começaram a caçoar. De qualquer modo, isso tinha servido para distrair um pouco Sirius.

No entanto, depois de algum tempo, tirando sarro deles, Pedro resolveu se render. Serviu-se também da bebida e tomou um copo inteiro de um só gole, limpando a espuma do bigode na toalha da mesa. Remo deu um tapa em sua mão.

- Ora, seu afobado! Assim você não aprecia o sabor de nada! – reprovou Remo. – E veja se tenha mais modos, por favor? Pra isso existem os guardanapos, sabia?

- Hum, mas está muito bom mesmo!

Ele encheu o copo mais uma vez. Sirius e Tiago se entreolharam e então resolveram se arriscar também. Não deu outra! No momento seguinte eles tinham secado a jarra de leite e estavam todos com bigodes espessos e rosados de espuma.

O clima tornou-se novamente mais descontraído e eles esparramaram-se nas cadeiras, confortavelmente, depois de saciados – o que demorou um tempo considerável. Um longo silêncio seguiu-se até que Tiago finalmente juntasse coragem para perguntar o que não conseguia tirar da cabeça.

- Aluado? – chamou.

Remo estava um pouco sonolento, limitou-se a resmungar um "Hum?" para assegurá-lo de que estava ouvindo.

- Você tem se correspondido com a Evans?

Remo abriu os olhos e encarou o céu um pouco, antes de voltar-se para o amigo a analisar sua expressão. O garoto tentava parecer indiferente, alisando as dobras da bermuda azul, porém notava-se que ele estava apreensivo, ansioso pela resposta, por notícias da ruiva. Sirius deu uma olhada de esguelha para o amigo, mas fingiu não estar prestando atenção, voltando a fechar os olhos.

- Sim, nós temos nos correspondido – respondeu e aguardou pela próxima pergunta, que não demorou a vir.

- Então... como... como ela está? Como tem se virado com a... as habilidades dela, você sabe...

- Bem, ela acabou de descobrir sua condição! É claro que está curiosa, está explorando suas capacidades, já evoluiu bastante em algumas habilidades.

- Sério? – Tiago já não tentava mais disfarçar seu interesse. Até mesmo Sirius e Pedro tinham se voltado para eles agora.

- Quais habilidades? - perguntou Sirius, virando-se na cadeira para participar da conversa.

- A de sentir as emoções dos outros, por exemplo - começou a explicar, com toda a paixão que lhe era característica nesses momentos em que tinha total atenção dos amigos voltada para si. - Ela diz que de vez em quando é assaltada por algumas emoções, mas que consegue bloqueá-las facilmente. E mesmo assim, é difícil isso acontecer. Geralmente ela é quem convoca essa habilidade. Sobre ouvir pensamentos, esse ela diz que já dominou completamente. Vem treinando com a própria família ou quem quer que apareça.

- Quer dizer que a qualquer momento ela pode ouvir o que estamos pensando?

- Basicamente... sim - respondeu Remo.

- Oh, isso é terrível! O que vamos fazer - exclamou Pedro, roendo as unhas logo em seguida.

- Nós vamos ter que pensar em código agora? - questionou Tiago.

Antes que Remo respondesse, porém, Sirius manifestou-se novamente:

- Eu não acho que seja necessário mais do que nós já fazemos - disse, dando de ombros. - Nós já temos nossos apelidos. Além disso, ela é certinha demais pra ficar bisbilhotando nossos pensamentos. Nós sabemos sobre ela. Não que isso ajude, porque de acordo com o que Aluado pesquisou, nem o mais poderoso oclumente poderia ser cem por cento vitorioso em bloqueá-la, mas ainda assim, acho que ela pensaria duas vezes antes de fazer isso. O que realmente me preocupa - ele fez uma pausa dramática, então encarou Remo nos olhos. - São os sonhos dela. Ela continua tendo sonhos?

Remo engoliu ruidosamente, lembrando-se do último sonho que Lily tinha descrito em suas correspondências.

- Sim.

Pedro soltou uma exclamação e Tiago umedeceu os lábios.

- Até onde ela já sabe, Remo? Ela descobriu sobre animagia? Sobre você?

- Ela não teve mais sonhos com Pontas e Almofadinhas, mas já sonhou com o Aluado sim - respondeu Remo, sabendo que eles entenderiam perfeitamente a que ele se referia.

- Então ela já sabe! - esganiçou-se Pedro.

- Não - assegurou o lobisomem. Então, diante da apreensão dos outros, ele continuou: - Lily sonha com minha transformação na casa dos gritos, apesar de não ter idéia de quem seja a pessoa. Ela diz que não consegue ver de quem se trata e que sempre que tenta fazê-lo, o sonho se interrompe. Já deduziu que é um garoto, mas nada mais que isso. A última vez que teve esse sonho foi no meio de julho, e achou tão assustador que ela resolveu abandoná-lo.

- Ou talvez só esteja dando um tempo - sugeriu Sirius.

- Caracoles, seu segredo está com os dias contados, Aluado - Tiago esfregou os olhos por debaixo das lentes. - Agora ela não tem idéia de quem seja, mas quando nós voltarmos para Hogwarts, mais cedo ou mais tarde ela var perceber que você some na Lua Cheia! Não sei como ela ainda não percebeu isso! Nós reparamos logo no primeiro ano!

- Não que ela não seja esperta, Pontas, mas nós somos marotos - desdenhou Sirius. - Evans só começou a notar realmente o Aluado no ano passado, quando eles se tornaram monitores. Caso contrário ela ainda nem se tocaria para a existência dele.

Remo não se machucou com essas palavras. Sabia perfeitamente que era verdade. Ele sempre cuidou para ser invisível, insignificante. Quanto menos pessoas reparassem nele, menor a chance de notar sua falta em determinada fase da lua.

- Mas ela vai descobrir então, não é mesmo? - disse Pedro, com os olhinhos arregalados.

- Sim, eu sei disso.

- E você pretende fazer o que? - questionou Tiago, seriamente. - Não acha que é melhor contar a ela antes que ela descubra?

- Bobagem - desdenhou Sirius. - Ele não contou pra gente, por que contaria a ela?

- Isso é Remo quem decide, Sirius - como se não bastasse o olhar profundo e o tom sério empregado em sua voz, Tiago ainda usou seus nomes para ressaltar que o momento não era para brincadeiras nem crises estúpidas de ciúme.

- Eu ainda não sei o que vou fazer - suspirou Remo, sentindo subitamente todo o cansaço da transformação tomar seu corpo novamente. - Talvez... talvez eu conte... eu não sei... tenho medo da reação dela.

Sirius estalou a língua, desdenhosamente, porém permaneceu calado.

- Pois não devia ter medo, Aluado - disse Tiago, severamente. - É obvio que ela não vai se afastar de você! Nós não fizemos isso! Se ela se considera tão sua amiga quanto você se considera amigo dela, então ela vai ter a mesma reação que nós, vai se sentir traída por você não ter contado seu segredo, por você não ter confiado nela antes que ela descobrisse! Eu realmente acho que você devia contar a ela.

Remo olhou nos olhos de Tiago longamente, imaginando o quão difícil fora para ele dizer tudo aquilo. O monitor imaginava o quanto Tiago o invejava por ter tanto da atenção da ruiva para si. Tinha consciência que despertava um certo ciúme no outro - talvez não totalmente sem razão... Remo sentiu como se tivesse engolido um tijolo, tamanho o peso em seu estômago. Não sabia o que pesava mais, se o medo ou o remorso. Talvez ele realmente não estivesse valorizando a amizade de Lily o quanto ela merecia. Mas e se ela se afastasse dele? O que seria dele sem todo o carinho de Lily?

Remo suspirou longamente, finalmente quebrando o contato visual, porém antes que esboçasse qualquer reação, eles ouviram vozes e viraram-se para a entrada.

- Ali mamãe! - disse a vozinha de Ninfadora Tonks, que apontava para a borda da piscina, mas agora corria os olhinhos para todos os lados procurando alguma coisa. - Ué, cadê?

Tonks trazia a mãe pelo braço e a Sra. Potter vinha logo atrás. Andrômeda também procurava por todos os lados, parecendo um tanto assustada.

- Viu só, Ninfadora? Não tem nenhuma cachorrão preto aqui! Você deve ter imaginado...

- Não, mamãe! Eu vi! - a garotinha bateu o pé no chão para reforçar o que dizia. - Ele estava bem ali! Ele se sacudiu e molhou... - então ela abaixou a voz para um sussurro. - Ele molhou aquele moço ali de camisa preta.

Ambas as mulheres voltaram-se para os quatro garotos, que pareciam um tanto curiosos. O coração de Remus batia acelerado no peito, mas ele já estava acostumado a mentir, não seria problema nenhum. E a julgar pelas expressões convincentes de Tiago e Sirius, não haveria o que temer. Bem, somente Pedro parecia assustado, mas isso era normal. Bastava que ele ficasse calado e tudo correria bem.

- Meus queridos - a Sra. Potter caminhou até eles com o cenho franzido, sendo seguida pelas duas visitantes. - Vocês viram algum cachorro preto por aqui?

- Cachorro? - Tiago fez uma expressão incrédula e deu de ombros. - Claro que não, mãe! Onde nós esconderíamos um cachorro aqui em casa?

Ela lançou um olhar inquisidor para cada um dos rostos e parou um pouco ressabiada tentando encontrar o olhar de Pedro - que olhava para todas as direções menos para a Sra. Potter.

- Ninfadora está dizendo que viu um cachorro por aqui - Remus achou ter ouvido um resmungo infantil que soava como "É Tonks!". - Vocês não são de alguma maneira responsáveis por isso, são?

- Não! - responderam os quatro em uníssono e isso só fez os olhos da senhora se estreitarem perigosamente.

- Têm certeza que não?

Tiago deu uma olhada avaliativa para a garotinha grudada na barra das vestes da mãe e fez um gesto para que sua mãe se abaixasse, sussurrando:

- E como nós poderíamos ser responsáveis por isso, mãe. A senhora acha que nós conjuramos algum cachorrão de pelúcia sem nossas varinhas? Ou quem sabe o Sirius aqui tenha se transformado em um Sinistro depois de um soluço e voltado ao normal depois de latir três vezes? - Sirius e Remus tiveram que se conter para manterem-se sérios depois dessa, mas Pedro pareceu não ter ouvido direito. - Está claro para mim que essa garota está tendo alucinações.

A Sra. Potter sustentou o olhar do filho - incrivelmente sério - por mais alguns segundos antes de finalmente dar-se por satisfeita. Ela suspirou e voltou-se para Tonks.

- Bem, Andrômeda querida, eu acredito que não há o que se preocupar. O cachorro já deve ter ido embora, certo?

Disse ela com delicadeza olhando para Tonks, que agora fazia um bico enorme e se soltava da mãe, encarando-a chateada. Seus cabelos ficaram subitamente roxos, de uma cor intimidadora.

- A senhora não acredita em mim, não é? Ninguém acredita em mim! Eu vi! - ela olhou então para Remo, com os olhinhos brilhando. - Eu vi... não estou inventado nada...

- Nós acreditamos em você, filha - Andrômeda tentou aproximar-se dela, estendendo as mãos para segurá-la, porém Tonks se afastou ainda mais, dando a volta na cadeira de Sirius e escondendo-se atrás dela. - Oh, Nindiely, o que eu faço?

A Sra. Potter segurou um dos braços de Andrômeda e puxou-a para duas cadeiras mais afastadas, fazendo-a se sentar.

- Não se preocupe, querida, ela deve ter imaginado. Crianças são assim mesmo...

Andrômeda segurou a cabeça nas mãos, parecendo ainda mais assustada.

- Se ela me dissesse que viu um elefante cor-de-rosa, eu poderia até não me preocupar, Nindiely. Mas foi um Sinistro que ela viu! Um Sinistro! Nós duas sabemos o que isso significa, certo?

- Ora, isso é bobagem! - Nindiely fez um gesto de desaprovação. - Nunca leve essas coisas à sério, Andy. Se você começar a acreditar nessas besteiras de sinais e adivinhações, você vai ver agouros de morte por toda parte! Isso são histórias de gente que não tem nada pra fazer, não há o que se preocupar - assegurou.

- Eu espero que não, Nindiely. Não sei o que seria de mim se perdesse minha filha!

- Não pense mais nisso, Andy - ela deu um aperto confortante em seu ombro e levantou-se. - Vamos, eu vou levá-la para ver o jardim aqui ao lado. É um pouco menor que o da frente, mas não menos bonito, venha!

Andrômeda levantou e procurou pela filha, encontrando-a nos braços de Sirius, ouvindo atentamente o que ele dizia.

- Ninfadora! - chamou, mas nenhum dos dois ouviu. Já ia chamar de novo quando sentiu novamente Nindiely segurar seu braço.

- Ora, querida, deixe ela com o primo! Veja o quanto ele é cuidadoso com ela!

- Eu sei, Nindiely, mas é que...

- Você não confia em Sirius?

Andrômeda olhou novamente para o primo, segurando sua filha com tanto cuidado, parecendo tão feliz em observá-la e conversar com ela. Suspirou.

- Eu confiaria minha vida a Sirius, Nindiely.

- Então, por que tanto medo?

- Ela puxou ao pai, sabe - explicou, mesmo que agora sorrisse. - É meio desastrada... bem, na verdade ela é totalmente desastrada...

A Sra. Potter sorriu e voltou a puxá-la para fora.

- Vamos, é logo aqui ao lado.

Sem ter mais como argumentar, finalmente Andrômeda deixou-se conduzir para fora.

---------------

Remo estava se sentindo muito mal por ter contribuído para que Tonks se sentisse desacreditada. Afinal, aquele olhar cheio de lágrimas não derramadas não era mais que um pedido de socorro. Tonks esperava que ele confirmasse o que ela dizia, afinal Almofadinhas tinha se sacudido nele e fora tudo muito real na verdade.

Ele assistiu Sirius levantar-se da cadeira e abaixar-se para ficar da mesma altura que a garotinha.

- Hey, eu acredito em você.

Remus franziu o cenho. Tonks levantou os olhinhos úmidos, segurando os soluços enquanto as lágrimas corriam livres por seu rosto. Seus olhos estavam violeta, tempestuosos.

- Você acredita?

- Sim, eu acredito! É claro que acredito! Porque eu também vi o cachorro.

- Viu? Mas... eu não vi você... seus outros amigos estavam, mas eu não te vi...

- É que eu estava no banheiro quando você apareceu - explicou, enxugando o rosto da garotinha com as costas das mãos.

- Mas... então por que ninguém disse que viu?

Sirius ergueu-se e apanhou-a nos braços, erguendo-a e voltando a encará-la do mesmo nível.

- Por que esse é o nosso segredinho, está bem?

- Sim! - seus olhos brilharam novamente, mas dessa vez de excitação. - Então onde está ele?

- Oh, ele já foi embora. Ficou assustado por você ter visto ele e foi embora.

- Por onde? Eu não vi ele me seguir pelo corredor!

- Ah, mas ele não foi pelo corredor. Ele pulou por ali - Sirius apontou o muro de pedra, que dava para o imenso vale logo abaixo. Aproximou-se do muro para que ela pudesse ver melhor.

- Oh! - Tonks levou as mãozinhas à boca enquanto seus olhos se arregalavam. - Ele pulou? Mas ele não se machucou?

- Não, ele é muito forte!

Remus sorriu e ouviu o riso de Tiago, que também assistia à conversa atentamente.

- Esse aí não tem jeito mesmo - disse Tiago, risonho.

Porém Sirius não pareceu ter ouvido. Continuou falando com a priminha, apontando para um ponto qualquer em meio ao verde lá embaixo.

- Olha lá ele correndo, consegue ver?

- Onde?

- Ali, olha só!

- Não... não consigo ver... ele deve estar muito longe!

- É, deve ser por isso então - Sirius coçou o queixo.

- Ele mora sozinho lá no vale? - perguntou Tonks.

Ao encará-la novamente, Sirius observou que seus cabelos voltaram a ser negros e os olhos agora eram cinzas como os seus.

- Não, ele vive com os amigos dele. Um cervo, um rato e um lobo.

- Um lobo? - Tonks arregalou os olhinhos. - Como o Lobo Mal da Chapeuzinho Vermelho?

- Heim? - perguntou Sirius, confuso.

Remo sentiu um aperto no coração, mas mesmo assim levantou-se e aproximou-se deles.

- É um conto de fadas trouxa, Sirius - explicou, então se debruçou no muro, voltado para Tonks. - É sim, como o Lobo Mal da Chapeuzinho Vermelho e dos Três Porquinhos. Você conhece essas histórias?

- Conheço - Tonks acenou com a cabeça várias vezes, olhando-o com atenção. Novamente ela copiou a cor dos cabelos e dos olhos do maroto, então disse, inesperadamente: - Você tem os olhos tristes.

Remo piscou e franziu o cenho. Sirius voltou-se para ele também com interesse e só então reparou nas olheiras, os olhos opacos, algumas cicatrizes pequenas mas visíveis de... arranhões. Remo virou-se para frente, desconcertado.

- Hey, Tonks, você quer comer alguma coisa? - Sirius resolveu mudar de assunto, sem esquecer de fazer uma anotação mental. - Tem umas tortinhas de chocolate que estão uma delícia!

- Você quer dizer tinha, não é mesmo, Almofadinhas?

- Quem é Almofadinhas? - questionou Tonks.

- Sou eu - esclareceu, antes de colocá-la no chão novamente e voltar-se para Pedro com um olhar fulminante. - Não acredito que esse rato gordo do Rabicho comeu tudo!

- Erm... só tinha mais cinco! - Pedro tentou justificar-se, apesar de não conseguir suavizar a expressão de Sirius. - Mas ainda tem algumas frutas.

- Ah, é claro, só sobreviveram porque são frutas, não é mesmo? - rosnou Sirius agora caminhando em direção à mesa. - Venha, Tonks, eu vou dar algumas frutas pra você.

- Tem morangos? - perguntou a garotinha antes de sair em disparada atrás do primo.

- Tem sim! Tem morangos, banan... ooops! - Sirius interrompeu-se ao sentir um puxão em seu calção.

No breve espaço em que Tonks correu para alcançar o primo, ela tropeçou a centímetros dele, agarrando a primeira coisa que alcançou - a parte de trás de sua bermuda. Isso, porém, não impediu que ela caísse no chão e puxasse o elástico do calção, expondo seu traseiro. A parte da frente foi segurada a tempo pelo maroto.

Tiago e Pedro explodiram em gargalhadas enquanto Remo adiantava-se rapidamente e levantava Tonks com todo cuidado em seus braços. Sirius tratou de ajeitar a bermuda rapidamente, lançando um olhar assassino para os dois marotos que assistiram a cena de camarote. Pedro tinha se dobrado para a frente e segurava a barriga, se acabando de rir, enquanto Tiago tinha se deixado cair da cadeira e dava soquinhos no chão para extravasar.

- Você está bem? - Remus dirigiu-se a Tonks, preocupado.

Primeiro achou que ela estava chorando, então, ao levantá-la, percebeu que ela ria deliciosamente como os outros.

- Eu vi! Eu vi o bumbum do Almofadinhas! - e ela caiu na risada novamente.

Remus levantou os olhos para Sirius e tentou morder os cantos da boca para não rir diante da cara carrancuda de Sirius.

- Ah, é? É assim então? - Sirius aproximou-se da priminha atacando-a covardemente com cócegas na barriga e nos lados do corpo.

Tonks contorceu-se nos braços de Remus, gritando e rindo até quase perder o fôlego. Foi sacudindo os pezinhos, escorregando, virando, torcendo até que seu pé atingiu com força, sem querer, uma parte muito sensível da anatomia de Remo.

- Ummmmpt! - Remo arregalou os olhos e deixou que Tonks escorregasse para o chão, antes de desabar para o outro lado, dobrando-se com a mão entre as pernas.

- Uhhh! - exclamaram Sirius e Pedro ao mesmo tempo.

- Ai! - Tiago levou a mão entre as pernas também como se sentisse a dor do outro.

- Oh - Tonks parou de rir imediatamente e levou a mão à boca novamente. - Moço! Eu te machuquei, moço?

Ela correu até Remo e abaixou-se, observando-o. O maroto tinha o rosto contorcido de dor e prendia a respiração. Tonks ficou completamente sem ação, assistindo-o finalmente soltar o ar dos pulmões.

- Está... está tudo bem - ele tirou uma mecha dos cabelos da frente dos olhos, sentindo o rosto corar. Porém, ao fazê-lo, expôs o arranhão mal cicatrizado de seu braço, de modo que não passou despercebido por Tonks.

- Olha! - ela apontou para o machucado. - Você se machucou! É por isso que estava triste?

Tiago ficou de pé num salto e Pedro seguiu-o para perto de Remo, que se sentou rapidamente e tentou esconder o ferimento. Abaixou os olhos para os próprios joelhos, para não ter que encará-los, apesar de adivinhar a cara de espanto de Pedro, a expressão indignada de Tiago e o olhar duro de Sirius. Porém nesse momento Andrômeda e a Sra. Potter apareceram, conversando. Remo pôs-se de pé ainda relutando em encarar os amigos.

Ao ver a filha no chão, Andrômeda correu até ela, segurando-a nos braços.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou, examinando a filha.

- Eu cai e ele me segurou - ela apontou para Remo, com uma expressão um pouco culpada. - Mas daí eu...

- Ela não se machucou - Remo interrompeu-a, achando que morreria de vergonha se ela contasse onde o tinha acertado.

- Oh, então está tudo bem. Mas agora nós temos que ir, filha. Papai está chamando.

- Ah... já? - choramingou ela.

- Sim, papai tem que sair de madrugada hoje, então tem que dormir bem cedo.

- Antes de a noite chegar?

- Isso mesmo. Antes de a noite chegar - ela sorriu e colocou-a no chão novamente. - Anda, despeça-se de seu primo.

Sirius abaixou-se e Tonks jogou-se em seu pescoço, abraçando-o. Então deu um beijo em sua bochecha e encarou-o. Seus cabelos encurtaram-se no mesmo instante, tornando-se rosa-chiclete e ela ostentou um sorriso travesso - que foi retribuído por Sirius. Andrômeda abriu a boca para repreendê-la, porém impediu-se ao contemplar o sorriso do primo.

- Tchau, Almofadinhas - disse Tonks e piscou um olho.

- Tchau bonequinha - ele bagunçou os cabelos dela e levantou-se.

- E você não vai agradecer ao moço que te segurou? - Andrômeda voltou-se para Remo. - Me desculpe, esqueci seu nome.

- Remo Lupin - respondeu o maroto timidamente.

Tonks adiantou-se e estendeu a mãozinha para ele.

- Muito obrigada, Remo Lupin.

Remo apertou sua mão de leve com um pequeno sorriso no rosto.

- Não foi nada, Ninfadora Tonks.

- É Tonks. Só Tonks - enfatizou ela e todos caíram na gargalhada dessa vez, a despeito da expressão reprovadora da mãe da garotinha.

Andrômeda abraçou o primo mais uma vez - sem se importar com os cabelos molhados e a bermuda úmida - e então as três mulheres deixaram os garotos sozinhos mais uma vez. Remo torceu as mãos, voltando a encarar os pés, sentindo os olhares dos outros sobre si.

Antes que pudesse sequer se dar conta do que estava acontecendo, teve a camisa arrancada com certa brutalidade por Sirius, que jogou a peça longe e os três garotos puderam ver os diversos ferimentos de seu peito, abdome e até nas costas.

- Você tem muito que se explicar, Aluado. Pode começar agora - sentenciou Sirius.

Remo sentiu-se completamente exposto. Deixou-se cair sentado no chão, com um suspiro e encolheu-se, abraçando as pernas diante do corpo.

Tiago sentou-se também, sendo seguido por Pedro. Sirius ainda permaneceu de pé, andando de um lado para outro como um tigre enjaulado.

- Por que você não nos contou? - questionou Tiago brandamente.

- Para que eu contaria? - defendeu-se Remo, contendo as lágrimas que se acumulavam em seus olhos, fazendo-os arderem. - Para que vocês perdessem o sono? Para que ficassem morrendo de dó de mim sem poder fazer nada?

- Mas nós podemos fazer alguma coisa! - disse Sirius, irritado.

- É claro que vocês podem, mas não sempre! A quem você pensa que engana? - retrucou Remo, exasperado. -Eu não posso esperar que vocês sempre estejam comigo nas minhas transformações! Não posso! Sempre vão existir contratempos. Eu não posso deixar que vocês se exponham mais do que fazem! E se alguém descobrir sobre a animagia? Isso é ilegal, vocês são foras da lei e a culpa é minha! - Remus soltou tudo de uma só vez, enfim parando para esfregar o rosto com as mãos. - Eu tenho que passar por isso sozinho de vez em quando, sabe... pra não criar ilusões... sempre vão existir situações em que vocês vão precisar me deixar sozinho e eu não quero que vocês se culpem por isso. Eu estou aqui, não estou? Esses ferimentos não são diferentes do que aqueles que eu tinha quando vocês ainda não se transformavam. Meu corpo já está acostumado com eles.

- Mas não tem Madame Pomfrey por aqui - observou Pedro, analisando o fato de que algumas feridas pareciam prestes a se abrir novamente.

- Tem minha mãe - disse Tiago levantando-se e estendendo uma mão para Remus, que a aceitou. - Vamos, eu vou pedir para que ela trate pra você...

- Não - Remo não se deixou carregar.

- Deixa de ser teimoso, Aluado - rosnou Sirius, já se preparando para empurrá-lo se fosse preciso.

- Eu não sou o único teimoso por aqui - argumentou Remo, com a voz branda. - Eu só quero aproveitar um pouco mais essa piscina, será que dá?

- Mas... e esses machucados? - insistiu Pedro, levantando-se também.

- Minha mãe já tratou deles, apesar de não parecer. Ela não tem todos os recursos que Madame Pomfrey tem, mas fez um bom trabalho. Não está doendo, acreditem! - Remo suspirou diante dos olhares incrédulos dos outros. - Olha, eu prometo que deixo sua mãe tratar de mim hoje à noite, mas vamos, por favor, voltar a nadar? Eu não sei quanto a vocês, mas eu desejei muito que esse dia chegasse logo e não quero que ele acabe tão cedo.

Os outros se encararam e então concordaram com acenos de cabeça.

- Está bem - Tiago concordou e deu um sorriso maroto. - Então, quem pular por último é um hinkypunk!

Ele se atirou na água e Pedro seguiu-o exultante. Remo sorriu, olhando para a água, mas antes que pulasse, Alguma coisa negra tapou sua visão.

- Tome - Sirius sacudiu a camisa em frente a seus olhos. - Achei que você ia preferir continuar vestido, sabe...

Sirius pareceu meio sem jeito e esse era o modo como ele encontrava de se desculpar pela sua brutalidade de alguns minutos antes.

- Obrigado - Remo sorriu e aceitou a camisa, vestindo-a.

Só então pulou na água, logo depois de Sirius.

- Hinkypunk! - gritaram os outros três, jogando a maior quantidade de água nele que podiam.

---------------

Protegidos pelas sobras do entardecer, Howard e Nindiely Potter estavam abraçados, encostados no batente da porta observando a algazarra dos garotos na piscina.

- Está feliz, meu bem? - perguntou Howard.

- Feliz? - A Sra. Potter soltou um suspiro longo e deixou que mais um sorriso se formasse em seu rosto nesse dia. - É o que nós queríamos, não é? Ter a casa cheia de filhos, cheia de vida... e mesmo que não sejam todos nossos filhos de sangue, ainda assim são nossas crianças, certo?

- Crianças? - o Sr. Potter riu, divertido. - Eles já são quase adultos, querida!

Foi a vez da Sra. Potter rir.

- Olhe os seus adultos, Howard!

Ela apontou para a piscina. Sirius era o único que permanecia dentro da água, gritando para os outros três que corriam na beirada. Remo e Pedro estavam perseguindo Tiago, que segurava o que parecia ser a bermuda de Sirius, porém o apanhador era rápido demais para eles.

- Pontas, você me paga!

- Lero-lero!

- Por ali, Pedro! Vamos cercar ele.

- Peguei! - eles jogaram a bermuda e Tiago em cima de Sirius, que praguejou e vestiu a peça, apressado.

Então os três empurraram Tiago para baixo d'água e seguraram por um tempo calculado antes de libertá-lo.

O Sr. Potter suspirou e meneou a cabeça.

- É, são as nossas crianças sim... sempre serão...

-----------------

N.A. Em primeiro lugar, eu gostaria de me desculpar com vocês por não ter postado ontem. Fiquei muito triste por isso, mas espero que vocês compreendam... De qualquer forma, aqui está o capítulo! Espero que se divirtam com ele! No próximo capítulo tem Lily, com certeza XD

Respostas por e-mail para: Lunnafe, Lucca BR, LeNaHhH, .Miss.H.Granger., Tete Chan, MiLaChaN, Thiago Potter First, aRTHuR BlaCK, aNiTa JOyCe BeLiCe, Alice, Nessa Reinehr, Melina Black, Lika Malfoy, jokka potter, Isa Potter, Jeh Tonks, Luana.

E pra quem não deixou e-mail: Nick Black Potter (hey, que bom saber que você gostou! Eu entendo sua preocupação em ter que esperar capítulos agora, mas eu tento cumprir as atualizações semanais, apesar de Ter falhado dessa vez... :( mas no próximo capítulo eles já vão para Hogwarts ;) e tem muita Lily daqui para a frente! bjus)

Eu prefiro não prometer atualização dessa vez, ok? Espero conseguir atualizar no Sábado, mas ainda não tenho o capítulo pronto. Mas posso desejar a todos um feliz 2006! Beijos!

--------------

No próximo capítulo...

- Potter – ofegou a ruiva, esquivando-se rapidamente daquele abraço, sem dar-se oportunidade de perceber o frio na barriga que aquele sorriso bonito tinha-lhe causado. – Seu... seu atrevido!