CAPÍTULO SEIS
Boa viagem!
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Régulo chegou muito cedo na Plataforma 9 e 3/4, como de costume. Sua mãe preferia trazê-lo mais cedo para evitar o transtorno que era se mover na aglomeração de pessoas afobadas que chegavam em cima da hora. Era sempre mais difícil evitar esbarrar em mestiços e sangue-ruins nessas situações. Diferente dos outros anos, Régulo tinha lado-aparatado pela primeira vez, direto para a Plataforma. E essa mudança era um dos indicativos de que nesse ano seria tudo diferente. Afinal agora - como a Sra. Black tinha insistido em afirmar o verão todo - ele era filho único. Oficialmente não tinha mais irmão.
A Sra. Black, que segurava firmemente sua mão para lado-aparatar, puxou-o para que ficasse bem em frente a seus olhos, então o analisou de alto a baixo. As vestes impecáveis, o porte elegante e alto para sua idade, o cabelo recém cortado e a expressão séria - apesar de os olhos pecarem ao brilharem um pouco demais. Mas Régulo nunca seria tão eficiente em mostrar-se frio quanto... Aquele traidor do sangue que ela tinha jurado não ser mais seu filho.
- Você já sabe como se comportar, certo? - Régulo acenou afirmativamente. - É claro que sabe. Eu sempre me orgulho de você. Suas notas são excelentes, seu comportamento é exemplar e você sabe muito bem escolher suas companhias. Mas sempre pode melhorar.
A verdade era que Régulo não tinha companhia. Havia seus colegas de casa, mas não passavam de colegas. Ele não possuía amigos. Era extremamente calado, tímido, gostava de ficar em seu canto somente observando, assistindo às conversas sem sequer participar, apenas estudando a personalidade de cada um. Era muito aplicado nos estudos, mas suas notas nunca foram melhores do que as de Sirius. Em matérias teóricas, talvez, mas nas matérias práticas ele não tinha tanto domínio.
A Sra. Black deu um beijo rápido em sua testa - tendo que se abaixar levemente para isso - e soltou-o.
- Vá - ordenou com sua voz possante. - E não me decepcione.
Essa sentença resumia todos os princípios que ele tinha aprendido durante seus quatorze anos e não era nada flexível. Régulo acenou afirmativamente, murmurou um "Adeus" e afastou-se refletindo sobre como ele sempre seria o filho de quem sua mãe se orgulhava, mas nunca conseguiria ficar orgulhoso de si mesmo. Não da maneira que ele ficava do... Como o chamaria? Não poderia nem pensar nele como irmão? Ora, isso seria impossível...
O garoto entrou no trem, procurou uma cabine vazia mais para o fundo - que costumava ser ocupado em sua grande maioria por sonserinos. Deixou suas coisas lá e foi até uma janela, observando as pessoas que chegavam, esperando, procurando... E foi desse lugar que ele assistiu a cena mais tocante e revoltante de todas as que já tinha presenciado daquela família de amantes dos trouxas.
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- Mãe, pare de me beijar na frente de todo mundo - resmungou Tiago em meio ao abraço da mãe e depois do terceiro beijo que ela pousava em sua face (sem contar o que ela dera em sua testa momentos antes).
- Ora, que mal há nisso? - A Sra. Potter finalmente libertou-o, colocando as mãos na cintura. - Garanto que se fosse alguma garota você não reclamaria!
- É claro, né mãe! Eu tenho dezesseis anos, que mal há nisso?
- Está bem, está bem - a Sra. Potter voltou-se então para os outros garotos. - E vocês, meus queridos, já sabem que são bem-vindos em casa quando desejarem.
Então, inesperadamente, ela puxou Pedro - que estava mais próximo - para um abraço maternal. Tiago rolou os olhos e assistiu a próxima vítima - Remo - ser abraçado também. A Sra. Potter tomou o rosto do lobisomem entre as mãos e analisou-lhe cada traço suave de seu rosto. Então sorriu, recebendo outro sorriso em resposta.
- Você parece ótimo, querido - ela beijou sua face ternamente.
Remo admirava incondicionalmente aquela bondosa senhora. Além de ser uma excelente cozinheira, ela era uma mãe exemplar, dedicada, amorosa, compreensiva, entre tantas outras qualidades! Mas outra coisa que lhe inspirava admiração era que, mesmo tendo sabido de sua condição logo nas primeiras férias de verão deles desde que entraram em Hogwarts, ela o tinha tratado como qualquer um dos outros. Não olhava para ele com pena, nem lhe lançava olhares de esguelha, pesarosos. Ela dispensava-lhe o mesmo carinho que aos outros amigos de Tiago, e falava com naturalidade de seu problema, quando o assunto era inevitável. Ele se sentia... normal, tanto com os Potter, quanto com seus três amigos inseparáveis. Sentia-se como se fosse a pessoa mais afortunada do mundo, esquecia-se de sua maldição, de seu sofrimento, ele era Remus Lupin. Só Remus Lupin.
- Obrigado, Sra. Potter - disse Remo com toda a seriedade e sinceridade que lhe eram características.
- Sempre que precisar - ela piscou um olho para ele e enfim soltou-o, dirigindo-se ao mais alto deles. - Você nunca precisou de convites, não é mesmo, filho? - ela estreitou Sirius em seus braços e foi correspondida no abraço. - Se tiver algum problema com sua família, me escreva e nós iremos correndo até Hogwarts, está bem? O Prof. Dumbledore já está ciente de que você está morando conosco, obviamente. E ele também já nos assegurou de que estaria tomando conta de você por nós.
- E de mim? Ninguém toma conta de mim? - Tiago emburrou.
Todos riram diante daquela atitude do maroto, então o Sr. Potter também abraçou o filho, porém de um jeito "menos vergonhoso", na opinião de Tiago.
- O Prof. Dumbledore já me contou várias de suas proezas, filho, então eu suponho que não é necessário pedir que ele cuide de você.
O Sr. Potter bagunçou os cabelos de Tiago e abraçou Sirius da mesma maneira. Depois apertou respeitosamente as mãos de Pedro e Remo antes que eles finalmente se afastassem em direção ao trem.
Porém, antes que chegassem, de dentro saiu uma criatura sorridente em vestes de bruxo com um distintivo no peito e cabelos soltos... flamejantes.
- Remo! - sorriu ela e dirigiu-se ao maroto, já se preparando para um abraço.
Tiago - cujo estômago tinha dado uma cambalhota ao vê-la e depois tinha se contraído ao ouvi-la chamar por Remo daquela maneira - agiu por impulso, colocando-se agilmente em frente ao monitor e recebendo o abraço da ruiva. E o que aconteceu em segundos pareceu levar uma eternidade. As mechas do cabelo de Lily tocaram sua face como uma carícia suave, seu perfume de lírios impregnou suas narinas, seus braços se fecharam naquela cintura delgada e, antes que ela se desse conta do que acontecia, ou sequer começasse a reagir, Tiago levantou-a do chão, dando um rodopio.
- Lily, meu bem, você demorou para se jogar em meus braços, mas eu tinha certeza que faria! - então ele voltou a colocá-la no chão, e afastou-se somente o suficiente para encará-la nos olhos incrivelmente verdes e arregalados. - Mas, meu amor, você se confundiu! Meu nome é Tiago, não Remo! Isso é o que dá ficar usando somente meu sobrenome, tsk, tsk...
A monitora, que tinha dado um grito de surpresa, tendo os olhos arregalados e o queixo caído, só assimilou aquilo que ouviu depois de ter os pés no chão novamente, com dois olhos castanhos a fitá-la de cima, por trás de lentes de aros redondos. Tiago Potter, cujo cabelo familiarmente apontava para todas as direções, sorria abertamente para ela, ainda enlaçando sua cintura firmemente.
- Potter! - ofegou a ruiva, esquivando-se rapidamente daquele abraço, sem dar-se oportunidade de perceber o frio na barriga que aquele sorriso bonito tinha lhe causado. - Seu... seu atrevido!
Remo, que também fora assaltado por emoções diversas em um curto espaço de tempo - um solavanco no peito seguido de um formigamento de expectativa, então espanto - agora, recuperava-se do estado de choque, sendo atraído para o lado pelos latidos de Sirius e as risadas de Pedro. Então se voltou para Tiago e Lily, assistindo-os apenas. Totalmente sem ação.
- Atrevido? Eu? - indignou-se Tiago. - Ora essa, foi você quem me abraçou primeiro!
- Hummm - provocou Sirius, com um sorriso safado no rosto.
- Eu ai abraçar Remo! E você simplesmente entrou na minha frente! - ralhou a ruiva, com os olhos faiscando.
- Ah-há! Então você é a assanhada por aqui! - provocou o maroto, com uma pontinha de irritação mal-disfarçada.
Lily estreitou os olhos ameaçadoramente e apontou-lhe um dedo acusador.
- Como você ousa, garoto insolente? Eu não sou assanhada coisa nenhuma! Só ia... só ia abraçar meu amigo... ora, quer saber? Eu não te devo satisfações - então ela virou-se para Remo um pouco mais brandamente, apesar de ainda estar furiosa. - Remo, estou na terceira cabine. Vou esperar você para a reunião de monitores. Só não se atrase, ok?
Ela nem deu tempo para que Remo concordasse, girando nos calcanhares e entrando no trem, que já começava a funcionar.
- Pontas, isso foi fantástico, cara - Sirius deu alguns tapinhas nas costas do amigo, que estufou o peito arrogantemente.
- É, foi fantástico! - ecoou Pedro.
- Eu sei, eu sei - gabou-se Tiago, alisando o peito.
- Pena que você não viu a cara dela quando a abraçou! - continuou Pedro. - Foi hilário! Os olhos dela estavam desse tamanho!
Remo, porém, lançou-lhes um olhar reprovador, antes de adiantar-se em direção ao Expresso de Hogwarts.
- Vamos, o trem já está partindo.
Os três o seguiram para dentro da serpente vermelha - que já soltava nuvens espessas de fumaça cinzenta, e não demorou muito para começar a se mover. Então eles foram percorrendo o corredor, inspecionando cada cabine em busca de uma vazia. Mas para Sirius e Tiago, não bastava olhar através do vidro. Eles abriam a porta com um solavanco, assustando quem quer que estivesse dentro. Então olhavam para cada ocupante com o nariz empinado e saíam - muitas vezes sem nenhuma palavra. Por isso, Remo já estava bem mais a frente, mantendo certa distância dos demais. Ao atingir, porém, a primeira cabine de sonserinos, o monitor retrocedeu.
- Não há cabines vazias - informou. - Teremos que nos separar. Essa cabine adiante cabe dois e mais à frente...
No entanto, Sirius interrompeu-o com uma risada que mais parecia um latido.
- Há! Não meeeesmo, Aluado. Nós não vamos nos separar. Observe.
Remo abriu a boca para protestar, mas já sabia que seria inútil.
Sirius adiantou-se e escancarou a porta da cabine mais próxima com um solavanco, ouvindo um gritinho feminino assustado. Então analisou seus ocupantes. Havia um casal de garotinhos que pareciam ser da Lufa-Lufa, pelo que Sirius pode deduzir ao observar as expressões amedrontadas dos dois quando olharam para a porta. O maroto deu um sorriso afetado e rumou teatralmente para dentro.
- Olá, crianças - disse ele de um jeito assustadoramente doce. - Vocês são do segundo ano, eu suponho?
O garoto acenou timidamente, afirmando.
- Então suponho que já conhecem esse feitiço - ele retirou calmamente a varinha das vestes e apontou para o malão do menino. - Vingardium Leviosa!
O malão flutuou instantaneamente e Sirius guiou-o para fora da cabine, de modo que os outros marotos tiveram que abrir passagem.
- Almofadinhas! - surpreendeu-se Remo, porém Sirius não lhe deu atenção.
Pedro continha-se para não bater palmas, logo ao lado de Tiago, que assistia de braços cruzados, com um sorriso perverso no rosto, já entendendo a brincadeira. As duas crianças arregalaram os olhos e engoliram em seco.
- Então? Vocês conhecem?
Os dois se entreolharam e acenaram positivamente uma vez mais.
- Hey, Pontas, que tal mais uma demonstração, só pra garantir?
- Certamente, Almofadinhas! - Tiago entrou na cabine também e copiou a atitude do amigo, dessa vez apontando para o malão da garota. - Vigardium Leviosa!
Remo abriu a boca para dizer alguma coisa, porém Pedro fez uns sons estranhos, abafando seus risos e ele limitou-se a enterrar a cabeça nas mãos, descrente.
- Prontinho! - disse Tiago, eficiente.
- Excelente! - comemorou Sirius, arregalando um olho e estreitando o outro, parecendo um maluco ao fazê-lo. - Agora... o que vocês me dizem de praticarem o feitiço até a cabine seguinte? - ele alternou o olhar do menino para a menina, ambos parecendo assustados e sem ação. - Ou talvez vocês prefiram ficar? Vocês conhecem o encantamento que faz crescer pêlos no nariz?
Dessa vez o efeito foi imediato. As duas crianças saíram correndo para fora da cabine, sem nem mesmo tocarem seus malões, indo refugiar-se na cabine vizinha.
Sirius, Tiago e Pedro caíram na gargalhada, já se acomodando e a seus pertences na cabine que agora lhes pertencia.
- Vocês viram a cara deles? - perguntou Pedro. - Parecia que os olhos deles saltariam das órbitas a qualquer momento!
- Não, Rabicho, melhor do que a cara de espanto deles, só mesmo a cara de maluco do Almofadinhas - gargalhou Tiago.
Sirius fez outra demonstração que arrancou risos dos outros e então latiu. Remo também não resistiu à careta do maroto, mas não deixou que os outros vissem seu sorriso. Afinal, fora uma brincadeira inofensiva, no entanto ele ainda era monitor e seu dever era impedir que coisas como essa acontecessem. Guardou seu malão e deixou a cabine novamente.
- Aonde vai, Aluado? - perguntou Tiago.
- Vou levar os malões que eles esqueceram - informou, revirando os olhos ao causar outro acesso de riso nos amigos.
Assim que ele saiu, Sirius voltou-se para Tiago com uma expressão que dizia claramente "Quero arrumar confusão, e quero agora!".
- O que você acha de deixar a capa de invisibilidade no jeito, Pontas? - sugeriu.
- Hum - Tiago retribuiu-lhe uma expressão "Conte comigo!" - Você já tem algum plano para quando os monitores estiverem ocupados?
- Oh, yeah! - Sirius esfregou as mãos.
- O quê vocês estão pensando em fazer? - perguntou Pedro, com sua expressão "Eu adoro quando vocês falam assim!".
- Hum, depois eu falo. Quando Aluado sair - explicou Sirius.
- Mas vocês pretendem fazer escondido do Aluado? - admirou-se Pedro.
Sirius coçou o queixo.
- Ora, ele não gosta de participar de operações "Humilhar o Sebosão", mas ele vai ficar sabendo... depois - ele arqueou as sobrancelhas travessamente e Tiago acompanhou-o em uma risada maléfica.
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Cerca de uma hora depois, Remus já estava impecavelmente sério em suas vestes de Hogwarts ostentando seu distintivo de monitor no peito, a caminho da terceira cabine. Deu dois toques na porta antes de abri-la educadamente. Havia quatro ocupantes que interromperam a conversa animada para encarar o visitante. Marlene McKinnon e Benji Fenwick estavam sentados de mãos dadas, de frente para Alice Flaherty e Lily.
- Olá! - cumprimentou com seu jeitinho adoravelmente tímido, recebendo vários sorrisos e "Olá!"s em resposta.
- Remo! - sorriu Lily, colocando-se de pé no mesmo instante. - Hey, pessoal, nós vamos para a reunião, ok?
Ambos saíram para o corredor e, ao sentir o perfume de lírios que os cabelos da ruiva exalavam, Remo lamentou-se profundamente não tê-la abraçado. Agora, porém, a oportunidade tinha se perdido. Talvez pelas palavras de Tiago, ou talvez porque Lily já nem se lembrava mais do incidente, mas o fato era que ela não tocou no assunto nem parecia disposta a abraçá-lo. "Melhor assim" repreendeu seu lado racional. Afinal, durante as férias de verão, Remo tinha reafirmado para si mesmo seu propósito de aproximar Tiago e Lily. Não seria uma tarefa fácil, já que Tiago insistia em piorar a situação a cada minuto, porém ele se empenharia.
- Me desculpe, Lily - murmurou enquanto ela encostava a porta da cabine.
Lily encarou-o confusa.
- Pelo quê?
- Pelo que Tiago fez... você sabe...
- Oh - Lily bufou e cruzou os braços. - Não foi culpa sua, Remo. Não peça desculpas por ele. Aquele garoto não presta. Agora, vamos? Estamos em cima da hora!
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Severo Snape tinha chegado em cima da hora também para embarcar no trem, por isso ficara sem muitas opções para acomodar-se. Tinha percorrido toda a "parte sonserina" do trem, mas não encontrara nenhuma cabine vazia. Ele não gostava de se misturar com ninguém. Fazia suas viagens, suas refeições, estudos, tudo sozinho. Não tolerava a companhia de ninguém. Eles sempre o incomodavam, ficavam cochichando sobre ele, atrapalhavam sua concentração na leitura.
Porém não lhe restaram alternativas a não ser dividir uma cabine com Régulo Black. Snape não gostava do caçula Black, diferentemente do mais velho - que ele odiava. Ainda não sabia como Régulo tinha entrado para a Sonserina. Talvez seu sangue tivesse falado mais alto, quando o Chapéu Seletor não soubera o que fazer com ele. Ele não era tão inteligente para estar na Corvinal; não era nem um pouco leal ou companheiro para estar na Lufa-Lufa, apesar de ser sonso o bastante para isso; não era corajoso para ser colocado na casa dos leões; e tampouco era determinado para ser um sonserino. Mas era um Black, afinal, e provavelmente tinha implorado ao Chapéu para ser colocado na Sonserina só para não desapontar a família. Além de que Régulo, sendo a concha vazia que era, admirava pateticamente a força de caráter e rebeldia do irmão. Isso era óbvio aos olhos de Snape desde sempre.
Régulo - que estava sentado segurando uma das pernas dobradas em frente ao corpo, olhando a paisagem para fora da janela enquanto o trem se movia - virou-se lentamente para ele, com sua expressão vazia e triste ao mesmo tempo. "Oh, que comovente" pensou Snape, sarcasticamente. Deu um leve aceno de cabeça como cumprimento e acomodou seu malão no compartimento acima, sentando-se o mais longe possível do garoto mais novo. Abriu um livro de sua matéria preferida - Defesa Contra as Artes das Trevas - e enterrou o enorme nariz nele, seus olhos negros muito próximos das letras e os cabelos negros oleosos formando uma cortina em sua face.
Ele ficou assim, absorto na leitura, pelo que pareceram horas, apesar de só ter passado pouco mais de uma hora desde que o trem havia partido. Régulo estava ainda na mesma posição, olhando através da janela. Snape reprimiu um risinho sarcástico. "Garoto idiota" e voltou a sua leitura.
Enquanto isso, do lado de fora da cabine, três garotos - ou melhor, dois garotos e um rato - caminhavam silenciosamente, apesar de não poderem ser vistos. Estavam sob a belíssima capa de invisibilidade de Tiago. Porém, eles eram agora muito crescidos para ela, e Pedro era o que mais ocupava espaço. Por isso ele estava agora espiando furtivamente do bolso de Tiago, farejando o ar silenciosamente.
Eles caminhavam encostados em uma das paredes, para não haver perigo de ninguém esbarrar neles. Examinavam todas as cabines da "ala sonserina" do trem, até encontrarem o que procuravam. Mas não exatamente da maneira em que esperavam.
- Lá está ele! - cochichou Sirius, apontando o interior de uma das cabines.
Tiago adiantou-se um pouco mais.
- Hum, mas ele não está sozinho! O-ow! Veja quem está com ele, Almofadinhas.
Sirius atentou para o garoto de cabelos negros que olhava para a janela. Não reconhecera o corte de cabelo e o fato de ele estar com a face voltada para fora dificultou o reconhecimento. Mas o jeitinho, a pose... era seu irmão. Rabicho guinchou no bolso de Tiago.
- Droga - Sirius deu um soco na parede, pelo que recebeu um olhar duro do amigo. - Quer saber? Que se dane - Sirius deu de ombros e empurrou Tiago para frente.
Eles colaram as testas no vidro da cabine, espiando melhor, estudando o que fariam.
- Vamos - sussurrou Sirius.
Tiago posicionou as mãos no puxador da porta e abriu-a num solavanco. Ambos os rostos dos ocupantes voltaram-se para eles, porém pareceram passar diretamente para o corredor aparentemente vazio. Os dois marotos esgueiraram-se rapidamente para dentro, antes que Snape se levantasse para olhar ambos os lados do corredor.
Snape franziu o cenho, depois estreitou os olhos e voltou-se para dentro da cabine. Examinou cada pedacinho dela com seus olhos atentos, antes de finalmente fechar a porta, ignorando completamente a expressão intrigada de Régulo. Voltou a sentar-se e mergulhar o rosto no livro, observando pelo canto do olho que Régulo voltava a encarar a janela.
Porém, antes que ele terminasse de ler a primeira linha, a página esvoaçou e virou para a anterior. Snape arrumou-a com impaciência e tornou a concentrar-se. No entanto dessa vez esvoaçaram mais páginas. Snape fechou o livro instintivamente e então teve ganas de atirá-lo na própria cabeça. Não tinha marcado a página, que estúpido!
Mas então sua atenção voltou-se para um detalhe curioso. A porta da cabine estava trancada. E a janela, que Régulo abrira somente uma pequena fresta, estava do lado oposto ao movimento das folhas. Então como era possível... Snape voltou-se para um dos cantos da cabine, julgando ter ouvido um rumorejar.
Porém antes que pudesse sequer assimilar isso, seu malão caiu, errando sua cabeça por centímetros e caindo com estrépito bem em cima de seu sapato.
- Aaahrg! - Snape deu um berro, chutando o malão para longe e levando, furioso, a mão às vestes em busca da varinha.
Antes que conseguisse empunhá-la, no entanto, ouviu uma voz que ele reconhecia muito bem:
- Expelliarmus! - a varinha de Snape voou de sua mão, batendo na parede e aterrissando no acento ao lado de Régulo.
Este olhava embasbacado o canto da cabine de onde havia ouvido a voz de seu irmão. E assistiu-o materializar-se do nada ao lado de... seus punhos se fecharam ao ver o garoto de cabelos arrepiados e sorriso arrogante ao lado dele.
- Black! - cuspiu Snape, com os dentes apertados. - Potter!
Ninguém reparou num ratinho que guinchou fracamente no bolso de Tiago.
- Olá, coleguinha! - debochou Sirius, mantendo a varinha apontada diretamente para as fuças de Snape. - Viemos dar-lhe as boas vindas de volta a Hogwarts, não é mesmo, Pontas?
- Oh, sim, Sebosão! Ficamos com saudades, e você? - Tiago piscou angelicalmente. - Hey! Parado aí!
Tiago apontou a varinha para Régulo, que insinuara as mãos para o bolso da calça. Régulo encarava Tiago destilando ódio pelos olhos cinzentos.
- Não se dirija a mim, amante de trouxas - rosnou Régulo com os olhos estreitados.
- Não se meta, Régulo.
O tom frio do irmão, fez com que Régulo o encarasse com mágoa e rancor. Lembrou-se claramente de Sirius petrificando-o e o abandonando largado no chão da Mansão Black. Culpa de Potter. Seus olhos se voltaram novamente para Tiago, que sustentou seu olhar ainda que prestasse atenção em Snape.
- Vocês estão abusando da sorte, seus grifinórios idiotas - cuspiu Snape, avançando um passo, apesar de estar desarmado.
- Uhuhu! Isso foi uma ameaça, Ranhoso? - provocou Sirius. - Você não está em vantagem no momento, não acha?
Rabicho contorceu-se, excitado, no bolso de Tiago.
- Eu sou paciente, Black. Pode apostar que vou esperar o melhor momento para agir. - Snape voltou-se para Tiago, suas narinas se alargando, enterrando as unhas na carne. - E vocês vão se arrepender muito quando minha hora chegar, seus imundos. Pensam que o mundo gira em torno de vocês, não é? Seus covardes, estúpidos...
- Já chega! Silêncio!
Snape nem tentou continuar seus insultos, sabendo que era inútil. Em vez disso, ele deu um passo para o lado avançando para recuperar a varinha.
- Impedimenta! - Tiago e Sirius disseram praticamente ao mesmo tempo, fazendo com que Snape fosse arremessado para trás, batendo as costas dolorosamente contra o banco.
Aproveitando-se da momentânea distração de ambos, Régulo levantou-se de supetão, empunhando a varinha, porém Tiago foi mais rápido que ele.
- Relaskio! - Régulo se desequilibrou, caiu estatelado no chão. Sua varinha escorregou de seus dedos, sendo recolhida por Sirius.
Rabicho, que tinha se enterrado no bolso de Tiago ao ter a varinha apontada para si, colocou o focinho para fora timidamente.
- Incarcerous! - Dessa vez, Sirius apontou para Snape, que foi completamente imobilizado por cordas que escaparam da ponta de sua varinha.
Snape agora movia a boca descontroladamente, xingando e blasfemando sem que nenhum som escapasse de sua boca.
- E agora, Almofadinhas? O que fazemos com ele? - Tiago apontou para Régulo, que permanecia no chão, olhando abobalhado para a forma raivosa de Snape, que se contorcia, tentando se livrar das cordas.
Sirius olhou mais uma vez para Régulo, ponderando sobre o que faria com ele. Então se decidiu. Recolheu também a varinha de Snape e segurou-as acima dos olhos, mirando o compartimento de bagagens.
- Sirius, o que está fazendo? - Régulo arregalou os olhos.
- Waddiwasi varinhas(1)! - as varinhas foram arremessadas para o fundo do compartimento de bagagens, onde Régulo certamente não alcançaria. - Desculpe, maninho. É só pra ter certeza de que você não vai ajudar esse morcegão aí.
- Sirius, volte aqui! - Régulo tentou alcançar sua canela para puxá-lo, mas Sirius foi mais rápido, esgueirando-se para fora da cabine junto de Tiago. - Sirius!
- Boa viagem! - Sirius provocou com um aceno entusiasmado antes de sair.
Tiago bateu a porta da cabine, ainda incerto sobre o que eles tinham feito a Régulo. Ele não tinha nada contra o garoto, afinal, e até achara crueldade Sirius tê-lo incluído na brincadeira.
- Colloportus! - Sirius lacrou a porta, depois de olhar para ambos os lados do corredor, e sorriu exultante para Tiago.
- Você não acha que nós exageramos, Almofadinhas? - disse Tiago, estranhamente sério. - Régulo não tinha nada a ver com a brincadeira!
- Ora, não me venha com bobagens agora. Nós não fizemos nada de mais com ele. A não ser, é claro, trancá-lo com o Ranhoso. Oh, pobre Régulo - Sirius latiu, divertido, mas Tiago ainda parecia incerto. - Vamos, Pontas, deixe de ser ranzinza! Está parecendo o Aluado, credo. Dá pra calar a boca, Rabicho?
O ratinho gordo, que estava guinchando irritantemente no bolso de Tiago, calou-se no mesmo instante. Sirius saiu pisando duro pelo corredor de volta para a cabine.
- O que vamos fazer quando descobrirem? - Tiago alcançou-o.
Sirius encolheu os ombros.
- Negar até a morte, oras - ele parou para encará-lo. - Pontas, o que há com você? Nós já fizemos isso tantas vezes, está lembrado?
- Certo, certo - Tiago bagunçou os próprios cabelos. - Você tem razão. Vamos então.
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A reunião dos monitores demorou cerca de vinte minutos, e depois Remo e Lily já estavam patrulhando o corredor do trem e conversando enquanto isso.
- Hey, você! Pare com isso! - um garoto da Corvinal estava fazendo seu sapo inchar como um balão, sendo que ele estava a ponto de explodir.
Todos da cabine olharam para Lily culposamente e o garoto levantou a varinha, fazendo com que o sapo descrevesse um arco para trás enquanto esvaziava, até bater contra a parede e escorregar até o chão.
- Argh! Eu fico doida com essas coisas - ralhou a ruiva já se afastando rumo à próxima cabine.
Remo deu um pequeno sorriso e seguiu-a.
- Sobre o que nós falávamos então? - perguntou ela e antes que Remo pudesse abrir a boca para responder, continuou tagarelando: - Oh, sim, sobre os NOM's! Eles demoraram para chegar, não é mesmo? Mas sim, eu passei em todos. Tive "Aceitável" em Adivinhação, mas quem se importa? Eu não pretendo continuar essa matéria!
- Não seria prudente pensar melhor sobre isso, Lily? - sugeriu Remo, cuidadosamente. - Talvez a matéria te ajude com seus sonhos.
- Bobagem! - Lily fez um gesto impaciente enquanto examinava o interior de mais algumas cabines. - Pelo que eu andei "estudando" sobre meus sonhos, eles não seguem a lógica de significados simbólicos e essas coisas. Bem, talvez aquele dos animais seja realmente simbólico, mas não no sentido em que aqueles livros idiotas da Madame Gonfrey insinuam. Quero dizer, senão eu já teria morrido há meses não acha? Eu sonhei durante praticamente um ano inteiro com um Sinistro e não me aconteceu nada ainda!
Remo encolheu os ombros, derrotado.
- É, você deve ter razão.
- Mas e você? Conseguiu os NOM's que precisava? Espere, não precisa responder. É claro que conseguiu! Garanto que teve "Excelente" até mesmo nas matérias de que não precisa, não é mesmo?
- Bem, na verdade eu tive uma nota razoável em Poções, mas o resto... - as bochechas do maroto ficaram levemente rosadas. - Sim, eu fui muito bem no restante das matérias.
- Eu sabia - Lily ofereceu-lhe um sorriso doce e desconcertante, mas então o sorriso sumiu quando ela olhou para o interior da próxima cabine.
Sirius e Pedro jogavam uma partida de Snap Explosivo, e Tiago assistia, deliciando-se com um bolo de caldeirão. Havia embalagens de sapinhos de chocolate e de toda a sorte de doces espalhadas pela cabine. E Pedro mastigava alguma coisa borrachuda enquanto se concentrava em suas cartas. Ele escolheu uma delas e mostrou-a para Sirius, que deu um sorrisinho satisfeito e fez uma jogada bem elaborada.
- Rabicho, seu burro! - Tiago bateu na própria testa, então ele ergueu os olhos para Remo e Lily, que assistiam à cena. - Lily! Já está com saudades de mim?
Os outros dois garotos também se voltaram para os dois monitores. Lily estreitou os olhos para Tiago.
- Me chame de Evans, Potter! Eu nunca te dei essa liberdade, você sabe disso - ralhou ela, girando nos calcanhares novamente e afastando-se, depois de ter se certificado de que eles não faziam nada de errado.
Os três caíram na risada. Remo suspirou e seguiu-a sem nenhuma palavra aos amigos incorrigíveis.
- Então, como seus amiguinhos se saíram nos NOM's? - perguntou Lily, se fazendo de desinteressada.
- Oh, eles foram excelentes! - orgulhou-se Remo, mas então seu orgulho vacilou. - Exceto por Pedro, que não teve notas muito satisfatórias. Principalmente em Transfiguração e Poções. Mas Tiago e Sirius foram realmente ótimos! Se houvesse nota maior que "Excede as expectativas", eles certamente teriam ganhado em Transfiguração. E você teria ganhado em Feitiços, certo?
- Certo - admitiu Lily, satisfeita consigo mesma. - Mas você também teria ganhado uma nota maior em DCAT, se fosse possível - retrucou.
- Obrigado. Eu realmente me esforço. Por falar nisso, você tem idéia de quem será o novo professor de DCAT? Pelo que eu li nos jornais, o Prof. Trimble continua desaparecido...
- Oh, sim, é verdade! Que triste! - Lily lançou um olhar sofrido aos próprios pés, mas então logo ergueu a cabeça, entusiasmada. - Mas Alice estava me contando sobre a nova professora pouco antes de você chegar.
- Professora?
Lily ia concordar, porém ouviu um barulho que lhe chamou a atenção. Alguém estava esmurrando a porta de uma das cabines mais à frente, e havia uns dois ou três sonserinos curiosos encarando-a com receio.
- O que está acontecendo? - ela correu até lá, examinando a porta. - O que vocês estão fazendo aí parados? Por que não abrem e vêm o que há de errado? - perguntou já se adiantando e agarrando o puxador.
- Acha que não tentamos? - desdenhou Edmund Avery, monitor da Sonserina que também estava no sexto ano.
Nada aconteceu. Lily puxou novamente.
- Está emperrada!
Remo puxou-a gentilmente e examinou o puxador.
- Não está emperrada. Foi trancada magicamente - diagnosticou, retirando a varinha das vestes e afastando-se levemente. - Alohomora!
A porta se abriu e Avery fez uma cara de desgosto, querendo se estapear por não ter tido essa idéia primeiro. Era o tipo de coisa tão simples! Enquanto isso, a porta foi puxada para trás com força pelo feitiço de Remo, e Régulo caiu sentado no chão. Os expectadores esticaram os pescoços para verem por cima do ombro do monitor grifinório, que ainda obstruía a passagem.
- Black! - admirou-se Lily.
- Snape! - Remo engoliu em seco. Um pensamento nada agradável passou por sua mente ao vê-lo totalmente amarrado ali no chão. Por um momento, a possibilidade de amordaçá-lo pareceu-lhe tentadora.
- O que houve aqui? - perguntou Lily, irritada.
Régulo, que já se levantara e sentara-se num dos bancos, abriu a boca para explicar, mas pareceu desistir, tornando a fechá-la e limitando-se a lançar um olhar de asco para a monitora.
- Oh, tenha a santa paciência! - a monitora rolou os olhos, pulando por sobre as pernas de Régulo. - Evanesco!
As cordas que prendiam Snape sumiram, e o rapaz de cabelos oleosos rapidamente pôs-se de pé, recompondo-se. Lançou um olhar furioso para os sonserinos que se aglomeravam, esticavam o pescoço, alguns segurando risadinhas. Então voltou seu olhar enraivecido para Lily que encarava Régulo.
- Foi você quem fez isso? - a monitora apontou para Snape.
- Claro que não, sangue-ruim - rosnou Régulo, ao que Lily não se alterou.
Snape, porém, voltou-se para ele à menção daquela palavra rude e qualquer um classificaria aquele olhar como assassino. Mas ele manteve-se calado. Remo, numa atitude muito sensata, entrou e já ia fechar a porta da cabine atrás de si, quando Avery adiantou-se.
- Hey, Lupin, eu sou monitor também! Tenho o direito de participar disso - empertigou-se. - Além do mais, eles são da minha casa, quem me garante que vocês não serão injustos com eles?
Remo abriu passagem para ele e fechou a porta em seguida, encarando-os com o semblante sério e uma ruga na testa.
- Onde estão suas varinhas? - questionou e Lily achou-se estúpida por ter acusado o sonserino sendo que ele nem empunhava sua varinha.
Régulo apontou o compartimento de bagagem acima e Remo murmurou um "Accio varinhas" recuperando-as com facilidade e estendendo-as para que os sonserinos recolhessem suas respectivas armas. Assim que recuperou sua varinha, Snape apontou-a para a própria garganta, anulando o feitiço que o tinha silenciado.
Avery acomodou-se em um dos bancos, somente assistindo, lançando olhares nada pudicos à monitora. Snape alargou as narinas e estreitou os olhos ao perceber isso, mas ninguém mais pareceu reparar.
- Quem fez isso com vocês? - questionou Lily recebendo uma risada cínica de Snape em resposta.
Remo fechou os olhos, pesaroso, já adivinhando a resposta. Mas isso não impediu que seu estômago afundasse quando ouviu a resposta.
- Potter - rosnou Régulo. - Aquele maldito bastardo amante de trouxas...
- Potter e Sirius Black - completou Snape destilando veneno, olhando para Remo acusadoramente. - Seus amiguinhos, monitor.
Régulo engoliu amargamente e abraçou as pernas diante do corpo. Por mais que estivesse profundamente magoado com a atitude do irmão, não teria sido capaz de delatá-lo. Mesmo agora, odiava Snape por tê-lo feito.
- Eu devia ter imaginado - Lily bateu o pé no chão. - Eles passaram do limite, está vendo Remo?
Snape bateu palmas, debochadamente.
- Parabéns, Srta. Evans. Cinco pontos para a Grifinória! Chegou a uma conclusão óbvia, pena que tenha demorado tanto, não é mesmo? Seu namoradinho já passou do limite há anos, caso você ainda não tenha percebido.
Lily abriu a boca, indignada, e Remo achou melhor intervir antes que ela explodisse.
- Nós iremos agora mesmo repreendê-los, Snape. Vamos, Lily.
- Repreendê-los? - todos se voltaram para Avery, que coçava o queixo. - Eu não acredito no tipo de repreensão que vocês possam dar a eles. São seus amigos, e se não funcionou até agora, é obvio que não têm eficácia alguma.
- E o que você propõe? - perguntou Remo, calmamente.
- Eu proponho que vocês façam uma queixa à diretora da casa de vocês. Caso não avisem McGonagall, eu mesmo providenciarei para que o diretor saiba disso diretamente.
Remo trocou um olhar com Lily, num pedido mudo para que ela o ajudasse. A ruiva parecia um pouco perdida - ao que Snape arqueou o lábio inferior para cima numa atitude de desprezo - mas logo se recompôs.
- Bem, nós vamos comunicar a Profª. McGonagall sobre isso, pode ter certeza - afirmou, já caminhando para a porta. - Vamos procurá-los, Remo.
Remo seguiu-a para fora e Snape acompanhou-os com o olhar impassível. Avery lançou um olhar de desgosto para Régulo, que tinha o olhar perdido, voltado para a janela. Ele não aprovara Sirius Black como partido para sua irmãzinha, mas tampouco aprovava Régulo. Antes de sair deu um aceno de cabeça a Snape, que não retribuiu. Também nunca fora com a cara de Snape. Um idiota que vivia com o nariz imenso enterrado em livros e que nunca se misturava com ninguém. Que dupla patética.
Snape arrumou o sobretudo preto que usava, mesmo sendo uma tarde quente, e largou-se no acento, já determinado a ignorar Régulo novamente pelo resto da viagem. No entanto, o garoto voltou-se para ele, sua voz grave e sua altura querendo fazê-lo parecer mais velho do que na verdade era.
- Eu quero me vingar de Potter. Mas não tenho idéia de como - ele fez uma pausa e Snape se perguntou por que ainda não tinha voltado a sua leitura. Já ia enterrar o rosto no livro novamente quando ele resolveu continuar. - Você me ajudaria, Snape?
Snape fechou o livro com estrépito e encarou-o nos olhos friamente, porém não disse uma palavra. Esperava que somente seu olhar já respondesse o quanto Snape o achava patético. Mas Régulo não se intimidou, ou talvez não tivesse entendido direito.
- Você disse que pretende se vingar deles e eu quero participar disso. Não consigo sozinho. Eu estou no quarto ano e eles são inseparáveis, não tenho chance contra Potter - ele fez outra pausa esperando uma resposta.
- Não - respondeu Snape, sem preâmbulos.
- Eu posso ser útil, prometo! - insistiu o garoto.
- Minha vingança envolve seu querido irmão. Você colocaria tudo a perder. Além disso, não tem coragem de levantar um dedo sequer contra quem quer que seja. Nem mesmo Potter.
Por um instante, Snape pensou ter visto um brilho de determinação nos olhos de Régulo, e isso o atingiu mais do que as palavras que se seguiram.
- Eu posso provar que tenho coragem para isso. Vou fazer como você disse, esperar o momento certo para agir. Mas eu vou provar.
Snape inclinou-se para frente.
- O que você pretende, exatamente, Black?
Régulo cerrou os punhos e apertou os maxilares.
- Quero afastá-lo do meu irmão.
Snape curvou o lábio em deboche.
- Mesmo que isso custe algum sofrimento a Black? Porque eu não pretendo deixá-lo de fora, será que isso ficou bem claro?
- Sim - confirmou Régulo, sem hesitar.
- Então que seja - Snape deu de ombros, voltando a abrir o livro. - Prove-me que é capaz e eu te incluo na brincadeira.
Régulo engoliu em seco, acenando positivamente. Essa atitude não passou desapercebida por Snape, que estava completamente cético sobre o sucesso dele, por isso concordara. Não gostava de se meter com ninguém, muito menos com um idiota daquele calibre.
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- Grrrr eu mato aqueles dois!
Lily dava passos tão grandes quanto suas pernas permitiam - o que não era muito, já que ela era baixinha. Remo ia logo atrás, completamente conformado em não dizer nada a favor dos amigos agora.
Quando chegaram na cabine que eles ocupavam, Lily abriu a porta com tudo.
- Pott... - antes que ela sequer completasse, viu-se encarando Pedro. Somente Pedro. - Onde estão Potter e Black?
Pedro engoliu o que quer que estivesse em sua boca antes de responder.
- S-sei lá! - ele lançou um olhar temeroso e significativo a Remo. - Eles saíram. Estão... por aí... - ele encolheu os ombros e Lily deixou seus ombros caírem em derrota.
- Não acredito... Venha, Remo. Vamos procurá-los.
Remo achou ter visto alguma coisa se mexendo estranhamente no nada antes de ser puxado por Lily. Eles andaram pelo trem inteiro, perguntaram para quem quer que encontrassem e nada dos dois marotos. Por fim Lily disse que esperaria que eles voltassem papa a cabine. E foi lá que eles ficaram esperando. A essa altura do campeonato, Remo já tinha idéia do que acontecia.
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Acabava de anoitecer, o que indicava que eles já estavam chegando. Sirius e Tiago estavam bocejando, lado a lado, sentados no banco de frente para Remo e Lily. Pedro estava dormindo de boca aberta sentado no chão, escorado no canto da cabine. Remo e Lily conversavam havia horas, como se eles não estivessem ali.
Na verdade, teoricamente eles não estavam na cabine nem em parte alguma do trem. Estavam cobertos pela capa da invisibilidade, desconfortáveis por estarem na mesma posição desde que Lily resolvera esperar por eles na cabine. Ela tinha insistido para que Pedro se sentasse no banco, ao invés de ficar desconfortável no chão, mas Pedro tinha gaguejado e afirmado que estava tudo bem, que ele preferia o chão mesmo. Remo também já tinha inventado milhões de desculpas para que eles dessem uma voltinha pelo trem pelo menos, mas a ruiva estava irredutível.
- Hey, chega pra lá, Almofadinhas - sussurrou Tiago, empurrando Sirius, que se assustou e deu um pulo, quase fazendo com que a capa escorregasse. - Shhhhh! Não acredito que você estava dormindo!
- Ah, não enche, Pontas! - Sirius resmungou de volta, tentando mudar a posição das pernas. Porém, se o fizesse, esbarraria no pé de Lily. - Isso aqui tá apertado... Essa capa está encolhendo, Pontas? - Tiago ignorou-o. - Que droga! Por que a Evans não vai embora logo?
Tiago limitou-se em voltar-se para Remo e Lily, emburrado com a animação que os dois demonstravam na conversa interminável. Ele já estava todo dolorido de ficar na mesma posição. Tinha sufocado um berro quando Sirius meteu a botina no seu pé, momentos antes. Nem sequer Snap Explosivo eles podiam jogar, porque... oras, porque era explosivo!
Lily já tinha se acalmado bastante, mas quando eles pensavam que ela já tinha esquecido deles, ela se perguntava onde eles podiam estar. Remos encolhia os ombros e Pedro roncava.
- Mas você ainda não me contou sobre a professora de DCAT, Lily - eles pescaram da conversa dos dois monitores.
- Professora? - eles somente moveram os lábios ao mesmo tempo, depois deram de ombros e voltaram a prestar atenção no que eles diziam.
- Oh, sim! Esqueci de te contar! Bem, Alice disse que Frank conheceu essa mulher na Academia de Aurores nesse verão. Chama-se Kátia Lorenz, se não me engano.
- Da Academia de Aurores? - Remo deu voz a duvida dos outros marotos.
- Isso mesmo - confirmou Lily. - Frank ouviu dizer que Lorenz é bem enérgica. Parece que ela já teve diversos cargos lá, mas mais recentemente estava em um cargo burocrático mesmo...
- Hum, já entendi - sussurrou Sirius. - É daquelas velhas bem feias e chatas que ninguém suporta, então mandam pra mexer em arquivos.
Tiago e Sirius riram silenciosamente da piadinha. Nesse momento o trem começou a reduzir lentamente a velocidade e Lily se levantou, dando um suspiro. Os músculos de Tiago e Sirius formigaram em protesto diante da visão de Lily se espreguiçando.
- Bem, acho que já vou indo pegar minhas coisas.
- Ok - concordou Remo brandamente.
Lily saiu para o corredor e começou a caminhar rumo a terceira cabine, onde deixara suas coisas, porém de repente se deu conta de que não precisava pegar nada lá. As bagagens sempre eram levadas para seus dormitórios magicamente. Lily deu um tapa na própria testa, rindo de si mesma e voltando para a cabine que acabara de deixar.
- Oh, Remo, que cabeça a minha! Você acredita q... - ela interrompeu-se ao deparar-se com quatro olhares espantados.
Remo a encarava ainda sentado, sem ação; Pedro, que tinha os olhos inchados de sono, acabara de se levantar; Sirius congelara em meio a um espreguiçar, com os braços ainda para o alto; e Tiago tinha o queixo caído, empurrando a pontinha de alguma coisa prateada para dentro do bolso.
- Mas como...? De onde...? - Lily atrapalhou-se, piscando. Então fez um muxoxo e cruzou os braços diante do corpo. - É, vocês estão encrencados.
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(1) Eu achei esse feitiço em um site, mas não tenho certeza se ele aparece nos livros, nem sequer se ele realmente existe, mas de acordo com o site, é o aposto de Accio.
N.A. Eu ainda não acredito que esse capítulo saiu! Nem tinha planejado nada dele, exceto o abraço de Tiago e Lily, mas me obriguei a começar e as coisas foram acontecendo, acontecendo, até dar nesse capítulo imenso aí! O.O
Eu gostei da ação dos monitores, sinceramente. Achei que eles ficaram bem... digamos... justiceiros XD Sem comentários para Régulo, vocês já sabem o que eu penso sobre ele. E... bem, eu gostei da participação de Avery! Se alguém aí souber o primeiro nome dele, me avisem e eu mudo, mas eu não encontrei nos livros, por isso inventei.
Respostas por e-mail para: Thiago Potter First, Tete Chan, Alice, JhU Radcliffe, MiLaChaN, .Miss.H.Granger., Lucca BR, LeNaHhH, Sara Black Potter, Eowin Symbelmine, Dany Ceres, KiNe Evans, Luciana Li, Natalia Lima, Larissa, LeLeCa SaPeCa, Lunnafe, Nessa Reinehr.
Ohh, eu já tenho 100 reviews! Mas minhas reviews por capítulo estão diminuindo :( Será que vcs estão de férias? De qualquer maneira, valeu! Beijos para todos! E eu espero poder postar mais no sábado! Ajudaria se vocês me inspirassem com os comentários maravilhoso de sempre XD
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No próximo capítulo...
- Hey, você aí! - Sirius ouviu uma voz feminina e voltou-se para averiguar a quem ela pertencia.
Definitivamente não era nenhuma aluna. A mulher de olhos cor de mel que o encarava com um ar provocante tinha os cabelos loiros muito lisos e soltos, atingindo a cintura fina, delineada pela fita do robe de seda vinho que ela usava. Suas formas arredondadas e bem feitas denunciavam uma idade já madura, provavelmente uns 25 anos. Ela calçava pantufas de coelhinhos cor-de-rosa, que destoavam com a seriedade de sua voz e maneira sedutora em que se encostava ao batente da porta da - sala de DCAT? -, segurando uma xícara em uma das mãos e tendo a outra na cintura. Era sem dúvida uma belíssima mulher!
- Será que você poderia me ajudar? - pediu ela e só então o maroto se deu conta de que a estava encarando imóvel, embasbacado.
