CAPÍTULO ONZE

Complicações

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Os dois primeiros meses de aula passaram muito rapidamente, na opinião de Lily. Ao contrário do que ela imaginara, não sobrava muito tempo livre, nem mesmo durante as horas que eles não tinham aulas, pois o número de deveres de casa triplicou e os sextanistas precisavam de todo esse tempo que dispunham para manterem-se em dia com as matérias.

Lily sempre podia ser encontrada na Biblioteca ou na sala comunal da Grifinória, com um livro na mão e mais uma pilha deles ao lado. Algumas vezes ela era acompanhada por Marlene e Alice, outras por Remo, mas a maior parte do tempo ela ficava sozinha, já que Marlene tinha um namorado para dar atenção, Alice tinha sempre alguma desculpa para deixar os deveres para última hora e Remo geralmente ficava em mesas separadas com os demais marotos, ou debaixo da árvore na beira do lago, quando o tempo estava bom. Porém ocasionalmente o tempo fechava e eles eram obrigados a ficar esparramados na sala comunal ou no dormitório masculino do sexto ano.

No final da aula de Feitiços daquela manhã, ninguém estava mais disposto a praticar o que Flitwick tinha proposto. Sirius Black, Tiago Potter e Pedro Pettigrew tinham se debruçado nas carteiras e pareciam cochilar enquanto a classe estava ruidosa e o minúsculo professor se entretinha conversando com uma aluna duas vezes maior do que ele. Lily tinha o olhar perdido para fora da janela, pensando em tudo o que acontecera nas últimas semanas.

A ruiva tinha demorado a se acostumar com a nova descoberta sobre o melhor amigo, Remo Lupin. Ela se esforçava para tratá-lo da mesma maneira de sempre, para que ele não pensasse que ela tinha pena dele. Lily já tinha chegado a um acordo consigo mesma de que essa não era a melhor maneira de mostrar que ela se importava com o amigo. A melhor maneira era agir como se nada tivesse mudado, apesar de que sempre acabava sendo mais carinhosa e atenciosa com ele, além de que sua rotina diária durante a Lua Cheia agora incluía visitar Remo na enfermaria. Ela escolhera visitá-lo antes de ir almoçar, já que os outros amigos de Remo tinham o hábito de visitá-lo depois do almoço, levando-lhe a sobremesa. Ela tentava convencer a si mesma de que fazia isso para evitá-los, mas na realidade Lily sentia-se um tanto intrusa presenciando os momentos alegres que eles compartilhavam.

Era... estranho tentar enxergar além das atitudes fúteis daqueles garotos, mas a cada dia ela se sentia mais tocada pela forma como eles tratavam o amigo. E era justamente como ela tinha decidido tratá-lo: normalmente. Era isso que deixava Remo feliz, se sentir normal, como qualquer outro garoto que tenha amigos valorosos e fiéis, que lhe traziam doces e faziam-lhe se esquecer do que o aguardava durante as terríveis noites de Lua Cheia.

Mas só porque ela não demonstrava, não queria dizer que ela não se preocupava. Além de perguntar se estava tudo bem com o amigo, ela se permitia usar de sua percepção para "checá-lo", mas o diagnóstico era sempre o mesmo: corpo dormente e preguiçoso, sem machucados ou dores pronunciadas. Aquela transformação que ela presenciara parecia ter sido a pior de todas e felizmente ele parecia tranqüilo e sonolento pela manhã. Lily ajudava-o com as matérias das aulas sempre que tinha aulas vagas durante a tarde e Madame Pomfrey se limitava a entortar o nariz antes de pedir que eles não fizessem barulho para não chamarem a atenção de outros pacientes.

Quanto às aulas, nenhum professor se preocupava em querer satisfações quanto à ausência do maroto. Bem, nenhum, exceto Lorenz, que tinha perguntado justamente para Lily o motivo de Remo não ter comparecido às aulas. Bem, ela sim sentia a falta dele, pois era notavelmente seu melhor aluno. Lily hesitou um pouco ante o questionamento, mas lembrou-se das várias desculpas que os outros marotos dirigiam a ela no ano passado e acabou dizendo que Remo estava doente e precisou se afastar por algum tempo para se recuperar.

Mas não foi só Lorenz que sentiu a falta de Remo. Lily tinha percebido que Lia Doane, a garota com quem Remo tinha trombado na véspera de Lua Cheia, estava sempre na Biblioteca e lhe parecera um tanto inquieta durante os dias que o maroto tinha passado na enfermaria. De alguma maneira, a porta da Biblioteca parecia ser mais interessante do que os livros que ela tinha abertos sobre a mesa.

Lily já tinha desconfiado que aquela freqüência notável da garota à Biblioteca desde o ano passado tinha algum motivo além de estudo e isso só a deixava mais desconfiada. Por ser de outra casa, a Biblioteca era o único lugar onde ela podia certamente encontrar Remo Lupin. E suas suspeitas se confirmaram quando, depois de passada a semana de transformação, o monitor voltou a freqüentar a Biblioteca. Lily não podia deixar de se divertir com a ignorância de Remo quanto aos olhares furtivos que a garota lhe lançava por cima do livro. E pensar que Remo nem sequer a conhecia antes de trombar com ela!

Outra coisa que Lily notou foram os olhares que essa mesma garota dispensava a ela. Não eram olhares de ódio ou inveja, mas de uma... curiosidade um tanto ciumenta, ela diria. Bem, e não era para menos, já que ela estava sempre fazendo companhia para Remo, conversando animadamente, tocando-o, eventualmente...

Oh, ela ainda não tinha se dado conta do quão íntimos ela e Remo estavam. Ela se sentia tão confortável com o amigo que já nem reparava quando tocava em seu braço para chamar-lhe a atenção, segurava sua mão para arrastá-lo onde quer que fosse, acariciava o rosto do maroto quando percebia que ele estava sonolento... Bem, a seu ver, não era nada de mais. Porém ela tinha que admitir que para quem os assistisse, poderia ser bastante sugestivo. E mesmo que Remo não tivesse notado o interesse de Doane, Lily não tinha o direito de continuar agindo dessa maneira e deixar que, não só ela, mas nenhuma outra garota se aproximasse de Remo por achar que eles tinham mais do que amizade. Por isso, a ruiva sempre evitava ficar na Biblioteca por muito tempo, apesar de que quase sempre Remo também não permanecia quando ela não estava...

Outubro já estava no fim, o Dia das Bruxas se aproximava e Remo tinha se afastado novamente. A noite anterior tinha sido a primeira de Lua Cheia e Lily estava ansiosa por visitar o amigo assim que a aula acabasse, o que não demorou a acontecer.

Lily sobressaltou-se, não só pelo sinal batendo, mas também pelos ruídos de cadeiras arrastando e um baque surdo. A classe toda parou para assistir Pedro se levantando do chão - onde tinha desabado junto com a cadeira- enquanto Sirius e Tiago se esticavam e bocejavam, esfregando os olhos. Lily bufou e recolheu suas coisas, saindo da classe rapidamente. Não era a primeira vez que ela notava essa exaustão dos três garotos durante o período em que Remo estava ausente. Eles sempre dormiam em classe, ou perdiam a hora para as aulas por tirarem cochilos no dormitório nos intervalos, e quando não estavam dormindo, estavam bocejando e piscando com lentidão. A monitora lembrava-se de ter pedido explicações quanto a isso mais de uma vez e sempre recebia respostas mal-educadas do tipo: "Não é da sua conta" ou "Você não acredita realmente que nós vamos te contar, não é mesmo, Evans?". A maioria delas partia de Sirius Black.

Enquanto todos rumavam para o Salão Principal, ela dirigiu-se à enfermaria. Entrou e encontrou dois alunos acidentados sendo tratados por Madame Pomfrey. Felizmente eles nem notaram sua entrada, então a garota rapidamente cruzou a enfermaria e parou por um instante, tocando nas cortinas brancas fechadas e sussurrando:

- Remo?

Lily ouviu uma agitação por detrás das cortinas e uma voz rouca resmungando seu nome em resposta.

- Posso entrar? - ela continuou sussurrando.

- Pode... pode sim... - veio a resposta, um pouco mais firme depois de Remo limpar a garganta.

Lily afastou o tecido pesado o suficiente para deslizar para dentro e suspirou, deixando a mochila cair no chão.

- Eu te acordei? - perguntou, preocupada.

- Não, eu já estava acordado há algum tempo. Meu estômago me acordou - o maroto sorriu.

- Ah, sim, eu também estou com fome. Mas não é nada desesperador - Lily sorriu e aproximou-se mais do leito, estendendo uma mão para colocar os cabelos de Remo para trás da orelha e inclinando-se para depositar um beijo delicado em sua bochecha. - Como você está, Remo?

- Bem, obrigado - o maroto respondeu, um pouco sem jeito, desviando o olhar.

No entanto, Lily só aceitou sua resposta porque já tinha verificado a condição do amigo simplesmente por tocá-lo. Ele estava em paz, sim, graças aos céus.

- Então, como foi a aula? - Remo perguntou, arrumando-se de modo a sentar-se no leito, encostado nos travesseiros.

- Ah, foi totalmente prática hoje... - Lily puxou um banquinho e sentou-se ao lado dele, contando tudo sobre a aula e explicando como fazer os feitiços, ao que o maroto ouviu com muito interesse. - Mas... sabe, tem uma coisa que me intriga, Remo...

- O quê?

- Sempre que você fica ausente, seus amigos parecem totalmente esgotados nas aulas! Por acaso você sabe o que seus amigos fazem quando você não está? - Lily não conseguiu conter sua curiosidade, perscrutando os olhos do maroto em busca de algo que o denunciasse.

Remo se remexeu desconfortavelmente, desviando os olhos e mordendo o lábio inferior. Lily suspirou, contrariada.

- Você sabe, não é? E não vai me contar.

- Lily, eu... eu não posso...

- É alguma coisa contra as regras da escola, Remo? É por isso que você não quer contar? - Lily esperou por uma resposta que não veio, então continuou, mais severamente. - Você está encobrindo eles, Remo? Eu não acho isso certo! Tudo bem você ter gratidão por eles, mas... puxa, eles estão se atrasando para as aulas e quase nem assistem à elas! Ficam bocejando e cochilando... você acha que isso é certo?

Lily não tinha como imaginar o conflito que se passava na cabeça do maroto. Remo estava novamente se sentindo culpado por ter concordado com aquela história toda de animagia. Uma brincadeira, na verdade. Uma brincadeira que foi longe demais... Ele se sentia egoísta prejudicando de certa maneira os estudos dos garotos, além do que não se tratava somente de burlar regras de Hogwarts, mas também era ilegal!

Bem, mas de qualquer forma, não era como se ele tivesse obrigado ninguém a fazer isso por ele... e ele não tinha coragem de repreender os amigos quando se tratava de um assunto tão delicado como este. Além do mais, Sirius e Tiago conseguiam se virar muito bem mesmo sem prestar atenção às aulas e copiando seus deveres de casa. O único que poderia ter alguma dificuldade era Pedro, mas Remo sempre se esforçaria para ajudá-lo no que fosse possível para compensar isso.

- Lily... você conhece esses três. Sabe que nada os impediria de fazerem o que desejam, seja de acordo com as regras da escola eu não - Lily começou a querer protestar, porém Remo pediu para ser ouvido, levantando a mão. - Eu não posso dizer do que se trata, nem mesmo para você, sinto muito. Prometi guardar segredo.

- Remo, eu entendo que vocês tenham seus segredos e que vocês prezem a lealdade para com seus amigos, mas aí já é demais, não acha? Se alguém descobrir, eles estarão com grandes problemas!

- Se alguém descobrir, então eu estarei com grandes problemas também, pois grande parte da responsabilidade pelo que eles fazem é minha. E nós dois sabemos que eles se dão bem nas aulas mesmo sem prestar atenção.

- Remo... - choramingou Lily, porém o monitor cortou-a novamente erguendo uma das mãos cansadamente.

- Lily, por favor, vamos esquecer isso? - Lily abaixou os olhos e Remo deixou a cabeça encostar na parede. - Me desculpe, Lily. É que eu realmente...

- Tudo bem - Lily segurou uma das mãos do maroto, chamando sua tenção novamente. - Eu não vou mais perguntar, ok? Eu já vou indo, quero passar na Biblioteca antes da aula de DCAT e ainda nem almocei... Ah! - Lily bateu na própria testa. - Eu já ia esquecendo de perguntar... Os professores sabem sobre sua condição?

Remo franziu a testa, pensativo.

- Bem, eu acredito que sim. McGonagall eu sei que sabe, agora os outros... Nenhum deles costuma pedir satisfações pelas minhas ausências, então eu presumo que sim. Por quê?

- Porque Lorenz não sabe... ela perguntou para mim durante a aula, com todo mundo ouvindo, então eu disse que você estava doente... hum... e fiquei em dúvida se devia ou não dar alguma satisfação depois da aula.

Remo coçou o queixo, ponderando o que deveria fazer. Por fim, encolheu os ombros.

- Eu acho que se o Prof. Dumbledore não comunicou a professora, talvez seja melhor dar uma desculpa qualquer mesmo... não sei... não me sinto à vontade com Lorenz ainda...

- Pois é - Lily fez uma careta. - Nem eu. Mulherzinha narcisista essa!

Remo sorriu diante da cara de reprovação que Lily fez.

- Bom, eu já vou. Seus amigos já devem estar terminando de almoçar, aproveite para comer alguma coisa também. Daqui a pouco chega sua sobremesa - Lily piscou para ele e levantou-se erguendo a mochila. - Não sei se posso voltar a te ver ainda hoje, senão, até amanhã.

Lily inclinou-se e beijou a face de Remo novamente.

- Tchau - Remo suspirou em resposta, observando-a sumir por detrás da cortina e suspirou novamente, levando uma mão à face no local onde ela o tinha beijado duas vezes.

Ah, se ela soubesse por tudo o que ele passava com todo esse carinho que ela lhe dispensava...

- Sr. Lupin, hora do almoço - Madame Pomfrey ofereceu-lhe um prato de sopa de legumes.

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Sirius, Tiago e Pedro entraram na sala de aula por último e ficaram mais no fundo, deixando as mochilas no canto da sala, sobre as mesas que tinham sido amontoadas para que sobrasse bastante espaço no centro da sala. Aparentemente a aula seria prática novamente. Esse era o melhor consolo das aulas de DCAT do sexto ano, pelo menos eles não tinham teoria para copiarem.

- Então, o que vai ser? - perguntou Tiago em meio ao tumulto causado pela chegada dos alunos. Lorenz estava apagando o quadro negro e chamando a atenção dos alunos com isso.

- Humm eu estava pensando em um feitiço simples de mudar a cor do cabelo, o que você acha? - sugeriu Sirius, porém sem desgrudar os olhos das costas da professora. Bem, talvez não exatamente das costas...

- Oh, sim, é uma excelente idéia! - comemorou Pedro.

Os dois garotos olharam para ele e se entreolharam.

- E você vai nos emprestar sua varinha, Pedro - sentenciou Sirius, voltando a olhar para a professora, que tinha se abaixado para recolher alguma coisa no chão.

- Eu? - esganiçou-se Pedro.

- Sim - Tiago confirmou. - Mantenha-se por perto, Rabicho. E assim que nós fizermos o feitiço, você sai de perto, ok?

Pedro engoliu em seco e Lorenz finalmente voltou-se para a classe, jogando os cabelos para trás.

- Boa tarde, classe - cumprimentou ela com seriedade, unindo as mãos às costas e caminhando por entre os alunos. - Hoje nós vamos passar para uma matéria nova, mas não pensem que a prática de feitiços não-verbais acabou. Eu vou continuar exigindo isso de vocês ao longo das aulas, então é bom que vocês continuem praticando. Porém, a partir de hoje, eu vou ensiná-los a conjurar um Patrono. Alguém sabe me dizer o que é um Feitiço Patrono? - Lorez não precisou esperar para continuar: - Srta. Evans?

Lily abaixou a mão e ergueu a cabeça, orgulhosa, ao responder:

- O Patrono é um guardião, um escudo de energias positivas que afasta seres das trevas que sugam sentimentos bons, como a esperança e a felicidade.

- Muito bem. Cinco pontos para Grifinória. E alguém sabe me dizer que forma um Patrono assume?

A mão de Lily voou para o alto novamente, porém dessa vez, Lorenz apontou para o fundo da classe.

- Sr. Snape?

Todos se voltaram para Severo Snape, que parecia inabalável no canto oposto ao que os marotos estavam.

- Ele assume a forma de um animal diferente para cada pessoa, de acordo com o caráter de quem o conjura - respondeu o sonserino, sem qualquer entusiasmo na voz, como se já estivesse cansado de saber aquilo.

Sirius cutucou Tiago e cochichou próximo ao seu ouvido, divertido.

- Quer apostar quanto que o dele vai se transformar em um morcegão?

Ambos tiveram que prender a respiração para não gargalharem.

- Exato. Cinco pontos para a Sonserina - continuou a professora. - Agora, eu quero que vocês fiquem atentos para a forma de conjurar o Patrono. Ele só assumirá uma forma identificável quando for muito bem feito e isso pode demorar algum tempo para acontecer. Já é difícil completar o feitiço sem ter nenhuma criatura das trevas por perto, e será muito pior fazê-lo frente a frente com uma delas - Lorenz fez uma pausa dramática para encarar os alunos. - É um feitiço avançado e requer muita concentração. Para conjurá-lo, é preciso que vocês se concentrem em um momento particularmente feliz de suas vidas e se agarrem a essa lembrança com toda a força de vontade. Quando estiverem prontos, vocês deverão dizer as palavras: Expecto Patronum. Ouviram bem? Expecto Patronum. Vamos, repitam comigo...

A classe começou a trabalhar, primeiramente memorizando as palavras e então escolhendo suas lembranças. Lily estava achando essa parte particularmente difícil. Ela tinha tido muitos momentos felizes em sua vida, sabia disso, mas era complicado escolher uma delas que fosse "particularmente feliz". Tentou se concentrar em quando recebeu a notícia de que iria para Hogwarts em vez de ser obrigada a freqüentar o mesmo colégio que Petúnia. Mas isso lhe lembrava do quanto fora difícil se acostumar a ficar longe dos pais por tanto tempo... Ela não era tão fã de quadribol para lembrar-se de uma vitória da Grifinória. Então buscou mais fundo em sua memória e recordou-se do Baile de Inverno do ano anterior. Sorriu ao lembrar-se de como tinha se divertido rindo com suas amigas e dançando com Remo.

Concentrando-se com todas as suas forças nessa lembrança, de olhos fortemente cerrados, Lily começou a sussurrar o feitiço várias vezes seguidas até que sentiu a mágica fluir de suas veias e abriu os olhos para encarar uma fumacinha esbranquiçada saindo da ponta de sua varinha. Ficou tão excitada com seu progresso que acabou se desconcentrando e a fumacinha desapareceu. Mas ela tentou mais vezes.

Mais ao fundo da sala, três garotos estavam rindo se lembrando de inúmeros momentos felizes.

- Ah, e teve também aquela vez que nós fizemos o Seboso dançar enquanto equilibrava a mostra de sua poção para entregar para o Prof. Jigger, lembram? - lembrou Tiago e eles caíram na gargalhada.

- Hey, lembram de quando o Almofadinhas levantou a saia daquela antiga apanhadora da Lufa-Lufa bem no Salão Principal? - propôs Pedro, entre risos.

- Caramba, acho que essa é a parte mais complicada desse feitiço, não é? Escolher uma só lembrança - Tiago enxugou as lágrimas de riso dos olhos e Sirius finalmente se manifestou.

- Eu tenho uma idéia. Por que nós não criamos um "momento particularmente feliz" agora mesmo, heim? Assim nós podemos ajudar nossos outros colegas indecisos também.

- Boa, Almofadinhas - Tiago estendeu a mão e Sirius aceitou-a, fazendo o toque característico deles. - Então, já pensou na cor?

Sirius coçou o queixo, observando a professora de alto a baixo.

- Eu acho que verde musgo cairia bem nela, o que você diz, Pontas?

- Sim! Com uma textura bem viscosa, blergh!

- Isso! Isso! - Pedro deu pulinhos, entusiasmado, porém parou ao ter a varinha arrancada da própria mão por Sirius.

- Fica esperto Rabicho. Assim que ela entrar na mira eu vou lançar o feitiço. Depois você some com essa varinha, entendeu?

Pedro engoliu em seco novamente, porém assentiu.

Enquanto os demais praticavam, Lorenz pareceu muito concentrada observando e contando cada um dos presentes. Depois de alguns minutos analisando, ela finalmente caminhou até onde Lily estava.

- Srta. Evans, o Sr. Lupin faltou novamente? - perguntou, com sua pose intimidante, a postura correta e os braços unidos às costas.

Lily empalideceu levemente, mas tentou parecer normal.

- Sim, professora. Ele teve uma recaída, precisou ser afastado da escola novamente.

- Humm - a mulher segurou firmemente o olhar de Lily. - Sei... e vai passar mais alguns dias fora então?

- Sim, professora.

- Entendo - ela estalou a língua e girou nos calcanhares se afastando. Lily engoliu em seco.

- É agora! - Sirius cochichou, assim que a professora virou de costas e caminhou até o quadro negro.

O maroto concentrou-se no feitiço e apontou a varinha para o cabelo da professora. No mesmo instante, as mechas loiras e soltas tornaram-se verde musgo com uma aparência mofada. A classe explodiu em riso e Lorenz virou-se novamente para os alunos, os olhos estreitos, procurando pelo motivo das risadas.

- Mas o que... - ela arregalou os olhos ao se dar conta de que a atenção da classe estava voltada para ela mesma, e imediatamente levou a mão ao rosto, tateando, examinou se a cor de seus braços estava normal, abaixou os olhos para as próprias vestes, e assim que uma mecha de seu cabelo escorregou para frente, ela gritou horrorizada. - O que é isso... - ela imediatamente conjurou um espelho e mirou seu reflexo nele, de queixo caído. - Meu cabelo... meu lindo cabelo!

Lorenz segurou uma mecha com a ponta dos dedos e cheirou-o, com nojo, fazendo uma careta. Então abaixou o espelho, bufando, seu rosto contorcido em ódio, a cabeleira mofada tornando o efeito ainda mais espantoso e hilário.

- Quem. É. O responsável. Por isso? - Lorenz chiou entre os dentes cerrados, tentando se conter.

Os alunos mordiam as bochechas e cobriam as bocas para sufocarem o riso, exceto dois alunos que não se preocupavam em esconderem seu divertimento. Todos abriram caminho para uma Lorenz enraivecida, que voou até Sirius e Tiago, apontando um dedo acusador.

- Foram vocês, seus diabinhos!

- Quem? - Sirius olhou para trás, dissimuladamente, então colocou a mão sobre o peito, indignado. - Nós?

- Ah, mas vocês estão encrencados! - Lorenz aproximou-se do maroto ameaçadoramente, até seu nariz ficar a um palmo de distância do dele, as narinas dilatadas e os olhos estreitos. - Vou levá-los ao Diretor agora mesmo!

- Por que nós? - Tiago interveio, desafiador. - A senhora não sabe quem fez isso e já está nos acusando, só porque não foi com a nossa cara? Ora, leve-nos agora mesmo para o Diretor e prove que foi um de nós dois que fez esse feitiço!

- Seu cínico! - Lorenz mudou de alvo e Tiago tapou o nariz, com uma careta.

- Olha, eu dão sei quem foi que fez isso, bas caprichou, heim? - zombou o maroto, com o nariz tampado.

- Uh, realbente, Katie - Sirius também tapou o nariz. - Isso tá fedendo que é uba coisa! Eca!

- Ora, seus... seus... - Lorenz apontou a varinha para o próprio cabelo. - Finite Incantatem!

Sirius e Tiago respiraram aliviados quando o cabelo da professora voltou ao normal sem mau-cheiro, porém Sirius teve a varinha arrancada das mãos pela professora.

- Hey, hey, hey...

- Vocês querem me desafiar, não é mesmo? - Lorenz segurou a varinha firmemente, parecendo fora de si. - Pois eu vou provar que foi um de vocês dois quem fez isso. Priori Incantatem!

A varinha de Sirius expeliu um fantasma da fumacinha esbranquiçada que ele tinha conseguido ao tentar conjurar um patrono. Sirius bocejou e cruzou os braços diante do corpo enquanto Lorenz dispensava sua varinha e agarrava a de Tiago, repetindo o mesmo processo - e obtendo o mesmo resultado.

- Viu só - desdenhou Sirius, jogando os cabelos para trás, provocativamente diante da expressão embasbacada da professora. - Nós estávamos somente praticando o que você sugeriu que nós praticássemos, Katie. E você estava nos caluniando.

- É isso aí! - Tiago também cruzou os braços diante do corpo, desafiadoramente. - Então eu exijo que a senhorita verifique as varinhas de todo mundo, se está tão preocupada em achar um culpado, antes de sair acusando os outros.

Pedro prendeu a respiração, encolhido atrás de alguns lufa-lufas.

- Ora... ora... - Lorenz titubeou um pouco, desarmada, mas então ajeitou as vestes no corpo e empinou o nariz. - Quem o senhor pensa que é, Sr. Potter, para exigir alguma coisa na minha sala de aula? Eu não vou revistar todas as varinhas, mas quero que todos fiquem avisados que a próxima vez que algo do tipo acontecer, eu vou penalizar a classe inteira. Agora voltem à prática do feitiço.

Lorenz girou nos calcanhares e caminhou pomposamente até a mesa do professor, onde se sentou, ereta. Os dois garotos se entreolharam divertidos, então voltaram a praticar, agora com muito mais facilidade ao lembrarem-se do episódio recente. Tiago ainda pôde ver Lily apertando os lábios ameaçadoramente na frente da classe antes de menear a cabeça e voltar a praticar.

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Lily acordou assustada com um ruído. Abriu os olhos, mas era quase como se não o tivesse feito, pois a sala comunal estava mergulhada na escuridão, exceto por algumas poucas brasas que ainda brilhavam na lareira.

- Lumus - sussurrou a ruiva e quase caiu da poltrona ao notar dois olhos grandes e castanhos encarando-a de muito perto.

- Perdão, senhorita - o elfo doméstico afastou-se um pouco e ela respirou aliviada. - Puffy não querer assustar. Puffy só estar limpando a sala comunal e achar menina dormindo.

- Oh - Lily passou a mão pelos cabelos e esfregou os olhos para acordar. - Tudo bem, eu... devo ter cochilado enquanto lia. Que horas são?

- Já passa da uma da manhã, senhorita.

- Puxa... Bem, eu já vou subir para não atrapalhá-lo.

Lily levantou-se e subiu as escadas, porém não entrou no dormitório. Sentou-se num dos degraus e assistiu enquanto o elfo terminava de arrumar a sala comunal da Grifinória. Na verdade, não fora por acaso que Lily tinha adormecido numa das poltronas mais escondidas da sala. Ela tinha dito que esqueceria essa sua curiosidade a respeito do que os três marotos faziam durante as ausências de Remo, mas não era tão fácil assim. A ruiva pegou um livro e escolheu um lugar estratégico escondido da luz que as chamas da lareira lançava. Assistiu todos subirem para dormir, inclusive os três garotos, e ficou quietinha aguardando por algum sinal de movimento na escada do dormitório masculino. Ela achou ter ouvido o barulho do quadro girando em algum momento, mas quando se mexeu para ver se alguém tinha entrado, encontrou a passagem fechada e nenhum sinal de vida. Aparentemente tinha dormido durante sua vigília.

Ela devia desistir e voltar a dormir em sua cama confortável no dormitório, mas então teria perdido a oportunidade mais uma vez. E isso não ajudaria em nada para matar sua curiosidade, muito pelo contrário. Ela tinha que fazer alguma coisa. Remo que a perdoasse, mas se ele não podia tomar alguma providência, então ela tomaria. Aguardou pacientemente o elfo terminar seu serviço e desceu novamente com a varinha iluminando seus passos, já que a lareira estava completamente apagada. Subiu com cuidado a escadaria que dava para o dormitório masculino, sentindo um friozinho na barriga de apreensão. Não sabia se era prudente o que fazia, nem sequer justificável, porém tinha que saber do que se tratava, alguma coisa fazia com que ela ficasse inquieta.

Parou com uma mão na maçaneta. Então sua apreensão dobrou de tamanho quando ela lembrou-se da insinuação que Sirius tinha feito no ano anterior quanto a levar garotas para o dormitório. Mas ele mesmo tinha admitido que estava blefando, além disso, Lily não podia acreditar que Remo pudesse encobrir uma coisa dessas. Mesmo assim, seria bom dar uma checada.

Respirou fundo e fechou os olhos tentando sentir algo por detrás da porta, mas estranhamente não conseguiu identificar nada, nem conversas, nem emoções, nem mesmo respirações compassadas. Será que a porta tinha sido protegida por um Feitiço Imperturbável? Bem, só havia um jeito de descobrir.

Apagou a luz da varinha e girou a maçaneta com cuidado para que não fizesse barulho e não encontrou resistência ao empurrar a porta lentamente. Assim que colocou a cabeça para dentro, suas sobrancelhas se contraíram. A luz do luar que passava pelas janelas iluminava as camas vazias. Nem sequer as colchas tinham sido removidas das quatro camas.

Lily entrou e voltou a acender a varinha, examinando debaixo das camas. Nada. O banheiro estava aberto e escuro, porém vazio também. Lily sentou na primeira cama que alcançou, bufando. Havia um tabuleiro de xadrez sobre ela com as peças adormecidas em um cheque-mate contra o rei branco. Onde eles estariam? Será que eles tinham percebido que ela estava vigiando e esperaram que ela adormecesse para sair da torre? Mas onde teriam ido? Para onde iam todas as noites?

E o que ela faria para descobrir? Com a frustração, Lily sentiu a culpa invadi-la. O que Remo diria se soubesse que ela estava vigiando seus amigos? Não, ela não tinha o direito de fazer isso, de xeretar a vida dos outros. Talvez fosse melhor mesmo continuar na ignorância.

Cansada demais para raciocinar, Lily levantou-se bocejando e rumou finalmente para seu próprio dormitório.

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Remo finalmente deixou a enfermaria na tarde do dia 30 de Outubro, uma semana depois. Lily tinha se comprometido consigo mesma que não se intrometeria mais nos assuntos dos marotos para seu próprio bem e assim tinha feito, mesmo que sua curiosidade a corroesse durante as aulas, quando os três garotos ficavam sonolentos durante todo o dia, mas o cansaço parecia se dissolver enquanto a noite se aproximava.

Na manhã do dia 31, no entanto, eles pareciam bem-dispostos e animados, bagunçando na aula de Feitiços enquanto Remo fingia que não via ou tentava conter o riso quando percebia que Lily o estava observando. O almoço correu normalmente e logo eles estavam entrando na sala de DCAT. Ao contrário dos outros dias, Lorenz os aguardava impaciente, de pé na frente da classe.

Lily entrou primeiro e observou a maneira com que Lorenz alargou as narinas quando os marotos entraram e achou que realmente não podia culpá-la por isso. Mas surpreendeu-se quando a professora dirigiu-se a eles com a varinha firmemente segura entre os dedos, apesar de estar abaixada.

- Katie! Sentiu nossa falta? - começou Sirius, sarcasticamente, porém Lorenz ignorou-o completamente.

E isso pareceu ferir o orgulho do maroto profundamente.

- Sr. Lupin - ela disse com falsa cordialidade, ao que Remo respondeu com um aceno de cabeça um tanto hesitante. - Vejo que já se recuperou da sua doença, não?

Aos poucos, a atenção dos alunos que já tinham entrado foi toda se voltando para eles. Remo engoliu em seco e Lily piscou algumas vezes enquanto o maroto empalidecia visivelmente. Sirius, Tiago e Pedro encararam a professora com olhos estreitos, parecendo intimidadores, porém Lorenz não deu atenção a eles mais uma vez.

- Sim, professora - Remo murmurou, hesitante.

- Eu andei perguntando a seus colegas de classe - Lorenz continuou, encarando o maroto de cima a baixo, com o lábio superior crispado - e eles me disseram que você costuma adoecer com certa freqüência. É claro que ninguém dá muita importância a isso e muitos deles nem sequer notam sua ausência, agora...

Lorenz subitamente levantou a varinha apontando-a diretamente para o peito de Remo e os alunos murmuraram em espanto. Muitos dos alunos que estavam entrando, estacaram ou voltaram a sair, esticando os pescoços do lado de fora do corredor. Lorenz tinha um brilho ameaçador nos olhos.

- Não pense que me engana, rapazinho. Quantos professores de Defesa contra as Artes das Trevas você já enganou? Pensou que eu não perceberia também? Deve ser fácil tapear seus amiguinhos, mas isso acaba por aqui. Você vai me acompanhar até o Diretor agora mesmo, ande.

- Hey, auto lá! - Tiago colocou-se entre a varinha e o amigo corajosamente. - Quem você pensa que é para apontar a varinha para um aluno, professora?

- Saia da frente, Sr. Potter, ou vai sobrar para você também.

Do lado de fora, os alunos começavam a cochichar e tentavam entender o que se passava na sala de aula, sem, contudo, se atreverem a entrar. Lily observou, paralisada, Sirius colocando-se ao lado de Tiago com os braços cruzados diante do peito e uma expressão determinada na face.

- Se você pretende levar nosso amigo para ver Dumbledore, vai ter que levar a nós também.

- Ótimo! - exclamou Lorenz. - Vou matar três coelhos com uma só cajadada! Movam-se, agora! Srta. Evans, você toma conta da classe.

- Não! - Lily se pegou exclamando, atraindo assim o olhar enraivecido da professora. - Eu vou junto. Eu... posso testemunhar - emendou rapidamente e lançou um olhar assustado para os outros garotos, que quase sorriram em retorno.

- Sim, sim - Lorenz concordou, impaciente. - Acho que a senhorita pode ser útil. Vamos, então. Movam-se! Sr. Pettigrew, o senhor toma conta da classe, por favor.

Pedro não teve tempo de responder, já que os quatro começaram a se mover, apressados conforme os alunos abriram caminho no corredor. Lorenz vinha logo atrás, resmungando. Os quatro caminharam em silêncio e Lily nem precisava encará-los para saber que Remo estava lívido e os outros dois estavam mais do que enfurecidos. A ruiva apertou o passo e alcançou o monitor, segurando sua mão para passar confiança, mas eles não trocaram nenhum olhar enquanto se dirigiam para a sala do Diretor, onde Lorenz disse a senha e eles subiram as escadas giratórias. A porta do escritório estava apenas encostada e Tiago deu dois toques, empurrando-a lentamente.

- Sim? - o Prof. Dumbledore, que estava aparentemente conversando com um dos quadros da parede, voltou-se para a porta, intrigado. - Oh, pois não, entrem, senhores. Senhorita - ele acrescentou quando Lily entrou, então se levantou quando a professora de DCAT entrou. - Senhorita Kátia! Em que tenho o prazer da visita?

- Diretor - Lorenz passou à frente de todos e apontou para Remo, sem ousar tocá-lo. - Esse... esse garoto é um lobisomem! - cuspiu a professora, sua face bonita contorcida com algo semelhante a nojo.

- Sim - concordou o diretor e piscou algumas vezes por detrás dos óculos de meia-lua, como se aguardasse a conclusão da sentença, o que não aconteceu. - Por favor, professora, conclua.

- Como assim, conclua? - Lorenz pareceu confusa. - Eu já disse o que vim dizer! O senhor quer me dizer que aceitou um lobisomem como aluno? Eu achei que... talvez o garoto tivesse sido mordido recentemente e estivesse escondendo isso da escola!

- Não, absolutamente - continuou Dumbledore calmamente. - Muito pelo contrário, professora. O Sr. Lupin foi mordido aos cinco anos, na verdade eu tive que insistir bastante para que ele aceitasse freqüentar Hogwarts. Por favor, sente-se, senhorita...

- Não, eu não vou me sentar! - Lorenz indignou-se, batendo a mão na mesa do Diretor. - Que palhaçada é essa? Quando eu aceitei dar aulas nessa escola, achei que estaria passando meus conhecimentos para crianças não para uma criatura das trevas!

Lily cobriu a mão com a boca e observou Remo fechar os olhos com força. Apertou a mão do maroto com mais força. Tiago instintivamente colocou uma mão no braço de Sirius, que tinha dado um passo para mais perto da professora.

- O quê? - manifestou-se Sirius, incapaz de se conter por mais um segundo, porém Lorenz nem sequer se deu ao trabalho de ouvi-lo.

- Agora só falta o senhor me dizer que eu dou aulas para vampiros também...

A professora se conteve quando o Dumbledore levantou uma mão para silenciá-la, encarando-a por cima dos óculos, com um lampejo ameaçador passando por seus olhos azuis. Porém quando falou, a voz do velho bruxo era calma ainda.

- Senhorita Kátia, eu não vou permitir que a senhorita insulte um de meus alunos na minha presença. Ele é uma criança, assim como as outras e merece todo o conhecimento que os professores dessa escola podem oferecê-lo.

- Ele não é uma criança nas noites de Lua Cheia - insistiu Lorenz.

- Ora, sua... - Sirius fez menção de puxar a varinha das vestes, porém Tiago apressou-se a segurar seu braço mais firmemente.

- Acalme-se, Black - recomendou Lily, uma vez que o Diretor parecia ocupado demais com a professora para dar atenção a seu acesso de fúria.

Sirius sacudiu o braço do amigo de seu ombro, mas tirou a mão das vestes e respirou algumas vezes para se acalmar. Enquanto isso, Dumbledore continuou, calmamente.

- Nesses momentos em que o Sr. Lupin está fora de si, professora, ele não está na sala de aula nem está colocando a vida de ninguém em risco. Eu me responsabilizei por isso com os pais do garoto. Como professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, a senhorita, mais do que ninguém, deveria saber que ele não passa de um ser humano normal fora desse período, assim como os outros alunos. E quanto às aulas que ele perde durante esses dias, ele se comprometeu comigo de que se esforçaria. Se a senhora tiver alguma reclamação a fazer a respeito do desempenho do aluno em sala de aula, eu ouvirei com prazer e nós chegaremos a um acordo juntamente com o Sr. Lupin. Agora, eu não aceitarei qualquer outro tipo de argumento para que a senhorita deixe de dar aulas a ele, em especial. Se a senhorita escolher permanecer dando aulas em Hogwarts, então terá que ensinar a todos.

O Diretor fez uma pausa, enquanto Lorenz abria a boca várias vezes, sem ter o que dizer. Então continuou, um pouco mais firmemente.

- O desempenho do Sr. Lupin em sala é ruim, professora?

Lorenz alargou as narinas e passou as mãos pelos cabelos para ganhar tempo se recompondo.

- Não.

- Excelente. Então eu acredito que nós podemos terminar essa conversa em outro momento. Tem alguma coisa mais que a senhorita gostaria de me dizer?

Lorenz hesitou um pouco antes de responder, visivelmente contrariada.

- Não, senhor.

- Muito bem, então. Eu gostaria de pedir seus alunos emprestado durante algum tempo, professora. Agora, acredito que tenha uma sala de aula esperando-a, sim? - e sem esperar pela resposta de Lorenz, ele continuou: - Por ser hoje o Dia das Bruxas, eles devem estar mais alvoroçados que o normal, então eu sugiro que a senhorita os dispense por hoje, se assim desejar.

- Sim, senhor. Com licença, senhor - Lorenz empertigou-se e saiu, de cabeça erguida, sem dirigir nenhum olhar aos alunos em silêncio no escritório.

Assim que ela saiu, o Diretor acenou com a varinha e quatro poltronas apareceram.

- Sentem-se, senhores. E senhorita - ele acrescentou, brandamente, tomando seu assento também e destampando um pote sobre sua mesa. - Aceitam balinhas de limão? Vamos, não sejam tímidos.

Os alunos se entreolharam e serviram-se dos docinhos, sentando-se nas poltronas em silêncio. Dumbledore sorriu e serviu-se de uma balinha também.

- Srta. Evans! Vejo que a senhorita também partilha do segredo do Sr. Lupin agora!

- Hum... sim, senhor - respondeu Lily, torcendo as mãos nervosamente, e lançando um olhar de esguelha aos outros garotos.

Remo estava cabisbaixo e os outros dois ainda pareciam revoltados, apesar de demonstrarem alguma satisfação pelo sermão que Lorenz tinha levado do Diretor.

- Sr. Lupin - continuou Dumbledore. - Eu sinto muito por fazê-lo passar por isso - Remo levantou a cabeça apenas para oferecer-lhe um sorrisinho fraco. - É meu dever comunicar os professores a respeito de sua condição antes do início das aulas, mas eu confesso que me esqueci por causa da correria que foi para encontrarmos um professor para o cargo a tempo... Bem, de qualquer forma, eu lhe asseguro que ela não vai poder sair espalhando isso para o colégio e peço, tanto ao senhor quanto a seus amigos, que me comuniquem caso a Profª. Lorenz venha a faltar ao respeito com o senhor, está bem?

Os quatro acenaram positivamente.

- Bem, então creio que vocês estão dispensados - Dumbledore inclinou-se para frente e piscou um olho, divertido. - Aproveitem o tempo livre. Mais tarde tem festa! E a melhor maneira de combater a tristeza é... com muitos doces, como eu sempre digo. Divirtam-se!

Eles sorriram e se levantaram, deixando o escritório. Assim que saíram para o corredor, Sirius deu um murro na parede.

- É guerra! Lorenz vai pagar muito caro por isso.

- Sim, nós vamos dar algumas boas lições na professorinha - Tiago esfregou as mãos.

Lily segurou a própria língua, deixando-se ficar um pouco mais para trás, somente ouvindo. Na verdade, ela até estava gostando da idéia.

- Esqueçam isso - murmurou Remo. - Vocês só vão caçar mais encrenca com Lorenz.

Remo deu por falta de Lily e olhou para trás, sorrindo agradecidamente para a ruiva, porém pareceu entender que ela quisesse ficar de fora da conversa.

- Uh, tô morrendo de medo - Sirius fingiu tremer.

- Ah, Aluado, nós seremos muito sutis e cuidadosos. Ela vai ficar sem saber de onde veio o tiro! - Tiago deu uma risada maligna. - Então, o que nós vamos fazer até a hora da festa? Treinar quadribol? O jogo já está chegando!

- Ora, por favor, eu não agüento mais treinar quadribol... Será que o Seboso foi dispensado também? - entusiasmou-se Sirius e Lily bufou, inconformada. - Nós poderíamos criar alguma diversão, o que acha, Aluado?

- Hum... eu não estou no clima para diversões, nem para festas, sabe...

- O quê? - Sirius deu uma sacudida no monitor. - Vai faltar à festa do Dia das Bruxas?

- Hei, nós poderíamos fazer uma festinha no dormitório então, o que acham? - sugeriu Tiago, então deu uma olhada para trás e parou até que Lily o alcançasse. - Quer participar, Lily? Erm... Evans? - o maroto corrigiu rapidamente diante do olhar atravessado de Lily.

- Não... quer dizer... acho melhor não - Lily se atrapalhou, tentando não ser mal-educada. - Eu... vou com as minhas amigas para a festa do Salão Principal. Não fica muito bem se eu participar de uma festa no dormitório masculino...

- Ninguém precisa ficar sabendo - todo mundo se admirou quando Sirius propôs, com seu ar de arrogância, então deu de ombros. - Ora, se você se sentir à vontade conosco, Evans, eu não vejo porque não.

Lily piscou algumas vezes, sem ter o que responder. Então olhou para Remo, que se mantinha calado, mas atento, em expectativa.

- Bem... talvez eu dê uma passadinha lá então antes de descer para o Salão - acabou dizendo, encarando as próprias mãos, por isso não viu o sorriso cheio de dentes que Tiago deu.

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Régulo empurrou a ração para dentro da gaiolinha e sorriu quando o animal tocou seu relógio com o nariz gelado e tentou segurar o objeto.

- Eu tenho que mudar esse relógio para o pulso esquerdo, ou me acostumar a te dar comida com a outra mão - Régulo falou, depois de verificar se não tinha mais ninguém no dormitório.

Todos já tinham descido para a festa e ele se permitiu demorar um pouco mais. Na verdade, só ia à festa para não perder o jantar. Acabou puxando o pelúcio para fora da gaiola. Imediatamente o animal começou a se debater, os olhinhos brilhando a cada vez que ele vislumbrava um brilho de ouro.

- Hey, hey, calma rapaz. Tome, fique com isso um pouco.

O garoto retirou o próprio relógio e deixou que ele abraçasse, possessivamente, cheirando-o. Então correu os dedos pelos pêlos fofos, mantendo-o firmemente preso com a outra mão.

- Eu não te dei um nome ainda, né? Hum... o que acha de Milly - ele fez uma careta diante do nome. - Não, muito feminino, né? Hey, você é macho, não é?

Régulo virou o bichinho para checar, então assentiu.

- Ah, bom... Vamos arrumar um nome mais masculino pra você então. Que tal Goldy? É, eu sei, nada criativo... mas vai ser esse mesmo, rapaz.

Régulo voltou a colocá-lo na gaiola e retirou o relógio com muito custo, fechando-o e empurrando-o para debaixo da cama.

- Fique quietinho aí, garoto - recomendou antes de lavar as mãos cuidadosamente no banheiro e ajeitar a gravata.

Enfim saiu de seu dormitório e percorreu os corredores de pedra gelada até chegar na sala comunal, também vazia, exceto por um sextanista de cabelos negros oleosos que cobriam seu rosto conforme ele se debruçava sobre um livro. Geralmente ele não se daria ao trabalho de cumprimentá-lo, mas estava tentando adiar o momento de chegar ao Salão Principal e ter que presenciar o irmão se divertindo com os amigos na mesa da Grifinória.

- Snape - disse, como cumprimento, ao que o outro levantou os olhos.

- Black - o outro devolveu o cumprimento e já ia voltar a baixar os olhos quando Régulo continuou.

- Não vai comparecer à festa de Dia das Bruxas?

- Não - Snape disse, secamente, então sacudiu o braço para revelar o relógio, analisando as horas. - Tenho outra festinha para ir daqui a pouco.

Régulo franziu o cenho numa pergunta muda e Snape deu um risadinha sarcástica pelo nariz.

- Quem sabe você também não participe quando crescer, Black.

Subitamente o olhar de Régulo ficou gelado e ele se arrependeu amargamente de ter iniciado aquela conversa. Já ia caminhando em direção à porta, quando Snape chamou sua atenção.

- Por falar em crescer, Black, quando é que você vai "provar que é capaz" de se vingar de seu irmão?

- Em primeiro lugar, minha vingança é diretamente direcionada para Potter, não para meu irmão. E em segundo lugar, você vai saber quando o momento chegar, Snape - Régulo virou-se e saiu, deixando Snape com uma sobrancelha arqueada.

Felizmente, o sonserino não viu seu irmão nem os amigos no Salão Principal. Viu apenas uma lufa-lufa que não desgrudava os olhos dele.

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N.A. Estou atrasada, oh céus! Me perdoem... esse capítulo foi particularmente difícil de preparar. Ele estava relutante em sair da minha cabeça. Tive que me distrair um pouco longe do pc pra ver se conseguia colocá-lo no papel. Depois ainda tive vários outros contratempos. Ainda acho que poderia ter ficado melhor, mas...

Respostas por e-mail para: Lisa, Bela-chan, Nessa Reinehr, Grace Black, Patricia Rezende, Rodrigo Black Potter, Danny999, Amanda Poirot, Alice, JhU Radcliffe, Mione Lupin, mandoca, naty, Lulix, .Miss.H.Granger., LeNaHhH, Lellys Evans Potter, Tete Chan, V. A. Rosewood, Cherryx e Gabriela Black.

E pra quem não deixou e-mail: naniza (ohh como eu sou cruel! Atrasei demais, né... puxa vida... mas foi até bom pra eu saber que vc está acompanhando, né? ;) ok, não se preocupe, eu não pretendo atrasar mais vezes só pra vc deixar outros reviews rsrsrs Espero que a demora tenha valido a pena... bjo!) Luiza (eu não vou abandonar essa fic nunca! Não se preocupe ;D Que bom que está gostando! Eu estou me esforçando para atualizar rapidamente, mas tá difícil... Bem, espero que vc goste dessa fic também! Beijão)

Eu adoraria poder estipular um prazo para atualização, mas temo que aconteça de atrasar novamente, então vou optar por não me comprometer. Vocês sabem que eu não vou desistir dessa fiz, certo? E nem vou demorar tanto assim pra postar, eu espero... Beijos!

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E no próximo capítulo...

- Pontas! - Sirius gritou, do outro lado do campo, porém estava longe demais para ser ouvido.

Agarrou o cabo da vassoura com força e esta levou-o numa velocidade alucinada para o outro lado do campo, esquecendo-se de Dolohov, de Gilberto e de Magnólia, concentrando-se apenas na face determinada de Régulo conforme ele se preparava para arremessar o balaço. Porém não foi rápido o bastante.