Disclaimer: Este é um fan work, feito totalmente sem fins lucrativos. Os direitos de Saint Seiya, Saint Seiya Episódio G e de todos os seus personagens pertencem à Toei Animation e Masami Kurumada. A exploração comercial do presente texto por qualquer pessoa não autorizada pelos detentores dos direitos é considerada violação legal.
Informação para o leitor:
Yaoi (contém relacionamento amoroso entre homens).
Avaliação etária: M/NC-17 (situações adultas, violência, sangue)
Par citado: Saga X ?
Texto concluído em 5 de fevereiro de 2006
O sol ardia, em uma clara manhã. Nenhuma nuvem no céu, apenas as gaivotas e a luz quase ofuscante, refletida na areia clara. O sol furioso do verão. Sentiu os braços queimando, na boca o gosto salobro da água do mar, que parecia ter se infiltrado em seu corpo inteiro. Mas estava vivo. Ergueu-se com dificuldade, tentando fazer o corpo dolorido ganhar alguma obediência, tirou algas e pedregulhos dos cabelos enquanto recuperava as forças.
Estava vivo, afinal.
Tivesse se salvado, ainda assim estava confuso. Ali era uma praia, mas não mais a da enseada do rochedo de Uranos, algum outro lugar. Mas onde? Olhou ao redor, a memória da praia vizinha ao perímetro do Santuário e da vila de Rodorio lhe veio à mente, estranho que não houvesse ninguém ali. O ar não tinha cheiro de barcos de pesca, nenhuma mulher na beira da água colhendo marisco. Uma outra praia? Sem resposta, sentou-se ainda exausto, as narinas salgadas ardendo.
E achou, ainda clara, uma trilha solitária de pegadas marcando a areia branca. Pés grandes, de homem alto, única pessoa que havia passado por lá. Seria possível que fosse...? A imagem de seu irmão sobre o rochedo, o olhar de puro enigma se acenderam em sua memória. Seria Kanon? Fosse quem fosse o homem na praia, havia saído do mar e passado a menos de dois metros de seu corpo caído. Há tão pouco tempo que a brisa quente não lhe desmanchara o rastro. Com certeza, não quis lhe ajudar.
"Meu irmão?..."
Por um segundo, ouviu de novo no vento algo que parecia som humano, uma risada ou grito de acusação. Não havia viva alma na praia, só ele e as pegadas. Kanon...o que viu na noite anterior? A imagem de um homem que o mar devorou há anos, uma alucinação que quase o carregou para a morte. Não era possível. Aquilo foi apenas um sonho ruim.
Ainda enfraquecido, se pôs de pé. Mais do que triste, se achava confuso, perdido. Não sabia onde estava, na pele ainda carregava o arrepio das visões da noite anterior. Por mais absurdo que fosse, parecia muito real. No fundo, queria entender de onde veio o irmão que acreditava morto, ou o que ele queria fazer no rochedo no meio do mar.
Agora havia a trilha.
Como fazia nos tempos de criança, foi até as marcas na areia e pisou em uma delas, encaixando o próprio pé nas bordas da pegada. O mesmo tamanho, tal e qual nas brincadeiras de antes, mais uma constatação de que eram gêmeos mesmo.
—Kanon...
Não havia sido uma alucinação, o irmão esteve mesmo com ele. Se perguntava por que ele não havia parado junto ao seu corpo estendido na praia, claro que não ia querer ajudar, mas será que não tinha interesse algum? Conferir que tinha se afogado mesmo? Cortar-lhe a garganta? Eram pegadas de Kanon, disso não tinha mais dúvidas, de um Kanon que apareceu ontem nos rochedos, saiu do mar e o ignorou ali caído, indo embora deixando o longo rastro.
Não imaginava onde teria ido, talvez na vila—se havia alguma vila—talvez em algum esconderijo. Esteve lá, parecia vivo e devia estar vivo mesmo, ou que fantasma faria marcas tão corpóreas na areia de uma praia? Hesitante, se pôs a seguir a trilha que se estendia longamente, orlando o mar. Queria uma resposta, a explicação que a lógica e os remorsos pareciam não querer lhe oferecer.
continua...
