CAPÍTULO 2

"Comprou sorvete, pai?" perguntou Alexander sentado à mesa da casa dos Kent assim que viu Lex se aproximar da porta com tela e entrar.

"Alex!" censurou Martha, disfarçando um sorriso.

Lex sorriu para Martha, que já estava acostumada com os agrados que ele fazia para os filhos.

"Tudo bem" disse ele.

Lex encarou o filho que, com os olhos estalados, aguardava uma resposta. De repente, Lex também arregalou os olhos, como que para surpreendê-lo, e tirou um pote de sorvete de dentro de um pacote que carregava escondido. Os olhos de Alex brilharam.

"Oba! De baunilha!"

Martha sorriu e pegou uma taça e colher para Alex. Depois de servi-lo, os dois observaram o garoto dar as primeiras colheradas na sobremesa e depois se entreolharam.

"Desculpe o atraso" disse Lex, tirando o cachecol. "Fiquei preso corrigindo umas provas finais"

"Imagina!" exclamou Martha virando-se para pegar café. "Não tem que se preocupar com isso! Você já é de casa. Além do mais, é um prazer cuidar das crianças!"

Lex sorriu e Martha lhe entregou uma xícara com café.

"Não sei o que seria de mim sem vocês" completou.

Alex encarou o pai e depois Martha, como se entendesse o que diziam. De fato, entendia. Os dois se entreolharam, e Lex perguntou:

"E o Jonathan?"

"Só chega no sábado" respondeu Martha, cruzando os braços enquanto o observava. "Agora que ele é governador passa mais tempo em Topeka e Wichita"

"Por que você não vai com ele?" perguntou Lex, com toda a intimidade que tinha com os Kent.

"Não" disse ela, sorrindo. "Eu gosto daqui. Além do mais tenho o Talon pra cuidar"

Lex sorriu.

"Não sou uma boa esposa de político, não é mesmo?" perguntou ela.

"Nenhuma delas é" respondeu Lex.

Martha sorriu enquanto observava Lex, que olhava o filho devorar o sorvete.

"Vai devagar" disse ele a Alex, que nem ao menos lhe deu atenção.

"Tem se alimentado direito?" perguntou Martha como uma mãe que pergunta ao filho.

Lex apenas balançou a cabeça, tomando um gole do café.

Naqueles dois últimos anos, Martha Kent nunca viu uma pessoa envelhecer tanto quanto ele. Sua aparência era sempre de muito cansaço e exaustão. Além de magro, Lex andava pálido e abatido. Era como se ele não se importasse. E isso a entristecia profundamente. A dor da perda o consumira tão abruptamente que era como se não houvesse um pingo de vontade nele de viver. Martha o via sempre com o olhar vazio e sem brilho. Nem mesmo as crianças o confortavam. Aliás, ele fazia de tudo para evitá-las. Alex ficava o dia inteiro na escola. Depois, geralmente ia à casa de colegas ou mesmo dos Kent. Lily ficava na creche e raramente com Martha, que adorava tomar conta dela. Lex os apanhava e seu tempo com os filhos se resumia a não mais do que duas ou três horas diárias. E como se ainda não bastasse, no último ano, Lex passara a trabalhar todos os finais de semana, mesmo que em casa.

"Martha, obrigado pelo café" disse ele, colocando a xícara vazia na pia.

"Você já vai?" indagou Martha, surpresa. Quando ele ficava para o jantar, geralmente bebia mais uma xícara ou duas de café.

"Temos que ir. Amanhã é um dia cheio"

"Eu fiz uma torta de legumes para o jantar" disse ela.

Alex fez cara de nojo enquanto raspava a taça de sorvete.

"Pegue suas coisas, filho" disse Lex caminhando em direção à sala de estar, acompanhado por Martha.

Os dois pararam em frente ao sofá onde Lily dormia profundamente apoiada em uma almofada, enquanto Alex corria para o outro lado para pegar a mochila da escola.

"Ela deu trabalho?" perguntou ele.

"De modo algum!" exclamou Martha, sorrindo, sem tirar os olhos da menina.

Lex se abaixou, pegou Lily, que resmungou ainda dormindo, e voltou para a cozinha com ela no colo. Martha tirou a torta do forno e cortou rapidamente uma fatia enorme e colocou num vasilhame para Lex levar.

"Não, Martha! Por favor!" disse ele.

"Lex! Se eu não fizer isso todo o resto vai fora amanhã!"

"Alex, pega a bolsa da sua irmã!" pediu Lex, apontando para a bolsa de fraudas em cima da cadeira.

Martha colocou o vasilhame cuidadosamente na bolsa que Alex carregava e antes que Lex abrisse a porta, vestiu o capuz do casaco de Lily.

Lex a encarou com um sorriso e ela retribuiu.

"Até amanhã, vó Martha!" gritou Alex atravessando na frente de Lex e correndo para o carro.

"Até amanhã, meu bem!" respondeu ela, enquanto Lex saía logo em seguida.

Martha os observou da varanda, com os braços cruzados e apertados contra o peito por causa do frio, até desaparecerem na estrada. Depois, com um sorriso amargo, entrou de volta à casa.

Continua...