Disclaimer: Este é um fan work, feito totalmente sem fins lucrativos. Os direitos de Saint Seiya, Saint Seiya Episódio G e de todos os seus personagens pertencem à Toei Animation e Masami Kurumada. A exploração comercial do presente texto por qualquer pessoa não autorizada pelos detentores dos direitos é considerada violação legal.
Informação para o leitor:
Yaoi (contém relacionamento amoroso entre homens).
Avaliação etária: M/NC-17 (situações adultas, violência, sangue)
Par citado: Saga X ?
Texto concluído em 5 de fevereiro de 2006
A silhueta não quis sair do lugar, ficou parada, aguardando que se aproximasse. Saga se pôs em pé, olhou bem para a figura que estava na sua frente, aos poucos os olhos de um azul elétrico se distinguiam, refletindo as chamas. Olhos incrivelmente serenos.
—O que você fez desta vez? As pessoas mortas na praça...e você se passou pelo vigário, trancou os aldeões na igreja, uma igreja com uma cruz de prata enorme, coberta de óleo, cheia de pólvora numa tempestade de raios! Você planejou isso!
O outro apenas deu de ombros.
—Não é nenhum segredo para você.
Avançou furioso. Estava mancando, não conseguia mais correr. Ainda assim tinha ganas de estrangular seu gêmeo com as próprias mãos.
—Essas pessoas...elas estão fechadas dentro de uma bomba, uma tocha gigante! Se um raio cair ali, é o fim!
—Isso é óbvio.
Aquilo era demais. Mesmo ferido, saltou em cima de Kanon, derrubando-o no chão.
—Você é louco! Você vai matá-las! Vai matar a todos lá dentro. Você não pode fazer uma coisa dessas! Essas pessoas não fizeram nada para merecer isso!
O irmão desvencilhou-se fácil, chutando-o com força.
—Você continua enganado.
Saga foi jogado adiante, caiu no meio dos espelhos, cortando os braços. O outro não avançou, apenas ficou parado, fitando. Não parecia ter intenção de atacar.
—Mulheres...velhos...crianças...uma igreja cheia...Você...é um assassino louco. Um demente...Você é o demônio!
—Continua enganado.
Um raio caiu na direção da vila, um forte lume alaranjado se acendeu, alguma coisa grande estava pegando fogo ali. Podia ser a pira de execução, ou talvez...
—A igreja!
Kanon olhou com tranqüilidade. Parecia achar bonita a luz do fogo na distância.
— Justiça e Misericórdia. Alguém tem que cuidar disso. É válido. Os fins justificam os meios.
Saga não queria ouvir mais, tinha pressa. Se lançou de novo sobre a imagem do irmão, queria acertar-lhe um soco bem dado, levá-lo que fosse desmaiado até a igreja e abrir as portas, tentar salvar alguém de lá com vida. Por alguma razão seus golpes acabavam no vazio, era como se aquele que via ali fosse capaz de ler sua mente, saber exatamente onde ia atacar e como.
—Por favor...pare com isso.
Mais uma vez foi atingido por seu gêmeo, um golpe doloroso no queixo que o fez desabar para trás. Caiu novamente nos pedaços de espelho, sentiu os fragmentos se cravando em suas costas, não conseguiu segurar um urro de dor.
—Se você ao menos entendesse...Mas não entende. Por isso eu quis que você fosse embora.
—Maldito!—gemeu Saga, tentando se levantar—Mil vezes maldito!...Eu fiz muito bem quando o deixei em Uranos...Como...como você saiu de lá, por que se vingar nessa gente? Sou eu que você quer, eu sei que seu assunto é comigo.
A imagem de Kanon baixou os olhos. Parecia muito triste.
—Você...definitivamente não está entendendo nada.
Saga tentou ficar em pé, mas não tinha mais forças. Caiu novamente de joelhos, lágrimas de raiva e frustração escorrendo por seu rosto.
—O que era para eu entender então, o que era? O que tinha para se entender na morte dessa gente toda, o que você queria de mim! O que era para entender?...
A figura do irmão baixou os olhos, não disse nada.
—O que eu tinha que ter entendido?—Saga se levantou finalmente, cambaleando—Me diga!
Mais uma vez, silêncio.
—Me diga ou eu vou arrancar uma resposta de você à força!—e se lançou num passo trôpego, tentando agarrar o outro. Dos olhos de Kanon, duas lágrimas brotaram.
—Por favor...pare com isso. É só o que eu peço. Não se machuque mais.
Saga não conseguiu alcançá-lo. Acabou tropeçando e caindo de bruços sobre o vidro estilhaçado, cortou a mão num longo caco. Quase já nem sentia dor, a consciência se embaçava.
—Me...responda...
—Você sabe a resposta há muito tempo. Justiça e misericórdia. Foi você mesmo que respondeu isso.
O gêmeo o encarava, triste. Saga olhou ao redor, as imagens pareciam se distorcer.Ao redor os cacos de espelho refletiam milhares de vezes sua figura, milhares de vezes multiplicadas por dois, uma imagem sadia, em pé, vestida de sacerdote, a outra ferida e prostrada, em farrapos. Não pensava em chamar o cosmos, não tinha mais essa esperança. Apenas queria...como queria que a imagem caída fosse dele, pronto a se entregar e responder por seus crimes.
—Agora deixe disso...por favor.
Atingi-lo.
—Você não precisava estar aqui.
Atingi-lo de verdade
—Eu realmente lhe imploro...
Atingi-lo onde dói mais.
—Você tem que cumprir com seu juramento. Justiça, misericórdia...Você sabe que é muito importante...
Saga se levantou como pode, ficou de joelhos, encarando o rosto do irmão. Uma última vez. A mão ferida segurando um longo caco de espelho em forma de punhal.
—Acho...que agora entendi.
E cravou a lasca de vidro no próprio peito, fazendo o sangue jorrar sem controle. Caiu para trás, sentindo o frio subir por seus membros, mesmo estando ali, tão perto do fogo. Ao longe a igreja explodia, os vasos de pólvora guardados no escritório finalmente atingidos pelas chamas. Perdido na dor gelada, pode ver a figura de Kanon se lançar sobre ele, em evidente angústia.
continua...
