Disclaimer: Este é um fan work, feito totalmente sem fins lucrativos. Os direitos de Saint Seiya, Saint Seiya Episódio G e de todos os seus personagens pertencem à Toei Animation e Masami Kurumada. A exploração comercial do presente texto por qualquer pessoa não autorizada pelos detentores dos direitos é considerada violação legal.
Informação para o leitor:
Yaoi (contém relacionamento amoroso entre homens).
Avaliação etária: M/NC-17 (situações adultas, violência, sangue)
Par citado: Saga X ?
Texto concluído em 5 de fevereiro de 2006
—Por...que?
O irmão o sustentava nos braços, o rosto triste mas bastante calmo. A mão quente estancava o sangramento e bania a dor, como se fosse um remédio divino.
—Você não pensou nas conseqüências de parar tudo. Esqueceu que o mundo é grande, e que a justiça e a misericórdia não foram feitas para caber em um quintal.
Ainda estava fraco, muito fraco.
—Que justiça é essa?...Que...misericórdia? Um banho de sangue como esse, me diga...onde está a justiça e a misericórdia disso? Como isso pode ser...justo?
O outro sorriu. Ajeitou seus cabelos ao redor do rosto esfolado e pálido.
—Na chance que existe, de salvar milhares de vidas e por pão e lentilha em suas mesas. Curar as feridas dos enfermos, dar um teto a quem não tem. Aquela razão que sempre foi a mais importante...
Tocou seu peito, sobre o coração que pulsava fraco.
—...aqui dentro.
Nunca viu esse olhar com tanta bondade.
—Morreram...cinqüenta pessoas. Ou talvez mais...
—Morreram mais que cinqüenta, com certeza...
Deixou o rosto cair de lado, as lágrimas escorrendo fartas. O gêmeo tomou sua mão.
—E outras tantas, mais de mil vão se salvar. Graças ao poder que há nestas mãos. Um poder que tem que ter meios livres para finalmente se expressar. Que não pode...ser incompreendido, ou queimado inutilmente no meio de uma praça.
O irmão apertou-o junto ao peito. As feridas não doíam tanto. Na verdade se sentia muito bem. Continuou ouvindo a voz de Kanon, a sua voz, tão doce e ao mesmo tempo tão profunda.
—Se essa força não puder aparecer, se houver quem a conteste...o que será da vida desses milhares de pessoas?
Era isso.
—Os fins...justificam os meios.
—Você entendeu. Finalmente.
Seu gêmeo afagou-o com carinho, Saga se abraçou nele, em prantos. Sentia ter se livrado de um peso imenso, em um instante viu as imagens de Shion, de Aioros, do bebê Athena, do próprio Kanon encarcerado se dissipando num raio de sol. De olhos fechados, viu um mundo tranqüilo, onde as mães cuidavam de suas crianças, a comida não faltava e as doenças iam embora. Um mundo que brotava de seus dedos.
—Você...já sabia...
—Eu sempre soube. Sempre.
As primeiras gotas de chuva começavam a cair, o fogo remitia, não tendo mais quase nada para devorar. Por um instante os dois se separaram um pouco, olharam-se nos olhos, uma sintonia indiscritível a uní-los, como se fossem um só. Ao lado de ambos, o cálice de vinho do sonho, cheio até a borda.
—Você aceita agora?
—Sim.
A figura de Kanon lhe deu o vinho: impossível dizer se tinha gosto de sangue, apenas bebeu, seu próprio sangue a se misturar com o líquido cor de rubi. O irmão foi se servir da taça, a mão fraca de Saga o deteve.
—Por favor...prove...prove comigo...
E beijou sua boca intensamente, fez seu sangue correr pelos lábios do outro, misturado em vinho e ansiedade. O igual o abraçou forte, respondeu ao beijo com fúria e desejo, a chuva agora os molhava como um alívio dos céus. Saga se largou sobre o chão de cacos de espelho e lama misturados, o outro se pôs em cima dele, afagando-lhe o rosto, gentilmente.
—Pegue...
Entregou o caco de vidro longo, ainda manchado com seu sangue. O gêmeo aceitou. Com a borda afiada, foi cortando-lhe as roupas delicadamente, com cuidado, descobrindo seu corpo ferido aos poucos.
—Você quer isso?...
—Eu quero que você...faça parte de mim.
O outro sorriu. Despiu-se das vestes negras de diácono, fez sua nudez acompanhar a de Saga, os lábios se tocando de novo, o calor das mãos curando-lhe as feridas, uma a uma. Mergulharam juntos num poço de desejos antigos, finalmente livres da prisão. Tocaram-se mãos iguais, olharam-se olhos iguais, sentiram corações iguais.
—Não há lugar para culpas.
—Não...não há.
Acolheu o irmão, gêmeo e semelhante numa entrega absoluta. Se deixou conquistar, possuir, fez de sua carne a carne dele, deu-se e tomou para si o que lhe faltava. Deixou o outro lamber-lhe as feridas, marcou-lhe com dentes, bebeu seu néctar, misturaram-se os sangues em um só. Rendeu-se em delírio. Enquanto gemia submisso, invadido pelo corpo idêntico, seu espelho, podia sentir-se finalmente uno, indivisível, perfeito.
"Eu..."
continua...
