Disclaimer: Este é um fan work, feito totalmente sem fins lucrativos. Os direitos de Saint Seiya, Saint Seiya Episódio G e de todos os seus personagens pertencem à Toei Animation e Masami Kurumada. A exploração comercial do presente texto por qualquer pessoa não autorizada pelos detentores dos direitos é considerada violação legal.
Informação para o leitor:
Yaoi (contém relacionamento amoroso entre homens).
Avaliação etária: M/NC-17 (situações adultas, violência, sangue)
Par citado: Saga X ?
Texto concluído em5 de fevereiro de 2006
A CASA DOS ESPELHOS PARTIDOS
Noite estrelada, o barulho do mar embalava o firmamento. Pela estradinha que leva à vila de Rodorio um homem feliz assobiava uma cantiga de festa. Havia acabado de chegar de viagem, um dia atrasado da costumeira licença do fim de semana. Estava em total bom-humor. Sabia que o atraso ia ter preço, as conseqüências de sua demora nunca eram divertidas: pilhas de serviço acumulado, subordinados à beira de um ataque de nervos e o resto do Alto Comando exigindo alguma explicação.
Que eles no Santuário se estressassem sozinhos. O assunto hoje era bem mais feliz que as miliquices de sempre. Entrou na vila, saudou as corujas, foi até uma casinha mais afastada, com madressilvas nas paredes e uma cerca de madeira. Bateu palmas:
—Deina!
Ficou esperando, mas ninguém atendeu. Um garoto magro apareceu na rua, se dirigiu ao viajante, meio surpreso.
—Comandante? Mas é o senhor mesmo? O que faz aqui a essas horas?
O viajante sorriu divertido, ajeitando os longos cabelos de índio:
—Hehe, acabei de chegar de viagem, atrasei um pouco desta vez. Mas foi por uma boa causa: eu passei na volta por Frankfurt, fui conversar com um cirurgião de olhos.
O garoto olhou, animado:
—para a Deina? E o senhor conseguiu?
—Consegui sim, já está tudo certo—o homem grande estava muito feliz—Amanhã cedo ela já pode ir até a base que vai ter um avião esperando, vai direto pra Alemanha. O médico me deixou confiante, já fez milagres com muita gente que não tinha nem esperança de voltar a ver. E disse que o caso dela pode ser até fácil.
O garoto riu, muito contente, mas logo parou.
—É, então o senhor tem que avisar ela logo...ela tem que fazer as malas...Só que...
O comandante olhou, intrigado:
—Que o que?
—...que eu não vi a Deina desde a manhã de hoje. Ela não está. Eu mesmo já chamei, pra entregar leite, e ela não atende.
Achou aquilo estranho. A cega nunca se afastava muito de casa, ainda mais durante a noite, quando não tinha com quem conversar. Empurrou o portão, entrou no pequeno jardim da casa.
—Deina? Você está aí?
Nenhuma resposta.
Foi quando olhou embaixo da porta, água saindo da fresta, sem parar, como se algo houvesse transbordado lá dentro. Alarmou-se. Com um soco botou a porta abaixo, preocupado:
—Deina! Deina, responde!
A água vinha da pia da cozinha, a torneira largada aberta. Berinjela marinada, kourambiethes, uma garrafa de retsina aberta e ainda cheia, copos e pratos abandonados sobre a mesa. A casa estava inundada, havia água em todos os quartos. Na sala, sobre o tapete empapado, um sapatinho de menino estava à vista. Uma botinha das que se usam em crianças que tem problemas para andar.
—Mas...o que aconteceu aqui!
O garoto olhava, igualmente atônito.
—Não faço idéia. Ela sempre tomou tanto cuidado com a casa...E hoje cedo parecia tão feliz, até me pediu para ir no mercado, buscar os legumes e o leite. Disse que era para fazer um almoço para o "mestre". E agora...
—O...Mestre? Mas ele ia vir aqui na vila numa segunda-feira?
—Não, de segunda ele não vem, nunca vem. Mas foi o que ela me disse: o mestre...Não me olhe desse jeito, comandante, eu também não entendi!
Estava atônito, confuso, não sabia nem o que pensar. Recolheu o sapatinho caído, examinou-o de perto. Não haviam pistas do que houve naquela casa. Nenhum sinal de luta. Nenhum sinal de vida. Absolutamente nada.
—O...mestre...
O frio do vento entrou pela esquadria da porta derrubada. Lá fora, na noite, Castor e Pollux, as estrelas líderes da constelação de Gemini brilhavam mais intensamente que todas. Um estranho brilho igual, radiante e seguro, em harmonia plena. Como se compartilhassem felizes da mesma luz, cor de vinho. Cor de sangue.
Nota: Kourambiethes são pãezinhos de manteiga açucarados, perfumados com aguardente e especiarias. Retsina é um tipo de vinho doce, resinoso. Ambos fazem parte da culinária tradicional e do cotidiano da vida grega.
Presente de amigo secreto para minha coleguinha de Saint Seiya Dreams, Sak. Hokuto-Chan (a.k.a. Nuriko Kamatari). Foi muito legal escrever Kanon & Saga (ou Saga & Kanon, ou Saga & Saga...hehehe, eu mesma não ousaria dizer o que foi isso! XDDDD), confesso que poucas vezes me diverti tanto levando um personagem a condições extremas: acabou sendo um presente para mim também (e com um personagem que eu normalmente não costumo lidar em yaoi). Espero que tenha ficado do agrado, dark, violenta, mas com um final feliz. E espero também que os personagens originais não tenham incomodado muito, foi necessário usá-los (afinal eu precisava de algumas gargantas para cortar! XD )
E, bom, antes que eu leve uma pedrada pelo epílogo (XDDDDDD), juro, a inclusão do "índio de sempre" não foi tão por meu querer: após pensar muito, resolvi escrever com ele mesmo, que era o personagem que mais se prestava aos acontecimentos. Minhas opções outras seriam Marin e Daidaros-Albiore, mas nenhuma era realmente boa (cheguei mesmo a tentar escrever usando Marin, mas a máscara de amazona acabou me atrapalhando decisivamente no trecho sobre Frankfurt). No fim, acho que deu certo: afinal, no mangá, nosso índio é bem dizer o primeiro Cavaleiro de Ouro ativo no Santuário que suspeita que há algo errado com o Mestre—mas que prefere ficar observando o desenrolar dos fatos.
Seja como seja, eis aí: espero que você tenha gostado . Agradecimentos nesta fic à Victor Guedes/Azeites Gallo de Portugal e Fogos Caramuru, pelos testes de inflamabilidade realizados com seus produtos (a que ponto chegamos na busca da precisão factual '...leitores, por favor não tentem isso em casa, é MUITO perigoso!), mais à Geo Cities/Yahoo, pelo hosting provisório do texto.
Fan fiction concluída em 5 de Fevereiro de 2006
