Título: Diga a ele
Autora: Bélier
Categoria:Romance Yaoi
Retratação: Eu não possuo Saint Seiya/Cavaleiros do Zodíaco. Infelizmente (ou felizmente) eu não os possuo, pois do contrário eles teriam namorado mais do que lutado... De qualquer forma, eles são propriedade de Kurumada, Toei e Bandai.
Resumo: Eles são jovens, bonitos, bem sucedidos e estão apaixonados. Mas palavras não ditas e promessas vãs podem causar dúvidas e mágoas. E se não houver tempo para provar que o amor é verdadeiro?
Capítulo 4
Shaka finalmente acrescentou os últimos detalhes ao projeto. Pousou a caneta na mesa e estirou os braços, cansado. Ficara perfeita! Cada detalhe, cada cômodo... Surpreendeu-se ao olhar o relógio. Quase sete horas! Felizmente acabara a tempo e pela primeira vez em muito tempo não chegaria atrasado a um compromisso com o namorado. Enrolou as plantas, voltando a colocá-las no canudo e já se preparava para sair quando seu celular tocou.
Ao ver de quem se tratava, relutou em atendê-lo. Mas seu senso profissional falou mais alto e acabou por fazê-lo.
– Alô?
– Shaka? – A voz afobada do outro lado da linha fez com que o engenheiro ficasse alerta. – Shaka! Precisamos de você aqui! É urgente!
– Nem pense em cogitar minha presença aí esta noite! – Shaka foi seco com o seu gerente da filial em Hong Kong. – Tenho certeza de que o assunto pode esperar até segunda feira. Se for algum problema com algum maquinário, não resolverei nada até...
– Shaka. – O homem respirou fundo, tentando se acalmar. – Houve um acidente no canteiro de obras do complexo empresarial. Pessoas se feriam. Algumas gravemente.
Shaka emudeceu. Fechou os olhos e esperou paciente pelo resto.
– Exigem sua presença imediatamente ou vão embargar a obra. Não podemos correr esse risco.
– Foi falta de segurança? – Shaka indagou, tentando ser prático, seu cérebro trabalhando freneticamente.
– Foi sim.
– Estou indo para o aeroporto.
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Mu saiu da galeria e conferiu o relógio. Sete horas! Tinha que se apresar! Precisava de um bom banho e queria se arrumar muito bem para o namorado. Caminhou até o carro e lembrou-se de conferir o celular, para ver se havia recebido alguma mensagem. Aborrecido, notou que a bateria havia acabado e o aparelho estava mudo. "Droga. Carrego quando chegar em casa..." Ao entrar no carro, tratou de deixar a preocupação de lado. Tudo daria certo.
-x-
– Droga, Mu, atenda! – Shaka esbravejou. Havia pedido as contas de quantas vezes havia discado para o celular e para a casa de Mu durante o trajeto da empresa até o aeroporto. Todas sem resposta. A funcionária da galeria informara que o marchand saíra por volta das sete.
Estacionou o carro em sua vaga reservada e caminhou apressadamente até o hangar, onde seu jato particular já o aguardava, preparado para a viagem.
– Senhor... – O piloto tentou cumprimentar o engenheiro, mas este foi subindo a bordo, enquanto tentava mais uma vez entrar em contato com Mu. – Senhor...
– Hum? – Shaka finalmente percebeu que o piloto tentava chamar sua atenção e olhou na direção dele.
– O celular...
– Ah... – Shaka olhou para o aparelho, que chamava pela enésima vez o número do celular de Mu. Não sabia mais o que fazer. A notícia do acidente o deixara praticamente sem ação.
Resignado, desligou o aparelho. Ao chegar a Hong Kong, ligaria para Mu.
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Mu chegou ao restaurante no horário indicado. Observou discretamente o local, mas já sabendo de antemão que ele seria o primeiro a cumprir o compromisso. Os atrasos de Shaka já não o espantavam mais.
O maitrê o conduziu a mesa reservada e o marchand solicitou uma bebida ao garçom. Alisou com cuidado o guardanapo, perdido em pensamentos. Imaginou o que teria ocupado o namorado durante toda a tarde de sábado. Shaka era obcecado por trabalho, mas nem por isso havia necessidade de ele trabalhar durante os finais de semana, como por várias vezes já acontecera, desde que estavam juntos.
Mu provou o drinque, seus olhos verdes voltados para a entrada do restaurante. Em sua opinião, Shaka deveria aproveitar mais a vida, agora que já era um engenheiro de renome e seus negócios eram prósperos. Afinal, não valia a pena se empenhar tanto para conseguir algo, para depois não parar um pouco para desfrutar as coisas boas da vida.
O marchand se ruborizou levemente ao lembrar da noite passada ao lado do loiro. Coisas boas da vida... Apesar de toda a seriedade que ostentava, Shaka era um amante maravilhoso. Carinhoso e ao mesmo tempo cheio de luxúria. Mu sentia um orgulho bobo por saber que ele parecia ser o único com quem Shaka parecia se abrir, mostrar seus verdadeiros sentimentos.
O que Mu desejava era passar mais tempo ao lado dele, mas não simplesmente pelo sexo. Queria mimá-lo, cuidar dele... Mu sorriu, seus dedos esbeltos circulando a borda do copo vazio. Hoje, foi Shaka quem o enchera de mimos. Talvez o loiro apenas estivesse tentando se desculpar pela ausência no vernissage, mas Mu adorara. Quando queria, Shaka sabia ser bem romântico. E quando tinha tempo, é claro.
Mu não considerava o namorado um egocêntrico; Shaka apenas não havia parado para viver. Ele até se esmerava em levar o relacionamento adiante, mas...
Mu olhou de relance para o relógio. Nove e meia. Ansioso, vistoriou o celular procurando alguma ligação do loiro. Talvez ele estivesse preso no trânsito ou tivesse saído tarde de seus compromissos. Contrafeito, deixou o celular de lado e terminou sua bebida.
Prova do esforço do engenheiro em ser romântico eram os lírios azuis que ele lhe enviava, sem razão ou data especial, apenas pelo fato de que o namorado os adorava. Mu sabia que eram caros e difíceis de achar, pois eram modificados para atingirem aquele tom.
Mu adorava aquele gesto e noite passada fora a primeira vez que Shaka havia usado aquele recurso numa tentativa de ser desculpado. Apesar de estar muito chateado com ele, Mu não havia se arrependido de tê-lo perdoado.
Mu pediu outro drinque ao garçom e recostou-se na cadeira com um suspiro. Céus, como o amava! Nunca imaginou que se apaixonaria assim... Sempre imaginou que a sua alma boêmia jamais se deixaria prender tão facilmente, mas acabara descobrindo que era mais caseiro do que imaginava.
Pegando o celular novamente, resolveu ligar para a galeria, para ver como tudo estava indo. Sua funcionária o tranqüilizou, dizendo que o local já estava bem movimentado, mas que estava tudo sob controle.
– Bem, qualquer problema, me ligue, sim? – Mu suspirou, começando a ficar irritado com o atraso de Shaka.
– Não precisa se preocupar, senhor Mu! Pode ficar sossegado e divirta-se!
– Divertir-me... – Mu comentou, mais para si do que para a sua funcionária. – Sim, está bem, obrigado! Boa noite, então...
Mu desligou o celular e logo o garçom se aproximou.
– Senhor... Vai pedir algo ou deseja esperar por mais tempo?
Mu ouviu a pergunta, que apesar de ter sido feita com educação, o irritou profundamente. Ao olhar para o relógio, constatou que já passava das dez. Tão perdido estava em divagações que não percebeu que uma hora já havia se passado desde que chegara. – Só mais alguns minutos, sim? – Respondeu, seco.
– Como quiser.
Mu pensou ter visto um breve ar de pena transpassar o olhar do garçom. Pena. É claro. Mas quem ele era para ter pena dele? Com certeza, alguém que não levara um "bolo". Certamente o jovem tinha pena ao ver um rapaz tão belo como Mu esperando alguém que, com certeza, não ia aparecer.
Mesmo sem querer, Mu não pôde evitar que a raiva a e a mágoa aflorassem com o passar dos minutos. Pensou em ligar para Shaka, para saber se havia acontecido alguma coisa, algum acidente com o loiro, algum contratempo. Mas desistiu. Sabia que, no fundo, o loiro havia ficado preso com alguma coisa relacionada ao trabalho. Como sempre.
Chateado, Mu finalmente chamou o garçom e pediu a conta, por volta das dez e meia. Recusava-se a acreditar que Shaka não havia cumprido sua promessa e o magoava profundamente. Aquela seria a última vez que esperaria por Shaka.
Sentiu-se mal por ter sido mais uma vez protelado pelo namorado. Decidido, pagou o que havia consumido e deixou o restaurante, um misto de revolta e mágoa tomando conta de si. Amava demais Shaka, mas preferia não vê-lo mais a ter que passar por aquilo novamente!
Talvez o engenheiro achasse que ele estaria sempre disponível. Talvez ele achasse que Mu nunca o abandonaria, que ele nunca o deixaria de amar... Mas Mu sentia que a cada vez que o loiro lhe fazia algo daquele tipo, o rancor era maior. Tinha medo de que chegaria o dia em que não teria mais como perdoá-lo... Apesar de todo amor que ele sentia.
Ao chegar à calçada, seu celular tocou. Pegou-o e sentiu o sangue ferver ao ver o nome de Shaka estampado no visor. Que ele chamasse até acabar a maldita bateria, ele não ia atendê-lo! Se ele tinha uma desculpa, que viesse conversar com ele pessoalmente! Não ia se dignar a ouvi-las pelo telefone, queria estar frente a frente com o namorado e dessa vez ia lhe dizer umas verdades!
– Maldito! – Resmungou para si mesmo, fazendo as pessoas que passavam na rua olharem, curiosas. Dessa vez não ouviria suas explicações!
Ia voltar o celular ao bolso do casaco quando sentiu uma tontura. Uma dor terrível o atingiu e ele levou automaticamente a mão à cabeça, como se aquilo pudesse de alguma forma aplacar a dor que sentia. Com olhos nublados, viu que o celular, que havia ido ao chão, parara de tocar. "Ótimo! Quebrou!"
"Mas que maldita dor de cabeça!" Mu abaixou-se para pegar o objeto, mas a dor aumentou e ele desmoronou no chão, ofegante. Passou a mão pela testa, notando como estava molhada. "O que está acontecendo?"
Sentia como se algo estivesse apertando seu cérebro. Conseguiu erguer-se em seus joelhos e segurou a cabeça com as mãos. Apertou os olhos com força, tentando manter-se focado, mas era impossível. Algumas pessoas pararam, preocupadas, e uma delas ofereceu-lhe a mão.
Com um gemido de dor, conseguiu erguer-se, apoiando-se no homem que lhe dirigira ajuda. – Sente-se bem? Ei, alguém aí, chame uma ambulância! Ele não está bem!
Mu ouvia a conversa, mas as palavras não faziam sentido. A dor era insuportável. "Shaka... Por quê... não está... comigo?"
Não conseguiu pensar em mais nada, pois a escuridão o envolveu completamente.
-x-
Shion entrou apressado no hospital. Aproximou-se do balcão de informações, ofegante. Deu o nome completo do primo à enfermeira, que o encaminhou para a ala onde ele havia sido internado, há algumas horas. Parou, ansioso, o primeiro médico que encontrou e explicou-lhe a situação.
– O senhor é parente do paciente?
– Sou sim, eu sou primo dele. – Shion afastou a franja longa do rosto. – Meu nome é Shion. Sou o único parente dele no Japão! Por favor, me deixe vê-lo!
– Sinto muito, mas o Sr. Mu no momento está passando por alguns exames...
– O que aconteceu? – Shion interrompeu o médico, tão nervoso estava. – Ele está bem?
– Ei, Ei! Calma! – O médico pousou a mão sobre o ombro do arquiteto, tentando acalmá-lo. – Ele está bem! Está acordado e lúcido, mas está passando por uma tomografia computadorizada. – O médico continuou, analisando o prontuário de Mu em suas mãos – Ele teve uma convulsão e felizmente foi atendido a tempo, o que evitou danos mais sérios...
- E o que pode ter causado isso, doutor? - Shion perguntou, confuso. Na noite anterior, Mu parecia tão bem... Como podia estar agora num hospital, fazendo uma tomografia?
– Ainda não posso afirmar muita coisa, mas minha suspeita é de que a convulsão tenha sido causada por um tumor ou um cisto alojado na cabeça, que está pressionando o cérebro e causando as dores das quais ele se queixa desde que acordou.
– Quê! – Shion cortou o médico, incrédulo. – Tumor? Não pode ser!
– Sinto muito, mas até que os exames fiquem prontos, não posso informar-lhe nada mais concreto. É apenas uma suposição, mas temos que avaliar a real situação dele.
– Mas... – Shion olhou o chão, desconsolado. – Ele nunca aparentou estar doente!
O médico apontou para um sofá próximo, convidando Shion a sentar-se. – Isso é normal. Se for realmente um cisto ou mesmo um tumor benigno, pode-se conviver muito tempo com ele, até que algum sintoma se manifeste... Dores de cabeça muito fortes ou uma convulsão repentina, em uma pessoa que nunca teve qualquer problema desse tipo, são um aviso de que algo mais grave está ocorrendo.
– Sim, ele às vezes se queixava de dores, mas nunca eram fortes e logo passavam... – Shion comentou, seus olhos violeta fitando as paredes estéreis do hospital.
– Não se pode prevenir este tipo de doença. Quando os sintomas se manifestam, significa que o cisto já está prejudicando o cérebro. – O médico continuou. – Se o diagnóstico inicial se confirmar, procederemos a uma cirurgia para retirar o tumor... É uma cirurgia extremamente simples, mas que exige cuidados extras por se tratar de um local delicado como o cérebro...
Shion ouviu a tudo calado, mas não pôde evitar o comentário, quando o pensamento ruim atravessou-lhe a mente. – Doutor... E se for alguma coisa mais séria?
O médico olhou penalizado para o homem abatido à frente dele. – Ouça, eu realmente não posso lhe afirmar nada antes de ver os exames...
– Mas e se for um tumor?
– Bem... – O médico escolheu as palavras. – Pela experiência que tenho, casos como os apresentados pelo seu primo geralmente revelam um tumor benigno, que deve ser retirado cirurgicamente. Nesse caso, há a necessidade de tratamentos posteriores, como radio e quimioterapia, para prevenir reincidências. Se for um cisto, o problema é resolvido simplesmente com a remoção deste, sem a necessidade de qualquer outro tratamento.
– Entendo. – Shion estava arrasado e demonstrava isso claramente.
– Na pior das hipóteses, temos o tumor maligno. – O médico sorriu, tentando animar o outro homem. – Mas acredito que não é o caso do seu primo.
– Espero que esteja certo... – Shion apoiou os cotovelos nos joelhos e afundou o rosto nas mãos. – Ele é toda a família que eu possuo... Não posso perdê-lo! Além disso, ele é tão jovem e talentoso!
O médico apoiou uma mão no ombro curvado do outro homem, tentando passar algum conforto. Já tivera que presenciar muitas cenas como aquela e outras bem piores, quando o diagnóstico de alguma doença mais grave era revelado. – Não se preocupe, tudo vai dar certo.
Apesar de se considerar um homem orgulhoso e decidido, Shion sentia como se fosse ruir a qualquer momento. Não aceitava o que estava acontecendo com o seu pequeno. Parecia-lhe uma ironia que aquilo estivesse acontecendo com uma pessoa tão meiga quanto Mu. Fez o possível para conter as lágrimas. Não choraria. Não demonstraria fraqueza. Naquele momento, ele tinha que ser forte. Por Mu.
Depois de alguns minutos, Shion finalmente ergueu a cabeça e encarou o médico, seus olhos brilhando com lágrimas que não seriam derramadas. – Obrigado. Eu lhe agradeço por tudo.
– A propósito... Meu nome é Dohko. – O médico estendeu a mão a Shion, num cumprimento tardio, mas oportuno. – Sou chefe da equipe de neurocirurgiões deste hospital. Tenha certeza de que faremos tudo que estiver a nosso alcance!
Shion apertou a mão forte do médico, que estranhamente lhe transmitiu a confiança de que ele precisava. – Sei que farão...
Dohko acenou com a cabeça, sério. – Se precisar de alguma coisa, me procure.
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Depois de mais de uma hora, Mu finalmente foi liberado. Shion entrou no quarto, tentando acostumar os olhos à penumbra. Ao ver o primo estendido naquela cama de hospital, não pode evitar pensar em como ele parecia frágil. – Mu? – Chamou docemente, não querendo acordá-lo, caso ele estivesse dormindo.
Mu voltou a cabeça na direção da porta devagar e um sorriso apareceu em seu rosto, ao ver o primo – Shion! Que bom que está aqui! Achei que ficaria sozinho...
Shion sentou-se numa cadeira próxima a cama. – Você jamais ficaria sozinho, Mu. – Passou os dedos pela testa do primo, afastando a franja longa dos olhos verdes.
– Como... Como o encontraram? – Mu se lembrava vagamente que seu celular havia se quebrado, ao cair no chão.
– Por um cartão meu que você trazia na carteira... Também ligaram na galeria, pelo que me disseram, mas já não havia mais ninguém lá naquele horário.
– Entendo. – Mu fechou os olhos e deixou escapar um suspiro de cansaço. – Pensei que fosse morrer ali, naquela calçada, Shion...
Shion forçou um sorriso. – Não diga isso... A dor deve ter sido horrível... Mas agora você está sendo bem cuidado. Logo seus exames estarão prontos.
– O médico lhe disse? – Mu fitou os olhos tristes no primo. – Que talvez eu tenha que operar?
Shion engoliu em seco. – Sim.
– Hn. – Os dedos esbeltos de Mu brincaram com a borda do lençol . – Bem, eu terei sorte se não for um tumor maligno...
– Não vai ser, você vai ver... – O arquiteto segurou as mãos do primo com firmeza entre as suas. Tentando quebrar o clima ruim, desconversou em tom brincalhão. – Você vai ter sorte se não rasparem essa sua cabeleira antes da cirurgia, isso sim!
Mu sorriu tristemente. – Acho que não é hora para pensar em ser vaidoso...
Shion devolveu o sorriso, subitamente se lembrando de algo. – Ei, onde está aquele metido do Shaka? Com certeza deve estar alimentando o vício dele por café lá na lanchonete! Estressado como é...
As feições de Mu mudaram rapidamente. – Ele não está aqui.
– Como não? – Shion estranhou, soltando as mãos de Mu e fazendo menção de se levantar. – Não o avisaram? Vou ligar para ele já!
– NÃO!
Shion observou o primo, o rosto agora encoberto pelos cabelos longos, mas mesmo assim ele podia vislumbrar o brilho das lágrimas que desciam pelo rosto pálido.
– Não. – Mu repetiu, dessa vez com mais calma. – Não desejo vê-lo.
– Mas Mu...
– Por favor, Shion, não o avise. – Mu encarou o primo, erguendo uma mão trêmula para limpar o rastro fino de lágrimas do rosto. – Eu e o Shaka... Tivemos um desentendimento e eu não desejo vê-lo. Pelo menos não neste momento.
Shion ergueu uma sobrancelha, desconfiado. – Vocês brigaram? O que aquele foi que ele te fez?
Mu suspirou e desviou o olhar para as ataduras que prendiam o soro ao seu braço, fingindo analisá-las atentamente. – Ele não fez nada, Shion. Ele não fez... nada.
Shion conhecia bem o primo, todo o carinho e amor que ele dedicava ao namorado e também conhecia Shaka. Não demorou a adivinhar o motivo da briga entre os dois. Achou melhor evitar o assunto, por enquanto.
– Tudo bem, eu não o aviso... – Shion recostou-se na cadeira. – Mas tenho certeza de que ele virá procurá-lo.
Mu esboçou um sorriso cansado. No fundo, ele também acreditava que Shaka o procuraria, mas preferia não se encher de esperanças. – Shion... Pode me fazer um favor?
– Sim, é claro! – Shion voltou a segurar a mão pálida do primo entre as suas.
– Pode ficar de olho na galeria para mim? – Mu fechou os olhos, cansado. – Sei que o pessoal é bem treinado e cuidadoso, mas gostaria que você pelo menos passasse por lá e me trouxesse notícias...
- Farei com o maior prazer, Mu... – Nesse momento, uma enfermeira entrou no quarto, pedindo a Shion que saísse, pois o paciente precisava descansar. O arquiteto levantou-se, mas Mu o chamou antes que ele saísse.
– Shion... Por favor. Não diga a ele onde estou. – Os olhos verdes brilharam novamente com lágrimas não derramadas. – Peça aos funcionários da galeria para não darem informação alguma a ele...
Shion suspirou. Arianos costumavam ser bem teimosos, quando queriam. – Está certo, Mu, pode ficar tranqüilo. Apenas descanse. Eu volto amanhã. – Talvez fosse melhor para o primo que não visse o namorado. Irritar-se era o que ele menos precisava, naquele momento.
– Obrigado. – Mu ajeitou-se melhor na cama, enquanto a enfermeira lhe preparava um coquetel de remédios. Sedativos, analgésicos... Não se lembrava mais. Estava tão atordoado que não conseguira prestar atenção a tudo que o médico lhe dissera. O fato de não saber exatamente o que tinha o apavorava.
Ao se ver sozinho, Mu fechou os olhos, rezando para que os remédios fizessem efeito logo. Sua cabeça ainda doía e tinha medo de que ser acometido por outra crise convulsiva. Fora uma experiência horrível. Principalmente por estar sozinho.
Ficou a imaginar o que Shaka estaria fazendo naquele momento. Imaginou qual seria a desculpa para faltar ao compromisso desta vez. Afastou a idéia da convulsão ter sido provocada pela raiva que sentira do namorado, naquele momento. Se fosse realmente um tumor, já há muito tempo estava ali e terminara por se manifestar naquele momento. Shaka não deveria de forma alguma ser culpado por aquilo.
Mas Mu não o perdoava por tê-lo deixado sozinho. Aquilo o magoava profundamente. Dessa vez o engenheiro se superara. Depois de ter faltado ao vernissage, lhe prometera uma noite agradável e sequer o avisara de que não poderia ir.
De repente, Mu percebeu que não fazia diferença. Estava cansado de se preocupar com aquilo. Deixaria para pensar em seu relacionamento quando estivesse com a sua vida sob controle novamente.
Continua
Comentários da autora:
Peço mil perdões às leitoras que imploraram (e às que ameaçaram também – risos) para que o Shaka comparecesse ao encontro, mas não dava pra mudar, gente! Essa fic eu escrevi de uma forma anormal... fiz o começo e o fim, depois fui completando.
E não é que alguém finalmente notou o que eu, a Vera e a Renata havíamos visto naquela fanart? Parabéns, Musha! Se eles realmente estão num hospital, não sei, mas pelo menos, deu a impressão, principalmente porque o Mu parece estar de pijama. E foi dessa idéia que surgiu toda a fic. Sobre o problema do Mu, foi inspirado no caso da Malu Mader.
Mais informações no blog, antes do final do ano.
Beijos!
