Título: Diga a ele

Autora: Bélier

Categoria:Romance Yaoi

Retratação: Eu não possuo Saint Seiya/Cavaleiros do Zodíaco. Infelizmente (ou felizmente) eu não os possuo, pois do contrário eles teriam namorado mais do que lutado... De qualquer forma, eles são propriedade de Kurumada, Toei e Bandai.

Resumo: Eles são jovens, bonitos, bem sucedidos e estão apaixonados. Mas palavras não ditas e promessas vãs podem causar dúvidas e mágoas. E se não houver tempo para provar que o amor é verdadeiro?

Capítulo 5

– Bom dia! – Dohko adentrou o quarto de Mu, encontrando-o conversando com o primo.

– Bom dia, doutor... – Mu respondeu com voz cansada, recostado nos travesseiros fofos da cama. – Alguma novidade?

– Sim, finalmente seus exames ficaram prontos...

– E...? – Shion perguntou, entre esperançoso e ansioso.

Dohko se aproximou da cama, enquanto abria os envelopes. – Pode se considerar uma pessoa de sorte, Mu! É apenas um cisto intracraniano. – O médico estendeu as tomografias aos outros dois homens, explicando a situação detalhadamente. – Vê isto? – Mu assentiu com a cabeça. – Está localizado na parte frontal esquerda do cérebro, comprimindo-o e é o que está te causando todas as dores de cabeça e convulsões. Provavelmente você o tem desde que nasceu e foi crescendo com o passar dos anos, mas somente agora ele atingiu proporções que podem causar danos. Pode ser facilmente retirado com um procedimento cirúrgico.

– Que alívio... – Mu suspirou. – Não que eu esteja tranqüilo em passar por uma cirurgia como esta, mas pelo menos não é... não é...

– Um câncer? – Dohko completou, sentindo o desconforto de Mu em terminar a frase com a palavra tabu. – Sim, um tumor também poderia ser extirpado com certa facilidade, mas, sem dúvidas, os tratamentos que se seguiriam à operação seriam muito mais danosos a sua saúde. Sem falar no risco de uma reincidência...

Mu apenas assentiu com a cabeça. Estava por demais aliviado pelo fato de não estar sendo consumido por um câncer. Aqueles três dias que passara no hospital, a espera de um diagnóstico exato para a sua doença, pareciam ter durado uma eternidade. Naquele intervalo de tempo fez vários exames e teve mais crises de dor de cabeça violentas; Dohko cogitara de operá-lo às pressas, quando teve uma segunda convulsão. Felizmente ele não entrara em coma e o cirurgião achou por bem aguardar o resultado dos exames para saber exatamente o que ele encontraria ao iniciar a cirurgia.

– E agora? – Shion levantou-se e encarou o médico. – Quando ele pode operar?

– Ah, sem dúvida, o mais rápido possível. – Dohko voltou-se para o homem elegante de cabelos exóticos. – Eu gostaria de operá-lo amanhã, mas infelizmente já tenho outras cirurgias e quero cuidar pessoalmente do caso de Mu... Acredito que quinta feira à tarde. É claro que se algo grave acontecer, procederemos a uma cirurgia de emergência, mas acredito que o quadro está bastante estável. – ele voltou-se com um sorriso para Mu. – Sente muitas dores, ainda?

– Um pouco... – Mu confessou. – Mas são suportáveis. Os remédios ajudam.

– Ótimo. Prefiro então fazer a cirurgia com calma e com você bem tranqüilo, OK?

Mu fez careta. – Como se fosse possível ficar tranqüilo nessa situação...

– Vai dar tudo certo, acredite em mim. – Dohko apoiou a mão firme no ombro de Mu, e apertou-o com força, tentando transmitir confiança. – Quinta-feira pela manhã voltaremos a conversar, quero lhe explicar todos os procedimentos para que você se inteire de tudo o que vai acontecer e como vai acontecer.

– Certo. – Mu estremeceu diante da perspectiva de ter seu crânio aberto. – Sabe, doutor, acho melhor não saber de nada!

O cirurgião riu. – Não, eu o quero a par de tudo, essa é a minha ética de trabalho. Até quinta, então.

Dohko foi em direção à porta, mas Shion o deteve.

– Doutor! – Dohko virou-se para ele, as sobrancelhas grossas arqueadas em interrogação.

– Eu... – Shion aproximou-se do médico e segurou-lhe a mão. – Obrigado por tudo.

O riso alto e cristalino do médico encheu o quarto. – Só estou fazendo o meu trabalho, Shion...

– Mesmo assim... Obrigado por ser tão atencioso conosco. – Shion deixou ir a mão do médico e afastou-se.

Dohko sorriu mais uma vez e fez menção de dizer algo, mas partiu.

Logo após o médico se retirar, Mu chamou o primo.

– Shion...

– Sim?

– Você gosta dele... – Mu cantarolou.

Shion franziu a testa. – Eu não!

– Quer sair com ele...

– Mu!

– Quer beijar ele...

– MU!

– Com licença... – Uma enfermeira apareceu à porta, interrompendo a brincadeira dos dois. – Um homem deseja ver o Sr. Mu... Na verdade, ele insiste em vê-lo. Ele parece nervoso.

– Quem é? – Shion perguntou, alerta.

– Um homem loiro...

– Sou eu.

– Senhor, não deve entrar... – A enfermeira segurou o homem firmemente pelo braço.

– Está tudo bem. Eu preciso falar com ele, sim? – Shaka afastou a mulher delicadamente, seus olhos azuis implorando para que ela atendesse o seu pedido. – Só alguns minutos. Por favor.

– Está bem. – A enfermeira finalmente desistiu de tentar impedi-lo. apenas lançou um olhar ao paciente, tentando avaliar a reação do jovem. – Mas não se demore.

– Sim. – Shaka concordou e entrou no quarto.

– Shaka. – Shion olhou friamente o engenheiro. – O que faz aqui?

Shaka olhou brevemente para Shion, quase como se não o visse ali, seus olhos logo se voltando para Mu, que parecia perdido na cama enorme, seus cabelos lavanda contrastando incrivelmente com a alvura das fronhas e lençóis e com a palidez de sua própria pele. – Vim ver Mu.

– Agora? – Shion soou irônico. – Depois de três dias, somente agora decide aparecer.

Shaka finalmente se viu forçado a encarar o arquiteto. – Ouça, Shion... Se há uma pessoa para quem eu devo explicações aqui é o Mu... Você poderia nos deixar a sós?

Shion, sempre altivo, respondeu com toda calma. – Concordo que você não me deve explicações. Mas quem esteve ao lado dele durante esses dias fui eu. Você não lhe deu apoio algum. Aliás, nunca deu.

Shaka apertou os olhos, tentando se conter. – Não precisa me lembrar isso, Shion. Mas eu poderia ter estado aqui se alguém tivesse me avisado! Muito pelo contrário, me omitiram informações!

– Vocês dois podem parar com isso? – A voz de Mu soou abatida e, ainda assim, indignada. – Ficam aí discutindo, como se eu não existisse!

– Mu... – Shaka tentou conversar com o amante.

– Saiam já daqui! – Mu gritou, levando a mão à cabeça. – Os dois!

– Vamos, Shaka! – Shion segurou o loiro pelo braço, mas o engenheiro se desvencilhou do aperto.

– Não vou sem falar com ele! – Shaka foi incisivo. – Mu, por favor.

Mu fechou os olhos, tentando se concentrar. A dor voltara com intensidade. Era controlável, mas o simples fato de ter visto Shaka entrando em seu quarto sem aviso o havia desestabilizado. Depois de três dias sem qualquer notícia do namorado, já havia perdido as esperanças de que ele viria procurá-lo. Várias hipóteses haviam lhe passado pela cabeça, entre elas o fato de Shaka finalmente ter desistido dele, e aquilo o magoava profundamente.

O fato de ter passado mal aquela noite no restaurante e estar sozinho, ser ajudado por estranhos, feria-lhe. Se Shaka estivesse lá... Se ele estivesse, teria se sentido mais seguro. Confiara tanto no amante e ele sequer estava lá naquele momento para ajudá-lo. Por que ele não havia ido?

– Shion...- Mu proferiu, sua voz cheia de dor.

– Você está bem, Mu? – Shion se aproximou da cama, preocupado.

– Deixe-o... – Mu sussurrou. – Eu... Quero ouvir o que ele tem a dizer.

– Sim. – Shion acenou, incapaz de discordar do primo. – Estarei lá fora.

– Obrigado.

Shaka aproximou-se da cama, hesitante. Não pôde deixar de reparar em como o marchand estava abatido, toda a sua vitalidade parecia ter sido sugada pelo que ele nem mesmo sabia o que era. Estava indignado com o fato de terem ocultado dele o que estava acontecendo, mas jamais ficaria magoado com Mu.

– Mu... Você está bem?

– Como soube que eu estava no hospital? – Mu cortou o loiro, seus olhos evitando encarar os do engenheiro.

– Eu... – Shaka sentou-se na cadeira antes ocupada por Shion, mas evitou tocar Mu. – Eu liguei várias vezes para a sua casa e o seu celular, sem resposta...

– Meu celular quebrou. Quando eu desmaiei.

– Oh... – Shaka apoiou os cotovelos nos joelhos e cruzou as mãos. Mediu bem as palavras, notando a acidez na voz do marchand. – Agora entendo. Bem, como você não respondia, fui até a galeria. Mas os seus funcionários recusaram-se a dar qualquer informação, disseram que você havia viajado... E também não consegui falar com Shion, ele não atendia nenhuma das minhas ligações.

– Eu lhes pedi que não contassem a ninguém que eu estava hospitalizado. – Mu respondeu, seco, e Shaka começou a se ressentir do comportamento frio do namorado.

– Bem, sem muita alternativa, eu fiz plantão lá na sua galeria durante os últimos dois dias...

Mu finalmente encarou Shaka, surpreso. – O quê? Você perdeu dois dias de serviço?

Os olhos azuis fitaram diretamente os verdes. – E porque eu não o faria? Estava preocupado com você! Me magoa ouvi-lo falar assim!

Mu sorriu ironicamente. – Sim, muito me surpreende isso! Jamais imaginei que você perderia dois preciosos dias de trabalho! E a sua empresa, não faliu? Deve ter sido uma catástrofe! – Mu fez um gesto com as mãos. – Imagine: prédios caindo por toda Tóquio e...

– Mu! – A voz de Shaka soou amarga. – Não precisa ser irônico, eu descobri que a empresa funciona sem a minha supervisão vinte e quatro horas por dia, sim. E descobri da pior maneira!

Mu calou-se. Por mais que ele tentasse ser rude com Shaka, não conseguia. O olhar magoado que o loiro lhe lançou foi o suficiente para convencê-lo a deixar os ataques de lado, pelo menos por enquanto.

– Bem... - Shaka recompôs-se. – Percebi que Shion passou por lá naqueles dois dias e o segui até aqui ontem à noite. Mas não me deixaram entrar. – O engenheiro passou a mão pelos cabelos já bastante desarrumados. – Por que não me avisou, Mu? Por quê?

– Porque me deixou sozinho no sábado, Shaka? – Mu retrucou.

– Mu, eu sinto muito, mas naquela noite precisei viajar as pressas para Hong Kong! – um acidente grave numa obra, exigiram minha presença e... – Shaka bufou, cansado. – E nada justifica o fato de eu não ter estado lá com você, Mu. Me perdoe.

Mu encarou o loiro friamente. – Sim, nada justifica eu ficar estatelado numa calçada, achando que a minha cabeça ia explodir e pensando porque você não estava ali comigo como prometera!

– Mu... – Shaka não esperava pela agressividade de Mu. Ele sempre fora muito calmo e pacato, apesar de temperamental, mas Shaka esperava que o namorado fosse perdoá-lo. Mas chegou a conclusão de que, talvez, ele havia finalmente se cansado de aceitar tantas desculpas. – Eu não imaginava...

O marchand reagiu com fúria ao comentário do loiro. – Não imaginava o quê? Que eu estava doente? Que eu passaria mal naquela noite? Que eu teria que ser operado? Teria feito alguma diferença, Shaka? Você teria dito não ao seu imprevisto em Hong Kong e teria ficado comigo se soubesse? É isto?

Shaka não respondeu, preocupado ao observar que o rosto de Mu se avermelhava, tão furioso ele estava. – Mu, tenha calma...

– Eu? Calma? – Mu gritou. – Eu estou às vésperas de uma cirurgia e você me pede para ter calma? Sinto muito, mas não dá! – Mu apertou a ponte do nariz e franziu a testa, tentando suportar a dor. – Ouça, Shaka, não quero mais falar com você. Eu não tenho condições de falar com você, hoje não. Por favor, vá embora.

– Está bem, Mu. – Shaka achou melhor concordar, para não deixar o amante mais agitado. – Eu vou embora, sim, mas não sairei daqui enquanto não conseguir convencê-lo de que estou arrependido e de que eu o amo.

– Sei. – Mu cobriu o rosto com as mãos, e recostou-se sobre os travesseiros. – Me deixe. Por favor.

Shaka saiu do quarto arrasado. Depois de passar vários dias preocupado com Mu, ligando diversas vezes de Hong Kong e outras tantas logo após retornar ao Japão, não imaginou encontrá-lo tão amargo. Era bem verdade que ele estava doente, mas o engenheiro adivinhou que boa parte da tristeza de Mu havia sido provocada por suas atitudes frias e a sua indecisão diante do relacionamento deles.

Encontrou Shion no corredor e recebeu dele um olhar recriminador. – Por favor, Shion, não preciso de suas críticas. Me diga, o que ele tem exatamente?

– Como assim, o que ele tem? – Shion respondeu friamente. – Não conversou com ele a respeito disso? Como pode ser tão egoísta?

Shaka respirou fundo. – Shion, eu sequer tive chance de perguntar isso a ele! Mu ficou nervoso e eu... – O engenheiro encostou o corpo na parede e levou as mãos ao rosto. – Eu não quis deixá-lo mais agitado, então saí. Mas não vou embora sem que alguém me diga exatamente o que ele tem!

A voz do loiro soou embargada, o que fez com que o arquiteto amenizasse o tom da sua. – Fez bem, Shaka. Mu não deve se exaltar, pode piorar o quadro dele. – Resignado, Shion achou melhor explicar tudo ao loiro. Por menos que ele gostasse do engenheiro, não podia negar que ele parecia preocupado com a situação. – Aqui não é o melhor lugar para conversarmos. Vamos até a sala de espera.

Os dois homens deixaram o corredor frio, não sem que Shaka hesitasse se mover, lançando um olhar preocupado para a porta do quarto do marchand.

Os dois homens acomodaram-se num dos sofás da sala de espera. Shion apoiou os braços sobre os joelhos e cruzou as mãos, sério. – Primeiro, você vai me contar o que aconteceu para Mu estar tão irritado com você, a ponto de proibir a todos que lhe dissessem o que havia acontecido.

Shaka suspirou, aborrecido. Já havia se martirizado centenas de vezes por ter isso a Hong Kong na noite de sábado. Como não podia voltar atrás, já havia assumido sua culpa. Achou melhor contar a Shion logo de uma vez. Explicou de forma resumida o que havia acontecido: o acidente, o vôo às pressas, como tentou se comunicar com Mu várias vezes para avisá-lo, sem sucesso. No entanto, omitiu sua verdadeira intenção para aquela noite: a surpresa que faria ao namorado, adiada por aquele imprevisto.

Shion absteve-se de qualquer comentário, mesmo sentindo raiva de Shaka. Pediu ao engenheiro que lhe contasse o que havia acontecido e ele tinha lhe dito. Em nenhum momento, Shaka tentou defender-se, o que levou Shion a concluir que o loiro havia se arrependido. Achou melhor contar tudo ao outro homem. - Mu tem um cisto intracraniano, que precisa ser retirado através de cirurgia.

Shaka passou a mão pelos cabelos, demonstrando impaciência. – Isso eu já sei, foi a única informação que eu consegui arrancar das enfermeiras. Mas elas me disseram que ele passava bem! Mu não está bem, Shion!

– Esse cisto lhe causa dores de cabeça insuportáveis e convulsões, Shaka, mas as crises são esporádicas. Ele está hospitalizado porque o médico achou melhor operá-lo o mais rápido possível, para a retirada do cisto. Infelizmente hoje ele não está bem.

– Quando será a cirurgia? – Shaka perguntou, preocupado. – Porque demoram tanto?

– Quinta a feira à tarde. – Shion revelou. – Não o operaram ainda porque o médico que o está acompanhando estava esperando os exames ficarem prontos para confirmar o diagnóstico. Poderia se tratar de um tumor, o que tornaria o procedimento mais complicado...

– Quinta-feira? – O engenheiro desesperou-se. Mu ainda teria que esperar mais aquele tempo para se ver livre das dores que o atormentavam. Exausto, Shaka tombou o corpo sobre o encosto do sofá e esfregou os olhos já vermelhos. – E ele... Ele corre algum risco?

– Segundo o médico, a cirurgia é bem simples. – Shion apoiou o queixo nas mãos. – Logicamente, o risco existe, mas é mínimo. Garantiram que não deixará seqüelas, ou nada que um pouco de fisioterapia não resolva.

– Droga, Shion! – Shaka não conseguiu mais conter sua ira, seu punho acertando violentamente o braço do sofá. – Por que ele? Por quê o Mu? – Uma lágrima solitária desceu pelo rosto transtornado pela raiva. – Mu sempre foi tão cheio de vida, tão alegre, tão... Perfeito.

– Eu sei. Sinto a mesma coisa. – Shion ficou com pena do engenheiro. Concluiu que Shaka percebera do jeito mais difícil que Mu era muito mais importante para ele do que imaginava. Restava saber agora se o primo ia se convencer disso. – Mas esse sentimento de inconformismo não vai ajudar Mu em nada.

– Me diga então, Shion, o que eu posso fazer para ajudá-lo? – Shaka encarou o arquiteto, seus olhos azuis demonstrando a mais profunda tristeza.

– Talvez seja melhor deixá-lo em paz um pouco, Shaka. – Shion sabia que não era isso que o loiro gostaria de ouvir, mas foi sincero. – Mu precisa de calma. E ele está zangado com você, pressioná-lo só vai deixá-lo mais irritado... Ele nem mesmo queria que você ficasse sabendo de nada!

– Mas eu o amo! – Shaka exaltou-se novamente. – Sei que errei várias vezes com o seu primo, não vou negar. Mas eu realmente o amo! Não posso perdê-lo.

– Sei que é difícil, Shaka... – Shion apoiou uma mão no ombro do loiro, tentando consolá-lo. – Mas não sei se você vai conseguir resgatar a relação de vocês nesse momento delicado...

Shaka ignorou o gesto do arquiteto e fitou o chão, determinação estampada em seu rosto. – Pois eu não vou sair daqui até que Mu me ouça.

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– Mu! Mas o quê é tudo isso? – Shion parou a porta do quarto do primo, estarrecido.

– Flores. – Mu fungou, tentando conter as lágrimas que ameaçavam escorrer por seu rosto. – São... flores.

– Isso eu estou vendo. – Shion caminhou pelo quarto, boquiaberto. – Mas, para quê tantas? Quando a enfermeira me ligou pedindo que viesse ao hospital urgentemente, resolver um problema, achei que havia acontecido algo grave, não uma invasão em massa de... Lírios azuis.

Mu limpou disfarçadamente uma lágrima com o dedo polegar. – Elas têm que ir. As enfermeiras ficaram histéricas ao ver a encomenda, mas a floricultura recebeu ordens expressas de não aceitar devolução. Como são muitas, não podem ficar no quarto... Não é permitido.

Shion remexeu um dos ramalhetes, todos caprichosamente embrulhados em papéis lilases e arrumados em bonitos vasos. O chão do quarto estava quase que coberto pelas flores. – Posso arriscar adivinhar quem as mandou?

– Provavelmente você acertaria. – Mu sentou-se e afastou os lençóis. Desceu com cuidado da cama alta, e caminhou até o primo. Recolheu um dos vasos e observou as belas flores. – Você pode levá-las até o meu apartamento, por favor? Eu... não quero me desfazer delas. – Uma pequenina lágrima escorreu novamente pelo rosto pálido do marchand.

– Posso sim. E pode deixar que eu passo todo dia lá para cuidar delas. Ainda vão estar bonitas quando você voltar. - Shion pousou a mão no ombro de Mu, tentando confortá-lo. – Mu... a propósito... Ele está aí fora. Quer muito vê-lo...

Mu olhou um tanto surpreso para o primo. – Ora! Até ontem você achava que ele era um canalha insensível! O que fez você mudar de idéia com relação a ele tão rápido?

Shion sentou-se na cadeira, seu olhar percorrendo a infinidade de lírios espalhados pelo quarto. – É bem verdade que eu continuo achando que ele é cheio de si e que você merece alguém mais carinhoso e dedicado, mas... – O arquiteto suspirou. – Tenho pena dele, Mu. Ele está arrasado. Passou a noite toda aqui, segundo as enfermeiras me informaram. Somente pela manhã saiu, depois disso as flores chegaram.

Mu acariciou as pétalas coloridas dos lírios, pensativo. O que Shaka estava tentando provar? Que ele realmente estava arrependido? Ou simplesmente fazê-lo crer naquele momento que ele era mais importante do que a empresa, para depois, quando Mu estivesse curado e estivessem juntos novamente, voltar a colocá-lo em segundo plano?

– Tem certeza de que não quer vê-lo? – A pergunta de Shion interrompeu seus pensamentos.

– Sim. – Mu recolocou as flores no lugar, e voltou para a cama. – Ainda não sei o que pensar a respeito de tudo isso, Shion... E não quero ficar nervoso tentando resolver esse impasse agora. Amanhã tudo isso acaba e então eu posso voltar para a minha vida normal. Se Shaka vai ou não fazer parte dessa nova fase, ainda não defini...

– Mas talvez você se sinta mais tranqüilo se resolver as coisas com ele agora, Mu... – Shion ainda tentou convencer o primo, pois no fundo, sabia como o amor que ele tinha pelo loiro era profundo e só estava sendo ofuscado pela situação complicada que acometia o marchand. – Ele disse que não vai embora enquanto não falar com você.

Mu recostou-se sobre o travesseiro e fechou os olhos. – Estou cansado, Shion. Preciso dormir um pouco, amanhã bem cedo o doutor vem me ver... E eu estou com medo.

– Tudo bem. – Shion levantou-se, entendendo que o primo não queria mais falar sobre aquilo e preparando-se para ir embora. – Eu volto amanhã, então, para vê-lo antes de você entrar na sala de cirurgia... – Shion aproximou-se da cama e depositou um beijo leve sobre a testa do homem mais jovem. – Vai dar tudo certo. Você vai ver.

Mu abriu os olhos. – Eu sei. Shion... – O marchand encarou os olhos violeta do primo. – Obrigado. Por tudo.

Shion apertou a mão pálida de Mu entre as suas e sorriu tristemente. – Não precisa agradecer. Faria mais, se pudesse. Tudo que eu quero é vê-lo bem e feliz novamente.

– Obrigado. – Mu voltou a fechar os olhos, e suspirou.

– Então, até amanhã. – Shion recolheu com os braços o que conseguia levar de flores. – Vou pedir para que as enfermeiras venham buscar o resto. – O arquiteto ponderou suas palavras. – Ele vai ficar triste ao me ver sair com elas.

– Não me importa. – A voz de Mu saiu em sussurro quase inaudível.

– Quer mesmo que eu leve todas? Não sei se vão caber no meu carro. – Shion ainda tentou convencer o primo.

Mu demorou a responder. – Deixe este vaso que está próximo à cama, por favor.

Continua

Comentários da autora:

Êêêê, finalmente, capítulo pós-casório! Juro que eu achei que não ia conseguir. Mas sobrou um tempinho, felizmente, porque eu tenho muita vontade de continuar a escrever. Só tenho que conciliar tudo. O que não é fácil.

Agradecimentos, a Madame Verlaine, por ter betado mais um capítulo. E, é claro, a Vera, fonte indiscutível de inspiração para esta fic. E a todas vocês que tem lido e deixado comentários, é claro.

A brincadeira do Mu com o Shion foi plagiada do filme "Miss Simpatia", não sei se alguém vai lembrar... Peço desculpas pelo erro grave de português, mas é que soava mais engraçado do que "beijá-lo".

Eu fiquei com dó dos meus anjinhos nesse capítulo, juro. Mas o próximo é o último, e vocês sabem que sempre tem final feliz para eles nas minhas fics, né? Eu sou uma romântica incurável, mesmo. Mas eu não ligo. Faz bem pra alma.

Beijos.