Título: Diga a ele

Autora: Bélier

Categoria: Romance Yaoi

Retratação: Eu não possuo Saint Seiya/Cavaleiros do Zodíaco. Infelizmente (ou felizmente) eu não os possuo, pois do contrário eles teriam namorado mais do que lutado... De qualquer forma, eles são propriedade de Kurumada, Toei e Bandai.

Resumo: Eles são jovens, bonitos, bem sucedidos e estão apaixonados. Mas palavras não ditas e promessas vãs podem causar dúvidas e mágoas. E se não houver tempo para provar que o amor é verdadeiro?

Capítulo 6

Mu acordou assustado. Olhou ao redor, deparando-se com o quarto escuro. Provavelmente já era tarde, pois ele apenas conseguia ver uma luz muito fraca vinda de debaixo da porta e o silêncio predominava no hospital.

Lembrou-se de ter adormecido logo depois que Shion saíra. Os remédios que estava tomando o deixavam sonolento e ele dificilmente acordava durante a noite. Tentou cochilar novamente, mas depois de dormir a tarde toda, o sono o havia abandonado. Pensou em chamar uma enfermeira e pedir outro remédio, pois a última coisa que ele desejava era passar a madrugada acordado com seus pensamentos o atormentando. Acabou desistindo da idéia, pois era pouco provável que a enfermeira lhe desse medicação fora de hora.

Revirou-se na cama, pensando na vida. Pensou em Shion e em como ele estava sendo como um pai para ele. Jamais imaginara que o primo pudesse ser tão atencioso e preocupado. Sempre o vira como um excelente profissional, bastante seguro e até um pouco arrogante. Agora via como estivera enganado. Se havia alguma coisa boa que restaria desta situação cruel pela qual ele passava, era a amizade verdadeira que reconhecera no primo.

Pensou na operação do dia seguinte. Estava apavorado, só não o demonstrava mais porque estava sob efeito de vários sedativos. Ficou imaginando como seria a operação. Seria realmente simples como o doutor Dohko havia lhe dito? E se algo saísse errado? E se ficasse alguma seqüela? O médico havia lhe afirmado que nenhuma função motora seria afetada, mas... Mas, mas, mas. Mu rolou na cama mais uma vez, atordoado. Acariciou uma mecha de cabelo. Esquecera de perguntar às enfermeiras se iriam lhe raspar a cabeça. Nem se lembrara desse detalhe, mas agora pouco importava. Só queria sair dali bem e retomar a sua vida, cuidar da sua galeria... Era verdade que Shaka adorava seus cabelos, mas ele teria que se conformar e...

O fluxo de pensamentos de Mu parou e ele fitou o teto do quarto. Mesmo sem querer, seus pensamentos o conduziram ao loiro. Desejava mesmo isso? Que Shaka continuasse em sua vida? Caso contrário, porque se importaria se o engenheiro ia ou não vê-lo sem os cabelos que ele tanto amava? Pensou no que sentira ao ver todas aquelas flores lhe sendo entregues. Sabia que fora a forma que Shaka encontrara para lembrar Mu de que ele o amava, mesmo sem poder vê-lo. Lembrou-se do que Shion dissera sobre ele ter ficado no hospital.

Súbito, um pensamento lhe ocorreu. Afundou o rosto no travesseiro, tentando bani-lo da sua mente. Talvez... Talvez se ele fosse só conferir. Ninguém notaria. E a sala ficava bem próxima do seu quarto, ele já havia percebido.

Sabendo que não teria sossego se não fizesse aquilo, Mu levantou-se e calçou os chinelos. Sorte a sua não estar preso ao soro, ainda. Alisou da melhor maneira possível o pijama amarrotado e abriu a porta cuidadosamente. Espiou pelo vão o corredor, constatando que estava deserto.

Avançou devagar pelo ambiente estéril até a porta que separava os quartos da ala de atendimento e a sala de espera. Espiou pela pequena janela de vidro e viu a enfermeira do turno da noite de costas para ele, provavelmente mexendo no computador. Olhou para o outro lado, seus olhos vasculhando, curiosos, os sofás espalhados pela sala.

Não viu nada. Frustrado, percebeu como fora tolo em acreditar que ele estaria ali. Provavelmente fora para casa, ter uma boa noite de descanso, para poder estar bem disposto para trabalhar no dia seguinte.

Já ia voltar para seu quarto, quando notou algumas revistas num sofá próximo a porta. Feliz diante da possibilidade de poder ler alguma coisa para se distrair até ter sono novamente, decidiu arriscar-se a entrar na sala e pegar uma. Tentaria não ser notado, mas se a enfermeira o visse, não ia levar uma reprimenda assim tão grande só por querer uma revista.

Abriu a porta silenciosamente e pé ante pé, foi até o sofá, sem tirar os olhos da enfermeira. Puxou uma delas, a que estava mais perto e virou-se rapidamente para voltar para o corredor, antes que a mulher o visse.

Gelou diante do que avistou. No canto da sala, encostado na parede, um sofá que ele não vira, devido ao ângulo restrito que a janela lhe oferecera.

Shaka dormia. Usava um casaco dobrado sob a cabeça, a título de travesseiro, havia tirado os sapatos, mas o sofá pequeno o deixava numa posição desconfortável. Os cabelos loiros, presos num rabo de cavalo baixo, estavam um pouco desarrumados, e a camisa pólo, por fora da calça jeans, denotava o pouco caso com que o engenheiro havia se vestido, logo ele, que era tão cuidadoso com a aparência. Mesmo assim, Shaka estava lindo.

Mu forçou-se a caminhar até ele, uma vez que suas pernas, trêmulas, pareciam não querer obedecer. Ajoelhou-se próximo do sofá, fitando o rosto bonito. Reparou nas olheiras fundas e sentiu remorso por não ter aceitado vê-lo. Talvez devesse ter ouvido o que ele tinha a lhe dizer, antes da cirurgia. Talvez aliviasse sua alma e seu coração, e os de Shaka também.

Levou uma das mãos até a face alva e escovou-a com a ponta dos dedos, numa carícia quase imperceptível. Shaka remexeu-se, mas não acordou. Mu retirou a mão rapidamente.

O loiro respirou fundo e virou-se, deitando-se de lado no sofá. – Mu... – Shaka sussurrou, sua voz rouca.

Mu apenas observou o namorado. Como poderia deixá-lo ir? Amava-o tanto... Mas quanto agüentaria sofrer, se ele voltasse a demonstrar novamente indiferença no relacionamento?

Assustou-se quando uma mão pousou em seu ombro. Olhou por cima do ombro, deparando-se com a enfermeira, que levou o dedo aos lábios, indicando silêncio. Mu levantou-se e acompanhou-a até o corredor. Ao contrário do que esperava, a mulher não ralhou com ele.

– Ele está cansado. – A enfermeira comentou. – Ficou aqui ontem a noite toda e também durante à tarde de hoje. Dormiu não faz muito tempo. Foi ele quem lhe enviou todas aquelas flores?

Mu balançou a cabeça, assentindo, incapaz de falar.

A mulher riu. – Mas que mentiroso! Pedimos a ele que as levasse embora, mas disse que não havia sido ele quem as havia enviado. Apesar de termos certeza, não tínhamos como provar, então... – A enfermeira acompanhou Mu até a porta do quarto. – Nunca vi flores tão belas! Ele deve gostar muito de você... Ele ficou muito chateado quando seu primo as levou embora.

– Imagino... que sim... – Mu conseguiu finalmente dizer. – Ouça... a senhora fica até amanhã cedo?

– Sim.

– Pode me fazer um favor? Pode dizer a ele que preciso muito vê-lo?

A mulher olhou-o, compadecida. – Mas não é amanhã a sua cirurgia?

– É sim, mas eu... é importante.

– Vou fazer o possível.

-x-

Mu observou o relógio na parede. Dez horas. Daqui a exatas quatro horas, seria levado dali para a sala de cirurgia. Já havia recebido a visita de Dohko, que havia conversado bastante com ele, lhe explicando todos os procedimentos necessários para extirpar o cisto. Dohko era muito eloqüente, passava muita confiança, o que deixou Mu bem mais tranqüilo. Agora era só aguardar. Mas os minutos lhe pareciam intermináveis.

Seus olhos voltaram-se então para o único ramalhete de lírios azuis que não fora levado por Shion. As flores o faziam lembrar-se da cena que vira na noite anterior e pareciam dizer-lhe "eu te amo", a cada olhar que Mu lhes lançava.

Mu aguardava ansioso a visita do loiro, pois a enfermeira viera até o quarto de manhãzinha e lhe confidenciara que dera o recado a Shaka.

Mas até agora ele não havia aparecido. E esse simples fato já o estava deixando irritado. Estaria ele o negligenciando, novamente? Ou talvez Shaka estivesse querendo puni-lo pelo fato de ter se recusado a vê-lo até aquele momento. Talvez ele tivesse ido embora. Se ainda estava no hospital, porque não vinha?

Mu estava absorto em seus pensamentos, quando ouviu uma leve batida na porta.

– Entre.

Viu finalmente Shaka entrar no quarto, mas ficou extremamente aborrecido ao ver que o loiro havia trocado de roupa. Mu não sabia explicar o por quê, mas o simples fato de ver o engenheiro vestido em seus ternos formais de trabalho o irritou.

– Mu... – Shaka caminhou até ele, sentando-se na cadeira em frente à cama. – Que bom que aceitou ver-me. Sinto muito se demorei, mas eu precisava ir até o escritório antes de falar com você...

Mu olhou o engenheiro de alto abaixo, uma expressão indignada em seu rosto. – Estou vendo que mudou de roupa... – Shaka havia trocado as roupas informais e amarrotadas com que Mu o encontrara a noite e vestia agora um terno preto muito bem cortado. A gravata cinza sobre a camisa impecavelmente branca completava a sobriedade do traje.

Era bem verdade que ele estava belíssimo e muito elegante, os cabelos loiros bem arrumados brilhavam em contraste com o paletó escuro. Mas Mu ainda o preferia com a roupa anterior. Era como se, naquele momento em que o encontrara, deitado no sofá, ele estivesse com sua guarda totalmente baixa. Agora, vestido naquele terno de empresário bem sucedido, Shaka colocava novamente uma barreira intransponível entre eles.

Shaka olhou para si mesmo, tentando avaliar o que Mu estava achando de errado na roupa, mas decidiu não tocar no assunto. – Eu gostaria de ter vindo antes, mas... Tive que passar no escritório para assinar alguns contratos importantes que não podiam mais ser adiados... E também precisava pegar algo.

– E vai daqui direto para a empresa novamente, Shaka? – O olhar de Mu recaiu sobre o canudo longo que o engenheiro havia colocado sobre a mesa de cabeceira. Mu sabia que Shaka os usava para carregar seus projetos.

– Como? – Shaka perguntou, sem entender. – Não, eu não vou sair daqui até que a sua operação tenha terminado. Seu médico me disse que deve durar em torno de três horas... Por volta das cinco você já vai estar fora da mesa de cirurgia.

– Mas vou estar na U.T.I., não adianta você esperar. – Mesmo diante da confirmação de Shaka de que ia ficar no hospital durante a cirurgia, Mu ainda estava magoado. Começou a achar que fora um erro querer conversar com o loiro.

– Mas eu vou ficar. – Shaka levantou e sentou-se na cama, ficando frente a frente com o marchand. – Não adianta me mandar embora. Fiquei aqui todos esses dias e não vou embora até que você acorde e eu possa ver que você está bem. – O engenheiro segurou a mão delicada do namorado entre as suas. - Mu... Me perdoe, por favor.

– Não sei se posso, Shaka. – Mu retirou sua mão das do loiro. – Ainda estou magoado com você, não me obrigue a resolver isso agora. Podemos conversar... Depois.

Shaka suspirou, triste. – Tudo bem. Podemos deixar para resolver isso depois, mas eu lhe trouxe um presente e gostaria pelo menos que você o aceitasse.

Mu virou o rosto para que Shaka não visse suas lágrimas. – Não quero presente algum. Por favor, me deixe em paz...

– Não vou sair daqui sem lhe entregar isto... – O engenheiro estendeu uma caixinha de tamanho médio ao ariano, que a olhou de soslaio, mas logo desviou novamente os olhos.

– Se o seu problema é entregar-me o presente, pode deixar aí, depois eu abro. – Mu cruzou os braços e apoiou a cabeça nos travesseiros fofos.

– Mu, não seja orgulhoso! – Shaka sentou-se mais próximo ao homem que amava. – Quero que abra... Antes da cirurgia. É importante para mim!

Mu fitou a parede, tentando fugir dos olhos azuis que o encaravam. – Tem medo que eu morra durante a cirurgia? Por isso acha tão importante me agradar? Para que depois não sinta remorsos?

Shaka afastou o corpo, incrédulo com as palavras duras do rapaz delicado. Respirou fundo, sabendo que merecia toda aquela amargura. Mas sabia que Mu não era assim, conhecia-o bem demais. – Não acredito que realmente pense isso de mim, depois de tanto tempo ao meu lado.

Mu mordeu o lábio inferior, aborrecido. Sim, era verdade, ele havia dito aquilo apenas para magoar Shaka. Sabia que o loiro jamais faria algo apenas por piedade, mas... Era tão difícil acreditar nele!

– Por favor, Mu... – Shaka voltou a estender a caixinha na direção do marchand. – Abra. Se não gostar, não precisa aceitar...

Mu pegou a caixinha de veludo com cuidado. Rodou-a, indeciso. Sabia muito bem o que estava ali. Era uma forma do outro se redimir por tê-lo deixado sozinho tantas vezes. Firmando com ele um compromisso. Mas quem lhe garantiria que o engenheiro não estaria fazendo aquilo apenas por pena dele, por ele estar doente, prestes a realizar uma cirurgia delicada? E se depois de tudo, Shaka mudasse de idéia e resolvesse que não era isso o que ele queria? Talvez fosse apenas uma forma de reconfortá-lo.

– Não posso. – Mu baixou a caixinha até pousá-la em seu colo. – Não vou aceitar a sua piedade!

Shaka moveu-se na cama, sentando-se atrás do companheiro. Com muito cuidado, envolveu os ombros esbeltos com seus braços, suas mãos tocando as dele com carinho. Mu estremeceu ao contado. Baixou seus olhos e fitou as mãos do loiro que cobriam as suas com delicadeza.

– Eu ajudo você... – Shaka sussurrou, seus lábios próximos à face de Mu, sua respiração quente provocando arrepios no marchand. – Por favor, abra...

Mu engoliu em seco e finalmente abriu a caixa, ajudado por Shaka. O que viu lá o surpreendeu. Definitivamente não era o que ele esperava!

– O quê...? – Mu segurou as chaves entre os dedos longos e rodou-as, o barulho ecoando pelo quarto silencioso.

– São cópias das chaves do meu apartamento. – Shaka acariciou os pulsos do companheiro. – Quero que venha morar comigo.

– Ora, eu... – Mu fechou a mão com firmeza, apertando a chave. Irritou-se novamente com o gesto do loiro. – Não! Não aceito! Você sabia como isso era importante para mim! Por que só agora? Só porque estou doente? – Mu voltou a chave dentro da caixinha, magoado. - Porque não me deu atenção quando eu precisei, Shaka?

Para sua surpresa, o engenheiro riu. – Eu sabia que você não ia gostar! Mas entenda, esse presente é provisório, até que o definitivo esteja pronto, Mu...

Shaka estendeu a mão, pegando o canudo que descansava na mesa de cabeceira, ao lado dos lírios azuis. – Isto é o que eu realmente queria lhe dar, meu amor.

Mu viu, boquiaberto, o loiro retirar de dentro do canudo vários papéis. Ainda envolvendo-o num abraço, abriu um deles, estendendo-o sobre o colo do marchand.

– Uma planta... – Mu deslizou os dedos pelo papel vegetal. Seus olhos verdes se arregalaram com a constatação. – Uma casa!

– Sim... – Shaka abraçou Mu mais forte, enquanto este observava melhor o papel. – Gosta?

– É... – Mu observou a planta, maravilhado. Era uma verdadeira mansão! Shaka havia até mesmo colocado um amplo cômodo onde havia anotado "ateliê".– É perfeita!

– Fiz pensando em você... – Shaka afastou uma mecha do cabelo violeta e beijou o pescoço do namorado com carinho.

– Mas... – Mu sentiu os olhos se encherem de lágrimas. – Por que não... Antes? Por quê, Shaka?

Shaka separou outro papel e mostrou-o à Mu. – Eu pretendia lhe mostrar naquele dia, mas... – Shaka suspirou. – Acho que o destino não quis que assim fosse.

Mu observou o papel. Era a escritura de um terreno enorme, num bairro residencial de Tokyo. Shaka apontou para a data. Mu limpou as lágrimas que agora escorriam por seu rosto com as costas da mão. Ele havia comprado o terreno naquele sábado! A escritura trazia a data de quarta-feira, mas na data da venda constava o sábado.

Como fora tolo! Shaka havia saído àquela manhã para acertar tudo... Provavelmente o loiro ia lhe entregar aquilo à noite, no restaurante!

– Shaka... – Mu virou o rosto, seus olhos verdes fitando os azuis com carinho. Como fora tolo! Deveria ter confiado mais no companheiro que tinha. – Pode me perdoar por ter sido tão orgulhoso?

– Só se você me perdoar por não ter visto que você era parte da minha vida desde que nos conhecemos... – Shaka uniu seus lábios ao do namorado, reivindicando um beijo com o qual vinha sonhando durante todos aqueles dias.

Mu correspondeu, suas mãos deixando os papéis para segurarem o rosto do loiro com delicadeza.

Ouviram batidas na porta. Era Shion, acompanhado de uma enfermeira.

– Mu... Está na hora. – Shion não pôde deixar de notar as lágrimas nos olhos de Shaka, quando este se voltou brevemente para olhá-lo.

– Já? – Mu perguntou, ansioso.

– Sim, Dohko decidiu antecipar a cirurgia. A enfermeira vai prepará-lo, agora.

O marchand inspirou fundo. - Tudo bem. – Mu limpou uma lágrima do rosto de Shaka com o polegar e o loiro abraçou-o com força, aninhando seu rosto entre os cabelos longos.

– Eu te amo. – O loiro sussurrou. – Vou estar aqui, te esperando, para voltarmos juntos para casa. Por favor... Volte para mim.

Mu acariciou os cabelos loiros com carinho. – Eu vou voltar. Pode ter certeza.

-x-

(Três meses depois)

– E então? O que acha? – Os dois homens caminhavam de mãos dadas pelo terreno em obras.

– Eu... – Mu deu de ombros, sem graça, observando as paredes recém construídas que se estendiam diante dele. – Você sabe que eu não entendo nada disso! O engenheiro aqui é você! – Mu voltou o rosto para encarar Shaka, e sorriu alegremente. – Mas está enorme!

Shaka observou a mansão com olhos de profissional. – No ritmo em que as obras estão, logo ela estará erguida. – O loiro analisou. – Depois disso, vou deixá-la nas suas mãos para supervisionar o acabamento, certo?

Mas piscou diante da notícia. – Mas Shaka, eu...

Shaka virou-se para ele e pousou o indicador sobre os lábios macios do namorado. – Sem mas! Tenho certeza de que você vai fazê-lo com competência. Afinal, a casa é sua também, confio no seu bom gosto.

Os olhos verdes fitaram os azuis com dúvida. – E se você não gostar?

Shaka sorriu. – Você não colocando uma enorme estátua de Buda no meio da sala de visitas para mim já é o suficiente!

Mu tentou parecer indignado. – Não sou tão excêntrico assim!

Shaka abraçou o marchand e fitou o rosto bonito com ternura. Suas mãos percorreram as mechas lilases, que Mu havia cortado na altura dos ombros, após a cirurgia. Sem que ele pudesse evitar, seus dedos viajaram até a falha no cabelo, que o namorado habilmente escondia.

– Que bom que está aqui... – Shaka acariciou os cabelos curtos que nasciam ao redor da cicatriz. Logo estariam longos novamente, e não seria mais possível ver a marca da cirurgia.

Mu envolveu a cintura do namorado, e descansou a cabeça em seu peito. Sabia a que ele se referia. Havia sido muito duro para ele passar por aquela situação, mas agora sabia que para Shaka foi mais difícil ainda. Felizmente, tudo dera certo.

– Vamos embora? – Shaka acariciou as costas do amante. – Que acha de um jantar a luz de velas?

– Hum... – Mu escondeu o rosto entre os cabelos loiros do engenheiro. – Você cozinha?

– Cozinho! – Shaka riu da manha do marchand.

- Eu escolho o vinho. – Mu encarou Shaka e sorriu feliz.

– Ótimo. – Shaka deu a mão novamente ao namorado, e foram na direção da BMW do engenheiro. – Ah, a propósito... – Ao chegar ao carro, Shaka abriu a porta traseira, mostrando uma caixa grande no banco do carro. – Eu quase ia me esquecendo de lhe entregar isto...

Mu olhou o pacote embrulhado, curioso. – O que é?

– Eu comprei faz alguns meses. Considere a primeira peça de decoração da casa...

– Achei que ia me deixar decorá-la! – Mu riu, enquanto rasgava o papel.

Shaka sorriu ao ver o marchand retirar a estatueta de Shiva de dentro da caixa.

Mu olhou boquiaberto para o loiro. – Me disseram que ela havia sido vendida, mas não quem havia comprado! Como sabia?

– Que era sua? – Shaka tocou a estatueta, seu dedo contornando os detalhes feitos com esmero. – Como se eu não o conhecesse, Mu. Tudo que você faz tem um pouco de você, da sua delicadeza, da sua alegria... – Shaka deu de ombros. – Foi fácil!

Mu deu seu sorriso mais encantador a Shaka. – Obrigado. Por me fazer feliz.

Shaka tomou a peça das mãos do marchand, voltando-a para a caixa e fechando a porta do carro. Em seguida, abraçou o namorado. O engenheiro pensou na vida sem graça que tinha, antes que Mu cruzasse seu caminho. Infelizmente, precisara quase perdê-lo, para perceber que o amor dele era o bem mais precioso que possuía. E ia fazer o que estivesse ao seu alcance para cultivar esse sentimento.

– Não, Mu... Você me faz feliz.

Fim

Comentários da autora:

Bem, pessoal, acabou! Acho que muita gente se surpreendeu ao ver que era o último capítulo... É que eu realmente não tinha mais como levar a história adiante... Apesar de achar que ela poderia render mais um capítulo, achei por bem encerrar aqui a correr o risco de não terminá-la...

A piada do Buda no meio da sala também foi daquelas impossíveis de resistir... Logo o Shaka boicotar a estátua! Assim como Tell him (Barbra Streisand e Celine Dion) foi a abertura da fic, o encerramento ficaria a cargo de If walls could talk (Celine Dion). É uma música linda, e combina bem com este último capítulo. Sugiro, quem tiver, ouvi-la. Infelizmente, não posso por a letra...

Sendo repetitiva, eu sei, mais uma vez agradeço a Verlaine e a Vera pela ajuda!

Espero que vocês tenham gostado da fic! Agradeço muitíssimo a todas que deixaram tantas e tão preciosas reviews... Foram muito importantes, nessa fase de transição, pois me mantiveram ligada no que eu estava fazendo, e disposta a não abandonar a história. Peço desculpas pela falta de tempo para responder a todas vocês.

Mil beijos, e até a próxima!