Capítulo 6 – Encontrões
A manhã seguinte à noite de queijos e vinhos foi agradável. Harry apareceu para seu tratamento e Derrick informou que o Mestre de Poções acordara de bom humor. Era verdade: durante a sessão, ele sorriu e fez piadinhas sarcásticas. Desde que tinha brigado com Remus, aquela era a primeira vez que Harry o via tão relaxado.
Ao deixar a salinha dos fundos, Harry estava até com um passo mais ligeiro, não obstante a bengala. Talvez ele saísse dali direto para uma florista.
Mas antes mesmo de chegar à saída, esses pensamentos fugiram de sua cabeça. É que pela porta da botica acabava de entrar Draco Malfoy. Ele usava elegantes vestes de um verde muito escuro, de um padrão intrincado, entremeado com bordados em prata. Um autêntico Slytherin, completo com um chapéu de feltro.
Severus estancou, a cor fugindo de seu rosto. Harry também se deteve.
– Draco!... – Harry deixou escapar.
O novo chefe do clã Malfoy olhou para ele de cima a baixo, como se encarasse algo de procedência duvidosa e indagou:
– Desculpe, mas por acaso eu conheço você?
Harry logo incorporou o papel de James Harris, o cliente que Severus atendia todas as manhãs. Adiantou-se, trocando a bengala de mão e estendendo o braço:
– James Harris, Malfoy, não se lembra de mim? Hufflepuff, turma de 2002.
– Hum – O olho clínico continuou medindo Harry de cima a baixo, os traços de Narcissa Malfoy cada vez mais presentes. – Na verdade não me lembro. Mas Hufflepuffs são todos parecidos, então não deveria ser surpresa não me recordar de você.
– Ao contrário dos Malfoy – alfinetou Harry. – São fáceis de aparecer na multidão.
Olhos cinza fuzilaram Harry:
– Se me der licença, meu assunto é com o Mestre de Poções.
Severus garantiu:
– Se for um assunto profissional, Sr. Malfoy, meu aprendiz Derrick poderá lhe dar toda a atenção. Se for um assunto de outra natureza, lamento, mas não temos nada a discutir. Com sua licença, tenho uma poção que precisa de meus cuidados. – Virou-se para Harry. – Cuide-se, Sr. Harris, e me avise se sentir qualquer coisa inesperada.
Ia se virar para entrar na botica, quando Malfoy ergueu a voz:
– Alto aí, Severus. Temos que resolver a nossa... er, pendência.
– Como já indiquei antes – Severus respondeu, no seu tom mais perigoso –, não temos pendências a resolver. Esta pendência em particular decidiu se converter em seu assunto pessoal, Sr. Malfoy. Como tal, deixo-o à vontade para resolver seus assuntos pessoais como melhor lhe aprouver, pois eles não me dizem respeito. Derrick ficará encantado em ajudá-lo no que mais precisar. Tenha um bom dia.
Sem mais dizer, Severus deu-lhe as costas e se retirou para o interior da botica, deixando atrás de si um Draco Malfoy vermelho de indignação e um Harry Potter que mal podia esconder um sorriso, pensando em aumentar a encomenda na florista.
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O tratamento no dia seguinte não foi tão agradável quanto o do dia anterior. Severus, notou Harry, obviamente tinha ficado tenso com a visita de Draco Malfoy. Para falar a verdade, Harry também se sentia um tanto apreensivo. Severus não dera a Draco muita chance de se explicar, mas Harry ficara com a clara impressão de que o herdeiro dos Malfoy queria se livrar de Remus e devolvê-lo a Severus.
De qualquer modo, Harry seguiu adiante e aceitou o conselho de Severus para mandar flores a seu pretendente.
Após o tratamento com a poção curativa de Severus, Harry colocava a blusa quando Derrick bateu à porta, agitado:
– Mestre Severus! Mestre Severus!
– Preciso lembrá-lo para não me incomodar quando estou com o Sr. Harris, Derrick?
– Desculpe, Mestre, mas acaba de chegar uma encomenda para o senhor. O rapaz está aguardando há algum tempo, mas agora me disse que não poderia esperar mais.
– Encomenda? Perecível?
– Flores, senhor.
Severus olhou para Harry:
– Flores?
Disfarçado de Sr. Harris, o Garoto-Que-Sobreviveu deu de ombros e sugeriu:
– Por que não vai ver quem mandou, Severus?
Foi o que ele fez. Harry agarrou sua bengala e correu para ver também, com um excitado Derrick a seu lado. Severus estava de costas para Harry quando o entregador sorriu e lhe passou a encomenda. Harry não viu o arranjo, só o entregador agradecendo e indo embora.
Ele se surpreendeu quando Severus se virou, os olhos pretos presos no arranjo de pequenas flores azuis. Derrick o cercou, parecendo mais animado do que Pigwidgeon numa overdose de açúcar, indagando:
– Flores para o senhor, Mestre?
– É o que parece, Derrick. – Ele pegou o cartão e empalideceu.
– Alguém que eu conheça?
– Claro que sim, seu mentecapto. São do Sr. Lupin. Ele mandou apenas um cartão assinado. É o costume em se tratando de mensagens com flores.
– Que flores são essas?
– Miosótis.
– E o que elas querem dizer?
Harry prestou bem atenção. Severus colocou sua máscara mais impassível e respondeu, em uma voz neutra:
– Querem dizer "não me esqueça" ou "amor verdadeiro".
De repente, Harry pegou a bengala, dizendo:
– Er, desculpe, Severus, mas acabo de me lembrar de um compromisso urgente. Talvez possamos conversar amanhã sobre isso, está bem?
Severus parecia distraído, encarando as flores, e sequer olhou para Harry, para responder, absorto:
– Claro. Tenha um bom dia.
Harry saiu de lá, apressado, já sabendo que não seria um bom dia.
