Capítulo 7 – A hora da poção
Harry se sentia pesado e desanimado na manhã seguinte. O joelho latejava, as costas pareciam querer se vergar de tanta dor e ele adoraria ter ficado em casa. Mas a poção de Severus realmente ajudava muito, então ele se forçou a deixar Grimmauld Place e ir até Diagon Alley.
Sua disposição deveria estar refletida em sua aparência, porque assim que chegou à botica, cumprimentou Derrick e ia fazer o mesmo com Severus quando recebeu um olhar atravessado:
– Sr. Harris, o que o senhor andou fazendo ontem?
O tom dele foi tão grave que Harry sentiu um peso no estômago:
– Nada, eu...
– Inaceitável. Alguma coisa tem que ter feito para ficar nesse estado!
Harry começou a ficar alarmado. Derrick, por sua vez, parecia querer cavar um buraco no chão, de tão apavorado. Severus, porém, não deu tempo para que reagisse, dizendo:
– Nem se incomode em entrar. Quero que venha direto ao meu apartamento.
– Ao seu...?
– Vou ter que fazer seu tratamento a partir do meu laboratório particular, e vai ser demorado. Espero que não tenha mais nenhum compromisso essa manhã.
– Mas – Harry estava de olhos arregalados, genuinamente alarmado. – É tão ruim assim?
– Não faz idéia, não é, Sr. Harris? Rápido, não temos tempo a perder. Pode usar minha entrada privativa. Ou prefere usar o Floo até lá em cima?
– Floo será ótimo – garantiu.
– Ótimo. Então mexa-se! – rosnou Severus, virando-se para seu assustado aprendiz. – Derrick, desta vez é sério. Não quero ser interrompido por motivo algum, mesmo que Merlin redivivo peça a minha presença. A vida do Sr. Harris e a sua própria estão em suas mãos.
Os dois deixaram a botica, e o aprendiz suspirou nervosamente, só então percebendo que tinha prendido a respiração esse tempo todo. Ele nunca vira o mestre tão agitado.
o0o o0o o0o o0o o0o
– Muito bem, Potter. Pode falar o que você andou aprontando.
Harry se sentia como se tivesse novamente 12 anos, quando Severus era o flagelo de sua existência.
– Nada, Severus, eu juro!
– Andou sem bengala ontem de novo?
– Não, claro que não.
– Prefere que eu use Legilimência ou vai me falar espontaneamente por que está nesse estado?
Intimidado, Harry colocou a bengala de lado e respondeu:
– Aconteceu uma coisa ontem que me chateou muito e acho que fiquei meio tenso. Só pode ser isso.
– Hum, entendo. Mas precisamos trabalhar rápido. Tire a blusa e deite-se em minha cama. Acho que vou ter que passar outra coisa em você hoje.
Harry obedeceu, ainda sem saber o que tinha feito para irritar Severus tanto. Provavelmente ele estava com os músculos tensos e Severus sabia o que isso podia indicar em termos de dor, daí sua irritação.
– Diga-me, Potter, você confia em mim?
O rapaz o encarou e piscou os olhos verdes:
– Claro, Severus. Pensei que já soubesse disso.
– Então não tem motivo para me esconder nada.
– Claro.
Severus apresentou um frasco maior do que os que costumava usar.
– Esse bálsamo é meramente analgésico, mas é bastante eficaz. Pode deixar seu corpo um pouco relaxado também. Vou passar em suas costas, mas aconselho igualmente uma massagem no joelho e região. Poderia retirar a calça também?
– Está bem.
Ao ver que Harry fazia caretas ao se movimentar, o Mestre de Poções indagou:
– Está doendo bastante, não é?
– Um pouco.
– Prefere tomar uma poção Tira-Dor também?
– Acho que não vai ser necessário.
Severus ergueu uma sobrancelha:
– Disse que confiava em mim.
O rapaz suspirou e tomou a tal poção. Severus então o deitou de bruços e passou a massagear as costas com especial cuidado, e Harry sentiu-se relaxar. Mais que isso, havia uma sensação de alívio em seus músculos e a dor era apenas uma lembrança em seu corpo.
Ele suspirou alto, e Severus comentou, os dedos passeando pelos ombros:
– Melhor?
– Muito, obrigado.
– Ótimo. Deixe-me cuidar desse joelho agora. Não precisa se sentar, mas vire-se de frente.
Harry obedeceu e só então se deu conta de que estava no quarto de Severus, na cama dele, apenas de cuecas. Imediatamente desviou esse pensamento, ou ficaria tenso de novo. Olhou um pouco em volta, vendo a decoração esparsa, os livros em grande quantidade.
O fato de Harry ter sido admitido no quarto de Severus era uma declaração da confiança que ele tinha no seu antigo aluno. Aquilo aqueceu o coração de Harry.
Severus interrompeu seus pensamentos:
– E o joelho, ainda dói?
Harry fez alguns movimentos com ele, testando, antes de responder:
– Não, está bem melhor, obrigado.
– Excelente. Preciso que ele esteja em perfeitas condições.
– Como assim?
– Tenho uma pergunta séria a lhe fazer, Potter.
– Séria?
– Sobre sua saúde. Você disse que confiava em mim, mas tudo indica que tenha tomado uma de suas atitudes irresponsáveis típicas de Gryffindor sem falar comigo.
– Severus, eu não sei do que está fal...
– Ontem à tarde, eu fui à casa de flores de onde veio o arranjo de miosótis que Lupin me mandou.
– Por que ... – Harry interrompeu-se, uma explicação brotando em seus lábios. – Ah. Queria ver se eles tinham algum endereço dele, é isso?
– Não. Queria me certificar de que não mais aceitassem encomendas desse indivíduo a serem entregues no meu endereço. Dei a entender, sem sombra de dúvidas, que jogaria um feitiço de impotência sobre o entregador e qualquer outro membro da loja, se meu pedido não fosse atendido.
Harry arregalou os olhos, mas Severus continuou, ainda massageando o joelho:
– Aparentemente minha mensagem surtiu o efeito desejado, porque o dono da loja quis saber se meu pedido de não-entrega incluía uma encomenda cancelada naquele mesmo dia para o meu endereço. Ele foi gentil o suficiente para me mostrar a tulipa vermelha que seria entregue em minha casa também naquela manhã, exceto que, neste caso, o cliente é quem tinha pedido para cancelar. E não era a mesma pessoa que encomendara os miosótis.
Harry não pôde evitar enrubescer, o joelho tremendo um pouco sob as mãos quentes e precisas de Severus. O toque dele mudou, ele simplesmente começou a subir para a coxa de Harry, sem massagear, só... acariciando. Harry arregalou os olhos, sentindo outra sensação percorrendo seu corpo.
– Por isso eu lhe pergunto de novo, Potter: você confia em mim? Ou não confia nem que uma flor possa dizer o que você não consegue?
A boca de Harry simplesmente secou e ele não conseguia articular uma palavra. Não com Severus de repente abaixando a voz sensualmente e o encarando com olhos que pareciam carvão em brasa, enquanto interrompia a massagem, engatinhando sobre seu corpo:
– Ou não confia que eu possa achar a mensagem de suas flores extremamente... atraente?
O sangue de Harry parecia ter fugido de todas as outras partes de seu corpo para se concentrar no baixo ventre, provocando uma reação inequívoca. Severus continuava a se aproximar, agora com seu rosto bem próximo ao de Harry, sua respiração bafejando suavemente nas faces do atônito rapaz, os olhos negros brilhando intensamente, o corpo todo a irradiar calor e sensualidade. Harry não parecia ser capaz de puxar ar, o coração acelerado, a respiração irregular.
E a voz sensual soou mais uma vez, ainda mais baixa e melíflua:
– E eu aceito sua oferta.
Harry estava de olhos arregalados quando Severus lentamente aproximou-se e fez seus lábios se tocarem. Apenas isso, só se tocarem. O sangue rugia nos ouvidos de Harry, de tão rápido que seu coração batia, e ele estremecia levemente, sem saber se era devido à excitação de ter Severus tão perto ou medo por ter tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Tantas coisas importantes. Tantas coisas inesperadas.
O beijo foi apenas isso, um toque, suave mas determinado. Severus queria dar a Harry todo espaço para recuar, se quisesse. Naquele momento, ele não tinha intenções de nada mais profundo. Só queria se aproximar, só desejava assegurar que não tinha interpretado errado o rapaz.
Harry, contudo, estava agitado com tudo aquilo. Ele precisava processar melhor aquele momento, então ele desencostou seus lábios dos do homem que estava em cima de seu corpo, a voz rouca e trêmula.
– S-Severus...
– Sim, Potter...?
– O que... O que você está... propondo?
– O que você quiser. Como quiser. Usei essas poções e bálsamos para preparar tudo. Seu corpo pode agüentar qualquer atividade que pretenda praticar nos próximos minutos... Mas não há nenhuma obrigação. Não quero deixá-lo desconfortável.
– Ótimo, porque eu gostaria de... de... conversar... um pouco... se assim estiver bom para você.
– Então primeiro me diga: eu interpretei alguma coisa de maneira errada?
– Er... Ah... Não.
– Excelente. Se é conversar que quer, então vamos conversar.
