(IN)FELIZMENTE PRIMOS
Fanfic por A. Mira Black
"Só é universal quem fala do seu quintal." - Tom Jobim
Capitulo I - MLGAs gotas caiam pesadas na frágil madeira do teto. O barulho forte acusava que se a estrutura fosse de uma casa de árvore comum não estaria inteira diante daquela tempestade.
Mas a MLG, como denunciava a placa de madeira trabalhada na frente da pequena porta, não era uma casa da árvore trouxa e certamente não seria aqueles meros raios, ventos e trovões que a derrubariam dos ganhos do imponente salgueiro centenário no qual se localizava a umas boas décadas já.
MLG era a casa da árvore do quintal da casa do Largo Grimmald nº12, a sigla era a abreviação de Mini Largo Grimmald, isso porque apesar da aparência decadente que tinha (mais parecida com um barraco de madeira) do lado de fora, por dentro era a miniatura exata da sala de estar da antiga casa da família Black. Em uma das paredes havia até a replica da tapeçaria que ressaltava toda a linhagem familiar, para que as crianças Black sempre soubessem a sua procedência.
A chuva que caia pesada parecia tentar derrubar a pequena construção, mas não havia como, a MLG já passara por coisas piores, embora um dos garotos que acabara de entrar na casa não tivesse tanta certeza disso.
-Da pra parar de tremer?
-Não to tremendo. – reclamou o garotinho mirrado de voz fina, tirando a franja molhada do rosto e estufando o peito. Mas o susto que tomara com o barulho de um novo trovão acabou com sua encenação que fazia.
O outro rio.
-Medroso... É só uma chuvinha tola Regulo.
Ele olhou para si mesmo irritado. Ele e o irmão estavam literalmente dois pingos de água, também pudera, depois de passar no meio daquela tempestade não havia como ser diferente.
Não sabia por que estava ali, alias, não sabia por que SEMPRE seguia Sirius naqueles planos mirabolantes... Bom, na verdade ele sabia... E muito bem.
Só tinha uma coisa que o fazia se unir ao irmão de nove anos. Não era exatamente uma coisa, eram 3. O trio de primas insuportáveis.
-Chuvinha tola? – o pequeno, de sete anos bufou em resposta – O mundo parece que tá desabando lá fora, isso sim...
-Shiiii! – fez o mais auto, tapando sua boca antes que ele a abrisse para reclamar de novo. Com um puxão forte Sirius o empurrou para baixo de um dos sofás entrando no esconderijo logo após ele e, antes que a porta da MLG se abrisse de novo, completou – Eu disse que elas vinham, não disse...
Regulo tinha que admitir que Sirius geralmente estava certo, principalmente no que dizia respeito às primas.
Eles tinham seus motivos para odiá-las, pelo menos na concepção do jovem garotinho. Bellatrix, a mais velha dentre eles, era uma garota convencida e alta, que já começava a dar sinais da sua entrada na puberdade e não cansava de lembrar-lhes o quanto os dois eram insignificantes, incapazes e desprezíveis. Sirius em especial, já que os dois disputavam a "liderança" da ala mais nova da família.
Andrômeda, a do meio, até podia ser considerada simpática, algo incomum entre eles, mas o dom que a garota tinha de derrubar alguma coisa nele em toda e qualquer ocasião fazia com que Regulo perdesse toda a vontade de se esforçar em gostar um pouco da prima. A garota era um desastre ambulante, por Merlin!
E, para completar, Narcisa. A caçulinha mimada e, como o nome mesmo denunciava, convencida, no auge de seus míseros 6 anos ela conseguia achar que o mundo girava ao redor do próprio umbigo e, pior, o resto dos familiares pareciam estar sempre prontos a ajuda-la nessa concepção.
Por tudo isso, sempre que Sirius colava do seu lado e dizia a senha "insuportáveis", não era preciso falar mais nada, Regulo o seguia no mesmo instante pronto a participar de qualquer coisa causasse algum mal a qualquer uma das garotas.
Foi assim que fora parar ali, em baixo do sofá da MLG, vendo de forma restrita as três primas entrarem no recinto.
-Lumus! – disse a jovem de cabelos negros cortados na altura das orelhas enquanto empunhava sua varinha.
Bellatrix era muito nova para ter uma varinha, na verdade ela só deveria ganhar uma no ano seguinte, quando finalmente receberia uma coruja dizendo que estava matriculada em algum dos melhores colégio do país. Mas ela ganhara o presente do padrinho no último aniversário... O pai deles.
A luz iluminou um pouco o recinto.
-Bom, pelo visto eles não estão aqui. – disse ela acendendo as velas dos castiçais com outro movimento do pequeno pedaço de madeira e iluminando por completo a grande sala.
-Acho isso tão estranho, Bella... Eles não estavam em nenhum lugar da casa e... – a jovem Andrômeda engoliu o resto da frase quando tropeçou em uma pequena dobra do tapete, caindo pesadamente sobre o sofá em que Sirius e Régulos se escondiam.
-Devem estar roubando doces na cozinha... – disse Bellatrix enquanto sentava ao lado da irmã – Sabe como são aqueles moleques... Impossíveis...
Narcisa soltou um risinho abafado enquanto colocava o ursinho de pelúcia que trouxera a tira colo sobre a mesinha de centro.
Andrômeda se ajeitou no sofá.
-Perai, mas nós acabamos de sair de lá, Bella. Eles não estavam na cozinha também... Muito menos roubando doces por que quem acabou de roubar os doces da festinha da vovó fomos nós três, lembra?
Bellatrix abriu aquele sorriso dócil, coberto de cinismo e falsidade, que chegaria até a enganar alguém que não a conhecesse desde sempre, como era o caso das irmãs. Enquanto isso a pequenina loirinha abria a barriga de seu ursinho e tirava um dos doces e colocou na boca.
-Nós? Mas nós estávamos aqui há tanto tempo, Andy... Desde antes de a chuva começar, não lembra?
-Mas... Mas... – Andrômeda parecia continuar a não entender.
-Por isso que a Bella fez um escudo para não nos molharmos quando viemos para cá, Andy! – reclamou a pequena com a boca cheia – Para termos essa desculpa, dãã!
-Perai! Vocês vão colocar a culpa neles?
-Dãããããã! – fez Narcisa novamente.
-Até a Cisa se tocou do plano antes de você, Andrômeda! Céus, às vezes eu me pergunto como pode ser minha irmã... Com 8 anos eu não era retardada assim, sabe.
-Eu não sou retardada! Só que... Bom... Isso é errado.
-E daí? Não foi errado o que o Sirius fez comigo no último fim de semana não?
-Ele só cortou a sua trança, Bella.
-Que eu deixava crescer desde os cinco anos! Mamãe ficou furiosa e me pois de castigo a semana inteira por ter deixado ele fazer isso no meu cabelo.
-É, mas que eu me lembre o Sirius só fez isso por que, na semana anterior, você tinha colocado fogo na veste predileta dele com esse treco que você ganhou do tio... E com ele dentro diga-se de passagem...
Bella deu de ombros.
-Eu só estava praticando, o que tem demais nisso?
Andy soltou um pequeno suspiro. Não adiantaria usar nenhum argumento que dissesse respeito ao Sirius, pelo menos não com Bellatrix.
-Ta, ta, ta... Mas e o Reg, ele não tem culpa da implicância que você e o Si tem um com o outro. Ele não fez nada com você, Bella...
-Ele não é nem besta... Esmago aquele inseto se ele tentar alguma coisa, comigo. Mas pare de defende-lo, porque a peste não é nenhum santo. Ou você não lembra o que ele fez com a Cisa ano passado?
Lembrava... e como. Também pudera, ser jogada de cima da árvore bem sobre um canteiro de rosas e além do tombo ter saído toda arranhada por conta dos espinhos definitivamente não era o que Andy chamava de brincadeira saudável entre primos. Nunca vira a irmã chorando tanto, nem tão machucada e esperava nunca mais ter que ver... Cada lágrima de Narcisa soltara naquele dia parecia que doía nela mesma.
Foi difícil para Sirius segura-la quando a menina foi tomar satisfação com o mais novo dos primos. Na verdade o rapazinho só se livrou da sua ira por que Sirius o escondeu muito bem no dia. Depois sua raiva passara assim como os machucados da caçula cicatrizaram. Mas pelo visto não para suas irmãs.
-Ele dizia que eu era muito nova para entrar no MLG... – bufou Cisa, antes de botar outro doce na boca – Até parece que ele é muiiiiito maior que eu.
Andrômeda ficou com o olhar perdido enquanto ponderava a situação. Por mais que soubesse que Sirius e Regulo volta e meia mereciam algum castigo, colocar a culpa de um roubo neles simplesmente não lhe parecia certo.
-Ora, vamos Andy – disse Bella percebendo seu olhar – Você tem que decidir de que lado esta, do nosso ou do deles...
Ela encarou a irmã pela primeira vez na vida, com um olhar serio.
-Por que?
-Por que o que?
-Por que temos que ter dois lados, pó? Somos primos, não é? Temos o mesmo sangue, não é isso que dizem... Por que brigamos tanto.
Bella deu de ombros.
-Por que é legal implicar com eles... – e caiu na gargalhada.
Mas dessa vez Narcisa não a acompanhou, tinha acabado de perceber algo estranho no assoalho da casa.
-Que foi Cisa? – perguntou a mais velha enquanto pegava um doce também.
-Tem goteira aqui?
-Não há como ter goteira aqui, pequena... – disse Andy – É magicamente vedado, lembra?
-Então da onde vem essa água? – ela apontou para um pequeno rastro de água que corria da porta para o sofá... O caminho por onde Sirius e Regulo haviam passado.
O mais velho deu um soco no chão quando percebeu que foram descobertos e, antes que as primas notassem o que acontecia, porém, os dois irmãos se encararam e com um aceno de Sirius levantaram o sofá com um forte empurram, fazendo Andrômeda e Bellatrix rolarem para o chão a baixo.
-Então as insuportáveis roubaram doces da vovó e querem colocar a culpa em nós! – disse Sirius achando graça da posição que as primas caíram – Sinto muito mais "entrou água" nos seus planos!
-Seus cretinos! – berrou Bella enquanto procurava sua varinha, mas a mesma tinha caído longe quando os meninos as derrubaram.
Seu olhar encontrou o objeto no mesmo instante em que o de Sirius, e já prevendo o que a prima faria, o menino pulou para tentar alcançar a madeira antes dela.
Só que eles chegaram juntos a varinha.
Começaram a tradicional disputa corporal do "puxa daqui puxa de lá" que logo passou para tapas arranhões e puxões de cabelos mais tradicionais ainda.
Em segundos os dois já haviam esquecido da existência da varinha, motivo pelo qual brigavam, se empenhando única e exclusivamente em tentar imobilizar o outro.
-Você me paga sua lagartixa! – dizia o menino quando conseguia ficar por cima da prima.
Mas, no segundo seguinte ela lhe acertava uma joelhada no estomago e conseguia virar o jogo.
-Retire o que disse, seu imundo, eu não sou lagartixa!
-Lagartixa! Lagartixa!Lagartixa! Você é uma lagartixa branca e azeda!
Ela batia nos ombros dele, sucessivamente, mas não adiantava, Sirius continuava a rir da cara enfezada da prima e, para completar ainda dizia:
-Não doeu... – e ria gostoso, a risada dele era tão sincera e gostosa de ouvir que sempre cativava os que estavam a sua volta. Andrômeda teve que se segurar para não rir com ele, coisa que Regulo fazia sem restrições – Você é uma lagartixa branca, azeda e fracote, Bellatrix! Não adianta me bater, a vovó vai saber direitinho quem roubou os doces da festa!
-Não se eu arrancar essa sua língua enorme, seu gambá fedorento!
Ele a jogou longe num impulso. O empurrão fora tão forte que Bellatrix chegou a bater com a cabeça na estante mais à frente, mas felizmente só lhe rendeu um galo dolorido no couro cabeludo, nada mais sério.
-Eu não sou fedorento, sua lagartixa!
Não tinha nada que mexesse mais com os brios do moleque que colocar defeitos na sua aparência. Era tão fácil tira-lo do sério que as vezes chegava a ser chato.
-É sim! – disse a garota com a mão no ponto em que batera coma cabeça – Você fede mais que um gambá!
Sirius se impulsionou em direção a ela novamente, mas Andrômeda entrou na sua frente.
-Chega! Parem com isso vocês dois. Daqui a pouco vão perceber que estamos brigando e vir aqui resolver o problema!
-E vão descobrir quem realmente roubou os doces. – disse Regulo – Por mim tudo bem... Ai! – Narcisa tinha lhe chutado a canela com toda a força – Sua peste! – gritou o menino dando um puxão forte no cabelo dela.
A garotinha começou a chorar.
-Regulo! Seu grosso! – Andrômeda correu para pegar a pequena nos braços – Olha só o que você fez!
-Ela me chutou primeiro! – bufou o garoto.
-Mas você é mais forte que ela, seu inconseqüente! Não pode fazer isso!
-Então manda ela não me chutar mais!
-Ela não vai te chutar mais se você ficar sem suas pernas sabe... – Bellatrix já tinha se levantado e recuperado a varinha que apontava ameaçadoramente para ele.
Sirius deu um tapa na mão dela, jogando o objeto longe.
-Nem pense nisso, lagartixa! Se fizer algo com o meu irmão eu te mato.
Bellatrix o olhou surpresa por um segundo, para cair na gargalhada em seguida.
-Ai, Sirius... Você é tão engraçado... Você é frouxo demais pra matar alguém, seu gambá.
-E você é fraca demais pra me enfrentar lagartixa! E eu não sou um gambá!
Regulo arfou cansado, pelo visto o irmão e a prima voltariam a discutir. Decidiu se entreter com algo mais interessante que a briga dos dois. Como os doces na barriga do ursinho de Narcisa, por exemplo.
-É sim! Gambá fedorento!
-Lagartixa azeda!
-Será que dá pra mudar de disco vocês dois... – reclamou Andrômeda, que ainda embalava a chorosa Cisa – toda vez é a mesma ladainha, que coisa mais chata.
-Chato vai ser quando a vovó Betelgeuse descobrir que vocês pegaram o anel de pérola predileto dela. – disse Regulo empunhando a citada jóia que acabara de encontrar na barriga do ursinho de pelúcia, no meio dos doces.
Os cinco se entreolharam assutados.
-Como isso foi parar ai? – perguntou Bellatrix.
-Não sei, mas é melhor arrumarmos um jeito de devolver logo... – disse Andrômeda – Ou então estaremos todos encrencados.
