Regulo e Cisa se puseram a andar do lado de fora da casa, próximo a um pequeno lago que havia sido criado para tornar o ambiente mais agradável.
O local ganhara uma cobertura transparente para que a chuva não atrapalhasse os casais que poderiam querer mais privacidade, mas certamente os dois não sabiam nada sobre isso. Levariam alguns anos para descobrirem o porque homens e mulheres se beijavam.
Regulo, em especial, achava a prática nojenta. Cisa, por sua vez, nunca havia presenciado um beijo, por isso deu um sobressalto ao ver um jovem casal em pleno ato, mesmo que polido, já que os protagonistas não deviam ter muito mais idade que sua irmã mais velha.
O primo tossiu falsamente, chamando a atenção para si. O garoto loiro, que Narcisa nunca tinha visto antes, soltou a boca da menina de cabelos longos e igualmente amarelos para encarar Regulo com um olhar de desdém.
-O que foi, Black?
-Aqui não é lugar para isso, Malfoy...
O outro sorriu, cínica e maliciosamente. Malicioso até demais para um garoto da sua idade. Ele tinha o quê? Onze, doze anos, no máximo. Regulo às vezes duvidava que fosse mais velho que Bellatrix.
-E o que você sabe sobre isso, pirralho?
Regulo cruzou os braços.
-O suficiente para saber que o quintal da minha casa não é lugar pra você ficar se agarrando com a Melíflua.
Mesmo sendo sua prima de algum grau (sua mãe era prima da mãe dela ou algo assim), o menino tinha o costume de tratar Déb Malífua pelo sobrenome, isso porque imaginá-la como alguém da família lhe causava náuseas. Já chegava aturar o trio que tinha o mesmo sobrenome que o seu.
A garota bufou irritada e se levantou.
-Eu vou embora, Lucio. Não quero que esses pirralhos fiquem falando de mim na festa. – disse saindo dali, sem esperar o parceiro.
Lucio voltou a olhar para Regulo.
-Viu o que você fez?
O menor deu de ombros. A altura de Malfoy não costumava a lhe incomodar, até porque o idiota era covarde demais para tocar um dedo nele, afinal a única vez que tentou, Sirius acabou com a raça dele em segundos, mesmo sendo mais novo.
Malfoy acabou se retirando dali também, deixando Cisa e Reg para trás. A garotinha não tirava os olhos perplexos dele, nem quando o menino sumiu para dentro da casa. Alheio a isso, Regulo pôs a mão no queixo e começou a pensar.
-Devíamos procurar mais casais e tentar escutar o que falam. O que acha? – Narcisa não respondeu – Hein, Cisa? Dá pra prestar atenção no que eu tô falando, imprestável?
-Quem é aquele garoto? – perguntou a menininha.
-Que garoto? – Reg nem se lembrava que havia acabado de expulsar Malfoy e a acompanhante da varanda – O Malfoy? Ah! Ele é um mané que namora a Déb só por que ela é campeã Nacional de natação infantil. – Cisa desviou o olhar infantil da porta por onde Lucio havia desaparecido e encarou o primo – Ele adora aparecer. – completou o garoto, alheio ao movimento da caçula – Mas como ia dizendo...
-Você sabe nadar, Reg?
Ele a encarou, surpreso com a pergunta fora de hora.
-Claro que eu sei. – respondeu, como se soubesse muito mais que a mais nova.
-Me ensina.
-Ensinar você? Nem pensar, Narcisa. Não vou perder meu tempo te ensinando nada, até porque você não ia aprender nunca, sua chata.
Ela deu um chute na canela do primo, mais forte que o anterior, mas dessa vez Regulo não respondeu com um puxão de cabelo, apenas a olhou feio, passando a mão na canela dolorida.
Enquanto isso, dentro do salão Sirius e Bella tentavam passar desapercebidos por entre os adultos, no intuíto de escutar alguma coisa. Mas isso não foi possível.
-Meus lindos, ainda bem que apareceram... Por onde andavam?
A Sra. Betelgeuse Black surgiu do nada na frente deles, fazendo-os dar um sobressalto juntos, mesmo já estando acostumados com a imagem assustadora da avó.
Com seus longos cabelos brancos presos em um coque exagerado no topo da cabeça, óculos que pareciam não ajudar em nada na dificuldade que ela tinha para ver já que eram excessivamente grandes e um vestido que mais parecia um esconderijo de morcegos pela aparência envelhecida do tecido - mesmo se tratando da última moda entre os bruxos - ela era o que toda senhora da sociedade deles queria ser: um trem fantasma ambulante.
-Ah... Oi, vovó... Eu e o Sirius estávamos... Estávamos... É... – Bellatrix não conseguia encontrar uma boa desculpa para estar acompanhada daquele estrupício.
Olhou para o menino à procura de algum apoio, mas Sirius também não conseguia pensar em nada convincente. Os dois estavam literalmente sem graça com a situação.
-Ahhhhhhhhh! – a avó soltou uma exclamação que os assustou (mais do que o normal) – Já entendi...
-Já? – perguntou o garoto, tão perdido quanto Bellatrix.
-Claro, meus lindos... Eu já tive a idade de vocês. – ela deu-lhes uma piscadela que, teoricamente, deveria passar simpatia e apoio moral, mas os dois deviam concordar que estava longe disso. Aquele sorriso da avó mais amedrontava do que qualquer outra coisa, mesmo sabendo que, para eles, o sorriso era sempre motivo de algo bom – Já sei. Por que não aproveitam a música e vão dançar um pouco?
-Não dá! – disse Sirius rapidamente, antes que a velha os colocasse no meio da pista de dança – Mamãe não deixa. Ela diz que somos muito novos para circular no meio dos adultos...
-Sua mãe não manda nada aqui. – ela se pôs a empurrar os dois para o meio do salão – E se eu acho que vocês ficam fofos juntos e podem dançar no meio do meu salão de festas, ela não tem que me contrariar.
-Mas, vovó... – resmungou a garota.
-Sem mais, Bellinha. Vão dançar essa valsa, anda. Sinceramente, eu mereço alguma coisa agradável na noite de hoje. Já me chega o que anda acontecendo...
-O que anda acontecendo?
-Nada, meu lindo, nada. Agora vão...
Os dois seguiram contrariados para o meio da pista. Puseram-se a dançar de forma tola, balançando de um lado para o outro, como fazem as crianças ao tentarem imitar os passos dos adultos.
-Saco. – disse Sirius – Essa velha chata tinha que me colocar dançando com você?
-Também não estou nem um pouco feliz, ok? Pare de resmungar no meu ouvido.
-Não estou resmungando... Só que a gente tinha mais o que fazer do que ficar aqui servindo de "ponto turístico" para ela. – olhou para a avó, do outro lado da pista. Ela não tirava os olhos deles. Parecia feliz em vê-los juntos. Volta e meia apontava-os para que uma de suas amigas também admirasse a cena – Tô me sentindo um palhaço...
-Você é um palhaço... - ele deu um pisão discreto no pé da garota. Bellatrix soltou um pequeno grito – Seu grosso!
-Cale a boca ou não vamos chegar ao final da música – reclamou o menino, antes de começar a prestar atenção no que um dos casais adultos atrás dele falava – Peraí... Fica quieta...
-É o que estou te dizendo, querido... Sumiu...
-Mas como?
-Não sei, mas a Sra. Black está irritadíssima... – a mulher de cabelos vermelhos cor de tomate olhou de rabo de olho para a senhora da casa, que ainda admirava os netos – E aquilo lá irritada é encrenca.
-É engraçado, isso sim.
-Lúcifer!
-Ora, Clarice, ela fica ridícula quando brava mesmo... Aliás, aquela mulher é ridícula de qualquer forma.
Sirius teve uma vontade imensa de chutar a canela do homem que dançava com a esposa, mas se segurou, tentando manter a polidez.
Tudo bem que a avó não era nenhum anjo de candura e que ele próprio não a suportava, mas ouvir outra pessoa que não fosse da família tecendo "elogios" a velha o deixava com uma raiva que ele não sabia explicar de onde vinha.
Verdade verdadeira, ele até concordava com o que o homem dizia, mas quem aquele cara pensava que era para falar da sua avó?
-Quer saber? Acho que foi muito bem feito. Quem mandou querer que a festa do dia das Bruxas fosse aqui e não na nossa mansão. Que bom que deu tudo errado para aquele demônio.
Dessa vez, Sirius não se conteve. O cara havia comparado a sua avó com um demônio, por Merlin! Onde já se viu? Qualquer um sabia que ela era bem pior que isso...
Sem pensar duas vezes, o garoto esticou o pé na frente do homem, que caiu antes mesmo de perceber o que acontecia.
Bella, que havia ouvido toda a conversa e também estava prestes a pular no pescoço do "leite qualhado" (o homem era extremamente alvo), começou a rir escandalosamente, enquanto apontava o dedo para a cara branca dele. Conclusão: se por acaso alguém não havia percebido o tombo, agora todos olhavam para o homem caído no chão.
-Ah, desculpe, Sr. Malfoy... – disse Sirius com ar teatral na voz – A culpa foi minha, eu não sei dançar direito.
-Seu moleque... – rosnou o outro, se levantando.
-Quem é moleque aqui, Lúcifer? – o Sr. Órion Black se aproximou do tumulto com olhar severo – Por que está xingando um neto meu e dentro da MINHA casa, posso saber?
-Desculpe, sr. Black, mas esse pirralho que o senhor chama de neto colocou o pé na minha frente para que eu caísse e...
-Se não sabe dançar direito deveria ter ficado sentado, Lúcifer. – respondeu o senhor de idade grosseiramente, fazendo com que o outro engolisse o resto da reclamação.
Sirius também não era chegado muito ao velho, mas tinha que admitir que, certas horas, ele adorava ser seu neto. O Sr. Órion não era de deixar que ninguém humilhasse sua família em público. Até porque humilhar alguém da família era serviço exclusivo dele.
O Sr. Malfoy bufou irritado e saiu do meio da pista, puxando a esposa pelo braço.
O avô os encarou.
-Quanto a vocês dois, parem de aprontar.
-Não fizemos nada, vovô.
-Eu vi muito bem o que o Sirius fez, Bellatrix. Vi quando esticou o pé de propósito para que o imbecil caísse. Devo dizer que o tombo foi merecido, mas já estamos com problemas demais por hoje. Por isso, comportem-se! – grunhiu o velho.
-Sim, senhor. – responderam os dois ao mesmo tempo, sem coragem de perguntar mais nada.
Do lado de fora da casa, Regulo estava tendo dificuldades para aturar os pedidos incessantes de Narcisa.
-Me ensina! Me ensina! Me ensina! Me ensina!
-Pára Narcisa! Eu não vou te ensinar a nadar!
-Mas eu querooooooooooooooo... – entoava a pequena, enquanto andava atrás dele em volta do pequeno lago.
-Tá bom! – berrou o menino, parando de repente. Finalmente ele dera sinais de cansaço – Você quer aprender a nadar? Tudo bem, eu te ensino a nadar... – e empurrou a garotinha com tudo a jogando bem no meio do lago.
Narcisa não esperava aquilo, por isso tomou um susto quando se viu cercada de água por todos os lados. Ela começou a se debater, não conseguindo pensar direito, e, sem perceber chegou à borda do lago nadando desengonçada.
Regulo, que ainda estava em pé na borda, não parava de rir.
-Viu? Agora você já sabe nadar.
-Reg! – a voz de Andrômeda o fez engolir seco – O que você fez?
Andy foi até a irmã e a tirou do lago antes que o garoto pudesse responder a pergunta.
-Ele me jogou na água, mana...
-Regulo, seu maluco!
-Ela que pediu... – disse ele, dando de ombros – Queria aprender a nadar... E papai vive dizendo que a melhor professora é a necessidade, então... – Andrômeda lhe deu um olhar gélido – E não me olhe assim, tá bom? Eu tava aqui o tempo todo. Se ela começasse a se afogar, eu mergulhava e a tirava de lá.
-Pois eu tenho minhas dúvidas. – respondeu a mais velha, saindo dali com a irmã no colo.
Regulo sorriu satisfeito assim que ficou sozinho.
-É bom ter mesmo...
