Capítulo IV – Procurando pistas II
-O que aconteceu?
Bellatrix se assustou ao ver a caçula toda molhada nos braços de Andrômeda.
-O Reg a jogou no lago... – resmungou a outra
Bella lançou um olhar gélido para Sirius.
-Nem vem, eu não tenho nada haver com isso. – respondeu o menino antes que a prima o fizesse pagar por algo que ele não tivera nem o prazer de planejar.
-Vou leva-la no quarto para se trocar.
-Vou com você, Andy.
Ele decidiu não entrar na discussão sobre "você não vai sair do meu lado", o clima não era propicio. Decidiu procurar o irmão assim que as primas subiram para um dos quartos.
O encontrou do lado de fora da casa, ainda, observando algo por uma das janelas que davam para o salão.
-O que você andou fazendo, heim?
Sirius havia chegado tão silenciosamente que o irmão deu um pulo ao escutar sua voz.
-Caramba, você me assustou!
-Você se assusta com tudo... Muito bem, o que a Cisa fez para você joga-la no lago?
Ele deu de ombros antes de abrir um sorriso maligno.
-Ela queria aprender a nadar...
Sirius riu, nem ele teria pensado em algo tão eficaz para fazer a pirralhazinha calar a boca.
-O que está olhando ai?
-Ah... – o irmão voltou a observar pela janela – Olha aqueles dois ali, estão com atitude suspeita.
-O que tem eles?
-Não param de cochichar um com o outro... Muito estranho...
Sirius olhou com mais cautela, não conhecia nenhum dos dois homens que Regulo estava espionando, tinha a impressão de já tê-los visto, era verdade, mas não sabia quem eram.
-Bom... Você não vai descobrir o que estão cochichando daqui.
-Alguma idéia melhor sabichão.
Sirius sorriu cinicamente, não era nem necessário palavras, sua cara já denunciava que a resposta seria "claro que sim".
Apontou a mesa onde os homens estavam, mais precisamente o pano que a cobria.
-Eu os distraio enquanto você entra por de baixo da toalha.
Reg concordou em silencio, imaginando (novamente) por que sempre deixava Sirius o meter naqueles rolos.
Os dois deram a volta e entraram na casa novamente, agachados, pé ante pé, o mais perto da parede possível, para não serem notados.Quando finalmente se aproximaram o suficiente da mesa-alvo, Sirius ensaiou um tombo sobre um dos ocupantes, derrubando o copo de vinho sobre o mesmo.
-Garoto desastrado! – bufou o homem elegantemente vestido com uma vesta negra belíssima, que agrora tinha uma enorme mancha na altura do peito – Olha o que você fez!
-Calma, Tom... – disse o outro em tom brando – Foi apenas um acidente... Não foi, meu jovem.
Sirius encarou o senhor de barba branca que conversava o alvo de seu pseudo tombo, o semblante transmitia uma tranqüilidade que o garotinha nunca vira em ninguém da sua família.
-Sim senhor.
-Viu Tom, foi apenas um acidente tolo...
Sirius olhou discretamente para o irmão e fez um aceno, mais discreto ainda de que a hora chegara.
-O senhor sempre defende as crianças.
Regulo parecia não entender, ele balançou a cabeça com um pouco mais de força, indicando a mesa.
-Mania de professor, Tom... Você devia saber.
Finalmente o irmão compreendeu o gesto e entrou por debaixo do pano como um felino silencioso. Sirius deu graças por não ser Andrômeda a estar ali, ela certamente teria derrubado tudo antes de conseguir o planejado. Ele voltou a prestar atenção nos dois adultos assim que Regulo desapareceu de suas vistas.
-Por que deveria? Que eu saiba o senhor nunca me defendeu.
O senhor de barba branca sorriu.
-Mas sempre fui justo e você sempre soube aproveitar muito bem isso no colégio.
O tal Tom bufou em desagrado e voltou a sentar-se ao mesmo tempo com que fazia a mancha em sua veste desaparecer. Depois encarou Sirius intrigado.
-O que ainda está fazendo aqui, pirralho?
-Ah.. Nada senhor... Com licença.
Ele saiu de perto da mesa irritado por ter sido tratado tão rudemente por aquele desconhecido, afinal ele era um dos donos da casa, quem aquele idiota pensava que era para trata-lo mal ali? O dono do mundo?
Raivas a parte ele preferiu ficar quieto e se afastar, se criasse qualquer problema era capaz de Regulo não conseguir ouvir mais nada e, por algum motivo, ele começava a ter certeza que o tal homem tinha algo haver com o suposto roubo do anel de sua avó. Se fosse verdade ele teria muito prazer em denuncia-lo na frente de todos.
Ele andou com cautela por entre os demais convidados, procurando mais suspeitos e desviando dos chatos da família, como seus tios, sua mãe, seu pai, seu avô, sua avó, enfim... Todos que levavam o sobrenome Black nas certidões de nascimento ou casamento.
Quando menos esperava, porém, havistou Bellatrix caminhando sorrateiramente do outro lado do salão. Nem Andrômeda nem Narcisa a acompanhavam, isso queria dizer quem...
Elevou a mão correndo ao bolso, como supunha o anel não estava mais lá.
-Cretina! – esbravejou enquanto seguia na direção da garota.
Chegou a tempo de segurar seu punho quando ela se preparava para levantar o objeto para que a avó, que por um acaso se encontrava de costas para os dois, conversando com algumas comadres igualmente feias.
Tirou a jóia da mão dela enquanto Bella o encarava surpresa.
-Se tentar fazer isso de novo quem vai ferrar com vocês sou eu, entendeu bem lagartixa? – sussurrou ele entre dentes.
-Isso se estiver vivo ainda, seu gambá. – respondeu ela no mesmo tom.
-Olha que fofo, como eles se adoram... – os dois viraram surpresos para a avó que apontava para eles sorrindo para as amigas – É o que eu digo, meninas, eles vão me dar bisnetos lindos e vocês vão continuar a morrer de inveja de mim...
Eles não estavam compreendendo a insinuação da Sra. Black, ate que perceberam o motivo do comentário. Sirius ainda segurava o pulso da prima na altura do seu rosto. Do ângulo que os olhavam parecia até que ela iria abraça-lo.
Bella puxou rapidamente a mão quando percebeu que era isso que passava na cabeça da velha enquanto Sirius só se preocupava em não deixar a mulher perceber que ele segurava o seu anel.
-É Betel, eles ficam fofos juntos, mas duvido que fiquem juntos como você quer... Sua família tem um gênio muito forte para se auto suportar. – disse uma das senhoras pomposamente.
Betelgeuse a olhou fuzilaste.
-E o que você sabe disso sua velha coroca!
Sirius aproveitou a deixa e puxou a prima para longe dali, usando um pouco mais de força que o necessário.
Ela se desvencilhou dele assim que estavam a uma distancia razoável das senhoras.
-Seu gambá, você me machucou!
-Vou fazer pior se você não parar com essa mania de querer me ferrar a qualquer custo...
-Não é a qualquer custo... – ponderou ela fingindo não sentir o pulso dolorido – O meu pescoço vale mais, por exemplo.
-E só...
Ela deu de ombros.
-E tem alguma coisa mais importante, por acaso?
Ele suspirou cansado.
-Você é insuportavelmente egocêntrica, garota.
-E você, falso... Para de drama anda. Se te desse alguma chance você também ia adorar me ferrar. Mas a lagartixa aqui é mais esperta que você, seu gambá.
Sem ter o que responder Sirius resolveu descontar a raiva de forma física, empurrou Bellatrix com tudo, sem se importar com o que estava atrás dela.
Por sorte era o chato do Malfoy, ele não o suportava mesmo, tanto fazia se o corpo da prima havia atrapalhado a dança dele e da sem graça da campeã de natação... O que ele não esperava era que Lucio fosse revidar. O loiro empurrou Bellatrix de volta antes que ela ou Sirius tivesse qualquer reação.
Por puro reflexo, para que a prima não batesse com o corpo no dele, Sirius a segurou pelos braços, mas a cabeça da garota transpôs a distância e se e encontrou com a dele. Na verdade foram seus rostos que se tocaram... Na altura dos lábios.
Demorou meros segundos, tanto que o resto da festa nem percebeu o que acontecia, mas para as duas crianças o toque parecia ter levado séculos. Sirius passou anos da sua vida lembrando (com certo prazer) dos olhos arregalados de Bellatrix quando o leve selinho aconteceu, sim, porque nenhum dos dois chegou a fechar os olhos.
E fora naquele simples acontecimento não planejado que ele descobriu sua melhor arma contra a prima, para o resto de sua vida.
Um beijo.
Depois daquele dia Bellatrix nunca mais conseguiu o intimidar com o olhar meio, toda vez que ela começava a disputa ele simplesmente esticava o pescoço e dava-lhe um selinho, o que a desconcertava na hora e a desmoralizava na frente de todos.
Com o passar dos anos o selinho ganhou mais força, movimento e malicia e, posteriormente passou a usa-lo não apenas para ganhar uma discussão dela, mas também para fins menos nobres.
Mas naquele segundo em questão, a menina não podia imaginar que tinha acabado e cair nas mãos dele para o resto de sua vida, tanto que lhe deu um empurrão forte e tratou de sair dali batendo o pé, deixando um sorridente Sirius para trás. Se ela não havia se dado conta do perigo, ele sim sabia muito bem o poder que acabara de conquistar.
-Sirius! – a voz de Regulo tirou-o de seus pensamentos, o menino chegou arfando do seu lado, parecendo afoito – Eles sabem!
-Eles sabem?
-Sim, os caras lá... Sabem do sumiço do anel. Não deu para entender direito, mas pelo visto era esperado por que o anel da vovó é centenário pode ser usado em uma magia muito poderosa e tal... Magia negra com certeza. Acho que eles sabem até quem tentou pegar...
-E você não descobriu quem foi, seu retardado!
O irmão sorriu encabulado.
-Não deu... Eles, hã... Me descobriram... – Sirius continuou encarando o irmão com a pergunta "como?" estampada na cara – Bom... É que... Acho que foi aquela chuva sabe... Eu... Tossi... E bom, o cara de preto escutou, né...
-Você é muito burro, Regulo! Muito burro mesmo!
O irmão caçula levou a mão a cintura.
-Eu devo ser burro mesmo, não sei por que to tentando ajudar você e essas três insuportáveis! Quer saber, cansei... To fora!
Virou as costas e saiu deixando um Sirius nada preocupado com seu chilique para trás, se Regulo não queria ajudar melhor assim, menos um para ele tomar conta.
