Capítulo V – Magia? Que magia?
A chuva havia parado, mas o vento forte denunciava que o tempo poderia voltar a mudar a qualquer momento. Sem se importar com isso, porém, o quinteto retornou a MLG para discutir o que haviam descoberto. A lista era a seguinte:
Primeiro: todos na festa pareciam já saber do sumiço da jóia.
Segundo: ela provavelmente havia sido roubada por alguém que a queria utilizar como ingrediente de alguma magia.
E terceiro: sendo assim, qualquer um dos presentes poderia querer o anel, já que todos eram bruxos e perfeitamente capazes de realizar magias.
-Por que não entregamos isso logo para a vovó? – resmungou Régulo, a certa altura do debate.
-Porque vamos ter que dizer COMO achamos o anel, seu idiota. – reclamou a mais velha – E mesmo que a gente não fale nada, ela vai descobrir que nós roubamos os doces.
Ele deu de ombros.
Alheio a isso, Sirius parecia distante e pensativo, mas a única que percebeu seu olhar foi Andrômeda.
-O que foi, primo?
-Precisamos descobrir quem é o ladrão... E logo... – sussurrou o menino.
-Disso nós sabemos, gambá... Se não descobrirmos a vovó vai triturar a gente...
-Não é por isso, lagartixa. Precisamos descobrir quem é o ladrão antes que ele saiba que estamos com a jóia.
-Por quê?
-Por que ele vai vir atrás da gente, pequena. – disse, respondendo a pergunta de Narcisa.
Ele retirou o objeto do bolso e se pôs a olhá-lo com cuidado.
-A pessoa que tentou pegar esse treco aqui dentro, nas barbas dos nossos avôs, deve querer muito isso. Se ela descobrir que está com a gente, acho que teremos mais problemas do que se a vovó descobrir primeiro. E olha que a última opção já não é muito agradável.
Ele encarou o irmão e as primas por alguns segundos. Todos pareciam ponderar suas palavras.
-Essa magia deve ser muito poderosa para se arriscarem tanto, não é? – disse Bellatrix.
-E se descobrirmos que magia é essa? – disse Andrômeda – Talvez a gente consiga alguma pista de quem poderia querer o anel...
Bella concordou silenciosamente.
-É... Não deve haver muitas magias que usam um anel de pérola centenário.
-Pelo que entendi, é magia negra... – disse Reg com o dedo no queixo, tentando lembrar cada palavra da conversa que ouvira – O cara de barba perguntou várias vezes pro outro lá se tinha ABSOLUTA certeza que não havia sido ele que tinha pego o anel... Acho que o velho pensa que foi o outro que pegou. Ele não parecia que tava acreditando quando o cara negava.
-Quem são esses, afinal?
-Dois caras que estavam sentados perto da janela, Andy. – falou Sirius – Um de preto e o outro de barba branca...
-O de barba branca é o Alvo Dumbledore, atual diretor de Hogwarts, seus idiotas. – resmungou Bellatrix.
-E o outro? – perguntou Narcisa.
-Tom Riddler. – responde Sirius, torcendo o nariz – Eu ouvi alguém o apresentando para a mamãe há pouco. Não fui com a cara dele.
-Nem ele com a sua, - desdenhou Bellatrix – Tenho certeza – Sirius deu um olhar irritado, ela não ligou – Bom, alguma idéia de como descobrir a tal magia?
-Já ouviu falar de biblioteca, Bellatrix?
-Ai, me poupe, Andy. Eu não vou ficar vasculhando aquele monte de papel velho que o tio Alfardo chama de biblioteca. Só ele para ter saco de ler aqueles livros.
-É isso! – gritou Sirius, fazendo os demais darem um sobressalto – O tio Alfardo! Ele deve saber que magia é essa! Ele sabe de tudo.
-Você adora puxar o saco daquele velho babão, gambá. Nunca vi... O cara é nojento.
-Você é nojenta, lagartixa. O tio Alfardo é gente boa. – ele se levantou – Bom, eu vou procurá-lo. Alguém quer ir comigo?
-Eu não vou falar com aquele velho chato.
-Eu vou. – disse Andrômeda, decidida.
-Certo... Então você fica aqui e não desgruda da lagartixa, Reg. – disse para o irmão – Ela está louca para colocar a culpa de tudo isso em nós dois. Fica de olho.
O caçula assentiu.
Sirius e Andrômeda saíram em seguida, deixando-os sozinhos com Narcisa, que já começava a coçar os olhinhos azuis cheios de sono.
Assim como Bellatrix esperava, a irmãzinha não demorou muito para acabar deitando no sofá e dormindo profundamente. Era tudo que ela queria.
-Impressionante... O gambá acha mesmo que você pode dar conta de cuidar de mim.
Regulo devolveu-lhe o sorriso cínico.
-Claro que vou... Você não é tudo isso que aparenta, lagartixa! Se acha grande coisa só por que já tem uma varinha, mas nem sabe usar esse negócio direito.
-Tem razão priminho... – ela puxou a varinha mais rápido do que o pivete podia imaginar ser possível – PETRIFICUS TOTALUS!
Regulo sentiu todos os músculos do próprio corpo congelarem no mesmo instante ao som da gargalhada da prima.
Bellatrix levantou altiva do sofá e encarou o primo petrificado.
-Idiota. – disse, antes de se dirigir para a porta e sair na seqüência.
Com certeza teria tempo suficiente para encontrar a avó e contar como seus terríveis primos roubaram o anel dela por acidente, enquanto surrupiavam todos os doces da festa.
Sem imaginar o que acontecia, Sirius e Andrômeda encontraram seu tio Alfardo no meio do salão, parecendo entretido com as pernas de uma mulher com quem dançava.
-Tio! Tio!
-Ora, ora, ora... O que foi crianças? O que está acontecendo?
-Precisamos falar com você.
Ele sorriu para a mulher com quem dançava e, com muito custo, a deixou sair de perto dele. Agachou junto aos sobrinhos meio irritado com a interrupção, mas não tornou seu pensamento público.
-O que aconteceu?
-Tio, é que... Bom... O senhor é o cara mais inteligente que conhecemos. – Andy falava num tom amável que, unido a elogios exagerados eram uma arma poderosa para se conseguir o que queria – Estamos com umas dúvidas e eu disse para o Sirius que só o senhor poderia responder.
-Sim, sim... o que é, diga.
Ela e Sirius se entreolharam com certa apreensão. Como tocar no assunto agora/ O garoto resolveu optar pela única forma de abordagem que conhecia: a direta.
-Que magia é essa que falam tanto que pode ser feita com o anel da vovó?
-Ah, isso? – o tio parecia achar engraçada a curiosidade deles – Por que o interesse nisso?
-Ah tio, tá todo mundo falando tanto...
-Bom, a tal magia se chama Circulum Vitale, se é que existe mesmo.
-Como assim "se é que existe mesmo", tio?
-Ninguém nunca provou que ela já foi feita, nem disse como realizá-la... É mais uma lenda, entendem?
-E como sabem que precisa do anel da vovó então?
-Por que a lenda diz que é necessário um anel de pérola centenário. Nunca ouviram a lenda do círculo dos Druidas? – eles fizeram que não – Ora, por onde eu andava que nunca contei isso a vocês? – ele se pôs a descrever como era a Inglaterra na antiguidade, na época em que os druidas eram os principais conselheiros dos reis e coisa e tal.
-Tio... A gente já sabe de tudo isso... – disse Andy, com impaciência.
-Dá pra chegar logo na lenda... – completou Sirius.
-Ah tá, claro, claro. Bom, diz à lenda que o mais antigo e sábio de todos os Druidas foi ameaçado de morte pelo mais poderoso Rei trouxa da época, - ele levou a mão à barba rala, pensativo – ... Não lembro bem porque... Mas não vem ao caso. Dizem que durante um encontro secreto druida... Vocês sabem que encontros eram esses, não é? Aqueles onde todos os druidas da Inglaterra se reuniam anualmente para mostrarem suas novas magias e...
-Tá, tá tio... – cortou novamente Andrômeda, de saco cheio de ouvir o que já sabia – mas e aí?
-Ah, sim... Bom, naquele ano o tal druida apresentou uma magia chamada Círculo de Druidas, dizendo que ela ia uni-los de tal forma que um saberia quando o outro passasse algum perigo, para poderem se ajudar... Só que a tal magia, na verdade, tornava todos ligados de uma forma um pouco mais forte e mórbida...
-Que forma?
-O que acontecesse com o corpo físico daquele que realizara a magia, acontecia com o corpo de todos eles... Desde um pequeno corte até... – os olhos do tio brilhavam maquiavelicamente, o que sempre acontecia quando ele lhes contava uma historia assustadora.
-... a morte? – arriscou o menino.
O tio fez que sim e se pôs a rir.
-Claro que é só uma lenda tola. Não precisam ter medo. – ele esticou a mão e pegou um copo que passava em uma das bandejas flutuantes do salão.
-Mas o que aconteceu com os druidas? – perguntou a garota – A magia funcionou?
-Ah, a lenda não é clara sobre se essa era realmente a intenção do sábio Druida ou se foi um erro de percurso... Mas sim, a magia teria funcionado e, assim que os druidas perceberam que estavam de tal forma ligados ao sábio, tiveram que se desdobrar na sua proteção e o tal rei não conseguiu matá-lo.
-Muito cômodo... – disse Sirius, cruzando os braços sobre o peito – E nessa lenda conta o que precisa para a tal magia, tio?
-Ah... não me lembro direito. – bebericou um pouco de vinho – O tal anel de pérola centenário, pelos de lobisomens... Na verdade algumas coisas mudam de uma versão para outra... Acho que é por isso que nunca descobriram se ela é possível de ser realizada ou não... Ah sim! – ele estalou o dedo como se lembrasse de algo importantíssimo – Garotinhas!
-Como assim garotinhas, tio?
-Garotinhas, garotinhas... – repetia ele – Como pude esquecer da melhor parte da lenda... Precisa de garotinhas, virgens sabe... Sangue de garotinhas virgens... – deu um sorriso para a sobrinha – assim como você.
Andrômeda estremeceu.
-Quantas garotinhas?
-Ah, depende...
-Do que, tio?
-De quem te conta a história. – ele soltou uma alta gargalhada – Se quiserem te assustar mesmo, vão falar uma que precisa de 10, 20... Mas normalmente são duas, pelo menos. Dizem que tem que cozinhar todos os ingredientes em um caldearão de sangue... – riu mais uma vez – Como disse, dependendo de quem contar a lenda ela fica mais macabra. – olhou em volta – Aliás, podíamos contar a história para a pequena Cisa, o que acham? Ela vai morrer de medo!
-Tenho certeza que sim... – murmurou Andy, sentindo um calafrio incômodo na espinha – vamos voltar... – disse a Sirius quando o tio se virou para largar o copo já vazio de vinho em uma bandeja e pegar outro.
O menino concordou em silencio. Já haviam conseguido a informação que queriam, não havia mais o que fazer.
Despediram-se do tio entre promessas de não contar a lenda para Narcisa antes dele.
Os dois seguiram direto para a MLG, calados. Andrômeda estava nervosa, era perceptível até no seu caminhar e o primo achara por bem não incomodá-la.
Quando chegaram ao pé do salgueiro, a garota finalmente tomou fôlego e perguntou o que lhe afligia.
-Você acha que...
-A lenda é verdadeira? – completou ele, antes da prima conseguir terminar a frase – Claro que não, Andy. Não se preocupe. Quem está tentando realizar essa tal magia só pode ser maluco se acha que vai conseguir.
-É... eu sei... Mas o problema é que ele vai tentar...
-E daí?
-Não é só do anel da vovó que ele vai precisar para tentar fazer a magia... Você ouviu o tio... Ele vai precisar de sangue, Sirius. De garotas.
Ele encarou a prima com os olhos arregalados. Não tinha se dado conta do problema até aquele exato minuto.
-E não há muitas garotas nessa festa... Só eu, a Bella, a Cisa e a prima Déb.
Ela mal conseguiu terminar o pensamento, porque o primo já tinha se posto a subir a escada de cordas.
Ele abriu a porta com tudo e encontro o irmão dando seus primeiros movimentos após a estuporação.
-Regulo! – gritou indo até o irmão – O que houve?
-A imbecil da Bellatrix me estuporou! – disse o garoto mais assustado do que propriamente com raiva.
-E a Cisa, cadê a Cisa?
-Levaram ela, Andy.
