Capítulo VI – Circulum Vitae
-Levaram? Levaram como? Quem a levou?
-Eu não sei! – respondia o menino, segurando o choro – A Bellatrix saiu logo depois que me estuporou. A Cisa tinha dormido no sofá, então apagaram todas as velas, ficou tudo escuro... Eu tava achando que era a insuportável da sua irmã tentando me assustar, mas quem entrou aqui era bem mais alto que ela...
-Como assim mais alto? Um adulto? – Sirius estranhou quando o irmão concordou com a questão. Em todos a sua longa vida, nunca ouvira falar de algum adulto entrando na MLG – Como tem tanta certeza?
-Quando abriu a porta a luz lá de fora iluminou um pouco as costas dele... Deu pra notar que era um adulto. Eu não podia me mexer, ai ele entrou e pegou a Cisa. E eu não sei quem foi, Andy... – ele começou a dar socos fortes no braço do sofá – Droga, droga, droga!
-Por Mérlin, Sirius! É o ladrão! Só pode ser ele... Ele vai usá-la na magia!
-Vai usar o sangue dela, você quer dizer... – os olhos da prima se encheram de água de repente – Ah não, nem pense em fazer isso, Andy, chorar não vai adiantar nada. Vamos procurá-la, anda. – disse impaciente – E rápido... Cadê a lagartixa?
-Provavelmente tentando falar com a vovó. A essa altura, a velha já está imaginando em como decapitar o nosso pescoço.
-Certo. – ele não parecia preocupado com isso, também pudera, já estava cansado de ter medo das ameaças de decapitação que a avó vivia fazendo – Andy, vai avisar aos mais velhos e rápido... Eu e o Reg vamos tentar achar a Cisa.
-Onde vocês vão?
-Para o mausoléu da família, claro... Lembra do que o tio disse? Que a magia foi realizada a primeira vez num círculo de druidas...- os outros dois continuaram o encarando sem entender - Daí que os druidas era enterrados nesse local quando morriam, para que a força do lugar fosse mantida, mesmo com a ausência física deles... Sua mãe não ensinou isso a vocês?
Ela fez que não, enquanto Regulo olhava de um para o outro sem entender.
-Pois é, resumidamente o local onde se realizava as reuniões nada mais era do que o mausoléu dos druidas.. Garanto que o cara pensou nisso também.
-Ele não se deu ao trabalho de explicar mais nada. Já estavam perdendo tempo demais ali.
Desceram a escada e se separaram. Os irmãos seguiram a passos largos para o mausoléu dos Black, enquanto Andrômeda juntava todas as suas forças para entrar no salão de festas que já devia estar em polvorosa com a declaração da irmã sobre o roubo do anel.
Para sua surpresa, porém, nada havia mudado desde sua ida a MLG com Sirius. Estranhou, buscando Bellatrix com os olhos, mas não foi capaz de encontrá-la.
Até que sentiu como se um calafrio enorme cortasse sua espinha mais uma vez, só que agora a vertigem chegou a bambear suas pernas e a menina teve que se apoiar na porta para não cair no chão.
Levou a mão à testa e abriu os olhos, assustada. Não sabia se as imagens que havia visto eram reais ou não, mas não pretendia aguardar a confirmação. Virou-se correndo e seguiu para o mausoléu também, sem avisar a nenhum dos adultos o que acontecia.
Enquanto isso, Regulo tentava arrancar alguma informação do irmão, mas nada parecia desviar a atenção de Sirius do trajeto.
-Dá pra falar coisa com coisa?
-Você não vai entender mesmo, pra que perder meu tempo... – respondeu o outro, ríspido.
Na verdade, Sirius não queria entrar em detalhes com o menino. Tinha medo que o irmão se apavorasse quando soubesse do real perigo que a prima estava correndo. Ele sabia muito bem que Reg adorava Cisa, por mais que fingisse que não.
Chegaram ao local mais rápido do que o natural. O mausoléu ficava no terreno da casa, como era de costume das famílias bruxas tradicionais.
Manter os antepassados sempre próximos era importante, diziam.
Sirius e Regulo tinham a mesma opinião sobre aquele lugar.
Um: ele era mórbido e sombrio, e de tão úmido não servia nem para brincar de pique esconde de vez em quando porque eles viviam escorregando no musgo que parecia cobrir tudo que existia atrás do portão de entrada.
Dois: eles sempre tinham que render homenagens no aniversário de morte de alguém, o que acontecia pelo menos uma vez por mês, e aquelas reuniões eram sempre muito chatas.
E três: os fantasmas da família cismavam de aparecer volta e meia, e, se já era um porre aturar os vivos, imagina os que já se foram.
Resumidamente, o mausoléu dos Black não era propriamente um playgraud para os dois.
Por isso, assim que chegaram ao portão, se encararam por alguns segundos e acabaram por soltar um longo suspiro antes de entrarem. Deram os primeiro passos e Regulo já bambeou, desequilibrando por sobre o musgo. Segurou fortemente nas costas do irmão para não cair.
-Shiii... – sussurrou o outro – Não é pra saberem que a gente tá aqui!
-Saberem? – Reg estranhou – É mais de um?
-Sei lá, mas é bom esperarmos qualquer coisa...
Um berro vindo detrás dos dois os fez dar um pulo. Viraram-se a tempo de ver a prima Andrômeda escorregando visgo a baixo e caindo de quatro bem na frente deles.
Foi impossível segurar a gargalhada.
Ela os olhou com reprovação, mas não adiantou muito. Somente quando tentou levantar e soltou um gemido de dor que o primo mais velho se lembrou de estender-lhe a mão, ainda rindo, enquanto perguntava se estava tudo bem.
Ela soltou um quase inaudível "tá", com uma boa dose de irritação, mas aceitou a ajuda de Sirius que acabou fazendo questão de averiguar se estava tudo bem com ela. Constatou apenas que os joelhos haviam se ralado um pouco, nada fora do comum.
-O que você ta fazendo aqui? – perguntou ele baixinho.
-A Bella não ta lá... – respondeu, achando melhor não citar o real motivo de estar ali, o problema na verdade era que suas visões mostraram Narcisa correndo um enorme perigo, com um punhal na sua garganta.
Sirius não gostou nem um pouco da informação sobre a prima mais velha, a ideia de ter mais alguma "garotinha" da família em perigo lhe incomodava, mesmo a tal "garotinha" fosse Bellatrix.
-Será que também a pegaram?
-É possível...
-Coitado do cara então...
Tentaram acostumar os olhos à escuridão, mas o mausoléu parecia ser mais escuro do que qualquer outro lugar no mundo, mesmo em noites de lua cheia, já que as árvores que habitavam o lugar eram muito densas e não costumavam deixar qualquer tipo de luz transpô-las.
-Ta muito calmo isso aqui não? – perguntou Reg estranhando – Cadê aquele bando de fantasmas chatos que vivem nos azucrinando?
-Talvez eles comemorem Halloween em outro lugar. – ponderou a menina antes de um clarão indevido chamar-lhe a atenção.
Os três seguiram naquela direção, com a rapidez que o chão deslizante permitia.
Régulo escorregou umas duas vezes, mas não chegou a cair. Andrômeda levou três belos tombos.
Chegaram agachados à principal construção do cemitério, a tumba dos primeiros Black a habitarem o Largo Grimmald, que se localizava bem no centro do terreno e, como Sirius já imaginava, a luz que lhes chamou a atenção provinha de uma fogueira que havia sido acesa a poucos minutos.
Do lado esquerdo, deitada em um dos túmulos e dormindo tranqüilamente se encontrava Narcisa.
-Deve estar enfeitiçada... – concluiu Andrômeda baixinho – Ela costuma ter o sono muito leve... Olha lá! – falou apontando para o lado direito, sentadas no chão e com as mãos amarradas estavam Bellatrix e a prima Déb.
-O cretino pegou as duas. – disse Sirius surpreso.
Mas o que lhes surpreendeu realmente foi que, bem próximo ao fogo estava ninguém menos que Lucio Malfoy, sendo segurado fortemente, de joelhos, por um homem corpulento que trazia boa parte do rosto coberto pelo capuz.
-Me solta! – gritava o menino.
-Onde está o anel? – perguntava a voz arrastada com um sotaque muito estranho.
-Eu sei lá de anel! – o homem torceu o braço dele – Ai! Eu já disse que não sei, para com isso!
-Garoto imprestável! – ele empurrou Malfoy fortemente para longe, na direção do túmolo onde Cisa dormia, o menino bateu com a cabeça na construção e caiu desmaiado no chão.
-Lucio! – gritou Déb enquanto Bellatrix fazia cara de entediada, parecendo incomodada com o berro que a outra deu em seu ouvido.
-Muito bem, meninas, já que ele não sabe de nada, uma de vocês com certeza deve saber. O homem apontou a varinha para as duas. Déb começou a chorar.
-Eu não sei senhor, juro, juro que não sei de nada. –apontou Bella com o queixo – Ela deve saber, com certeza ela sabe!
-Ah! Cala a boca, sua galinha de magia branca. Eu não sei de porcaria de anel nenhum.
-Sabe sim! Você sabe sua cobra cascavel!
O velho soltou uma varinha que por pouco não acertou a cabeça das duas, as fazendo se calar. Super eficiente na visão de Sirius.
Déb começou a chorar compulsivamente. Bella soltou um muxoxo irritado.
O homem continuou ostentando a varinha apontada para a jovem Black.
-Muito bem pequena... O que tem para me dizer?
-Nada. – uma nova rajada de luz cortou o ar arrancando um pedaço do musgo próximo a morena.
-Até parece que isso vai adiantar... – disse Reg atrás de uma lápide – Aquela ali não fala nem sob tortura.
-Falar ela fala... – falou Sirius, sem parecer preocupado com o perigo que a prima corria mais a frente – Mas tem que saber a tortura que vai fazer...
-Ou o que vai dar em troca. – concluiu Andrômeda novamente.
Voltando a cena principal, Bellatrix parecia finalmente ter sido tirada do sério pelo homem, por culpa do musgo que espirrou na sua roupa.
-Seu cretino! Você me sujou toda, idiota!
-Farei coisa muito pior se não me disser a onde está o anel.
-Faz nada! – desdenho a garota – Vovó sempre nos contou como você é um idiota incapaz. E sabe... Eu acredito nela.
O trio se entreolhou novamente, o que Bella quis dizer com "Vovó sempre nos contou?".
A resposta veio a galope. O homem jogou o capuz raivosamente para trás, revelando o rosto branco e sem vida.
Era ninguém menos que Raimun Barum, o sobrinho russo de sua avó Betelgeuse. Eles não o conheciam pessoalmente, só das fotos da família alemã que a velha mostrava com orgulho quando lhes dava aulas sobre a importância da procedência.
As crianças não sabiam muito sobre o primo Raimun, mas pelo visto ele resolvera ressurgir das cinzas logo naquele Halloween.
-Sua pirralhazinha, prepotente. – chiava o homem para Bellatrix – Igualzinha ao seu pai!
Ela levantou a sobrancelha esquerda, incomodada com a comparação.
-Isso não foi um elogio, foi? – perguntou cínica, mas Raimun não respondeu, virou as costas para elas e se pois a conjurar os ingredientes e o calderão que precisaria – Ah! Por Mérlin garota, para de chorar! – disse à Déb – Ele é um inútil, não vai fazer nada com a gente... Só está tentando nos assustar...
-Pois está conseguindo... – respondeu a loira entre soluços – Eu não quero que meu sangue seja usado em magia nenhuma... Não quero... Não quero...
-Que sangue guria? Do que diabos você está falando?
Brum começou a despejar algumas coisas dentro do caldeirão que já estava sobre o fogo.
-Olha lá... Ratos pretos vivos, pêlos de Lobsomem,... – Déb ia citando cada ingrediente que o velho jogava no caldeirão – Ele vai fazer o Circulum Vitae!
