Capítulo VIII – Happy Halloween Black
Era um barulho ensurdecedor… Pelo menos para aqueles que não tinham sangue de barata nas veias, afinal de contas, escutar aquele verdadeiro temporal de gargalhadas não era algo muito fácil, ainda mais quando seu era uma criança Black.
Gargalhadas sim, de todos os estilos. Finas e grossas, altas e baixas, estridentes e discretas, mas todas enervantes, sem distinção.
Os pequenos olhavam a sua volta perplexos, estavam cercados por nada mais nada menos do que todos os convidados da festa, com seus familiares na linha de frente, sem contar com os fantasmas que habitavam o mausoléu, que também resolveram sair de suas covas para rirem um pouco da cara deles.
As cordas que prendiam as meninas se soltaram, mas as três permaneceram imóveis. Bellatrix e Andrômeda ainda não conseguiam acreditar no ridículo que estavam passando.
De todas as gargalhadas, a da avó era a mais irritante, com certeza. Ou talvez isso fosse devido ao fato de todos os cinco Black detestarem aquela gargalhada mais do que detestassem qualquer outra coisa no mundo.
-Vocês acreditaram! – dizia a tia das meninas e mãe dos meninos, a chatíssima Úrsula, que viria a tomar o lugar da sogra no posto de matriarca da família quando conseguisse, finalmente, se livrar dela – Acreditaram mesmo! Como são estúpidos! – e apontava-os com o dedo para as amigas – Como podem acreditar nessa velha lenda?
Andrômeda conseguiu com muito custo desviar os olhos para encarar os primos que permaneciam parados ao lado de Malfoy.
Sirius estava visivelmente irritado, parecia um cachorro com os olhos fixos na presa, embora ali fosse difícil decidir na jugular de quem pular primeiro.
Já Régulo já havia decidido seu alvo, ele estava prestes a voar no pescoço da mãe mesmo. Se não feito nenhum movimento ainda era por que sabia que não adiantaria, qualquer agreção ou malcriação lhes renderiam castigos, com certeza, afinal... Os mais velhos só estavam "brincando" com eles.
Como falaram da outra vez...
Da outra vez... Como puderam esquecer o Halloween de quatro anos atrás quando Regulo e Narcisa mal haviam passado de criancinhas de colo e os três mais velhos caíram como patinhos em outra grande encenação da família?
O que havia sido mesmo? Ah, sim, a poção sangue de fênix... Eles os manipularam direitinho para que acreditassem que poderiam produzir uma poção que dava a pessoa que a bebesse o poder de ressussitar. E para finalizar o grande espetáculo, Tia Eleonora bebeu a poção e caiu dura na sala, se fingindo de morta, fazendo-os acreditar que haviam errado em algo e matado a mulher.
Não que eles não tivessem gostado da idéia de não terem que atura-la mais, mas levar a culpa pela morte de alguém quando nem se saiu da infância ainda assustava, e muito. Pelo menos assustou Andrômeda.
Ela olhou com cuidado para a irmã ao seu lado. Bellatrix rangia os dentes, tentando segurar a raiva que já lhe subira a cabeça. Se tinha algo que a garota odiava era que rissem dela.
Mas preferia mil vezes que Bella gritasse, xingasse e quebrasse alguma coisa a ter a mesma reação da outra vez, quando passara três messes sem falar com absolutamente ninguém na família. E, para piorar, fizera a promessa de que nunca mais sentiria remorsos se matasse alguém... Sirius não costumava levar aquilo muito a sério, mas Andy tinha que admitir que aquelas palavras vindas da boca da irmã lhe incomodavam.
Embora parecessem que levaram-se anos até que as gargalhadas se extinguissem, em alguns minutos elas foram diminuindo e acabaram se acabando.
Nesse momento ela resolveu se adiantar e pegar a pequena Narcisa dos braços de Raimun, dava para ver que ela segurava o choro com medo que rissem ainda mais deles.
-Seus filhos são ótimos, Prócion... Muito engraçados mesmo! – dizia o nojento do primo ao pai de Sirius e Reg – Estava ficando difícil não rir da cara deles, sabe. Achei até que não ia dar conta da tarefa.
-Que isso Raimun, você foi perfeito... Fez por merecer seu barril de Wisky. Vamos, vamos... Rigel? – disse chamando o irmão – Onde você deixou a caixa das bebidas?
E os três primos se puseram a andar para fora do cemitério, aos risos.
Não demorou muito para que o resto dos convidados se afastassem também, com Lucifer puxando o filho pela orelha resmungando algo sobre como ele agiu como um idiota.
Eles nem viram a prima Déb se afastando também.
Acabaram ficando sozinhos no mausoléu, a não ser pela presença dos antepassados e de sua avó.
Ela riu mais uma vez ao encarar as caras bravas deles, levou as mãos a cintura e disse divertida.
-Se não querem ser feitos de idiotas não ajam como idiotas.
Os fantasmas voltaram a rir escandalosamente.
-Shiiiii! – ralhou a velha – Xó daqui todos vocês, já infernizaram os meninos o suficiente, agora voltem para seus túmulos e vão dormir, andem!
Muito a contragosto, mas como era esperado, os fantasmas obedeceram a sra. Betelgeuse, alguns resmungaram insultos, outros mostraram-lhe a língua mas nenhum permaneceu no centro do mausoléu quando ela voltou a encaram seus netos e disse num tom mais sério que os fez abaixarem a cabeça e encararem seus próprios sapatos.
-Quando quiserem fazer besteira tenham a certeza que ninguém imagina que besteira vão fazer, se não vocês sempre vão cair nesse tipo de ciladas.
Andrômeda levantou a cabeça incrédula.
-A senhora já sabia que íamos roubar os doces? –o que aquela velha era? Adivinha?
-Doces de nozes carameladas... Narcisa adora não é? – ela levou a mão ao queixo fino e alvo da pequena, que confirmou com a cabeça – Claro que eu sabia que tentariam rouba-los, como você acha que o anel foi parar junto deles então? Na verdade os doces foram uma isca... Vocês nem perceberam que nunca temos esse tipo de doces em nossas festas.
Era verdade, as festas dos Black eram conhecidas pelo requinte e diversidade dos aperitivos e doces. E, naquele ano não houve nenhuma diversidade, nem requinte, mas nenhum deles achou aquilo estranho.
-Por isso não adianta fazer essa cara, Reg... Sua mãe tinha razão quando os chamou de tolos. – ela sabia muito bem a raiva que o menininho tinha por ser tratado como um retardado pela mãe. Começou a olhar para o céu – Por Merlin, acho que vai cair um novo temporal... Eu concordei com algo que aquela gansa enrugada que vocês chamam de mãe disse!
Sirius não conseguiu segurar o sorriso, ouvir o apelido carinhoso que a sua avó tinha para dona Úrsula sempre causava-lhe aquele efeito.
-Vovó... Ela não é uma gansa enrugada... – reclamou ele, tentando manter a cara brava, sem sucesso.
-Oh! Claro que não! Ela é bem pior que isso, mas vocês são filhos dela, tenho que... Como vocês dizem mesmo? Ah, "pegar leve"!
A essa altura Betel já havia conseguido acabar com o mau humor da maioria dos netos, a não ser o de Bellatrix.
-Minha linda, não vai adiantar ficar com essa cara durante três meses de novo, viu. – Bella bufou – Enganar as crianças é uma tradição da nossa família...
-Pois não devia ser! – bufou a garotinha, a única ali que as vezes se atrevia a falar num tom mais alto com Betelgeuse.
-Garanto que não vai achar isso quando for você a enganar seus sobrinhos e netos... – disse a velha dando-lhe uma piscadela – Tenho certeza que vai adorar manter a tradição.
-Sabe o que eu vou adorar sua velha chata! Que essa família não dure para continuar a tradição, isso sim! – gritou a menina que saiu batendo o pé em seguida.
Betelgeuse olhou-a se afastar intrigada. Depois arrumou os óculos na face e se dirigiu ao grupo que ficou.
-De quem será que ela puxou esse gênio horrível? – Sirius a encarou como se a resposta fosse óbvia, mas ela logo discordou de seus pensamentos – Seus pais gostavam de brincadeiras.
-Bom, ela também gosta quando não é nela que pregam a peça... – disse Regulo.
-Acho que... imaginar que a Cissa ia morrer e descobrir que se importava com isso foi um pouco demais para ela, vovó. – disse Andrômeda.
A avó deu de ombros.
-Tolice... Bom, vamos, vamos voltar para a casa... Ainda tem um enorme bolo de abóbora para comermos!
Cissa e Régulo deram urras e saíram correndo na frente, patinando um pouco no musgo, mas sem caírem.
Andrômeda preferiu aceitar a mãe estendida da avó, afim de não tomar nenhum novo tombo, e seguir ao seu lado para a mansão.
Mas antes olharam para Sirius que permaneceu parado.
-Você não vem?
-Já to indo Andy... Tenho que passar em outro lugar antes.
Ele esperou calmamente que as duas sumissem por entre os túmulos para só então começar a andar.
Caminhou até um ponto mais isolado do mausoléu, um lugar onde ela sempre ia quando chateada com algo.
E como esperava lá estava ela, sentada com o rosto apoiado nas pernas as quais enlaçava com os próprios braços.
Ele sentou ao seu lado em silêncio, esperando até que ela começasse a conversa.
-Aquela velha imbecil... – murmurou a certa altura.
-Foi uma brincadeira, Bella.
-Brincadeira idiota.
-Também acho... Mas você conhece a família, sabe que eles são assim.
-Tenho raiva deles.
-Tem nada. – ele pois as mãos atrás da cabeça e encostou o corpo displicentemente em uma das lapides – Você adora eles, é igualzinha a eles alias... Provavelmente vai fazer igualzinho com seus filhos como a vovó disse.
-Não vou não... Eu não vou te filhos.
-Claro que vai. Uns dez, pelo menos! E eu ainda vou rir muito de você quando virar uma velha, gorda e cheia de pirralhos para cuidar.
Ela lhe deu um soco na barriga que o fez perder o ar.
-Você que vai casar e tr filhos com uma gorda nojenta, alias, vai ser a única coisa que vai conseguir com esse cheiro, gambá!
-É, pensando por esse lado, você não vai ter filhos mesmo... Quem vai querer casar com uma lagartixa azeda e branquela que nem você?
Ela lhe deu um novo soco no estomago, ele disse que não doeu, com muito custo para que a voz saísse.
Ela o xingou de novo, ele a xingou de volta, trocaram mais alguns tapas, outros arranhões, até que Bella nem se lembrava da família, ou da raiva que sentia deles.
E, como Sirius queria, a mágoa que ela sentia demorou mas acabou se dizimando.
De certa forma eles sabiam proteger uns aos outros. Era uma maneira meio rude, meio camuflada... meio Black, mas existia.
Afinal, como Andrômeda dissera no começo daquela mesma noite, eles eram primos.
(In) felizmente primos.
FIM
