Retratação: Gundam Wing e seus personagens não me pertencem, porque se pertencessem, com toda certeza, o Duo não teria atirado no Heero, mas na Relena e ela teria uma morte bem dolorosa. Porém os personagens: Lindsay Vuorinen, Nikolay Karpol, Alessandro Yuy e os outros que não me lembro (¬¬) são de minha autoria.
Agradecimentos: Well... A Celly, primeiramente, claro! A moça me ajudou bastante, do nome de um personagem às ameaças de morte e, claro, merece todos os agradecimentos por me aturar no msn falando desse fic e fora dele! E a Juzinha, né? Uma fofa que leu o fic e foi me dizendo o que achava. E, claro, a vovó Evil Kitsune e a titia Lien Li também!
Sumário: Até onde uma alma ferida pode ir? Certas dores nos transformam em algo que não queremos, mas somos forçados a ser, até o ponto que não sabemos quem é nosso verdadeiro "eu". Yaoi – Lemon – 1 x 2.
Observações: Tudo citado sobre a Igreja Católica são pontos que eu achei importantes no fic e não tenho a intenção de ofender a crença de ninguém, que isso fique bem claro. Caso se sintam mal com os comentários ferinos a respeito da religião e de Deus, ignorem-nos, não é minha opinião, mas foram necessários para o bom andamento da história.
Boa leitura!
Hard To Say 'I Love You'
Capítulo I
Como eu prometera, estava, obedientemente, atrás de uma mesa, no hall da minha casa de veraneio, na França, que nunca havia freqüentado antes, com alguns jornalistas a minha frente, acomodados, confortavelmente, em minhas cadeiras vindas, especialmente, da Itália.
À direita, em um lugar de destaque, estavam cinco dos principais críticos do país. E entre eles... o arrogante e prepotente Heero Yuy.
Lindo em seu terno preto de corte simples.
-Você quem pediu isso. – Quatre sussurrou, ao meu lado.
-Eu sempre cumpro minha palavra. – Disse, firme. – Pelo menos assim posso ver o Sr. Yuy tão de perto.
-Você o deseja. – O loiro me sorriu, travesso.
Não neguei, mas havia mais nos olhos azuis cobalto que me deixavam pensativo. Era como se, depois de anos em uma reclusão forçada, eu saísse para ver o mar.
E não, nunca havia deitado-me com ele.
Eu me lembraria.
-Podemos começar. – Quatre anunciou, com uma voz firme, tão estranha aos meus ouvidos. – O Sr. Maxwell, concede essa coletiva, para poucos jornalistas e repórteres seletos, porque deseja falar de sua primeira exposição aqui, em Paris. – Um burburinho se ergueu. – Como nunca concedeu uma entrevista antes, espero que os senhores entendam o privilégio que têm em estar aqui. – Rodei os olhos. – Os senhores críticos... – Lancei um olhar para Heero Yuy, vendo-o dar um mínimo sorriso. – Também foram, cuidadosamente, escolhidos... pelo Sr. Maxwell. As perguntas devem ser voltadas somente para a exposição e o trabalho, perguntas sobre a vida pessoal de meu amigo serão ignoradas.
Dessa vez consegui distinguir algumas palavras entre os jornalistas e, definitivamente, "arrogante" era a preferida.
-Para concluir: nada de fotos, filmagens ou gravações de voz.
Sorri, para um artista, nada como sua privacidade.
-Vamos senhores! Lancem suas perguntas! – Vários pares de olhos arregalaram-se.
Provavelmente, nunca haviam escutado minha voz.
-Aqui! – Uma mulher ergueu o braço e eu lhe sorri. – Sua exposição, por toda a Europa, foi um enorme sucesso, mas as bocas pequenas, dizem que a França é mais importante para o senhor. Isso é verdade?
-Sim, é sim. – Afirmei. – Não quero desmerecer as outras cidades, de forma nenhuma, mas foi aqui, em Paris eu pintei minhas primeiras obras, infelizmente, indisponíveis para os olhos do público.
A mulher pareceu satisfeita e me lançou um olhar agradecido. Eu só sorri.
Duo Maxwell, afinal, não era o bicho de sete cabeças que todos pensavam.
Fora minha escolha ser recluso e jamais dar entrevista. Além de minha privacidade, haviam outros fatores a serem considerados. Toda uma história passada que eu não gostaria que remexessem.
E, surpreendentemente, havia funcionado como mágica.
Quando, alguns anos antes, fiz minha primeira exposição, o sucesso foi instantâneo, em algumas semanas os valores das pinturas quadruplicaram e eu me vi em meio a um mundo um pouco estranho e, desde então, nunca havia dado uma entrevista. Isso incitou as pessoas à princípio, mas logo depois, o mistério em torno de mim, passou a alimentar histórias e a imprensa me deixou em paz, respeitando meu silêncio.
A coletiva transcorreu de forma perfeita.
Perguntas feitas, educadamente, e, educadamente, respondidas.
Mas eu não dava atenção aos jornalistas a minha frente. Meus olhos estavam, magicamente, presos ao crítico que tentava me destruir.
Definitivamente, havia algo nele, todo um mistério que, eu sabia, também emanava de mim. E saber que ele, lindo ali sentado, também me observava, intensamente, me fez perceber que Heero Yuy queria algo a mais de mim.
Por isso meu corpo inteiro se arrepiou, em expectativa, quando ele lançou sua pergunta.
-Suas obras são melancólicas, angustiantes, Sr. Maxwell.
-Conheço sua opinião sobre minhas pinturas, Sr. Yuy, leio o caderno de Artes toda manhã. – Ele deu um meio sorriso e notei que todos nos olhavam.
-Por certo que sim. – Disse, polido. – Mas eu, como crítico e, curioso, como um fã das Artes, gostaria de saber se existe alguma motivação pessoal para que o senhor pinte a morte de tantas formas.
Quatre ameaçou protestar e uma tensão pairou no ar, mas eu apenas sorri.
-Sim há. – Respondi. – A morte nos ronda, Sr. Yuy, eu só a mostro para quem não consegue vê-la. – Obviamente, ele não ficou contente com a resposta, mas não protestou.
Mais perguntas foram feitas, elogios foram dispensados e eu fui simpático com todos, conseguindo, ao longo daquelas duas horas, conquistar a simpatia de todos.
Menos de Heero Yuy.
-Bem, senhores. – A voz de Quatre se ergueu, naquele tom, estranhamente, firme. – Sem mais perguntas, porém seu anfitrião lhes oferece um pequeno banquete na sala de jantar.
Vozes se ergueram, surpresas, mas, claramente, aprovando.
-Sinto não poder acompanhá-los. – Disse, suave. – Mas tenho trabalho a fazer! – Ouvi som de risadas e sorri também. – Mas Quatre será melhor companhia que eu, certamente. – Me levantei, vendo-os fazerem o mesmo. – Foi um imenso prazer e, espero sinceramente, que a coletiva tenha sido proveitosa. Para ambos os lados.
Fui para o meio do hall, recebendo seus cumprimentos, um a um, sempre sorrindo, com palavras gentis.
Nem eu sabia que poderia sorrir tanto e tão forçadamente.
Mas valera a pena, havia encontrado o que queria. E, por mais que ele tentasse sair, furtivamente, pela porta, não o deixaria escapar.
-Senhor Yuy. – Chamei, minha voz ecoando no hall já vazio. – Está sendo mal educado.
-A educação nunca foi meu forte. – Afirmou, se aproximando.
Meu coração falhou a batida e o sorriso, pela primeira vez na noite, deixou meus lábios.
-Percebi em seus artigos. – Disse, tocando seu ombro.
Ele retraiu, dando um passo para trás, mas rindo em seguida da atitude tão infantil.
-Eu só vi uma foto do senhor, mas... não lhe faz justiça. – Senti minhas bochechas esquentarem, estranhamente. – Seus olhos são mais melancólicos do que jamais pensei e são, realmente, violetas.
-Minha mãe tinha olhos violetas também. – Disse. – Mas não foi pra isso que fiz todo esse circo, quero que me acompanhe até um lugar... especial.
-Tudo isso... – fez um gesto largo com as mãos, mostrando o hall, transformado em uma sala de entrevistas. – Foi para me ver?
-O senhor escreve tudo que escreve sobre mim, apenas para chamar minha atenção. – Dei de ombros, ajeitando a bata creme que usava, vendo-o corar. – Agora a tem e vai descobrir, porque o escolhi para ver... coisas que ninguém, nem mesmo Quatre, viu.
-Acho que não posso negar então. – Disse, polidamente, seus olhos faiscando.
Lhe sorri, apontando a escada que levava para o andar superior.
Enquanto subíamos, seus olhos, fitavam, ávidos, as obras nas paredes. Sorri, chamando sua atenção.
-Alguns são originais. – Informei e ele deu um pequeno sorriso. – Outros são cópias, obviamente.
-Um pequeno tesouro. – Disse, abrindo o portal de vidro que nos dava passagem para entrar no segundo andar. – Mas não vejo obras suas.
-Logo vai ver. – Afirmei, tomando sua mão e levando-o até a última porta do corredor, do lado direito. – Meu acervo pessoal e especial.
Destranquei a fechadura, com a chave que sempre trazia no pescoço e empurrei a madeira, revelando um espaço amplo e com diversos quadros cobertos, em cavaletes.
Seus olhos arregalaram-se e eu lhe dediquei um pequeno sorriso, ligando o interruptor e iluminando o local, lhe dando uma visão ainda mais ampla.
-É como estar entre fantasmas. – Murmurou, entrando, vislumbrando o mar de quadros cobertos com lençóis brancos.
-São fantasmas. – Afirmei, apontando para um sofá luxuoso no canto do aposento.
-É aqui que você... cria? – Seus dedos se ergueram, ansiosos, mas ele se controlou.
-É aqui que meus fantasmas estão. – Me sentei no sofá. – Foram eles que me tornaram o que sou... eles me criaram.
Ele sentou-se ao meu lado, cauteloso, mas logo relaxou.
Peguei o maço de cigarros que estava sobre uma mesinha de vidro, ao meu lado, e lhe ofereci. Ele negou, polidamente.
-A fumaça... pode estragar as pinturas. – Disse, cauteloso, me vendo acender um cigarro.
-Pensei que não gostasse. – Arrisquei, arrancando os sapatos, jogando-os longe e deixando meus pés tocarem o tapete felpudo.
-Como você disse: precisava ter sua atenção. – Sorriu, pegando o cigarro de meus dedos, levando-o aos lábios.
Seus sapatos também foram descartados, junto com seu paletó.
Ficamos sentados, compartilhando o cigarro e o silêncio.
Minha mente corria em círculos, apavorada, tentando imaginar o porquê que havia levado um estranho para aquele lugar. Para o meu lugar.
Mas, na verdade, a resposta já havia sido dada.
O olhei, vendo-o tragar o cigarro, com os olhos fixos no mar de fantasmas a nossa frente. Era um homem lindo, com traços firmes e atraentes.
Uma força estranha emanava de seu corpo e soube, instantaneamente, que podia confiar nele.
Mas não sabia porque queria dividir aquilo.
Talvez... apenas talvez, o fardo estivesse pesado demais. Foram anos carregando-o, sozinho, sem compartilhar lembranças.
E Heero... era o único...o único que não tinha aquela névoa em volta de seu corpo.
Aquela fumaça cinzenta.
-Bem, diga-me, senhor Maxwell...
-Duo. – Corrigi e ele me olhou, sério.
-Duo. – Entregou-me o cigarro, passando a língua nos lábios, em seguida. – O que, exatamente, faço aqui?
-Heero... – O olhei e ele assentiu. – Digamos que eu o escolhi para mostrar meu passado. – Um sorriso dançou em seus lábios. – Suas críticas são tão intensas que pensei em lhe mostrar o motivo das minhas pinturas serem... depressivas. – Ele permaneceu em silêncio. – Mas nada do que lhe mostrar deverá ser comentado.
-Você é excêntrico.
-Por isso sou um sucesso, mesmo que você não concorde. – Disse, me levantando, oferecendo-lhe minha mão.
Ele aceitou e, quando seu corpo seu ergueu, senti seu calor tão perto quanto possível.
Sorrimos, os dois, admitindo, silenciosamente, que uma atração, irresistível, estava acontecendo.
-Seus cabelos são lindos. – Comentou, quando me virei, tocando minha trança.
-Meu tesouro mais precioso. – Informei, conduzindo-o até o meio do aposento.
Quatro pinturas se destacavam, o brilho dourado dos cavaletes transpassando o pano branco.
-Ouro? – Indagou, surpreso.
-São especiais. – Informei. – São uma fusão. Passado e presente.
Seus olhos correram, ávidos, quando o primeiro lençol foi tirado. A avidez tornou-se choque e, em seguida, em um sorriso estranho nos lábios bonitos.
A nossa frente, um casal simpático nos sorria.
-Os traços são tão... – Parou, analisando o quadro. – Foi você mesmo que pintou? – Afirmei, gostando de seu sorriso. – Lembra-me Botticelli, a Antiguidade Clássica... é tão...
-Diferente do que faço agora. – Completei e ele assentiu.
-Os traços são um pouco imperfeitos, feito por mãos talentosas, mas inexperientes, eu diria, mas ainda sim... é lindo, passa tanto amor... a forma como ele a abraça, o sorriso...
-Só tinha quinze anos. – Disse, cortando-o. – Foi a primeira pintura que mostrei a alguém nessa época, as outras eram esboços que foram pro lixo. São... minha família. – Uma pontada de dor atingiu meu peito, mas não deixei que ele percebesse.
-Seu talento era notável. – Falou, seus olhos ainda vasculhando a pintura. – Definitivamente Botticelli, apesar de que, os personagens dele não tinham sorrisos tão... abertos.
Ouvi suas palavras, que eram escolhidas, cuidadosamente, mas, ao mesmo tempo, pareciam roucas, quase não me atingiam.
Fazia tanto tempo...
-Há mais destas? – Perguntou, ávido e eu sorri, indo para trás de seu corpo.
-Feche os olhos. – Sussurrei, em sua orelha.
O empurrei, suavemente, até a frente da outra pintura, ainda coberta.
Meu coração acelerou e encostei meu peito em suas costas, me inclinando e descobrindo a tela. Seu corpo estremeceu e eu sorri.
-Abra os olhos e me diga, Heero. – Sussurrei, novamente. – Quem é esse?
Caminhei até ficar ao lado da tela, vendo seus olhos arregalarem-se de forma quase cômica.
-É o auto-retrato mais... pretensioso que já vi. – Eu gargalhei, vendo-o rir também.
O anjo de olhos violetas na tela, sorria para ele, agarrado a uma cruz, asas brancas saindo de suas costas, formando uma proteção a sua volta. O fundo azul, ressaltava o corpo semi-nu, coberto apenas por um lençol em sua cintura.
Há tempos não via aquela pintura.
Há muito tempo não me via como um anjo imaculado, resguardado por asas brancas.
Ele analisou a pintura, tecendo breves comentários, mas eu também não os ouvia. Fiquei fascinado, apenas vendo o movimento de seus lábios e seu corpo, ágil, deslocar-se, olhando a pintura por todos os ângulos.
-Há outras como essa? Quero dizer com temas religiosos?
-Botticelli foi meu mestre. – Disse, sorrindo. – Descubra todas, se quiser, só não toque nessas duas. – Apontei os cavaletes dourados. – São para o grand finale.
Ele assentiu e, como uma criança, em uma loja de doces, percorreu, ávido todo o aposento, descobrindo meus fantasmas, fazendo-os dançarem diante dos meus olhos.
-Foram quatro anos pintando para a igreja que eu e meus pais freqüentávamos. – Informei, acendendo outro cigarro. – Cópias descaradas de Botticelli, só que minhas madonas, anjos e santos, sorriam.
-São impressionantes... trabalhos maravilhosos. – Disse, depois de analisar cada pintura.
Sentou-se ao meu lado, tomando, novamente, o cigarro de meus dedos, tragando-o em seguida. Eu o observei, certo de que havia feito a escolha correta.
-Obrigado pelos elogios.
-Por que mudou? – Perguntou, cauteloso. – Quer dizer... suas pinturas agora são, sem sombra de dúvida, uma ofensa a Igreja Católica... anjos decaídos, fazendo sexo, sangrando... santos mortos... a morte em todos os sentidos. – Eu nada disse, apenas recostei minha cabeça no encosto do sofá e suspirei. – A técnica que você usa agora, essa coisa abstrata, mas tão firme, é difícil de ser dominada, penso nela e lembro-me, não sei porque, de Da Vinci, mas não vejo conexão entre vocês dois, a não ser, é claro, algumas pinturas religiosas, mas nessas a técnica é diferente... estou confuso, Duo. – Seus dedos tocaram meu queixo, forçando-me a olhá-lo. – Qual o propósito real disso tudo?
-Tudo o que viu, Heero, foi tudo que fui... antes que... – Me calei. – Talvez você devesse ver ou ouvir a história.
-Meus olhos são mais treinados que meus ouvidos. – Afirmou, dando um suspiro. – E você é melhor com as mãos do que com as palavras. – Eu ri, adorando sua franqueza.
-Bem, vamos descobrir as duas últimas pinturas então. – Nos levantamos, nossos corpos se atraindo.
Mas tanto ele quanto eu, sabíamos que havia algo mais.
Paramos em frente aos únicos dois fantasmas. Eles se destacavam, em meio a anjos e santos sorridentes.
-Se eu lhe pedisse... – Comecei, olhando-o, intensamente. – Escreveria um livro?
-Um livro? – Indagou, surpreso.
-Um livro sobre minha vida... uma biografia.
-Eu não sei... – Disse, confuso.
-Façamos assim: veja as pinturas e o porquê das minhas obras serem melancólicas e... tristes. – Alcancei o lençol que cobria a primeira tela. – Depois decida-se. – Ele afirmou e eu descobri a pintura.
O choque foi palpável.
Ele deu vários passos para trás, quase derrubando os cavaletes.
Diante dele e de mim, a morte dançava e mostrava a sua face em dois corpos, ajoelhados, lado a lado, mãos postas, envoltos em chamas. As bocas se contorciam, em visível agonia. Ao fundo, um altar queimava e um padre, também envolto em chamas, parecia ainda entoar uma prece.
Era um de meus quadros mais realistas, só perdendo para o que ainda estava coberto.
-São... seus pais. – Disse, horrorizado, aproximando-se e tomando uma de minhas mãos na sua.
Nada disse, apenas o deixei contemplar o quadro, já livre do choque inicial.
Fiquei, imóvel ao seu lado, olhando a pintura de alguns anos antes. Não era mais um fantasma coberto. Doeria menos se fosse.
-É como pinta agora, a mesma técnica, só que... mais amadora. – Disse, já mais calmo.
Seus olhos me mostraram que ele entendera, mesmo sem nada ser dito. E foi bom saber que alguém podia entender, sem que as palavras deixassem meus lábios.
-Lembra-se do anjo? – Indaguei, soltando minha mão da sua.
-Você? – Sorriu, desviando os olhos da pintura perturbadora.
-Este é ele agora. – Apontei para a pintura coberta. – Gostaria de vê-lo?
Seus olhos ficaram opacos, pesarosos, provavelmente, já sabendo o que estava abaixo do pano branco.
-Mostre-me como você é agora. – Meu corpo se arrepiou e o lençol foi tirado, revelando a tela.
Um simples anjo arrancava suas asas. O sangue fluía de suas costas e as lágrimas maculavam seu rosto.
Um sorriso triste deixou meus lábios, junto com uma única lágrima.
Heero a enxugou com a ponta dos dedos e puxou os cordões de minha bata, descendo-a o suficiente para que, um bom pedaço de minhas costas ficasse nu.
Com deliberada lentidão, foi apara trás de meu corpo.
-Tantas feridas... – Murmurou, beijando meu pescoço. – Ainda abertas... a cada pintura, a cada tela...
Seus lábios encontraram meus ombros e costas, depositando suaves beijos. A língua quente dançava em minha pele, como se pudesse limpar o sangue de onde as asas foram arrancadas.
Eu ainda podia sentir as cicatrizes doerem... onde as asas foram tiradas, sem dó, onde minhas unhas perfuraram a carne, procurando silenciar a dor mais profunda.
Senti as dores antigas me atingirem, uma a uma, mas Heero me amparou, abraçando-me por trás, e eu, estranhamente, cedi.
Era quase como estar casa.
-Mostre-me com palavras. – Heero pediu, mas eu neguei.
-Não posso. – Disse, me desvencilhando de seus braços e ajeitando a bata.
-Não quer um livro? – Pegou minha mão, conduzindo-me até o sofá.
-Você o fará?
-Apenas se você me falar, me mostrar o que, exatamente, aconteceu com suas asas. – Seus dedos encontraram meu rosto. – Suas lindas asas.
-Foram arrancadas. – Respondi, desviando o olhar.
Me senti como há nove anos antes, quando tudo aconteceu.
Sozinho e desamparado.
Mas eu não podia me sentir daquele jeito, já havia me acostumado a estar sem minhas asas, já havia acostumado a apegar-me à lembrança de que tinham arrancado, impiedosamente, minha fé e minha candura.
-Você as arrancou. – Heero disse, deslizando os dedos por meu pescoço.
Então ele me abraçou, puxando meu corpo contra o seu, me colocando entre suas pernas. Sufoquei com a proximidade, medos antigos me atingindo, mas ele não me soltou.
-Me obrigaram a arrancá-las, quando... tudo aconteceu. – Seus braços estavam firmes, me apertando.
Assustado, notei que tremia, violentamente.
-Você quis arrancá-las. – Afirmou, sua voz calma me passando tranqüilidade. – Ninguém lhe obrigaria a macular seu corpo, se você não quisesse.
-Talvez eu... quisesse esquecer que fui um anjo. – Minha voz soou fraca e, repentinamente, tive raiva de Heero.
Raiva por ter tido a idéia estúpida de querer tê-lo ali.
-Anjos são sempre anjos. – Falou, acariciando meus braços. – Mesmo sem suas asas.
Continua...
Créditos, mais uma vez, a Celly... pessoas, acreditem, a culpa foi dela! Eu comentei com ela sobre esse minha idéia e ela, simplesmente, me pentelhou até eu começar a escrever! Fiquei tão perturbada que o fic veio me perseguir em sonhos! Por tanto... se tiverem que culpar alguém a respeito desse fic...culpem a Celly!
Bem, quanto as reviews, eu adoraria responder uma por uma, mas sabe se lá se o vai surtar? Mas quero que cs saibam que fiquei muito feliz com os coments, viram? E olha que foi só o prólogo... espero que esse cap tenha correspondido as expectativas de vcs!
Deixo aki meus agradecimentos pelas reviews a: Celly, Ju, Megara, Litha-chan, Athena Sagara, Chibiusa-chan, Aniannka, Aryam, Sakuyae Calíope!
E a todos que leram, mas não comentaram!
Bem... com esse cap dou início, realmente, ao fic e espero que vcs, que acompanharem, gostem de ler, tanto quanto eu gostei de escrever! Vejo vcs no próximo cap?
Bjinhos e lembrem-se: quanto mais reviews, mais rápido vem o próximo cap, heim?
De última hora, gostaria de comentar algo com vcs: por um motivo estranho, misterioso e sei lá mais o que, um fic meu foi deletado ( Um Novo Começo, meu primeiro fic)... sinceramente, não faço idéia do pq alguém deletaria um fic de muitos meses atrás... estou indignada sim, mas estou mais chocada. É uma pena que as pessoas façam isso, quando o intuito aqui é só divertir.
É isso... espero que coisas desse tipo não ocorram nem comigo, nem com ninguém. Estamos todos aqui por diversão, não é? Então pq puxar o tapete dos outros? Vou repostá-lo, mas se acontecer de novo, vou parar de escrever, pq isso tudo vai me dar mais aborrecimento do que prazer e eu não gostaria que isso acontecesse, pois gosto mesmo de escrever.
Desculpe importunar vcs.
