Retratação: Gundam Wing e seus personagens não me pertencem, porque se pertencessem, com toda certeza, o Duo não teria atirado no Heero, mas na Relena e ela teria uma morte bem dolorosa. Porém os personagens: Lindsay Vuorinen, Nikolay Karpol, Alessandro Yuy e os outros que não me lembro (¬¬) são de minha autoria.

Agradecimentos: Well... A Celly, primeiramente, claro! A moça me ajudou bastante, do nome de um personagem às ameaças de morte e, claro, merece todos os agradecimentos por me aturar no msn falando desse fic e fora dele! E a Juzinha, né? Uma fofa que leu o fic e foi me dizendo o que achava. E, claro, a vovó Evil Kitsune e a titia Lien Li também!

Sumário: Até onde uma alma ferida pode ir? Certas dores nos transformam em algo que não queremos, mas somos forçados a ser, até o ponto que não sabemos quem é nosso verdadeiro "eu". Yaoi – Lemon – 1 x 2.

Observações: Tudo citado sobre a Igreja Católica são pontos que eu achei importantes no fic e não tenho a intenção de ofender a crença de ninguém, que isso fique bem claro. Caso se sintam mal com os comentários ferinos a respeito da religião e de Deus no fic, ignorem-nas, não é minha opinião, mas foram necessários para o bom andamento da história.


Hard To Say 'I Love You'

Naquela noite não nos tocamos como sempre fazíamos, apenas nos abraçamos e dormimos.

E, juro, nunca doeu tanto.

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Capítulo VI

Semanas depois, máscaras já no lugar, ignorâncias e trocas de gentilezas feitas, eu estava sentado na sala dos fantasmas, confortavelmente, pensando em toda aquela merda que estava acontecendo.

Eu já conseguia aceitar os gestos carinhosos de Heero sem protestar e podia, até mesmo, me abster dos comentários sarcásticos e sorrir com ele.

Raras vezes, claro.

Mas era um começo para ele... e o fim pra mim.

Só eu sabia o quanto custava sentir aquilo tudo em meu peito, aquela necessidade de tê-lo por perto, mesmo que negasse para ele... e para mim.

Era difícil, doía pra cacete, mas, por mais que lutasse, não conseguia deter nada, só diminuir o ritmo dos acontecimentos, mas... Heero estava bem perto daquele lugar... aquele que doía só em pensar.

Por isso eu tinha que lutar ainda mais, não porque eu era um bastardo sem coração, mas porque... tinha medo de me machucar.

Merda! Estava sendo fraco de novo! Fraco como aquele rapaz em Berlim, tremendo, chorando, se machucando.

Não... não mais.

Toquei as cicatrizes em meus pulsos e suspirei.

Nunca mais voltaria a ser fraco e chorar por alguém. Ninguém se aproximaria daquele pedaço de meu coração.

Nem mesmo Heero e sua infinita paciência.

Decidi isso, enquanto acendia um cigarro.

Acabara o momento de fraqueza.

-Sabia que estaria aqui. – Heero apareceu, silencioso como sempre.

-Você sempre sabe de tudo. – Disse, irônico. – Mas poderia, por favor, me deixar sozinho?

-Você poderia deixar de agir como um maldito babaca, por um momento apenas? – Perguntou, sentando-se ao meu lado.

-Idiota. – Murmurei, irritado.

-Não sou eu que tento, sem nenhum sucesso, lutar contra algo que é impossível vencer. – Me olhou, duramente. – Não sou eu que insisto em viver no passado, achando que tudo vai se repetir.

-Não fale nisso. – Murmurei, entredentes. – Não tem o direito.

-Sim, eu tenho, porque sou a principal vítima das suas crises e seus acessos repentinos. – Segurou meu queixo, me machucando.

-Está aqui porque quer, nunca lhe pedi que ficasse, que voltasse todas as noites. – Suspirei, me desvencilhando de seu toque bruto. – Quando você vai perceber que é apenas mais um na minha vida? Mais uma foda?

-Você mente.

-E você se acha mais importante do que é. – Respondi, mais firme do que pretendia. – O que te faz crer que merece mais que os outros? Eu admito que você tem algo a mais, mas não se dê tanto valor, Yuy... não é tão importante pra mim quanto pensa. – Seus olhos brilharam, magoados e eu senti aquela dor estranha em meu peito.

-Ou você é cego ou... – Se levantou, rapidamente. – Ou não presta mesmo.

-Não pense que porque não enxergo o que você quer, eu sou cego. – Me levantei também, petulante. – Enxergo que existe algo a mais sim, mas não é tão forte quanto pensa... há sexo, tesão e talvez... afeto, nada a mais.

Heero apertou meus braços, me machucando e eu gemi de dor.

Minha boca foi esmagada com a sua e suspirei, entre a tristeza e a euforia.

-Se você só quer sexo... é só que lhe darei, por hora. – Desviei os olhos. – Mas não é o que quero oferecer... quero lhe dar amor, mas a escolha é sua.

Era tão simples dizer apenas que sexo estava bom... que não podia ser amado, que não queria amar... mas eu queria... droga! Eu queria que ele me tocasse com amor, mesmo que eu não pudesse retribuir da mesma forma.

-Dê-me tudo. – Disse, por fim. – Só não espere o mesmo de mim. Não lhe amo e jamais amarei, espero que saiba disso, vou te machucar, te ferir, sempre que puder, porque é como posso me defender. Nunca espere mais do que temos, o que vier daqui para frente será lucro... pra você... a escolha não é minha. – Falei, sinceramente.

Como resposta tive os lábios beijados, com aquela doçura tão característica.

O ataque era sempre a melhor defesa.

Nessa mesma noite fui torturado de todas as formas possíveis. Heero me tocou, me acariciou, me machucou... alternou momentos entre a luxúria e o carinho, criando um turbilhão onde me perdi e me achei, diversas vezes, hora após hora, minuto após minuto.

-Mais... – Implorei, sentindo seus dedos dançarem dentro de mim. – Por favor...

Como resposta os toques continuaram, hora brutos, hora mais carinhosos e quando, finalmente, pude senti-lo dentro de mim... a sensação foi forte demais e explodi no orgasmo mais louco da minha vida.

-Isso é só metade do que posso oferecer. – Ele sussurrou, investindo contra meu corpo esgotado. – Você vai sentir, na carne, agora, tudo que posso lhe dar, querendo... ou não.

Eu gritei, como nunca havia gritado, caindo da beira do precipício tantas vezes, que por fim, desisti de contar.

Na manhã seguinte, meu corpo tinha marcas multicoloridas e estava, decididamente, esgotado.

Anotei, mentalmente, que não deveria mais desafiar Heero tão abertamente, ele tinha um poder absurdo sobre meu corpo e minhas reações.

E também decidi aceitar, sem relutância, tudo que ele quisesse me dar. Afinal... se só ele cedesse, só ele sentisse... o único coração machucado seria o dele. O meu continuaria em sua caixa, blindada e inalcançável.

Bem... nem tanto.

Quando abri meus olhos, naquela manhã, sentindo certas partes doerem mais que outras em meu corpo, meditei por certos momentos sobre toda aquela situação meio... bizarra.

Heero estava, decididamente, apaixonado, isso era certo, mas... ainda podia me trair, me abandonar, me fazer voltar a ser quem eu não queria, logo... eu não poderia deixar isso acontecer.

Nem que precisasse mandar matá-lo.

O senti se remexer ao meu lado, seu rosto afundado em meu pescoço, e suspirei.

Não... não teria coragem de machucá-lo... a não ser que fosse para não me machucar, porque, com toda certeza, eu faria qualquer coisa para não voltar para aquele lugar escuro onde fui quando tudo foi para o inferno.

Umhum... aquele cantinho obscuro da minha mente não... de novo não.

Resumindo meus pensamentos... eu queria receber, mas não dar. Nunca ceder, nunca precisar, nem confiar... eu já sabia onde isso me levaria e não queria passar, novamente, pela experiência de não poder contar com quem se ama, de ser traído... não mais.

E só passaria por tudo aquilo de novo se Deus fosse um sádico, que me odiasse e me fizesse apaixonar por Heero.

Como eu já sabia dos sentimentos Dele por mim... melhor me preparar pela dor que, certamente, viria.

-Posso escutar as engrenagens de seu cérebro funcionando. – Heero murmurou, sonolento, se agarrando mais a mim, me fazendo lembrar de outras partes doloridas.

-Tape os ouvidos e, até onde me lembro, essa cama é minha. – Respondi, bocejando. – E você sabe o caminho da porta.

-Acho que exagerei ontem a noite, pra você acordar tão azedo assim. – Se esfregou em meu corpo, como se fosse alguma espécie de felino. – Dá próxima vez, tentarei fazer algo diferente.

-Quem disse que terá próxima vez?

-Você. – Respondeu, como o bom sádico que era. – No momento que entrei, completamente, em seu corpo, lembra-se? Você disse que queria me sentir muitas e muitas vezes, entre outras coisas, que posso repetir para refrescar sua memória, se for o caso, posso, até mesmo, recordar dos seus gemidos, doces, desesperados em meu ouvido...

-Bastardo... – Disse, entredentes, realmente, revoltado.

Por que, diabos, eu tinha que ser tão vocal durante o sexo?

-Certamente, meu anjo, agora, porque não pára de resmungar e tenta dormir mais um pouco? – Perguntou, parecendo, genuinamente, preocupado. – Você está com algumas olheiras. – Disse, severo. – Venha, durma mais um pouco.

Tentei protestar, mas ele ignorou o que eu disse e, simplesmente, me abraçou, me fazendo apoiar a cabeça em seu peito, enquanto acariciava minhas costas.

-Não quero dormir... quero que você vá embora da minha vida... – Eu disse, sonolento.

-Claro que sim, meu anjo... claro que sim. – Sussurrou, doce, beijando o topo de minha cabeça.

Fui embalado por seus braços e seu corpo.

Odiei aquela proximidade e aquele carinho... odiei ainda mais porque, em nove anos, nunca havia me sentido tão protegido como me senti naquela manhã.

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Acordei muitas horas depois, ainda sentindo-o perto de mim.

Mas eu não estava mais em seus braços.

Heero estava sentado, na cama, ao meu lado, com um laptop no colo, com seus óculos de leitura que o deixavam, incrivelmente, sexy.

Se meu maldito corpo não doesse, eu pularia em cima dele.

-Boa tarde. – Ele disse, parecendo feliz.

-Por que me deixou dormir tanto, idiota? – Perguntei, me sentando e esfregando os olhos. – Não sabe que tenho que trabalhar?

-Não seja tão ácido hoje, estou feliz porque você não teve pesadelos. – Inclinou o corpo, beijando meus lábios. – Dormiu como um anjo.

-Pesadelos? – Indaguei, apavorado.

Não... Heero não poderia, não deveria... não tinha como, eu me lembraria e...

-Os que você tem todas as noites. – Ele respondeu, colocando o laptop de lado e me encarando, curioso. – Duo, você está bem? – Tentou me tocar, mas eu recuei, assustado.

Aquilo era, positivamente, absurdo. Eu não tinha pesadelos há muito tempo, pelo menos, não me lembrava. E se eu os tivesse, ainda, com toda certeza, Heero não estaria mais ali.

Eu o teria assustado com meus gritos e ofegos.

Eu sabia, Quatre me dissera que meus pesadelos eram... terríveis.

-Eu... como você sabe? Por que nunca me contou, eu... – Ele piscou, confuso e se aproximou, ajoelhando-se em minha frente.

-Você não lembra? Eu pensei que não quisesse tocar no assunto... – Disse, deslizando os dedos por meu rosto. – Você está frio, Duo... o que está acontecendo? – Tentou me abraçar, mas eu o afastei, bruscamente.

-Não toque... não toque... – Repeti, com os olhos arregalados.

Como eu podia ter aqueles malditos pesadelos e não me lembrar? Como eu poderia sonhar com aquela noite, com tudo que aconteceu e... não me recordar na manhã seguinte?

Eu sabia, eu lembrava que os pesadelos machucavam, porque vinham sem aviso, não eram como contar a história, novamente... eu não estava preparado quando eles chegavam e roubavam minha tranqüilidade.

Heero me olhava, parecendo assustado, mas nada disse, apenas sentou-se e ficou me olhando, com um carinho brilhante em seus olhos.

Era um pedido... ele queria que eu voltasse, que não mergulhasse naquele lugar escuro.

Mas por que, diabos, eu não lembrava? Por que ele continuava ali?

-Deixa eu explicar, ok? – Assenti, ainda tremendo, levemente. – Os pesadelos vinham, mas... eu acho que os expulsava, não sei... eu te abraçava apertado e você dormia, novamente.

-Você os mandava embora? – Perguntei, chocado demais.

Ele não podia ter todo esse poder, ele não devia.

-Não sei direito... – Balançou a cabeça, como se quisesse expulsar alguma imagem ruim. – Duo, você está me assustando, por favor, pare.

Foi minha vez de sacudir a cabeça, notando que estava balançando o corpo e fincando as unhas em meus braços, arrancando sangue.

-Eu... eu... – Parei, realmente, assustado.

Heero parava meus pesadelos, interrompia as memórias mais dolorosas que eu tinha, praticamente, por momentos, me fazia esquecer... me fazia voltar a ser aquele garoto religioso, feliz e... sem traumas.

Quão bizarro era aquilo?

Eu não queria voltar a ser o Duo de antes do inferno começar.

Merda! Eu gostava de ser um artista famoso, traumatizado e mal caráter, por excelência.

-Duo! – Heero gritou, me puxando para perto de seu corpo, quase me sufocando com a força de seu abraço. – Você está me assustando, de verdade.

Fiquei parado, a verdade me atingindo, dolorosamente, enquanto as mãos fortes de Heero esfregavam minhas costas nuas, vigorosamente.

Aos poucos meu corpo relaxou e fiquei largado contra ele, suspirando, dividido entre ficar assustado ou revoltado por ter permitido que alguém chegasse tão perto.

Algum tempo depois, Heero me deitou na cama, me cobrindo e deitando ao meu lado, me abraçando apertado.

Era tão... bom, tê-lo ali, sabendo que ele podia afastar aquela dor, pelo menos durante meu sono, mas... isso era perder o controle e eu... não queria isso.

A questão era: eu tinha como não lutar?

Já havia me decidido receber tudo que Heero quisesse me dar e ele queria me dar conforto, paz... amor.

O melhor era não pensar... só deixar acontecer.

-Duo, meu anjo, eu queria... – Me movi, encarando seus olhos que brilhavam, preocupados.

-Você não me disse porque ficou obsessivo por mim. – Disse, tentando sorrir, mas falhando.

Heero suspirou, contrariado por não poder tocar no assusto que desejava, mas cedeu, sorrindo, falsamente, junto comigo.

-Há alguns anos atrás, eu tentei marcar uma entrevista com você, mas seu cão de guarda não deixou, disse-me que Duo Maxwell era importante e ocupado demais para lidar com pessoas como eu, simples críticos. – Fechou os olhos, parecendo remexer lembranças antigas. – Decidi que teria sua atenção, desde aquele dia. Um motivo bobo, mas ninguém ignora Heero Yuy.

Eu ri, verdadeiramente, e o beijei.

Tentei não notar, não admitir que estava cedendo... mesmo que aos poucos.

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Acho que, pelo menos, dois meses haviam se passado e eu mentia para mim mesmo, afirmando que prolongava minha permanência na França por que haviam negócios...

Mas era por Heero.

Ele ainda me visitava, mas não todas as noites e algumas vezes, raras vezes, nós saíamos. Não para jantar ou coisas parecidas... apenas ficávamos caminhando, observando o rio Senna e conversando sobre amenidades.

Acho que... estávamos juntos.

Não estou dizendo que éramos namorados ou algo parecido. Éramos, amantes mais... firmes, afinal, eu não me deitava com mais ninguém e, supunha, que Heero também não. Bem, não que se ele fizesse isso, eu ficaria chateado, ou triste, ou cortaria os pulsos.

Provavelmente, ficaria furioso por não ser o suficiente para ele.

Bobagem... a verdade, por mais cruel que pudesse ser, era que eu sentia... ciúmes ao imaginá-lo com outra pessoa, fosse homem ou mulher.

Heero era meu, não o contrário e, logo, eu tinha que zelar pela minha posse.

Minha e somente minha.

Claro que eu ainda estremecia cada vez que pensamentos errados passeavam pela minha mente, mas estava seguro de que não o amava. Bem... estava apaixonado, e isso era bem diferente.

Era o toque dele, a voz, o corpo... não... eu não estava com ele por sua inteligência ou senso de humor negro, tão parecido com o meu... não era por ele ser um homem incrível, bondoso e... raios! Eu só gostava de estar com ele, o que queria dizer que, possivelmente, eu não queria, nem pretendia, envelhecer ao seu lado e toda essa besteira.

Blá, blá, blá, paixão e nada a mais.

Seguramente era isso.

As vendas de meus quadros foram extremamente lucrativas e, ao final daqueles dois meses, não haviam mais motivos para a minha permanência ali.

Estava na hora de partir, voltar a Londres e criar novos quadros lá. Não na França... não perto de Heero. Ele tirava minha concentração e, mais de uma vez, me peguei pintando cenas, no mínimo, inusitadas, para alguém como eu.

Sim... partir seria bom, mas... não poderia deixar Heero. Afinal, quem mais me tocaria como ele? Quem mais me faria perder o controle e ceder daquela forma?

Talvez... eu o devesse levar comigo, talvez Heero dissesse não e eu poderia jogar-lhe na cara que ele não era e, nunca fora, apaixonado por mim, afinal, não era capaz de largar tudo.

Seria um bom motivo para conseguir me libertar dele.

Mas todas as minhas convicções e planos mirabolantes vieram abaixo no exato momentos que o-motivo-de-todo-o-meu-tormento entrou pela porta, alheio, como sempre, aos meus pensamentos auspiciosos.

Me cumprimentou, beijando minha testa e colocando-me em seu colo.

Como eu detestava quando ele me tratava daquela forma, mas nunca reclamava e passava os braços por seu pescoço, beijando seus lábios.

Uma cena típica de dois... namorados.

Que não éramos.

-Já lhe disse que lhe amo? – Perguntou-me, abraçando-me apertado.

Merda! Eu odiava quando ele me dizia aquelas coisas, me fazia sentir um monstro, um crápula por não acreditar naquela baboseira. E Duo Maxwell, definitivamente, não gostava de ouvir palavras-doces-com-segundas-intenções.

-Mais vezes do que eu queria e gostaria de ouvir. – Respondi, seco.

-Estamos afiados essa noite, huh? – Brincou, sem nem ao menos se abalar com o que eu havia dito.

Na verdade, Heero tinha a facilidade bizarra de não se deixar atingir por nenhuma das minhas palavras ferinas, dirigidas somente para machucá-lo. Pelo contrário, o bastardo parecia se divertir às minhas custas, sorrindo de uma forma zombeteira, como se dissesse que podia me ler nas entrelinhas.

E eu não gostava que lessem tão perfeitamente.

-Cansou de corrigir provas e trabalhos e decidiu me ver? Percebeu que sou mais interessante? – Indaguei, mudando de assunto, aborrecido.

Uma vez, apenas uma, eu gostaria de ver Heero se chateando com minhas palavras. Mas era pedir demais, ele jamais iria se mostrar magoado com nada que eu dissesse.

-Oh, sim, meu anjo. Definitivamente, sim. – Acariciou meus braços, enquanto beijava minha bochecha, de forma, extremamente, doce.

Ergui uma sobrancelha, desconfiando de todo aquele carinho. Ok, Heero era muito, muito doce quando queria, mas... aquela ereção contra meu quadril deveria mudar as coisas, não?

Aparentemente, não.

Continuou suas carícias, beijos e tudo que me fazia, praticamente, derreter em seus braços, sendo reduzido a uma massa disforme e satisfeita.

-O que está fazendo? – Perguntei a certa altura, quando seus dedos correram por meu pescoço, com adoração.

-Te matando de bondade. – Estalou um beijo em minha testa. – E carinho. – Segurou meu rosto em suas mãos, me olhando. – Consegue imaginar uma forma melhor de morrer?

-Hee... – Praticamente, choraminguei, fechando, firmemente, meus olhos.

Merda! Eu, realmente, odiava aquele comportamento.

O meu, não o dele.

Aquela coisa de ficar como um garotinho encolhido contra seu corpo, pensando em como era bom estar ali, apenas... existindo, sentindo seus carinhos em minhas costas, meus braços, meu rosto... droga, droga, droga! Quantas noites havia perdido jurando que não deixaria mais Heero fazer aquilo? Abaixar as barreiras que ele sabia que existia e sabia também que era o único que... podia e conseguia abaixá-las.

Oh... ele era um bastardo.

Heero sabia que eu ficava sensível e, malditamente, vulnerável quando tinha aqueles súbitos surtos de carinhos. Eu sentia que... estava precisando estar ali, precisando senti-lo tão perto quando possível, me dando amor porque queria dar, não por retribuição ou obrigação... ele apenas queria estar ali comigo.

Eu odiava gostar tanto daquela atenção.

Podia notar que, aos pouquinhos, algumas barreiras que cediam naqueles momentos, não se erguiam de novo, apenas desapareciam e, quando Heero ia embora, me sentia desprotegido.

Diabos! Só haviam duas opções: ou acabava com aquilo ou não poderia deixar Heero partir.

Que ótimas duas escolhas eu tinha! Maravilha, Maxwell, você conseguiu se reduzir a um pobre mortal como qualquer outro.

Quando havia me tornado tão humano, mesmo?

Ah... claro! Quando aquele sádico, bastardo, desgraçado, caiu de pára-quedas na minha vida.

Melhor era não seguir aquela linha de raciocínio. Na última vez acabei de porre, com Heero cuidando de mim, me dando lições como se fosse meu pai ou coisa parecida.

E eu, definitivamente, não precisava de um pai. Precisava de um homem que fizesse sexo comigo... mas para isso tinha que parar de agir como um, maldito garotinho carente.

Por isso tentei me desvencilhar, mas Heero me abraçou mais forte, sussurrando algumas palavras bobas. Tentei me convencer que ficara ali porque ele era, definitivamente, mais forte, mas...

Raios!

Eu queria estar ali.

Estávamos numa espreguiçadeira, no terceiro andar da casa, na parte que não havia cobertura. O Senna corria a nossa frente, tranqüilo, como sempre fora, há séculos. E eu me irritava com aquela tranqüilidade.

Eu estava ficando de saco cheio da França, o lugar inteiro me parecia tranqüilo demais.

-Você está me destruindo. – Murmurei, cansado, aborrecido e aquecido, entre seus braços.

-Estou te salvando. – Respondeu, suave.

-Não quero ser salvo, merda! – Sentei com uma perna em cada lado de seu corpo, me debruçando sobre seu peito. – Nunca lhe pedi que me salvasse, que... ficasse.

-Mas também nunca me pediu, seriamente, para ir. – Disse, tranqüilo, tirando a franja de minha testa. – Mas se quiser que eu vá... é só dizer.

O encarei, incrédulo. Como ele podia, simplesmente, falar aquilo, como... como se só estivesse ali porque não tinha outro lugar para ir, como se não fosse importante?

O sorrisinho em seus lábios me desafiou e tive vontade de mandá-lo embora, ou para o inferno, e lhe dizer algumas palavras bem, bem, bem ofensivas, mas... não consegui. Apenas fiquei lá, olhando-o, sentindo meu coração bater mais rápido com a perspectiva de que, aqueles momentos que eram tão... especiais – droga não queria usar essa palavra – para mim, fossem apenas... momentos para ele.

-Não disse que quero ir. – Falou, sorrindo de forma carinhosa. – Apenas não ficaria se você não quisesse que eu ficasse, se não quer, se... prefere me ver longe, apenas diga.

Suspirei, me virando, encostando minhas costas em seu peito, ficando entre suas pernas.

-Diabos, Yuy! – Murmurei, cansado. – Já lhe disse que lhe odeio?

-Oh, sim. – Ele riu, entrelaçando os dedos com os meus. – E, em certas vezes, eu quase acreditei.

Eu também.

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Dormi, sobre Heero, naquela posição vergonhosa.

Vergonhosa porque era meio submissa, meio... "preciso de você", mas... de qualquer forma, despertei sendo carregado por ele, em direção ao nosso – correção – meu quarto.

Porém, antes que chegássemos a cama e, conseqüentemente, tivéssemos a chance de fazer o que sempre fazíamos, – além de dormir, claro – Quatre nos barrou, inconvenientemente, claro.

-Carta pra você, Duo. – Disse, sem comentar que eu estava no colo de Heero, sendo carregado como um bebê.

-Leio depois. – Disse, displicente.

dela.

Arregalei os olhos, meus ombros se retesando, rapidamente. O que, diabos, ela queria comigo, depois de tudo que lhe disse?

-No chão. Agora. – Disse e Heero me colocou de pé, com um olhar confuso no rosto. – Quatre, meu querido, quantas vezes lhe pedi para não me passar nada dela? – Perguntei, tomando a carta de suas mãos e querendo rasgá-la, mas... ler não faria mal.

Puxei Heero pela mão, batendo a porta do quarto com força.

Pior do que parecer fraco era cometer um erro e Lindsay Vuorinen fora, sem a menor sombra de dúvida, o maior erro de toda a minha vida.

Já disseram que garotas mimadas podem ser, extremamente, irritantes?

-Duo? – Heero tocou meu ombro, me fazendo pular de susto. – O que você tem?

-Nada. – Disse, ríspido, me arrependo, em seguida.

Eu podia ser grosso e mal educado com ele, mas só por vontade própria ou quando a culpa era dele, mas, naquele caso, Heero estava inocente, não tinha que agüentar meus problemas e minhas mudanças de humor provenientes deles.

-Quem é ela? – Indagou, curioso e eu tive vontade de dizer-lhe que não era de sua conta.

Mas, não o fiz.

Na verdade, estava mais ocupado vasculhando minha mente, questionando porque ficara tão perturbado com a maldita carta... com Lindsay e tudo que ela trazia.

Não... eu nunca a amei, nem nada parecido, mas havia algo que havia me irritado, profundamente, nela. E não estava pensando em sua personalidade mimada e arrogante.

-Ela era uma garota mimada, de uma família rica da Inglaterra, com quem tive um romance e, tempos depois, me contatou em Moscou, querendo que eu... resolvesse um problema para ela. – Expliquei, abrindo a carta.

-E você negou?

-Digamos que... o problema não era meu, eu não o queria, não o desejava e... – Me calei, respirando fundo. – Você... se importa se eu...

-Vou pedir para servirem o jantar aqui. – Disse, dando-me um beijo e saindo em seguida.

Sorri, não sabia se de nervoso ou achando graça dos ciúmes, completamente, explícitos nos olhos de Heero. Decidi pela segunda opção e sentei-me no sofá que havia no canto do quarto, lendo, calmamente, a carta que me fora endereçada.

A medida que meus olhos corriam pelas linhas, palavras nada amigáveis saiam de meus lábios. Como uma menininha aristocrata conhecia tantas palavras de baixo calão? Afinal... eu havia lhe feito algum bem. Mas no fim da carta, o que, verdadeiramente, interessava, estava em letras vermelhas, destacadas... berrantes.

Um endereço, o paradeiro do... problema dela.

Não... eu não iria resolvê-lo para ela, nem pensar. Lindsay criara o problema, ela que resolvesse, eu nada tinha a ver com aquilo.

Estranhamente, quando acabei de ler a carta me sentia... cansado, esgotado e tudo que fiz foi me jogar na cama, encolhendo meu corpo e abraçando meus joelhos.

Se, realmente, aquilo tudo não importava, por que me sentia tão mal?

Heero escolheu entrar no quarto no exato momento que articulava uma resposta e, como a frase que surgiu em minha cabeça não me agradava, direcionei um grande sorriso a ele.

-Tudo bem? – Indagou, sentando-se na beira da cama, colocando minha cabeça sobre suas coxas.

-Claro! – Respondi, incerto. – Não responderei e ela... vai entender que nada tenho haver com a vida dela... o que tínhamos acabou e finito. – Heero sorriu, deitando ao meu lado.

-As pessoas não têm a mesma facilidade de se desapegar como você, meu anjo.

-Então deveriam não se apegar, primeiramente, como eu. – Disse, prático, abraçando-o.

-Nunca se apegou a nada depois... daquele dia? – Questionou, meio brincalhão, me fazendo olhá-lo, enquanto sorria daquela maldita forma eu-sei-o-que-sente-por-mim.

-Oh... eu, realmente, te odeio, Heero Yuy.

-Oh sim... você me odeia, Duo Maxwell. – Riu, bagunçando meus cabelos, colocando os dedos na ponta de minha trança.

Hesitei, incerto.

Meu cabelo era... meio especial. Especial do tipo toque-e-morra. Fora uma promessa que minha mãe fizera, devido a complicações na gravidez.

Mas por que, diabos, ela achava que Deus ficaria feliz caso eu tivesse cabelo longo, é uma coisa que nunca entenderia, mas mesmo sem entender, havia me resignado... estranhamente, admito.

Quando tudo foi para o inferno eu deveria, supostamente, me livrar de tudo que me ligasse ao passado, mas... não meu cabelo. Eu o amava de uma forma doentia, acho que era uma das coisas que me ligavam ao passado, mesmo que eu odiasse o passado...

Ok! Eu era complicado.

-Duo, o que você tem? – Pisquei, confuso, encarando o rosto preocupado de Heero.

Tão doce, tão sincero... tão meu.

Me sentei, colocando os dedos sobre o elástico na ponta da trança e o arranquei.

Foda-se o passado.

Heero arregalou seus olhos, da melhor maneira que suas feições orientais permitiam e abriu a boca, em uma perfeita imitação de um peixe.

Diabos! Ele deveria dizer alguma coisa, um "você é lindo" ou "você é maravilhoso"... bem... algo que implicasse que eu ficava, definitivamente, perfeito daquela forma.

-Duo... – Murmurou, seus dedos alcançando as mexas que estavam sobre meus ombros.

-Se não vai dizer como fico lindo, vou prendê-los de novo! – Disse, irritado.

-Não seja estúpido! – Falou, firme. – Se você ameaçar prendê-los enquanto estiver comigo, juro que nunca mais apareço. – Meus olhos se arregalaram e eu sorri, insinuante.

-Estou perfeito, não estou?

-Oh, sim... mas ficaria melhor se estivesse bem aqui... – Deitou com as costas na cama, os braços abertos. – Agora.

Eu ri, livremente, me jogando sobre ele, saboreando aqueles momentos em que só existíamos nós dois. Nada de igrejas em chamas, pesadelos, coisas indo pro inferno ou problemas alheios.

E sem barreiras também.

Jantamos algum tempo depois.

A comida estava fria, mas... o que fizemos antes de jantar foi, extremamente, prazeroso e, definitivamente, a comida seria agradável mesmo que consistisse em sopa de pedras.

Nem eu sabia que transar com Heero com os cabelos soltos podia ser tão... excitante.

De qualquer maneira, jantamos, tomamos banho e transamos mais algumas sem conta de vezes. Tudo estava normal.

Absolutamente, normal.

Até eu acordar no meio da noite, procurando Heero e achando-o sentado no sofá, carta na mão, olhos arregalados e mão sobre a boca.

Merda! Tudo estava bem.

-Não sabia que era do tipo que lia as correspondências dos outros. – Disse, acendendo um cigarro, me recostando no espaldar da cama.

-E eu não sabia que você podia ser tão... como pode, Duo? – Indagou, os olhos mais brilhantes que o normal.

Eu não podia saber se eram lágrimas ou indignação.

O chamei para perto e ele veio, sentando-se ao meu lado. Pousei a mão em seu rosto, não sabendo que reação esperar.

-Eu não pedi por isso. – Disse, vendo-o respirar fundo, fechando os olhos.

-Até onde sei, tem tanta culpa quanto ela.

-A culpa foi somente dela, eu lhe disse que não queria, que não podia, que não... você entende. – Falei, buscando, pelo menos, um pouco de compreensão em seus olhos, mas não achei nada, só uma mágoa profunda.

-Eu não entendo... sinceramente, Duo, no início eu pensei que você era, realmente, uma merda de um bastardo, mas como o passar do tempo eu percebi que não era assim... você era carinhoso, gentil e, por mais que você negue, eu sei que gosta de mim, mas isso... – Fez um gesto, apontando a carta no sofá.

-Ela planejou tudo, Heero! Queria sair de casa e essas coisas, mas... eu fui o cara errado e, realmente, sinto muito por ela. – Pensei por segundos. – Não, não sinto nada. Ela procurou por isso.

Dei de ombros, continuando a fumar meu cigarro.

-Você é...

-Eu sei o que sou. – Disse, seco. – E você? O que tem haver com tudo isso? Leu minha correspondência e agora se acha no direito de me julgar? – Me ergui, não me importando com a nudez. – Dê um tempo! Ela furou a camisinha! – Gritei, furioso. – Ela mesmo me contou depois! O que você queria que fizesse? Me casasse com ela por causa do que...

-Abandonar um filho? Se negar a dar assistência? Que tipo de monstro é você? – Heero se ergueu, o dedo em riste.

-Eu não queria um filho! Não queria ser obrigado a amar. – Suspirei, sorrindo de forma cínica. – Eu não acredito nessa baboseira... eu não pedi por uma criança, a escolha foi dela e, se agora, Lindsay decidiu dá-lo para a adoção, nada tenho haver com isso e, sinceramente, pouco me importo com esse bebê... quantos meses tem? Hum... dois? Três? Não importa... não o quero, não é prático.

-Tem apenas um mês, Duo. – Heero disse, sério. – Não vai reconsiderar? Não vai buscar seu filho?

Foi um golpe bem dado... Heero dizendo que, efetivamente, eu tinha um filho, doeu... mas foi uma dor estúpida. Para que um filho? Tudo estava bem como estava.

-Ele não é meu filho, eu não o quis. – Falei, cansado. – Vamos parar com isso, nada tem haver com...

-Por que? – Perguntou, com os olhos brilhantes... de lágrimas. – Um bebê, Duo... você o deixa assim... seu sangue... como pode?

-Eu teria que amá-lo e...

-Não acredito no amor. – Heero completou, chegando perto de mim. – Isso é uma grande merda! Vai negar que me ama, Duo?

Me calei, meus olhos fechados, uma raiva estranha explodindo em meu peito.

Heero não tinha o maldito direito de tocar naquele assunto, de indagar aquilo, de questionar, de me fazer pensar... de me fazer olhá-lo, com aqueles olhos pedintes, amorosos...

-Não... eu não te amo... não amo ninguém além de mim.

-Eu pensei que você fosse uma vítima, mas agora enxergo que você é um monstro cego. – Vestiu as calças, se recusando a me olhar.

Meus olhos queimaram e eu me recusei a acreditar que iria chorar. Ver Heero se vestindo, pronto a partir, a me deixar... era como deveria ser, mas... não como eu queria.

Porém não estava em minhas mãos.

-Um dia, Duo... um dia você vai perceber o quão estúpido está sendo, vai se arrepender de negar que me ama e de negar amor a essa criança.

Não pude retrucar, a porta foi batida com violência e, eu estava sozinho.

Com minhas lágrimas.

1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2 1x2

Continua...


Desculpem pela demora e espero que tenham gostado desse capítulo... meu favorito, devo confessar.

Que acharam? Duo de papai é uma graça, né?

Quero agradecer ao pessoal que deixou review nos dois caps anteriores: Ju, Ophiuchus no Shaina, Shanty, Chibiusa-chan Minamino, Sakuya, Nana, Tina Chan, Litha-chan, Celly M, Athena Sagara, MaiMai, Calíope, BelaYoukai, Mandik e Mariana.

Brigada mesmo!

Até o próximo!