Retratação: Gundam Wing e seus personagens não me pertencem, porque se pertencessem, com toda certeza, o Duo não teria atirado no Heero, mas na Relena e ela teria uma morte bem dolorosa. Porém os personagens: Lindsay Vuorinen, Nikolay Karpol, Alessandro Yuy e os outros que não me lembro (¬¬) são de minha autoria.

Agradecimentos: Well... A Celly, primeiramente, claro! A moça me ajudou bastante, do nome de um personagem às ameaças de morte e, claro, merece todos os agradecimentos por me aturar no msn falando desse fic e fora dele! E a Juzinha, né? Uma fofa que leu o fic e foi me dizendo o que achava. E, claro, a vovó Evil Kitsune e a titia Lien Li também!

Sumário: Até onde uma alma ferida pode ir? Certas dores nos transformam em algo que não queremos, mas somos forçados a ser, até o ponto que não sabemos quem é nosso verdadeiro "eu". Yaoi – Lemon – 1 x 2.

Observações: Tudo citado sobre a Igreja Católica são pontos que eu achei importantes no fic e não tenho a intenção de ofender a crença de ninguém, que isso fique bem claro. Caso se sintam mal com os comentários ferinos a respeito da religião e de Deus no fic, ignorem-nas, não é minha opinião, mas foram necessários para o bom andamento do fic.


Hard To Say 'I Love You'

Não pude retrucar, a porta foi batida com violência e, eu estava sozinho.

Com minhas lágrimas.

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Capítulo VII

Esperei, dias a fio, que ele voltasse, mas... as noites seguiram sem Heero.

E os dias também.

Não nego que fiquei arrasado, mas iria passar, afinal, eu sabia que tudo iria ser daquela forma. Quando eu já podia me admitir apaixonado ele me deixaria.

Era um script velho e repetitivo.

Acho que, exatamente, por isso consegui continuar seguindo, por mais algumas semanas, na França.

Quando o golpe é esperado dói menos.

Apesar de ter me preparado para o dia que Heero sumiria, por alguns momentos, realmente, acreditei que nós poderíamos dar certo e, quem sabe, ele não me deixaria como todos fizeram.

Mas, claro, a minha vida estava fadada a ser repetida, sempre e sempre.

Me recusei a pensar naquela criança. Na verdade, tentei odiá-la por ter levado Heero embora, mas depois admiti, para mim mesmo, que nós dois, Heero e eu, não combinaríamos mesmo... ele dava importância demais a coisas pequenas.

Era tão difícil entender que eu não queria um filho? Que não podia entregar meu coração aquela criaturinha tão indefesa? Eu sabia... um dia ele cresceria e me machucaria também. Sem contar que eu não seria um bom pai, era traumatizado demais pra isso.

O melhor destino para... Alessandro era ficar longe de mim. E por que, diabos, com tantos nomes, Lindsay tinha que escolher logo aquele? Aquele que me lembrava do passado, das pinturas religiosas?

Ela também era uma sádica, no fim das contas, mesmo que não tivesse feito de propósito, já que não conhecia a história.

Decidindo que tudo estava em seus devidos lugares, resolvi procurar Heero e mandá-lo para o inferno. Eu não iria implorar perdão ou algo de tipo, apenas... lhe diria algumas verdades, não tão verdadeiras, e encerraria as coisas de forma mais certa.

Eu estaria por cima.

Com esse intuito, liguei para sua casa, mas não tive sucesso. Irritado, telefonei para a Universidade onde ele lecionava e me informaram que... Heero havia viajado.

Para a Inglaterra.

Para Londres.

Desesperado, falei com Quatre, mandando-o reservar passagens para o mesmo dia, com urgência. Heero não ousaria, não iria... iria?

Munido de tudo que precisava, a carta com o endereço, e, com Quatre ao meu lado, embarquei para Londres.

Para as incertezas que pensei ter abandonado, anos antes.

Com os olhos fechados, respirando fundo e tentando tirar a maldita imagem de Heero da minha cabeça, pensei no que, possivelmente, encontraria em Londres.

E, se alguma entidade responsável pelo Destino, gostasse, pelo menos um pouquinho de mim, não encontrar o japonês de olhos azuis. Ele não faria o que eu estava pensando.

Ele não podia...

-Você pode me dizer o motivo dessa viagem? – Quatre perguntou, depois de vários minutos no avião.

-Lindsay colocou o bebê na adoção. – Respondi, seco.

-E você está indo vê-lo? Ou melhor, assumi-lo? – Indagou, descrente.

-Você me acha um monstro?

-Oh, não, meu amigo. – Me abraçou, apertado. – Só lhe acho um covarde. – O olhei, indignado, mas ele sorriu. – Heero não compreendeu que você precisava de algum tempo, ele não te conhece como eu... Ah, Duo... eu sei o que vai acontecer, eu te conheço tão bem... agora me diga... o que vai fazer lá? De verdade?

-Heero foi para Londres. – Disse, simplesmente.

Os olhos de Quatre se arregalaram, mas ele sorriu, suavemente.

-Ele estará em boas mãos.

O encarei, não sabendo se estava se referindo ao bebê ou a Heero.

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Mal senti o ar inglês que tanto gostava, pois, o mais rápido que pude, peguei um táxi, ordenando ao motorista que nos levasse, Quatre e eu, até o endereço que estava na carta.

Minhas mãos suavam e meu coração assumia uma batida, absurdamente, anormal. O que, diabos, estava acontecendo?

Eu não sabia se estava daquele jeito pelo risco de encontrar Heero, de encontrar o filho de Lindsay ou por encontrar Heero com o bebê.

Assumi que eram as três coisas, juntas, que estava tirando meu equilíbrio e decidi parar com aquela bobeira. Inferno! O máximo que podia acontecer era Heero ter ido visitar o bebê. Ok. A idéia de Heero com o meu... não, com o filho de Lindsay, me deixava perturbado, era como... ficar fora de algo muito importante.

Bobagem, porque eu nada tinha haver com o bebê, nem com Heero.

Apertei a mão de Quatre, me permitindo um instante de fraqueza, quando o táxi parou em frente o orfanato. A Igreja tinha algo haver com aquilo. Haviam imagens de santos e me senti incomodado. Um dos motivos de me ir para a Inglaterra era que o lugar era praticamente sem ligação com a maldita Igreja Católica, dessa forma não tinha que olhar imagens de santos para cada lugar que olhasse.

Mas Lindsay colocou o bebê, justamente, em um orfanato católico, cuidado por freiras.

Falta de sorte dos infernos! Daquela forma, caso meu... Alessandro não fosse adotado, acabaria sendo católico e... merda! Por que eu me importava?

Balancei a cabeça, saindo do carro e pagando pela corrida.

A fachada era adornada com imagens de santos católicos e tinha um ar... austero e sério.

Não gostei do lugar.

-Tem certeza que quer entrar, Duo? Eu posso perguntar se alguém apareceu para...

-Eu vou, Quatre. – Disse, firme. – Feridas cicatrizadas não causam mais dor.

-Mas outras podem ser abertas. – Falou, cauteloso. – É o seu filho que está lá dentro. Na verdade, já pode até ter sido adotado...

Fechei os olhos, sentindo-os arderem, a idéia de que o bebê poderia não estar mais lá dentro constringiu meu peito. Só não entendia o porquê.

Como eu podia me sentir tão perto de alguém que nunca havia visto? Que, momentos antes, pensava ignorar, completamente?

Oh... o mundo era, realmente, um maldito lugar mesquinho.

-Me espere aqui, tentarei ser rápido. – Coloquei os óculos escuros e entrei.

Um arrepio percorreu meu corpo, no instante que as portas de madeira fecharam-se atrás de mim.

Era quase como... voltar ao passado. Haviam estátuas, quadros, painéis com imagens religiosas, passagens bíblicas e toda aquela porcaria que eu não queria e não precisava ver.

Respirei fundo, quando vi uma freira caminhar em minha direção, com um grande e doce sorriso nos lábios. Quis odiá-la, mas não consegui. Freiras têm sempre um ar tão bondoso, tão... santo que é impossível não gostar delas.

-Bom tarde, meu jovem, seja bem vindo. – Seu sorriso se ampliou e eu suspirei.

-Estou procurando um bebê. – Disse, tentando soar frio.

-Me acompanhe, meu jovem, nós...

-Um bebê específico. – Expliquei, cruzando meus braços no peito. – Foi deixado aqui há, mais ou menos, duas semanas, a mulher que o deixou, provavelmente, disse que seu nome era Alessandro, tem um ou dois meses, não sei ao certo.

A freira me encarou, seus olhos claros arregalados, mas logo seu sorriso voltou e pegou em meu braço, me levando para sentar em um sofá.

-Meu jovem, sei de que bebê está falando, mas...

-Sou amigo da mãe dele, gostaria de vê-lo, é possível? – Perguntei, seco.

-Acho que não terá problemas. – Sorriu. – Me acompanhe, sim? Ele deve estar no berçário.

Caminhamos por alguns corredores, passamos em frente salas onde crianças brincavam, assistiam televisão... era um lugar limpo, bem cuidado.

Não era tão mal.

-Por favor, deixe seus pertences lá. – Apontou uma pequena mesa. – Geralmente, as pessoas passam por revistas, antes de entrar aqui, mas a roupa do senhor, bem... não há onde esconder uma arma.

Vi suas bochechas corarem e sorri, agradecendo pela escolha de jeans e uma simples camisa de mangas compridas, justa no corpo.

Deixar pessoas envergonhadas era um bom passatempo.

O local era amplo, com pequenos berços espalhados, em uma desordem organizada. As paredes eram claras e haviam, pelo menos, mais cinco freiras ali dentro, cuidando, brincando e monitorando os bebês.

A moça que me acompanhava, Agnes pelo que ouvi outra freira chamar, me levou até um dos berços mais afastados, coberto por um tecido fino e transparente.

-Esse orfanato é mantido pela família Vuorinen, as crianças são tratadas com o que se tem de melhor. – Sorri, irônico e assenti.

Engraçado como Lindsay havia ido morar em outro país, com a desculpa de que queria estudar, para que os pais não descobrissem que estava grávida e então, o bebê, estava no orfanato que a família dela mantinha.

Estupidamente, engraçado.

A freira me olhou, curiosa, sorrindo de forma doce.

Mal ela sabia que minhas mãos estavam suadas, enquanto olhava para o pequeno corpinho deitado dentro do berço, coberto com uma manta azul.

Era... meu filho.

Uma dor estranha explodiu em meu peito, misturada a uma alegria estúpida, quando o bebê foi tirado do leito e colocado nos braços da mulher.

Era tão pequeno, tão delicado... tão dependente.

Meus olhos encheram-se d'água e agradeci pelos óculos escuros que usava. Droga! Eu me sentia tão estranho, olhando o bebê dormir, placidamente, nos braços da freira, alheio a tudo.

Ele não podia saber que fora abandonado, não podia saber que seu pai era apenas um pintor presunçoso e sem coração.

Não... Alessandro apenas dormia, calmo, inocente e... abandonado.

Pela mãe, por mim, por quem deveria amá-lo e cuidar dele.

Como eu fora, quando meus pais resolveram que queimarem vivos era mais divertido que viver com o filho.

-Gostaria de segurá-lo, senhor...

-Maxwell. – Completei, enxugando as palmas das mãos na lateral do jeans.

A freira me olhou com carinho e estendeu o pequeno bebê. Hesitei por um momento, mas o peguei, desajeitadamente, colocando-o contra meu peito.

Era tão macio, tão pequeno, tão... meu.

Fechei meus olhos, minha respiração saindo em pequenos golpes. Era uma sensação estranha... era quase como estar devendo algo, como querer e não poder... como precisar senti-lo ali, tão perto.

-O senhor tem filhos? – Saí de meu estupor, percebendo o que fazia.

-Não, não tenho filhos. – Entreguei o bebê, ouvindo-o resmungar, suas pequenas mãozinhas agitando-se. – Não os acho práticos.

-Crianças não são objetos, senhor Maxwell. – Uma outra freira aproximou-se, ajeitando a manta sobre Alessandro. – São pessoas, pequenos seres que necessitam da nossa proteção, do nosso amor.

Mordi os lábios, reprimindo o choro, os soluços e me virei, pronto para ir embora, mas a freira Agnes segurou minha mão, puxando-me para perto.

-Olhe-o mais uma vez. – Murmurou, virando-o em minha direção.

Coloquei a mão na touca que usava, tirando-a, vendo-o resmungar e abrir os olhos.

Sua mão pequena envolveu meu dedo, no instante que paralisei, um bolo estranho na garganta, a vontade de chorar quase insuportável.

Os cabelos eram ralos, mas tinham uma coloração clara, quase loiros. Como os de Lindsay.

Mas os olhos eram violetas.

Lindos, vivos, cheios de ternura.

Virei o rosto, respirando fundo. Nada podia me deixar daquele jeito, nem Heero, nem o passado e nem mesmo aquele bebê, que tinha os olhos que me lembravam os meus de anos antes. Tão cheios de vida, tão inocentes.

-Venha visitá-lo mais vezes, senhor Maxwell, ele pareceu gostar de você. – Tocou meu queixo, fazendo-me olhar, novamente para o bebê que agora abria a pequena boca, bocejando, apertando mais sua mãozinha em torno do meu dedo.

-Vocês sabem quem é a mãe? – As duas freiras negaram, contando-me que a mulher que o trouxe não era a mãe. – Alguém mais o procurou?

As mulheres se entreolharam, trocando olhares confusos. Meu coração disparou, com a perspectiva que Heero o tinha visto... visto uma coisa tão pessoal, tão...

Alessandro fez um som esquisito, parecendo me atentar para o fato de que não era uma coisa, era uma pessoa.

Uma pessoa pequena, fraca, dependente e era tão... lindo.

-Ninguém o procurou, senhor Maxwell. – Suspirei, aliviado, nem bem sabendo o porquê.

Talvez eu não quisesse que Heero o visse e tivesse a certeza de que eu era um monstro por abandonar uma criaturinha tão linda e inocente.

Eu... realmente, não queria que o japonês sentisse raiva de mim.

Merda! Aquele bebê estava me deixando sentimental.

-Preciso ir. – Informei, seco, puxando meu dedo.

O bebê protestou, mas logo enfiou a pequena mão na boca, se contendo com o gesto. As freiras assentiram e Agnes o colocou no berço, sorrindo e beijando-lhe a testa, murmurando algo que não entendi.

Ela me acompanhou até a porta e a cada passo, me sentia mais mal. Era a sensação de abandonar algo valioso, algo... meu.

Mas ele não era meu. Eu não o quisera antes e, naquele momento, não seria diferente.

Sem contar que não seria um bom pai.

Era uma boa justificativa e quando estava do lado de fora, me permiti tirar os óculos, esfregando os olhos, cansado. Agnes me olhou, interessada e eu suspirei.

-Cuide bem dele. – Falei, firme.

-Certamente. – Ela disse, suave. – O senhor tem belos olhos, senhor Maxwell.

E sem mais uma palavra se virou e entrou.

Murmurei alguns palavrões em todas as línguas que conhecia, e não eram poucas. Foi assim que Quatre me encontrou.

Cansado, arrasado, xingando e me sentindo um lixo.

Mas não queria pensar no bebê, nem em Heero, nem em nada. Minha decisão final havia sido tomada: a vida voltaria ao normal e eu esqueceria toda aquela história.

Heero e seus olhos azuis e o bebê... com seus olhos tão parecidos com os meus.

Já havia largado um passado para trás, enterrando-o e sepultado-o, doía, mas eu sobreviveria. Sim... eu conseguiria superar tudo aquilo e seguir em frente.

Nada de bebês ou romances.

Sexo, pintura e álcool.

Essa seria minha linha, mesmo que todas as vezes que fechava meus olhos, me lembrasse de Heero e suas palavras carinhosas e do bebê e sua inocência.

Eles não eram parte de mim, e eu não fazia parte de nada.

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-Você não parece bem.

-Eu só estou cansado, Quatre. – Falei, bocejando, já no avião.

Estávamos voltando para a França, mas, seguramente, eu não ficaria mais ali. Aquela maldito país nunca me dera sorte e não seria naquele momento que as coisas mudariam.

-Acho que vamos para a Itália, Quat. – Fechei meus olhos, suspirando. – O que acha?

-E o que faremos lá, Duo? – Perguntou, curioso.

-O que artistas excêntricos e ricos fazem. – Respondi. – Gastar fortunas com coisas nada importantes, o que acha? Precisamos de férias.

-Você é o patrão! – Sorriu, sua cabeça recostada em meu ombro.

Seria tudo como antes.

Sem Heero, sem lembranças e sem dor.

Desembarcamos algum tempo depois, e nos dirigimos, imediatamente, até a casa, esgotados. Incrível como viagens podem nos cansar, mesmo que não sejam de negócios.

Tirei minha blusa, deixando-a no meio do hall, me preparando para subir as escadas quando uma voz grave chamou minha atenção. Ignorei o comentário irônico e me virei, incrédulo, para Heero Yuy, recostado em uma das paredes, em roupas casuais e uma expressão indefinida no rosto bonito.

Pelos diabos, como quis impedir que meu coração saltasse daquele jeito.

Mantendo minha voz mais firme possível, me dirigi a ele, mais sério que o costume.

-Não esqueceu o endereço. – Disse, seco. – Mas o que quer aqui?

-Não é óbvio? – Se aproximou, calmamente, me fazendo recuar. – Quero conversar.

-Não há nada a ser dito. – Olhei para os lados, a procura de Quatre, mas ele tinha se evaporado. – Pode ir embora.

-Não. – Sua voz soou fria, tão diferente do normal. – Foi infantil o que fiz, não deveria ter lido sua carta, mas, principalmente, não deveria ter lhe tratado daquela forma. – Sorri, irônico. – Suas escolhas não me dizem respeito.

-O que veio fazer aqui, realmente? – Perguntei, ansioso.

Seria possível que ele iria se desculpar e querer continuar de onde paramos. Será que eu queria aquilo?

Depois de tudo, minha história com Heero, se é que existia uma, havia tomado proporções um pouco maiores de que eu gostaria e, assumir que queria continuar com ele, me colocava em um caminho que eu não conhecia, que não sabia quando seria a próxima curva ou desvio.

Não... eu não queria estar com ele.

Heero era moralmente correto demais.

-Queria me desculpar por tudo, por ter assumido mais direitos do que tinha.

-E? – Pressionei.

-Gostaria de voltar... a ficar com você, como antes. – Falou, sincero e eu estremeci.

-E a que isso nos conduz, Heero? – Perguntei, seco. – Pense, meu querido... nunca vou dar o que você precisa, o que quer... eu sou o que você viuaquela noite, não quero me apegar, não quero ter responsabilidades, não quero ter que amar e...

-Você me ama! Será que não consegue enxergar? – Indagou, sorrindo, se aproximando e tocando minha bochecha. – Eu vejo nos seus olhos, como ficaram mais vivos, mais alegres depois que ficamos juntos... você não pode mais mentir.

-Você está errado! – Rebati, alterado. – Quero você fora da minha vida, agora.

Heero arregalou os olhos, seus dedos se afastando e percebi que uma lágrima escorreu, sorrateira. Ele a enxugou, colocando um sorriso triste nos lábios.

-Não ia te machucar, ia ter paciência... – Balançou a cabeça, desolado. – Mas tudo bem, eu lhe disse que iria embora quando você não me quisesse mais aqui.

Meu peito doeu, mas me mantive impassível, olhando-o firme, não me deixando levar. Ele não podia destruir minhas defesas, me abandonar durante dias e então... achar que nada havia acontecido.

Eu o esqueceria como havia feito com meus pais e tudo mais.

Fora um erro me envolver tanto, me deixar levar por seus gestos gentis... no final, ninguém pode assumir o compromisso de não magoar outra pessoa. Era a natureza humana e se Heero podia lidar com a minha natureza destrutiva, eu não podia lidar com a dele.

Talvez se ele fosse como eu... se ele mentisse como eu, não se entregasse daquela forma, a dor seria menor, mas... nós não podemos mudar as pessoas.

Ele aparecera, ficara, me magoara e agora ia embora.

Um ciclo certo e completo.

Não que eu não pudesse passar por cima daquela mágoa, mas... não queria. Naquele mesmo dia havia descoberto como poderia ficar vulnerável, a ponto de alguém mexer comigo, como aquele bebê. Fora Heero quem abaixara minhas barreiras, fizera pequenas rachaduras, derrubara algumas, e eu não podia conviver com aquilo.

Tinha medo.

Era a verdade.

Foi tão perto... tão perto de tudo desabar e minha exposição ser completa. As cicatrizes voltaram a arder, meus pulsos queimavam e eu suspirei.

Deveria enterrar tudo. Por medo, por covardia, por auto-preservação.

Quem poderia me garantir que, quando descobrisse minhas outras falhas, Heero não me abandonaria? E lá no futuro, eu estaria mais fraco, mais dependente, quem sabe, até amando-o.

Não precisava disso.

Pro inferno ele e tudo que trouxe. A fraqueza, os sentimentos e tudo mais.

Não o queria perto de mim.

Merda! Merda! Merda! Estava sendo fraco pensando daquela forma, agindo como uma maldita donzela magoada!

Quem eu era, afinal?

Era Duo Maxwell, que fora esmagado pela vida, mas ressurgira, perfeito e com forças suficientes para expulsar qualquer um que ousasse penetrar mais fundo em minhas barreiras.

-Vá embora, por favor, tenho malas a fazer. – Falei, frio.

Heero se aproximou, se inclinando e tomando meus lábios, no beijo mais gentil que já havia me dado. Correspondi, trancando meus sentimentos bem fundo em meu peito, permitindo que ele percebesse que não era importante para mim.

Eu iria esquecê-lo.

-Até mais, Duo. – Disse, suave, seus dedos descendo por meu tronco nu. – Sinto muito que você seja tão... cego e frio a ponto de não notar o que há aqui, entre nós.

-Há algo. – Afirmei. – Mas vou matar o que existe, esmagar, como a vida fez comigo. Eu não amo você, nem aquele bebê, nem nada além de mim... quero que todos vocês vão pro inferno, não preciso de suas migalhas de atenção... não preciso de você. – Sorri, cínico. – Foi só sexo, Heero... essa ternura, essa paixão vão desaparecer e eu serei como antes e você perceberá que não pode controlar tudo, que não pode me fazer de seu joguete, desafiando minha natureza, tentando me dobrar. Não é o melhor jogador, Yuy. Eu joguei melhor e venci. Saia, não preciso mais de você. – Ele socou meu rosto.

Com força.

Cambaleei, com a mão na face machucada, assustado.

-Isso é por tudo que ouvi durante esse tempo todo... nunca mais... nunca mais, Duo.

Sorri, triste, vendo-o sair pela porta onde, certamente, nunca mais voltaria a bater.

Eu havia conseguido magoá-lo de verdade... além dos limites.

Novamente era somente eu.

E minha amargura.

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-Eu juro que se você beber mais um gole dessa porcaria eu vou te internar em alguma instituição para alcólatras!

Tapei os ouvidos, me encolhendo na cama.

Não podia nem tomar uma merda de porre em paz!

-Quatre, meu bom amigo... se você não me deixar em paz, eu vou te despedir e mandar arrancarem sua língua! – Gritei.

O loiro apenas sentou ao meu lado na cama, acariciando meus cabelos, calmo como sempre. E eu estava odiando aquilo. Por que ele não me chacoalhava e me dava uns tapas? Assim eu poderia voltar ao meu estado normal.

Heero tinha ido embora horas antes.

Correção: eu o havia expulsado horas antes. E, desde então, estava em minha cama, com algumas garrafas de vodca e whisky. Mas, obviamente, não havia bebido todas.

Eu podia querer afogar as mágoas, mas não acabaria em um coma alcoólico. Era excêntrico, não um louco suicida sem noção das coisas.

-Duo, você não pode se destruir por essas coisas. – Disse, suave.

Nisso ele estava certo! Eu não deveria me prejudicar por um romancezinho sem importância, por uma paixonite passageira.

Não... Duo Maxwell não.

-Você está certo! – Falei, me levantando.

Cambaleei, como um algum bêbado de esquina e me apoiei na parede, vendo o mundo girar, estranhamente. Era o mundo que girava ou era eu?

Me xinguei, mentalmente, admitindo que nunca mais misturaria vodca com whisky. Merda! Heero não deveria ter penetrado tão fundo a ponto de me fazer tomar um porre homérico como aquele!

Deveria?

-Eu falo que você não pode se destruir por essas coisas porque... você é o culpado, Duo.

Ouch, Quatre. Essa doeu.

Cambaleei mais alguns passou, em direção ao armário de bebidas que eu havia, previamente, colocado no canto do quarto.

No canto mais afastado.

Tropecei em meus próprios pés e caí, vergonhosamente, com o rosto virado para o chão.

Amaldiçoei todos os estúpidos humanos que haviam inventado e difundido a idéia de que o álcool era um bom refúgio para todo e qualquer problema! Merda nenhuma! Eu só conseguia pensar ainda mais em tudo, enquanto uma guerra intergaláctica acontecia dentro do meu crânio.

Diabos!

As bebidas não poderiam funcionar tão rápido! Como eu poderia estar bebendo e já estar com a dor de cabeça da ressaca?

Ah, Maxwell, você é um desgraçado complicado mesmo.

Quatre ajoelhou-se do meu lado, me abraçando e colocando minha cabeça em seu peito. Retornei o carinho, passando meus braços por seus ombros.

-Shh... se você quer chorar, aproveite hoje quando poderá culpar o álcool por suas lágrimas vergonhosas. – Quase sorri e ele acariciou meus cabelos. – Sei que não cheguei tão fundo quanto Heero ou o bebê, mas... gostaria de ajudar.

Heero... Alessandro... Oh, meu Deus!

Não! Deus não! Ele também havia me abandonado!

Bem... eu poderia culpar a Deus por tudo aquilo, não?

Oh... não... eu havia cortado laços com ele muito antes.

Ótimo... nem mesmo podia colocar a culpa em alguém e ficar aliviado com isso. Desgraça mesmo!

Eu sentia tanta falta dos braços de Heero! Dos beijos, dos carinhos... por que tinha que ser daquela maneira? Por que eu tinha que ter cedido ao ponto de precisar tanto de alguém que iria me machucar?

-Que inferno, Quatre! – Sussurrei, abafado. – Eu quero ser como antes, não quero mais essas feridas, já tinha o suficiente...

-Não sei das suas feridas antigas, mas... volte a ser como antes e aprenda a superar o que te machuca agora. – Falou, firme. – Mas agora, meu amigo... só chore.

E eu chorei.

Chorei até meu corpo doer pelos soluços, até minha garganta arder e meus olhos incharem.

No dia que meus pais morreram, eu não tive escolha, mas naquele momento a opção era minha.

As lágrimas foram minha despedida... como haviam sida naquela noite, anos antes.

Anos antes um Duo Maxwell novo surgia, mais forte, mais duro, mesmo que não parecesse, e, novamente, eu teria que ser mais forte, mais duro, mais frio e indiferente que antes.

Outro Duo Maxwell.

As mesmas cicatrizes.

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Continua...


E aqui começa a segunda fase da história... mas não se aflijam... talvez só um pouquinho...

Bem, gente, obrigada pelas reviews!

Até o próximo e não deixem de comentar!

Beijos!