Os opostos se distraem.

Inspirado em É tarde para saber de Josué Guimarães.

No final do terceiro dia recebeu uma coruja de Draco. Ele queria encontrar-se com ela. Dessa vez em um endereço que ela desconhecia. Mas iria assim mesmo, não perderia uma oportunidade sequer de encontrar-se com o namorado. Será que ele se sentia tão angustiado quanto ela quando não estavam juntos? Será que a toda hora e a todo momento ele pensava no que ela estaria fazendo assim como ela o fazia? Será que ele se preocupava com ela como ela se preocupava com ele? Havia tantas coisas que ela queria saber sobre ele e seus sentimentos mas o mesmo nunca dava brecha, nunca dava espaço.

Virgínia sabia que ele gostava do silêncio e odiava pessoas falsas. Sabia que ele não se interessava por política e nem por dinheiro. Mas ela também sabia que ele vivia no meio de tudo o que ele mais desprezava. Sabia disso. Porque por mais fechado que Draco tentasse ser, sempre deixava escapaz algo que ela captava. Ela sabia muito pouco sobre ele, mas o pouco que sabia dizia muito.

O lugar do encontro marcado era num bairro daqueles de cinema. Virgínia não era pobre, mas também não tinha dinheiro o bastante para viver em um bairro muito bom. Ela se considerava uma pessoa média em relação a dinheiro. Talvez fosse mais, talvez fosse menos...Não saberia dizer. Subiu e desceu intermináveis ruas, virou esquerdas e direitas incontáveis vezes e enfim chegou a frente de um edifício prata e verde. Afinal, não podia aparatar ainda. Aquele era o local do encontro dos dois. Draco estaria no quarto andar. O porteiro anunciou-a e a ruiva subiu as escadas até o andar correto e encontrou Draco recostado no batente da porta esperando-a.

- Oi, pequena. - disse ele, que para o espanto de Virgínia, estava de bom humor.

Podia contar nos dedos às vezes que vira Draco de bom humor. Ele andava sempre com o cenho franzido e com uma palavra de desgosto pronta para pular de sua boca. Por vezes a censurava ou discordava dela. Não importava muito, ela sempre acabava ganhando a briga sendo por argumentos ou por carinhos. E então o fazia sorrir, por um fração de segundos, mas fazia. E quando o fazia, voltava para casa sorrindo de orelha a orelha.

- Olá. - respondeu ela, sorrindo.

Mal entrou no apartamento sentiu as mãos dele em seu quadril puxando-a para junto dele.

- Eu senti saudades, sabe? - disse ele, beijando-lhe o pescoço.

- Eu também. - murmurou ela com o queixo apoiado no ombro dele.

Sentiu os braços fortes dele a envolverem e abraça-la carinhosa e desesperadamente ao mesmo tempo. Não entendia. Mas não queria entender, queria apenas aproveitar o momento. Enquando deixava-se abraçar observou o apartamento. Havia uma estante com muitos livros e uma escrivaninha com muitos papéis. Um piano de canto e vários móveis aparentemente escolhidos a dedo espalhos sabiamente pelo cômodo. Pode ver que ainda havia uma cozinha e um quarto. Era um apartamento pequeno, mas extremamente luxuoso.

Sentiu o abraço de Draco ficar mais forte e os beijos mais intensos. Sentia-se ligeiramente zonza e as pernas bambas. Derretia-se mais e mais a cada toque e temia que os braços de Draco não seriam o bastante para ampará-la.

- Eu preciso sentar. - sussurrou ela, nervosa, temendo quebrar o encanto que fazia Draco ser tão carinhoso com ela.

- Claro. - disse ele, passando a mãos pelos cabelos nervosamente. - Claro.

Virgínia sentou-se e esperou por ele. Draco parecia levemente atordoado e tinha olheiras nos olhos. Tirou um maço de cigarros do bolso de trás da calça e deu alguns tragos antes de apagá-lo no cinzeiro que havia na mesa de centro da sala e sentar-se ao lado dela.

- Eu te adoro. - disse ele, cautelosamente. - Eu te amo. Você sabe disso, não sabe?

- Claro que sei.

- Eu me importo com você.

Uma rajada de vento entou pela janela aberta e Virgínia sentiu um calafrio. Os pêlos de sua nuca arrepiaram-se e ela agarrou-se ao loiro.

- Nunca me deixa, está bem? Nunca.

Draco não respondeu. Capturou-lhe os lábios vermelhos desesperadamente e não soltou-os mais. Abriu espaço por entre os dentes e explorou-lhe o interior da boca com a língua ousada. Acariciou-lhe o céu da boca e a língua dela. Ambas as línguas se entrelaçaram e ficaram naquela carícia até ambos estarem ofegantes e buscarem ar para respirar.

- Eu preciso de você, pequena. - murmurou ele, rouco. - Eu realmente preciso. Preciso até mais do que você pensa precisar de mim.

Virgínia não achou que aquilo fosse possível. Draco sabia como era difícil para ela ficar sem vê-lo; ficar sem um toque dele. Será que ele sabia os tipos de sensações que causava nela? Será que ele sabia que só ao sentir os olhos dele pousados nela já se arrepiava de antecipação? Ela o amava com todas as forças de seu ser e não havia como negar isso. Precisava dele como precisava de ar por mais piegas aquilo pudesse parecer. O amava tanto que chegava a doer.

E era assim mesmo que era. O amor que sentia por Draco era um amor doloroso. Era um amor que trazia mais tristezas do que felicidade, mas como qualquer outro amor era impossível de ser largado. Era precisava dele e aparentemente, ele também precisava dela.

Draco amou-a ali mesmo no sofá. O vestido deslizou pelo seu corpo rapidamente junto com a calcinha e Virgínia retirou-lhe a camisa e os jeans nervosa. Precisa dele. Ele precisa dela. Nada poderia ser mais perfeito. O ritmo deles era desesperado, intenso, rápido. Não havia tempo a perder. O ato de amor era como os breves encontros que tinham na esquina de sua casa, na praia ou na sorveteria. Eram breves, mas deixavam sua marca cravada em Virgínia. E assim foi. Chegaram ao ápice juntos e sentiu Draco gemer abafadamente tombando em cima de si logo após.

Adormeceram abraçados e na manhã seguinte acordou com um leve beijo na face e ele disse que tinha de ir e que ela deixasse a chave embaixo do tapete quando fosse embora.

- Eu quero ficar. - murmurou ela, chorosa.

- Você não pode, pequena. - disse ele, aproximando-se do sofá novamente.

- Por quê? - perguntou, fazendo muxoxo.

- Você correria perigo se ficasse aqui amor. - respondeu ele, beijando-lhe a testa.

- Entendo. - respondeu ela.

Ele sorriu. O primeiro sorriso sincero e amplo que ele já havia dado. E ela jurou ter visto sumir a expressão desconfiada que ele tinha no rosto.

- Eu te amo. Você sabe disso, não sabe?

- Agora eu sei. - respondeu ela, sorrindo e abraçando-se fortemente a ele.

Logo depois viu ele desvencilhar-se do abraço e sair porta afora.

Ela disse que entendia. Mas não entendia. Não entendia nada. Queria poder entender e saber tudo sobre aquele que seu coração escolhera para ser o seu amor. Mas não conseguia. Não entendia... Lágrimas amargas correram por sua face e ela nem pensou em impedi-las. Vestiu-se rapidamente e voltou para casa a passos largos. Parou na esquina de casa e escostou-se na parede. Fechou os olhos e a imagem de Draco veio a sua mente.

Havia uma guerra lá fora e ela não se importava em saber o que estava acontecendo. Ninguém que conhecia estava lá. A não ser por Harry. Apenas Harry. Seu irmão e seu pai trabalhavam fora do campo. Só Harry. Há quanto tempo não pensava nele? Há quanto tempo não o via?

Bufou, frustrada. Sua vida não estava sendo como um dia havia planejado. Planejara coisas grandiosas para si e iria cumpri-las. Voltaria para Hogwarts assim que a guerra acabasse e ouvia dizer que não faltava muito. Era se tornia uma Medi-bruxa e seria muito feliz. Seria mesmo? Agora havia conhecido Draco e as coisas haviam mudado. A história era diferente e ela tinha novos sonhos.

- Você não deve desistir dos seus sonhos por mim. - dissera ela, uma vez. - Você não sabe como vai se sentir daqui há uma hora quanto mais daqui há seis meses. Não faça planos, eu posso não ser merecedor de cumpri-los.

Ela dissera que ele era. Claro que era. Ela o amava. Ele a amava. O que, diabos, estava faltando?

Era isso o que ela queria saber.

A casa estava silenciosa. Como sempre estava, ultimamente. Só havia ela e a mãe. Os irmãos só lá estavam nos finais de semana muito raramente. Tinham suas vidas, alguns até já tinham família e outros estavam trabalhando -no Ministério. Correu para o quarto e entrou no banho. Sentiu a água banhar-lhe o corpo e pensou em Draco. Nos toques dele na noite anterior. Teriam sido os últimos? Não, não poderia. Ele disse que precisava dela. Ele disse que a amava. Então porque aquela sensação ruim?

A mãe chamava. Saiu rápido do banho e colocou uma calça jeans juntamente com uma blusa de algodão verde musgo. Lembrou de Draco, ele vivia de jeans. Tudo lhe lembrava ele. Era doloroso demais. Aquele amor doía demais.

O que será que havia acontecido? Foi então que escutou a comemoração nas ruas...A guerra havia acabado. Harry havia vencido Voldemort naquela mesma manhã. E fora assim que Virgínia havia visto a guerra, apenas como uma observadora. Nada havia feito, nada havia acompanhado. E nem mesmo havia pensado muito em Harry. Sentiu mal e então pensou em Draco. Onde ele estaria? O que ele estaria fazendo? Estaria ele ferido? Porque ele haveria de estar ferido?

Passaram-se seis dias e Virgínia começou a ficar apreensiva. Apenas mais um e teria de ter notícias de Draco. Teria. Senão...senão...Senão não saberia mais o que fazer da vida. Harry apareceu e a mãe foi chamá-la. Não queria vê-lo, queria ver Draco. Era de Draco que precisava, não de Harry.

O moreno e a ruiva encararam-se por alguns instantes. Ele então aproximou-se e abraçou-a. Ela não sentiu aquele calor no peito que sentia quando Draco a abraçava. Não sentiu nada além de um mero afeto por Harry. Não sentia nada de extraordinário quanto estava com ele. Ele era comum. Draco era misterioso. E agora estava desaparecido sem dar nenhum sinal.

A mãe apareceu novamente. Encheu Harry de perguntas. Como havia derrotado. Como havia sido. Como estava se sentindo.

- Eu estou bem, Sra. Weasley. - sorriu ele, simpático. Ele era sempre simpático. Se fosse Draco teria olhado-a com ar de descrença e nem teria se dado ao trabalho de responder. - Eu e os Aurores conseguimos derrotá-los. Ele já estava perdendo e mais cedo ou mais tarde não agüentaria mais. Tivemos sorte de ser mais cedo. - sorriu ele, novamente. Um sorriso amável. Draco não tinha aquele sorriso. Draco quase não sorria. - Conseguimos pegar quase todos os Comensais restantes. Faltou um.

- E quem foi? - perguntou Virgínia, de repente mostrando interesse pela conversa.

Não. Sim. Talvez. Seu coração estava confuso, mas de uma coisa ele tinha certeza, precisava saber quem fora o Comensal que escapara. Queria saber. Precisava, mas não sabia porquê. Seu coração acelerou e a ruiva sentiu as mãos suadas. Quem seria? Quem seria?

- Draco. - disse Harry, calmamente. - Draco Malfoy. Ele era o braço direito de Voldemort.

Virgínia sentiu o sangue faltar-lhe nas veias. De repente tudo fez mais sentido. Tudo fez sentido, na realidade. Os sumiços, as desculpas, os silêncios... Draco queria apenas protegê-la. E no fim, eles realmente não era parecidos. Não tinham nada em comum, a não ser pelo amor que sentiam um pelo outro.

- Eu não me sinto bem, se não se importam vou descansar um pouco. - murmurou ela, atortoada.

Saiu da sala sem nem esperar um consentimento da parte da mãe ou da parte de Harry. Suspirou cansada. Não queria mais aquelas complicações. Não queria. Queria de volta sua vida simples, seu namoro com Harry, seus colegas de escola. Era tudo tão simples e ela gostava tanto. E agora tudo aquilo parecia uma vida que não era sua, olhava para trás e não se arrependia. Sentia como se voltar para aquela vida fosse voltar para um vazio ao qual ela não estava disposta a viver.

Debruçou-se na janela em busca de ar. De repente o ar dentro do quarto era pouco. Era muito pouco. Lembrou-se da noite que passaram juntos, um nos braços do outro calados. O silêncio eram suas juras de amor. Ou talvez não? Não saberia dizer. Tudo o que sabia era que ele havia passado com ela a noite da batalha final. Ele havia escolhido ela e isso já bastava. Não o recriminava e nem o julgava. O conhecia pouco, mas o pouco que conhecia era muito. Ele havia fugido. Ela sabia quem sim. Ele havia fugido para salvar-se e talvez um dia voltar para ela. Estaria ela esperando?

- Virgínia? - era Harry. - Eu preciso falar com você. - Estava nervoso.

- Claro.

- Eu gostaria muito que você aceitasse voltar a namorar comigo. - pediu ele, sem jeito.

E com Harry era assim. Tudo tão simples e sem rodeios. Nada de profundidades ou complicações. E era tudo o que ela desejara ter com Draco. Poderia ela ter o que desejava, mas com outra pessoa? A simplicidade não lhe era mais tão atraente. Não era. Pensou em Draco e nos momentos - nos breves momentos - que passaram juntos. Porque ele escolhera ela? Porque ele escolhera logo uma menina boa e inocente? Porque logo ela? Não saberia dizer. No estado que se encontrava não era capaz de dizer nada. Sua cabeça dava mil voltas e ela pensava em Draco. Na imagem de Draco. Nos toques de Draco. No olhar desconfiado, nos cabelos rebeldes, na voz dura e nos jeans.

- Temo que seja tarde demais, Harry. - sussurrou ela, pedindo passagem entre a porta e saiu para a rua mesmo com os olhares interrogadores da mãe sobre si.

As ruas estavam cheias, mas ela não via nada. Nada além de Draco, como se ele estivesse em sua frente. Como queria estar nos braços dele naquele exato minuto. Lembrou-se das palavras dele 'se você soubesse...se você soubesse...'. Ela teria feito tudo igual. Sabia que Draco era o melhor. Afinal, por mais que tivesse ido por outro caminho ele havia sido o braço direito, não havia? Quem disse que o mal era o caminho errado e o bom era o certo? Riu de seus próprios pensamentos. Sabia que era assim que funcionava e ela própria pensava assim. Tentava apenas achar em vão uma maneira de justificar os atos de Draco.

Não, eles não teria dado certo. Ou teriam?

Não, não com valores tão diferentes. Ou teriam?

Não, não eram parecidos. Ou teriam?

Ou teriam? Ou teriam? Ou teriam? A perguntava martelava tanto em sua mente que chegava a sentir início de dor de cabeça.

Lembrou-se do que a avó lhe dissera uma vez. Algo sobre os opostos se atraírem. 'Opostos se atraem.' Sim, fora isso o que era dissera. Seria mesmo? Vírginia tinha uma teoria. Uma dela e só.

Uma lágrima solitária rolou por seu rosto enquanto lembrava do olhar de Draco sobre si. Da mão dele sobre a sua. As suas pernas entrelaçadas as suas. Aquele jeito rebelde extremamente sexy. Sorriu.

Ela e Draco eram opostos e de alguma maneira aquela regra da avó não havia caído sobre eles. De alguma maneira, eles haviam se distraído.

Isso não a espantou nem um pouco, por mais classe que Draco tivesse, ele nunca fora um alguém que gostava de seguir regras.

Eles apenas...se distraíram. E com esse pensamento seguiu rua abaixo sem saber o que fazer, nem para onde ir. O que, espantavelmente, não a desesperou nenhum pouco. No tempo certo descobriria. Disso ela tinha certeza.

Então... aí está o cap final! xD

Sim... foi bem curtinha a fic porque eu queria que fosse assim.

Eu gostei bastante de escrêve-la porque eu a achei diferente. Ao menos do que eu já tinha escrito. Sem muitas melosidades e coisas fofas...E o mais importante, sem final feliz.

Estrelinha W.M: Na realidade a Gina é apenas um ano mais nova que o Draco (de acordo com o livro). Mas como eu queria fazer parecer que o Draco tinha muito mais experiência de vida, eu fiz como se ele fosse cinco anos mais velho. E que bom que você achou a minha fic linda. Fico encantada. Obrigada pelo review! xD

beeeijos!