Capítulo 02: Confraternização
E no capítulo anterior...
Pela primeira vez desde que aquela reunião começara, Minerva sentiu-se realmente feliz. Estava orgulhosa de Lily e, mais do que tudo, sabia que agora, possivelmente, as coisas voltariam aos eixos.
A reunião ainda durou pouco mais de meia hora, enquanto Slughorn discutia com James, Sirius e Lily sobre os ingredientes que eles precisariam e entregava a chave de seu estoque particular para a ruiva.
Ao final da noite, em seu quarto, pela primeira vez desde que tudo aquilo acontecera, Minerva se deteve em observar o que acontecera ao seu corpo. Tirando a pesada capa de inverno que utilizava sob o vestido, percebeu que também as suas roupas estavam agora folgadas.
Quantos anos ela teria agora? – perguntou-se, observando a face no espelho de seu banheiro. Não era muito mais velha que seus próprios alunos. Talvez um pouco mais de vinte anos... Aquilo era tão estranho...
Despindo-se, ela entrou na banheira, mergulhando totalmente na água quente, fazendo com que ela transbordasse e molhasse todo o piso. Se estivesse em seu estado normal, imediatamente teria limpado a pequena bagunça. Ou melhor, ela não teria sequer feito bagunça.
Emergiu sentindo os músculos relaxarem. Será que alguém falaria alguma coisa se ela se arriscasse no campo de quadribol? Fazia tantos anos que não subia numa vassoura... E pensar que em sua época de estudante, fora uma das melhores artilheiras da escola.
Meneou a cabeça. No que estava pensando? Seu corpo podia ter rejuvenescido, mas ela ainda era uma professora, tinha que se dar ao respeito ou seus alunos...
O olhar perturbador de Sirius Black voltou a sua mente e, irritada, ela deixou a banheira, vestindo um roupão vermelho e encaminhando-se para seu dormitório, onde quase imediatamente adormeceu, os cabelos molhados encharcando os lençóis e os travesseiros.
Quando o sol levantou-se rasteiro no horizonte, Minerva descobriu que esquecera de um dos seus rituais antes de dormir: apagar todas as velas, fechar bem as cortinas e alimentar sua velha coruja, Lorde Vertinari.
Assim, o sol, que penetrava pelas janelas abertas, incidia diretamente sobre suas pupilas fechadas, enquanto Vertinari piava alto, encarrapitada na cabeceira da cama de sua dona. Não foi isso, entretanto, que acordou Minerva, mas sim o estranho cheiro de queimado que vinha...
- Os testes! – ela pulou sentada na cama, observando uma pilha de papéis virando cinzas em cima de sua escrivaninha – Bom Merlin!
Ela imediatamente pulou em pé, e, sem pensar duas vezes, largou todo o conteúdo da jarra de água que costumava dormir ao lado de sua cama.
O pequeno incêndio que começara quando duas das maiores velas tinham afinal chegado ao fim, depois de terem passado a noite toda queimando, rapidamente foi debelado. Os testes que ela aplicara na semana anterior, entretanto, estavam completamente perdidos – estava além da magia recuperá-los.
Praguejando baixo, ela voltou-se para Vertinari, que a observava com uma expressão de censura nos olhos amarelados.
- Não me provoque você também. – ela respondeu, jogando no lixo os restos de papel que tinham sobrevivido ao fogo – Ou eu coloco um elfo para cuidar de você em vez de me preocupar pessoalmente com sua água e sua comida.
A coruja piou em resposta, como se dissesse que, pelo menos assim, ela não seria esquecida e não passaria toda a noite em tortuosa sede e fome, esperando pela boa vontade da dona.
- Oras, se estava assim com tanta fome, por que não foi caçar?
Vertinari abriu as asas, numa pose extremamente altiva e, com um último olhar incriminador para Minerva, desapareceu pela janela aberta.
- Sim, claro, família nobre. – ela continuou resmungando, enquanto terminava de arrumar a bagunça em que o quarto se encontrava – Como se corujas tivessem brasões de nobreza para poderem argumentar dessa maneira.
Revirando os olhos, ela fechou a janela, sentindo a brisa fria do inverno acariciar sue rosto de leve. Começava a nevar. Fora muita sorte não ter nevado durante a noite, ou ela teria congelado de frio.
Após outro banho quente, mais curto do que o da noite, ela voltou para o quarto, aquecido pela lareira e, com um aceno de varinha, fez um de seus velhos vestidos ajustar-se ao seu novo tamanho. Estava pronta para mais um dia em Hogwarts quando o som de vozes alegres e carruagens chamou sua atenção.
Voltando à janela, Minerva observou Slughorn subir em uma carruagem, ao mesmo tempo em que conversava com uma cabeça ruiva que se destacava em meio à neve que começava a cair com mais força.
Lily. Provavelmente Slughorn estava passando as últimas instruções para a aluna antes de despedir-se. Mas onde estavam James e Sirius? Eles também não deveriam estar ali?
Lily não seria o suficiente para vigiar os dois marotos. Eles certamente aprontariam com a jovem também. Talvez ela devesse acompanhar de perto os avanços daquele antídoto. Mas, se irrompesse nas masmorras ou começasse a seguir os três pelo castelo, certamente seria mal interpretada. Como os próprios marotos tinham dito na noite anterior, o diretor da sonserina confiava neles. Como ela, que era muito mais próxima, não podia confiar?
- Provavelmente porque sei com que pestes estamos lidando. – ela resmungou baixinho antes de uma idéia tomar sua mente.
Sem perceber, a sempre racional McGonagall estava dando lugar a uma jovem extremamente impulsiva – um defeito que ela aprendera a controlar com os anos, mas que, em sua época de escola, sempre lhe tinha causado problemas.
O corpo de Minerva não demorou a tomar sua forma animaga ao primeiro pensamento que ela teve nesse aspecto. A gata pulou para o parapeito da janela aberta e, elegantemente, deslizou pelas calhas, afundando suas patas almofadadas na neve enquanto se aproximava de Lily, que estava agora junto das amigas.
- Eu aposto que, se ele voltar ainda jovem, vai ter triplicado de peso. – Alice observou, assistindo a carruagem de Slughorn levá-lo pela estrada de Hogsmeade – Vocês viram quantas caixas de abacaxi cristalizado ele estava levando?
Dorcas levantou os olhos do desenho em que estava ocupada naquele instante e sorriu para a amiga.
- Não sei... Se isso acontecer, quando ele voltar para a idade e o tamanho normal, vai acabar explodindo como um sapo. Mas vocês viram Dumbledore hoje de manhã? Sabe, eu não reclamaria se tivesse sido colega de turma dele...
Lily, tentando calçar as luvas com os dedos enregelados, sorriu para as duas.
- Vocês duas não têm jeito mesmo, não é? Acabem logo de arrumar essas coisas ou vão acabar perdendo o trem.
- Ansiosa por se livrar de nós, Lils? – Alice sorriu – Você já sabe que, quando sair daqui, terá que ir se enfurnar numa das masmorras com James e Sirius e passar os próximos dias testando antídotos?
- Na verdade, eu estou muito ansiosa para sair desse frio, Alice. – ela respondeu, apontando para o próprio nariz – Estou em tempo de congelar aqui.
- Não é a única. – a voz de Remus soou logo atrás dela – Más notícias, Lily... Sirius e Peter estão na ala hospitalar. Eles saíram ontem de noite e, bem... Você terá que trabalhar sozinha com o James.
A gata sentiu seus músculos se retesarem enquanto ela se abaixava sob a carruagem que logo seria ocupada pelas duas colegas de Lily. A ruiva, por sua vez, revirou os olhos para o céu.
- Obrigada, Papai Noel. Foi um maravilhoso presente de Natal. – ela resmungou, irônica.
- Bem, como você mesma disse, Lily, nós temos que ir. - Dorcas se levantou, guardando seu bloco de desenhos – Boa sorte com o Potter.
- E eu estava tão feliz com o novo patamar de relação a que tínhamos chegado... – ela observou, afinal conseguindo colocar as luvas.
Remus observou-a, curioso.
- James não falou nada sobre isso.
Ela sorriu.
- Eu o ignoro, ele me ignora. Não era um avanço?
Os três amigos riram enquanto ela voltava a suspirar. Logo Dorcas e Alice abraçaram Lily para se despedir e a ruiva voltou para o castelo com Remus, Minerva quase em seus calcanhares.
A gata os seguiu até o salão comunal, mas preferiu não entrar. Se fosse vista, certamente acabaria por ser reconhecida. Lily, entretanto, ficou parada na passagem, sem entrar na torre. De onde estava, Minerva não podia ver o que estava acontecendo. Mas não demorou até que a ruiva se virasse novamente para o corredor, dessa vez com James em seu encalço.
Dessa vez, eles desceram as escadarias do castelo, James e Lily em silêncio mais à frente e ela, logo atrás, aproveitando cada sombra para se esconder.
- Que ingredientes vocês usaram para a poção de vocês? – a ruiva perguntou, enquanto abria o estoque particular de Slughorn, encarando os muitos vidros cheios de líquidos coloridos que pareciam observá-los de suas estantes.
- Os ingredientes comuns de uma poção de rejuvenescimento. – ele respondeu – Agárico, meimendro, uma pedra da lua, salamandra. O que fizemos de diferente foi reforçar a dose de salamandras, e colocar um pouco de beladona e essência de murtisco.
Lily estreitou os olhos.
- Murtisco?
- Sirius achou que seria perfeito para sumir com as rugas. Mas parece que a combinação resultou não apenas em um rejuvenescimento físico, mas também psicológico. Algumas características que os professores só aprenderam a controlar com o tempo estão começando a se revelar.
- Acredito então que bezoar está fora de cogitação... – a ruiva suspirou, coçando o queixo.
- Bezoar só serviria se estivéssemos tentando envenenar alguém, Evans. – James respondeu, sério – E isso nunca nos passou pela cabeça. Ou melhor, eventualmente pensamos em tentar envenenar o Ranhoso, mas não acho que passar o resto da vida em Azkaban valha o sacrifício.
Ela meneou a cabeça, começando a separar alguns ingredientes. James a observou por alguns instantes antes de puxar um caldeirão para o centro da sala e acender o fogo, mantendo-o baixo.
As horas começaram a passar enquanto o casal trabalhava. Um cheiro doce alastrava-se pela masmorra, ao mesmo tempo em que o líquido vermelho que agora se encontrava dentro do caldeirão borbulhava.
Escondida nas sombras, Minerva quase sentia vontade de pular de contentamento. Logo os dois terminariam a poção e então tudo estaria de volta ao normal. Foi com grande ansiedade que ela acompanhou James deixar a sala, enquanto Lily mexia no caldeirão, contando silenciosamente cada movimento que dava.
O rapaz voltou algum tempo depois com um sapo vesgo, depositando-o sobre a mesa. Lily desligou o fogo, mas não se aproximou. Enquanto isso, James tirava do bolso um vidrinho cheio de uma poção perolada.
Ele forçou o líquido pela garganta do sapo e, por alguns instantes, nada parecia ter mudado. Muito de repente, no entanto, o sapo sumiu das vistas de Minerva e ela soube então que o pobre animal tinha sido forçado a voltar a ser uma ova.
Nesse instante, Lily aproximou-se, segurando uma concha cheia da poção vermelha. Cuidadosamente, ela pingou uma única gota sobre a ova e se afastou. Com um eco surdo, a ova rapidamente inchou.
- Droga... – James praguejou, puxando Lily para seus braços e jogando-se com ela para debaixo da mesa segundos antes da ova explodir – Você está bem?
Minerva não ouviu o que a ruiva respondeu. Estava muito ocupada com a meleca esquisita que agora cobria seu corpo felino.
Sem esperar pelo próximo movimento dos dois sextanistas, ela deixou as masmorras, esfregando o pêlo sujo em praticamente todas as paredes não cobertas por tapeçarias que encontrou no caminho até seu escritório particular.
- Olá, professora McGonagall. – a voz de Dumbledore soou em seus ouvidos felinos segundos antes da gata dar lugar à jovem morena – O que estava fazendo caminhando por aí em sua forma animaga?
A gosma esverdeada estava pregada em seus cabelos, escorria pelo seu nariz e muitos pontos de sua capa negra estavam agora duros e cheirando bem mal.
- O primeiro antídoto que eles fizeram não deu muito certo. – ela observou, encaminhando-se para seu banheiro e encarando-se no espelho – Mas, de qualquer forma, eles estão trabalhando admiravelmente bem.
Dumbledore sorriu.
- Admiravelmente. E, como já discutimos esse tópico antes, creio que começamos agora a concordar que talvez seja seguro dar a James Potter o título de monitor-chefe.
- Ainda é um pouco cedo para isso. – ela respondeu prontamente, fechando a porta do banheiro – Professor, o senhor se importaria em conversarmos mais tarde?
Ele apenas balançou a cabeça pensativamente, fazendo os cabelos vermelhos caírem sobre os olhos claros.
- Você se preocupa demais, Minerva. – ela ouviu a voz do diretor através da porta fechada – Aberforth fez um convite extensivo a todos os professores para uma bebida hoje em Hogsmeade. Ele está realmente curioso para nos ver mais jovens.
Mesmo sem querer, a jovem Minerva corou. Era tudo o que lhe faltava. Sair por aí para ser observada por velhos gagás potencialmente pervertidos. Ela revirou os olhos. De onde esse pensamento saíra?
- Será que podemos esperá-la no Cabeça de Javali depois do jantar?
Jantar? A lembrança de comida fê-la perceber que, na pressa de vigiar James e Lily, pulara o café da manhã e o almoço.
- Eu estarei lá. – ela respondeu, enquanto tentava soltar os cabelos, agora grudados pela gosma ressequida.
Os passos de Dumbledore afinal se afastaram e ela ouviu a porta do escritório bater. Sem esperar duas vezes, ela voltou para a banheira. Desde que tudo aquilo começara, ela estava passando muito tempo ali dentro...
Quando conseguiu afinal se livrar da gosma e deixar o banho, ela rapidamente dirigiu-se para a cozinha, onde os elfos providenciaram um substancial lanche para ela. Pelo resto da tarde, Minerva passeou pelo castelo, incerta sobre o que fazer a seguir.
Hagrid, que não bebera água no memorável jantar do dia anterior, já terminara de organizar a arrumação natalina com a ajuda de um excitado Flitwick, que pulava e batia palmas ao redor das árvores, enquanto as fadas que ele conjurara subiam pelos ramos, sussurrando canções inteligíveis.
Ela se lembrou do que James dissera mais cedo. Sobre a poção reforçar caracteres da personalidade deles que eles tinham aprendido a controlar apenas com o tempo. Provavelmente ela tinha acentuado o lado mais "divertido" dela, aquele que ela suprimira quando se tornara professora.
É muito bom ser uma pessoa divertida. Mas os pais de seus alunos não querem que você seja um professor divertido. Eles não acham que seus filhos aprenderão alguma coisa com diversão.
Minerva parou, observando mais detidamente o colega. A face tristonha de Flitwick no escritório, quando Slughorn falara sobre convites para ceias de Natal. Família...
A única família de Flitwick era Hogwarts. A mãe dele fora uma elfa doméstica que servira durante toda a vida à uma família de bruxos irlandeses. Por anos, suportara os maus tratos e as perversões de seus donos, até engravidar de Filius e morrer no parto.
Ela meneou a cabeça. Não era hora para ficar pensando naquilo. Acabaria por se deprimir. E faltavam dois dias para o Natal. Não era tempo para ficar mergulhando em pensamentos tristes sobre família, guerra ou qualquer coisa do tipo. Ao final das contas, ela agora só tinha vinte anos. Tinha outras coisas com que se preocupar.
Como, por exemplo, o que usaria aquela noite.
- Eu não acredito que estou começando a ter pensamentos tão fúteis como esse. – ela resmungou para si mesma, revirando os olhos e pondo-se a caminho do seu dormitório.
Detestava ficar de férias. Detestava aquela sensação de que não havia nada que ela pudesse fazer. Absolutamente nada para fazer.
No meio de sua caminhada para o escritório, ela acabou por se desviar para a biblioteca. Pegaria alguns livros para passar o restante da tarde e talvez mexesse um pouco nos seus apontamentos para as aulas dos próximos meses.
E assim ela mergulhou em seus estudos até a hora do jantar, quando suaves pancadas soaram à porta e Sprout colocou a cabeça loira para dentro. A outra estreitou os olhos. Havia alguma coisa estranha ali...
- Boa noite, Minerva. Está pronta para nossa pequena confraternização?
Pessoal, infelizmente hoje eu não posso me alongar muito por aqui... Explicações lá no profile (cliquem no link "Silverghost" lá em cima).
Aproveitem e dêem uma olhada no novo presente que eu ganhei, da Suzannah... A capa de Essência Feminina!
E agora, voltando à mudança (sem mais transmissões até finalmente etsar totalmente instalada na casa nova...)
Beijos,
Silverghost.
