4ª Entrada – O Objecto Maravilhoso
Ficámos abraçados não sei quanto tempo, eu não dissera mais nada e ele também não queria desabafar. Fora amor à primeira vista, em conseguia sabê-lo. Amara-o desde que o conhecera lá de cima, da minha janela que se abria para o mundo cruel e tinha aceitado vir à terra. Tinha-me tornado mulher para puder amá-lo da forma de como só os humanos sabiam amar. Era aquilo que eu desejara sempre…
Amor! Os anjos não conheciam esta palavra. Dizendo de outro modo, eles até conheciam, mas eram mais conhecidos pela sua aura branca, pelas suas asas, pela sua pureza, pelo seu encanto, pela sua bondade, compreensão e delicadeza e em certa maneira também amavam; amavam as coisas belas, a pureza, a bondade, a felicidade, a união. Mas não sabiam a verdadeira natureza do amor, o amor único dos humanos… o objecto maravilhoso que eu fora encarregue para o encontrar e tirá-lo daquele mundo.
Não era um objecto mas sim um sentimento e durante todo o tempo os anjos tinham estado enganados.
Olhei para o jovem espantada. Era aquilo que ele me pedia, um pouco de amor, o que nunca tivera em toda a sua vida, como poderia eu negar-lho! Era incrível aquela sensação, também eu suplicava-lhe para que me mostrasse o verdadeiro significado do amor, precisava de compreender aquele sentimento, tinha de experimentá-lo.
Sem mais palavras, ele aproximou a sua boca da minha e eu hesitei. Iria quebrar outra regra e esta, eu sabia que seria fatal. Beijá-lo significaria a minha morte. Afastei-me e não o deixei tocar-me mais.
- Pára por favor! Tenho de voltar para casa, tenho de acabar a minha missão! Tenho de levar o objecto que vocês têm de mais maravilhoso.
- Tens razão! É demasiado perfeito para mim, eu não mereço tanto e até já tive até demais. Estou condenado às trevas e tu à luz. Eu morrerei e tu viverás…
Os seus olhos brilharam, revelando lágrimas no seu interior, um choro baixinho que eu conseguia ouvir. Naquele olhar percebi que não podia tirar daquele mundo imperfeito a única coisa que o tornava mais perfeito que o meu próprio mundo. Tirar-lhe o amor que tinham criado, que era a única coisa que os fazia viver até à hora da morte e que era o mesmo que matá-los logo todos. Não podia cometer tal maldade, não podia partir e deixá-los sem a única coisa que os fazia viver e além disso, já não consegui negar o amor àquele rapaz.
Alguns anjos tinham descido para ali e nenhum tinha regressado… um pensamento apoderou-se da minha mente, isto era porque eles tinham encontrado o verdadeiro amor e tinham ficado ali para o viverem.
Aproximei-me dele e deixei que os meus lábios tocassem nos dele. Também eu queria experimentar aquilo, qualquer que fosse o preço a pagar. Ele abraçou-me e também me retribuiu o beijo exigentemente. As nossas línguas tocaram-se e trocaram saliva. Era apenas o início, a forma mais rudimentar de demonstrar o amor que nutríamos um pelo outro. Um anjo amava um humano e não deixava de ser um sentimento puro. Só por aquele beijo eu regressaria imensas vidas depois para o poder viver de novo. Não queria que terminasse e sabia que brevemente tudo terminaria para mim.
