Prólogo

14 de maio de 1912 – Osaka

Olhei para a casa a minha frente. Eu disse casa? Não, aquilo era uma mansão. Branca, com detalhes em creme e do estilo gregoriana, a casa devia ter uns três andares, calculo eu. Podia-se ver um lindo jardim com grandiosas estatuetas e fontes de mármore entre os portões e a porta de entrada. A mansão ocupava a quadra inteira. Não era à toa que haviam oferecido um salário tão alto. Tinham dinheiro para isso.

Finalmente, depois de tanto admirar aquela bela moradia que, sem dúvida, era o sonho de qualquer um, sem mais rodeios, caminhei até o portão e toquei a campainha. Ouvi seu som ecoar pela mansão. Nada. Aguardei mais um tempo antes de apertar aquele minúsculo botão novamente, um pedido mudo para ser atendida. Quando já estava desistindo, certa de que algum desocupado havia passado-me um trote, uma mulher apareceu na porta. Rapidamente, apesar de sua idade e seu corpo robusto, ela chegou até o portão. Ela tinha um aspecto doce, como aquelas babás em que se vêem nos filmes: uma senhora já na terceira idade, com a sabedoria de quem vive uma era inteira e de coração bondoso e puro.

Ela usava um vestido branco, até a canela e mantinha seus cabelos grisalhos presos em um apertado coque no alto de sua cabeça. Mostrou-me um caloroso sorriso e abriu o portão me dando passagem. Logo ela passou a me levar para sua patroa.

Vocês devem estar um pouco perdidos nesta história. Irei esclarecê-los. Naquela época, eu tinha apenas dezenove anos, e iria começar meu curso de Letras. Estava por demais feliz, e não via a hora de terminar o curso e me tornar uma escritora. Mas como nada neste mundo é nos dado sem luta, eu estava numa situação crítica: não tinha dinheiro suficiente para pagar meus estudos. Era uma universidade cara. A única para mulheres. O único jeito era arranjar um emprego, mas com a situação em que o país estava, ainda em recuperação daquela terrível guerra, isto se revelou uma tarefa extremamente difícil.

Até que ouvi falar deste emprego. Pelo jeito uma mulher de muitos bens e posses, estava doente e procurava uma acompanhante para ajudá-la a combater sua doença, e ainda estava pagando muito bem para isso. "timo! Era a situação perfeita: minha mãe, pouco antes de falecer havia me ensinado um pouco da arte da medicina, que ela foi abrigada a aprender durante a guerra e eu precisava muito daquele dinheiro. Só havia um problema: a doença da mulher. Ela estava num estágio avançado da tuberculose. Sim, eu sabia que esta doença era transmissível, e terrível também, mas eu não tinha outra alternativa.

Assim, mesmo sabendo dos perigos que corria, me candidatei para o emprego. Pelo jeito não havia muitas concorrentes, pois fui contratada na mesma hora. E aqui voltamos aonde havíamos parado nesta história.

Voltando à realidade, nem percebi quando chegamos no jardim dos fundos. Havia todo tipo de flor que você pudesse imaginar e até mais. Rosas, lírios, violetas, jasmins, laranjeiras, cravos, cedros...Tudo. Era maravilhoso! Mas algo me chamou a atenção: era uma linda cerejeira, e embaixo dela havia uma mulher. A senhora Mieko (nós já havíamos nos apresentado no caminho ao jardim) me encaminhou até aquela mulher. Não há palavras para explicar o que senti ao conhecer Sakura Kinomoto. Quando a vi de perto, deduzi que era ela a pessoa de quem eu deveria tratar. Sua palidez era totalmente visível. Entretanto, nem mesmo isso era capaz de ofuscar a beleza e o brilho que aquele ser emanava. .Nunca antes havia visto ser tão belo. Mieko dirigiu-se até ela.

-Sakura, esta é a Srta. Kiosawa. Ela será sua acompanhante.

Vi ela direcionar seu olhar para mim. Seus olhos eram de um verde esmeralda profundo e emanavam tranqüilidade e sabedoria. Seus cabelos longos e lisos eram de uma cor difícil de identificar, meio amarronzados, um pouco ruivos, e com finas mechas claras.Os raios solares refletindo em suas madeixas causavam um efeito paralisante. Ela parecia um anjo, e só lhe faltavam asas. Mantinha um pequeno sorriso no rosto. Ela não devia passar dos trinta e cinco anos. Percebendo que a analisava, me recompus e apresentei-me.

-Muito prazer, Srta. Kinomoto. Meu nome é Hikari Kiosawa.

-Hikari. Luz. Nome muito bonito o seu. Mas por favor, chame-me apenas de Sakura. Assim, posso te chamar apenas de Hikari.- vi seu sorriso aumentar ao dizer isso. Sua doçura era palpável. Esqueci-me completamente de que aquela mulher tinha uma doença mortal e transmissível e que corria risco de morrer ao seu lado, ao contemplar seu calmo semblante. Qualquer um se renderia aos encantos daquela mulher.

Passei a cuidar dela com todo carinho possível. Conversávamos durante horas às vezes. Era tão bom conversar com ela, e ela era uma mulher tão sábia. De vez em quando me perguntava quantos homens não haviam se encantado com ela (milhares com certeza) e se a algum deles ela havia correspondido. Tudo continuava o mesmo de sempre, e um mês já havia se passado. Até que, um dia, algo aconteceu.

Eu estava ajudando Mieko a pendurar a roupa, já que apesar de enorme, a casa só tinha cinco criados, inclusive eu, para cuidar dela, quando lhe falei da admiração que sentia por Sakura. Sua resposta me surpreendeu:

-Sim, Srta. Sakura é muito sábia e tem o coração mais puro que já vi. É uma pena que ela tenha sofrido tanto, e ainda sofre. E quando falo isso não me refiro somente à sua doença.

No mesmo dia comentei essa conversa com Sakura. "São coisas do passado, querida Hikari." Ela respondeu-me com tristeza no rosto. Sim, realmente algo em seu passado havia ferido-a muito. Insisti que me contasse. Disse-lhe que podia confiar em mim. O que realmente era verdade. Daria minha vida por ela, meu curso já não importava me mais. Ela manteve-se firme. Não agüentei mais e gritei com ela. Me senti ultrajada: justo a pessoa que eu mais confiava, não confiava em mim. Transformei meu pensamento em palavras, e acrescentei mais algumas inutilidades. Vi que ela cedeu quando disse:

-Chegou o momento de revelar meu passado. Sabia que essa hora chegaria, só espero estar pronta para isso. Por favor, entenda, é muito doloroso para mim, por isso peço-lhe que tenha paciência.- me arrependi na mesma hora de ter levantado a voz para ela, mas pelo menos ela iria contar sua história.

Sentamos embaixo daquela mesma cerejeira em que a vi pela primeira vez. Ela começou a narrativa.

-O ano, era 1900, final do século XIX. Já fazia dois anos que o terror dominava o Japão e seus habitantes durante aquela guerra. Milhares já haviam sido mortos e mais milhares ainda estavam para morrer.Cada tentativo do grupo Ki Katsu, "Espírito Vitorioso", em matar o Imperador chegava mais próxima de seu objetivo, fazendo assim com que o soberano precisasse cada vez mais de proteção, obrigação de seus soldados. Eu e minha família estávamos vivendo em uma pequena cidade do interior, isoladas e protegidas, como dizia meu pai. Eu detestava aquele lugar. Eu, em minha completa insanidade, queria lutar, participar da guerra, defender o Imperador. Eu não havia nascido para ter meu espírito preso em uma casa, tendo como obrigação os, na minha opinião, absoletos afazeres das mulheres da época.

- Meu pai era um dos comandantes das forças terrestres e o país enfrentava sérios problemas, pois quase um terço de seus melhores soldados haviam sido mortos em batalha pelos Katsus, só restando uma parte dos especializados na arte de guerrear. O restante eram comerciantes, trabalhadores, muitos obrigados a lutar e defender sua pátria, e que não tinham habilidade alguma.

-Assim meu pai teve a idéia de pedir ajuda a um jovem chinês, especializado na arte bélica e que lhe devia, já que havia salvado a vida de seu pai duas vezes. Eu não era como agora, calma e tranqüila, mas teimosa, impertinente e um pouco explosiva, e como todos fui contra a vinda de um estrangeiro para treinar os homens japoneses. Mas meu pai estava irredutível e nós não tínhamos muitas alternativas. Assim o jovem veio, apesar da contrariedade dos conterrâneos japoneses. Assim, conheci Shoran Li.

-Nossas vidas jamais seriam as mesmas. Minha vida nunca mais seria a mesma...

Continua...

N. A.: Oi! Bem este é a minha primeira fic! Que emoção! Bem, espero agradar! Este é o prólogo então está bem curto. E o próximo capítulo também vai estar meio curto, já que também será como uma introdução... Mas podem ter certeza que do terceiro capítulo em diante os textos estarão maiores!

Não se esqueçam de deixar um comentário!

Até a próxima!!!

§ M. Sheldon §