Uma Mulher Chamada Sakura

Capítulo 6 - Descobertas

§ Shoran §

Eu não podia acreditar. O que Touya estava me dizendo? Se ele ao menos fizesse idéia do peso de suas palavras... Senti uma onda de desespero atravessar meu corpo. O que ele me dizia não podia, de maneira nenhuma, ser verdade. Nunca!

- O quê? O que você disse, Touya?

Não consegui me segurar mais. Perguntei novamente, ele só poderia estar blefando. Será que meus ouvidos estavam a me enganar? Será que minha obsessão por uma garota chegava a ponto de me tirar a sanidade? Eu só poderia ter escutado errado, ou ele realmente estava inventando um absurdo para se safar...

- Eu disse, que Sakura Kinomoto é minha irmã. Meu nome é Touya Kinomoto, filho de Fujitaka Kinomoto. O resto supõe que possa adivinhar...

Será...? Comecei a me recordar do momento em que vi Sakura recepcionando Touya. Era óbvio que havia certo amor entre eles, mas realmente não parecia passar de um amor fraterno. Nenhum beijo ocorreu. Lembranças passaram-se por minha cabeça como flash...

"- Então, vamos entrar?

- Vamos! Afinal papai deve estar com saudades de você também!"

"Do que está falando, guria? Aliás, por que você perde seu tempo discutindo comigo? Já poderia ter aproveitado bem esses minutos, se encostando com Touya! Por acaso é um hobby? Ou o Touya é cliente especial?

PLAFT!!!

- Nunca mais... Nunca mais ouse encostar um dedo em mim, ou dizer uma barbaridade como aquela! Você não me conhece, Shoran Li! Não fale algo que não sabe!"

O que Sakura deveria estar pensando agora? Deus, o que foi que eu fui fazer? Se eu soubesse... Se eu não estivesse cego desse ciúme sem motivo... Continuava a lembrar...

"- E você não me dá um abraço, meu primo?

- Claro. Estava morrendo de saudades, Tomoyo. Você cresceu, garota! Está lindíssima."

Como não pude ver os sinais? Eu estava tão entretido com minha raiva e lamúrias, me autovitimando, que nem reparei quando Tomoyo referiu-se a Fujitaka como tio, e a Touya como primo. Como pude ser tão fraco? Logo eu... Nem me reconheço mais...

Comecei a suar frio. A raiva e desprezo pelo ser que eu era se apossaram de meu corpo. Como pude ser tão estúpido? Agora, olhando para trás, vejo o quão tolo fui.

Olhei para os dois, que me encaravam longamente. Eu não sabia o que fazer, nunca havia imaginado passar por uma situação como essa. Baixei meu rosto para não ver aqueles olhares em expectativa, aguardando meus próximos movimentos. Simplesmente virei na direção contrária a eles e comecei a caminhar. Ora, vamos ser sinceros... Comecei a fugir. Nada mais...

- Não vai fazer nada? Vai nos dar as costas e simplesmente sair, sem nos esclarecer o que acaba de se passar aqui?

Parei. Deveria prever que isto não ficaria quieto assim. Touya não permitiria. Ainda de costas falei.

- Peço perdão por meus atos. Eu achava que estava traindo a Srta. Kinomoto e não sabia que eram irmãos. Minhas sinceras desculpas...

E continuei meu caminho. Quanto antes saísse de lá, melhor. Ouvi a voz de Touya se pronunciar uma vez mais.

- Você gosta de minha irmã.

Parei novamente. Eu havia reparado em seu tom, aquilo não era uma pergunta... Mas uma afirmação. Fiquei chocado com suas palavras. Eu não estava gostando dela. Eu não estava!

- Não sei de onde tirou isso, Sr. Com licença.

E saí daquele triste e escuro jardim com passos rápidos. Ainda não conseguia me conformar. Muito menos, então, entender o por que da maneira como agi. Afinal, que direito tinha eu de pensar que deveria saber da vida pessoal de Sakura? Nada justificava meus atos...

Sentia meus ombros pesados, assim como minha consciência. Estava exausto, não posso negar... Precisava descansar um pouco, parar de remoer assuntos passados. Tomei a direção de meu quarto, implorando por paz. Mal cheguei no cômodo, já deitei. Sim, eu precisava tirar aqueles pensamentos da cabeça.

Fiquei de lado na cama, olhando as estrelas pela sacada aberta. A noite estava maravilhosa... E a odiei por isso. Tudo que prendia minha atenção por beleza recordava-me Sakura: A noite, as estrelas, a linda lua que iluminava aquele céu escuro... Tudo me fazia lembrar dela.

O que ela deveria estar pensando? Deve estar me odiando... Senti meu corpo contrair-se ao constatar isso. Por que me importo tanto? Não consigo entender! Nunca semelhante sentimento tomou posse de meu corpo antes, como fazia agora. Quantas dúvidas... Quantas perguntas soltas no infinito de idéias que estava minha mente... Todas sem respostas...

Virei meu corpo em uma posição diferente, desviando meu olhar da incrível visão que estava aquela noite e que tanto me prejudicava. O que eu mais desejava era esvaziar minha mente, tirar aquelas lembranças que me perseguiam... Simplesmente ficar em paz, sem aquele peso na consciência...

Mas quem disse que eu conseguia?

Depois de muito tempo, caí em profundo sono.

{{{}}}

Só acordei no dia seguinte, tamanho era meu cansaço. Espreguicei-me demoradamente, bocejando ao mesmo tempo. Por um momento consegui me esquecer do terrível incidente. Só por um momento. A lembrança voltou mais forte e arrebatadora que antes, quebrando todas as defesas que eu havia imposto.

Tentei inventar diversas desculpas que justificassem meus atos. Mas não adiantava, eu sabia que estava errado. Muito errado. Tudo que eu podia fazer era tentar reparar meu erro. O único problema era como...

Levantei da cama macia, lavei o rosto e saí do quarto. Nem me dei ao trabalho de trocar a roupa que usava. Eu precisava encontrar Sakura e esclarecer as coisas. Nada mais me importava...

Saí de meu quarto com a rapidez de um trovão. Rodei o andar de cima inteiro... Nada. Onde está essa mulher? Tranqüilizei-me, ainda faltava um andar e era besteira me precipitar. Desci as escadas com extrema rapidez e pressa, denunciando meu nervosismo. Olhei a sala de visitas, a de jantar, a cozinha... Até mesmo a dispensa. Nada também...

Senti meu estômago reclamar por comida, e lembrei que não havia jantado ontem, e sim dormido a noite inteira. Fui até a cozinha e peguei um pão, já duro. Obviamente de ontem. Levei um susto ao ouvir a porta da cozinha, a que levava até o jardim, ranger barulhenta atrás de mim. Meu coração deu um salto. Sakura...? Virei de frente para a porta, com meu coração pela boca.

- Li...? O que está fazendo aqui, assim tão cedo?

Soltei o ar que, a propósito, nem havia reparado estar segurando, me acalmando.

- Como assim cedo, Mieko?

- Ora, Sr Li. Mal amanheceu... Achei estranho o senhor estar de pé tão cedo. Nem o pão eu fiz ainda...

Então era este o motivo de não encontrar ninguém na casa, muito menos Sakura. Todos estavam dormindo ainda. Olhei a janela pequena que havia na cozinha. O céu ainda estava meio escuro mesmo. Nem havia reparado...

- É que acabei dormindo muito cedo ontem. Para ser sincero, nem havia reparado o dia ainda escuro. Não pensei que seria tão cedo...

Falei, dando mais uma mordida no pão, ato reparado por Mieko. Pela sua cara não havia gostado...

- Este pão é de ontem, Sr. Li?

Confirmei com um leve movimento da cabeça. Em questão de segundos, o pão já estava na mão de Mieko.

- Oras, imagine se eu iria permitir que um convidado do Sr. Fujitaka comesse pão velho? Ficaria encrencada se o fizesse! Agüente mais um pouco, que eu farei um pão fresquinho para você comer. Vou fazer um café também...

A mulher, falando mais consigo mesma que comigo, ia contando o que planejava fazer para o desjejum. Eu só poderia agradecer, estava com muita fome e, convenhamos, um pão fresco com café é muito melhor que um já velho e seco.

- Quanto tempo acha que vai levar para o pão ficar pronto?

Perguntei esperançoso. Ela pareceu notar minha fome, pois estava com um semblante pesaroso quando me respondeu.

- Lamento, mas... Acho que em menos de meia hora não sai.

Dei um suspiro, vencido. Eu teria que esperar, mesmo. Para não ficar à toa na cozinha, resolvi matar o tempo em algum lugar. Fui para o jardim, sem muitas opções. Mieko ficou falando sozinha na cozinha, e acho que nem ouviu quando pedi licença e saí.

Assim que cheguei naquele grande campo verde, cheio de cores sobrepostas, dei de cara com a cerejeira. Eu enxergava o rosto de Sakura em cada pétala de flor que aquela árvore possuía. E acredite, eram muitas. Meu rosto adquiriu um semblante triste, quando lembrei que ali havia ocorrido aquele horrível incidente.

Como pude ser tão...? Não encontrava uma palavra que justificasse minha presunção. Olhei novamente para a cerejeira, e me recordei do momento em que havia despertado e encontrado o rosto de Sakura a poucos centímetros do meu. Seu olhos fechados, seu rosto sereno... Sentia-me tão bem naquele momento especial. Mas claro, eu tinha que estragar tudo!

No lugar daquele rosto sorridente que aparecia em minha mente, um triste e repleto de lágrimas e dor tomou seu lugar. Senti uma pontada no coração. Sakura deveria estar assim agora. Cheguei mais perto daquela árvore que me proporcionava tantas recordações...

Aspirei aquele ar. O perfume daquela árvore era idêntico ao de Sakura. Tão doce... Tão bom... Fechei meus olhos.

Minha concentração foi quebrada pela voz de Mieko me chamando, da porta da cozinha. Pelo jeito a comida já estava pronta. Fiquei surpreso, nem havia sentido o tempo passar. Lancei um último olhar para a cerejeira, como que me despedindo, e fui para a cozinha.

Pude sentir o delicioso aroma adocicado vindo do forno. Mieko me serviu dois pães dourados e um pouco de café. Comi sem ânimo algum...

- Não te ofereço chá só porque não tem, pois o senhor iria deliciar-se caso experimentasse. Sabe, o chá japonês é famoso no mundo, assim como o francês. Só que aqui é considerado mais... Hum... Cultural.

- Sim, já ouvi muito sobre a famosa cerimônia do chá.

Falava sem me envolver muito na conversa. Era como se meu corpo estivesse ali, mas minha mente, fixa em outros pensamentos, estivesse longe, muito longe...

- Sim. É uma pena que nossa cultura esteja sendo ofuscada cada vez mais pelos costumes ocidentais, que vêm sendo impostos na nossa sociedade cada vez mais. É lamentável o fato de que assistimos o sumiço de nossa cultura "de camarote", sem podermos fazer absolutamente nada.

Mieko era uma pessoa muito inteligente, pude ver. O assunto era muito interessante e sempre gostei de discutí-lo com os outros na minha terra natal. Mas realmente não estava bem psicologicamente para isso...

- Sim, tem razão.

Vi a senhora direcionar um olhar estranho para mim.

- O que se passa com o senhor? Está tão estranho. Já peço desculpas pela minha indelicadeza, mas não pude evitar reparar. O que te aflige tanto, Sr. Li?

- Eu cometi um grande erro, Mieko. E temo não poder repará-lo...

Passei a mão na testa. Minha cabeça parecia querer explodir. A mulher me encarava demoradamente com um sorriso calmo no rosto.

- Acho que o senhor só poderá saber se tentar, não?

Abri um sorriso fraco. Eu sabia disso, mas...

- Eu sei, Mieko. Mas e se eu não conseguir reverter isso? E se eu só piorar a situação? Eu não faço a mínima idéia de como explicar a ela, de como me desculpar. Acho que não consigo fazer isso...

- Sabe Sr. Li... Por mais incrível que pareça, já passei por dúvidas parecidas com as suas. E acho que também não conseguiria se uma pessoa muito especial não tivesse me ajudado. Nunca esquecerei o que minha mãe me disse naquela ocasião...

"O mérito pertence àquele que se atira a luta, àquele cuja as faces estão marcadas pela poeira, suor e sangue; àquele que erra e torna a errar mas persiste, pois não há realizações sem erros ou falhas, àquele que, efetivamente busca realizar; àquele que se mune de entusiasmo, devoção e se entrega às grandes causas; àquele enfim, que se falhar, ao menos o terá feito enquanto tentava. Apesar dos riscos de fracasso, ainda é preferível lançar-se na busca das grandes realizações e triunfos gloriosos do que confundir-se com os pobres de espírito que jamais se atrevem a experimentar alegrias ou tristezas porque se acomodam no crepúsculo cinzento que não conhece vitórias ou derrotas."

Olhei surpreso para a mulher à minha frente, que me mostrava um semblante calmo e indecifrável. Senti um sorriso verdadeiro se formar em minha face.

- Sua mãe era uma mulher sábia, Mieko.

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Já havia se passado várias horas. Agora, por incrível que pareça, não estava mais tão preocupado. O medo ainda estava em mim, mas graças a Mieko e aquelas palavras inspiradoras que ela havia me dito, sentia-me revigorado e com forças para fazer o que deveria.

Rodei pela casa, mas não a encontrava novamente. Pense Shoran! Em algum lugar ela tem que estar. Mas onde? Talvez ela tenha ido cavalgar! Saí em disparada na direção do estábulo ver se o cavalo de Sakura estava lá.

Fiquei surpreso ao encontrar os olhos de trovão do alazão. Então ela não estava cavalgando. O que mais ela poderia estar fazendo? Eu não sei muito sobre ela...Refleti comigo mesmo os lugares possíveis, para onde ela poderia ter ido. Como se um raio caísse sobre minha cabeça dei-me conta. Por que não pensei nisso antes? Ela só poderia estar lá! E, a passos rápidos e respiração ofegante, tomei a direção da colina.

Não agüentando de tanta ansiedade, aumentei o ritmo de mus passos transformando-os em uma corrida. Nem em apreciar as belezas daquele maravilhoso lugar estava interessado. Só havia uma beleza que eu desejava apreciar neste momento... E estava correndo, desesperado, até essa beleza...

Parei de repente. Avistei um extenso campo florido. Meu coração batia descompassado, ela tinha que estar ali. Olhava em todas as direções procurando-a. Meus pensamentos interromperam-se quando presenciei aquela linda cena.

Sakura estava sentada entre aquelas flores. "Exatamente o lugar ao qual pertence, Sakura. Junto com as outras belas flores como voc". A brisa batia em seu rosto fazendo seus cabelos balançarem no ritmo do vento, enquanto pétalas de flores rodopiavam à sua volta, como um escudo de beleza. Seus olhos fechados e sua pele alva lhe davam um toque de pureza. Só lhe faltavam asas...

Meu corpo ardia, implorando pelo dela. E eu simplesmente não conseguia tirar os olhos daquele retrato magnífico de pura beleza. Eu não me importaria se o tempo parasse neste instante mágico. Queria que ele não acabasse nunca mais. Mas ele acabou. Aqueles olhos verdes, já abertos, me fitavam agora, denunciando toda a tristeza que se encontrava neles...

Meu coração partiu-se ao testemunhar aquela cena. Seu olhar ferido invadiu o meu coração, dilacerando-o sem dó ou pena alguma. Uma lágrima escapou daqueles orbes verdes.

- Sakura, eu...

-Não fale nada! Não quero ouvir uma só palavra que seja pronunciada de sua boca! Não mereço ouvir tanta perplexidade novamente e nem desejo. Portanto, cale-se, Shoran Li!

Não tinha a mínima idéia de por onde começar...

"... àquele enfim, que se falhar, ao menos o terá feito enquanto tentava. Apesar dos riscos de fracasso, ainda é preferível lançar-se na busca das grandes realizações e triunfos gloriosos do que confundir-se com os pobres de espírito..."

Lembrei-me das palavras de Mieko. Ela tem razão, eu não vou saber se conseguirei se nem ao menos tentar.

- Sakura, por favor...

- Não! Eu não quero!

As lágrimas saíam em abundância agora, ferindo meu coração cada vez mais. Meus olhos ficaram repletos de tristeza e minha alma de sofrimento. Eu não podia reclamar eu havia sido o culpado de tudo, deveria arcar com as conseqüências agora. Baixei minha cabeça, escondendo minha dor...

- Sakura, eu lhe imploro. Apenas ouça o que tenho a dizer, por favor!

Me surpreendi quando reparei que ela não havia me interrompido, mas ainda não tinha coragem de olhar sua face...

- Eu sei que cometi um erro. Um terrível erro. E entenderei se não puder me perdoar, afinal está em seu direito. Mas... Eu só quero que você saiba que eu vim aqui para suplicar por seu perdão, e te contar que eu sei que agi errado e que não deveria ter feito o que fiz. Minha consciência pesa, meu coração dói. Se ao menos fizesse idéia do quão arrependido eu estou... Eu não estava conseguindo conter meus atos ridículos, e estava dominado pela raiva. Me... Desculpe. Sakura...

Levantei minha cabeça. Não havia mais lágrimas em seus olhos, mas sim surpresa...

- Você me magoou muito, Shoran Li. Se você soubesse o que passei por causa do que me fez. Eu sofri tanto, Shoran... Não sei se posso te perdoar tão facilmente, ainda estou muito brava com você...

Fiquei em silêncio, novamente olhando para baixo. Deveria imaginar que ela não me desculparia. Se eu estivesse em seu lugar, acho que não perdoaria uma pessoa que tivesse feito tudo que fiz. Mas ainda assim, era difícil de aceitar.

Senti uma mão quente levantar meu rosto fazendo com que meus olhos encontrassem os verdes de Sakura. Senti uma onda de calor invadir meu corpo ao sentir sua pele em contato com a minha. Aqueles olhos... Aqueles olhos de um verde magnífico me enfeitiçavam. E eu ficava lá, petrificado, sem saber como reagir diante de um ato desses.

Ela ficou me encarando por um breve momento. Me surpreendi mais ainda...

- Eu te perdôo, Shoran.

Não pude acreditar. Olhei surpreso para Sakura que já havia retirado a mão do contato com meu rosto e estava de costas para mim. Fiquei encarando suas costas, sem saber o que fazer. De repente, senti-me extremamente feliz!

"- Você gosta de minha irmã."

As palavras de Touya invadiram meus pensamentos, me pegando de surpresa. Será...? Esta felicidade repentina, meu coração acelerando a cada encontro com ela, o ciúme inexplicável, as ondas de calor... Olhei para Sakura que estava com o corpo de perfil, com um sorriso calmo no rosto e senti novamente aquela sensação... Aquela sensação de querê-la perto de mim, em meus braços...

Um sorriso escapou de meus lábios. Olhei Sakura mais uma vez, sentindo meu coração acelerar novamente. Mas eu não me sentia confuso. Não mais. Foi como se todas as perguntas evaporassem em minha mente. Uma certeza fazia todas as minha dúvidas sumirem.

Eu amo Sakura.

- Por que você me perdoou assim, tão de repente? Não que eu não tenha gostado, pois fico muito feliz, mas... Não consigo entender...

Ela virou-se para mim, com um lindo sorriso nos lábios e cabelo ao vento. Ela lançou-me um olhar doce e disse-me aquilo de um modo totalmente ingênuo. Se ela soubesse a reação daquelas palavras sobre mim...

- Porque eu enxerguei a sinceridade em seus olhos.

Naquele momento eu vi o quão especial Sakura era.

§ Sakura §

"Tudo estava escuro. Eu não conseguia enxergar nada ao meu redor, somente meu corpo. Por que sinta a sensação de que isso já aconteceu comigo antes? Que estranho...

De repente, senti aquele pavor me invadindo. Aquela conhecida onda de medo tomando posse de meu corpo. Esse sonho de novo, não! Então era por isso que eu tinha aquela sensação. Senti uma respiração incrivelmente gelada no meu pescoço. Nessa hora, o medo me invadiu totalmente, de um jeito que não consegui evitar.

Por que me persegue tanto? Por que? E afinal, quem ou o que é você? Senti meu corpo sentir um imenso frio, como se, parte por parte, ele fosse morrendo. Eu não agüentarei muito tempo se permanecer aqui. Estou com frio, eu não vou suportar!

Corri o mais rápido que meu corpo, naquela situação, me permitiu. Isso é um sonho, não? Então por que sinto esse frio, esse medo, tudo tão real? Isso não é um sonho, é um pesadelo...

- Não fuja... Não fuja, Sakura...

Procurei saber de onde aquela voz vinha. Não me pareceu a voz de uma pessoa má. Ela era doce e serena. Tranqüilizadora...

- Quem é você?

- Não fuja... Não fuja...

- Mas, fugir do quê? Eu não entendo, quem é você? Me diga!

- Não fuja... Não fuja...

- Pare de repetir isso!!! Fugir... Fugir do quê?! Eu não entendo...

A voz ficava dizendo-me sempre a mesma coisa: para eu não fugir. Mas eu nem sabia do que eu fugia. E quem era essa pessoa? Do que eu fujo afinal?!

Um corpo apareceu, brilhante em mio àquela escuridão.

- Quem é você?

- Não fuja... Não fuja...

A luz foi diminuindo... Diminuindo... Então..."

Acordei sem o canto dos pássaros esta manhã. Aquele sonho novamente... Já havia até me esquecido dele, mas algo me diz que ele não é um sonho qualquer. Ele quer me dizer algo... Para eu não fugir. Mas eu não entendo: fugir do quê? Acho melhor esquecer este sonho por um tempo.

Tudo parecia estar tão errado, tão triste hoje. Tudo reflexo do meu ser. A angústia me perseguia junto com meu passado. As lembranças me torturavam vagarosamente, mas de forma arrebatadora e insuportável.

Shoran era igual a ele...

Levantei da cama lutando ao máximo contra aqueles pensamentos dolorosos. Não me demorei muito no quarto. Troquei a roupa que usava e penteei minhas longas madeixas douradas, mas sem enfeitá-las muito. Sempre tratei muito bem de meus cabelos. Nunca esqueço a época em que minha mãe dizia: "Seu cabelo tem a cor do ouro, que é o quanto ele vale, e brilha como ele. Continue tratando-os bem quando eu não estiver aqui, minha pequena".

Quem diria que ela partiria tão cedo... Os médicos não acharam estranho, mas a morte sempre foi algo que acontecia aos outros, às outras famílias, para mim e nunca na minha. Infelizmente, a realidade me atingiu do pior modo possível...

Balancei minha cabeça espantando aqueles pensamentos. Por que aquelas cenas continuam a me perseguir? Pensei que tinha as apagado há muito tempo...

Fui direto para a colina. Precisava de um pouco de paz, ficar um pouco sozinha. E não queria encontrar Shoran.

Quando cheguei gramado verde, pude ver a magnitude da natureza. O homem nunca poderia superá-la, por mais que tentasse. Um fraco sorriso escapou de meus lábios. Continuei a caminhada, sempre ao norte...

Quando avistei aquele campo coberto de flores, senti vontade de permanecer naquele lugar um tempo. Aquelas flores amarelas e brancas pareciam sorrir para mim, querendo me consolar...

Deixei minha mente solta, livre como o vento. Tudo o que Shoran havia feito naquele fatídico dia me voltavam em pensamentos e lembranças. Mais lembranças tristes... Meu coração parecia querer morrer. O que eu havia feito de errado? Por quê, por quê ele havia agido daquela maneira? Não compreendo...

Lágrimas escapavam de meus olhos, sem cessar. Senti um vento bater em meu rosto, tentando secar minhas lágrimas. Sorri. Minha ligação com a natureza sempre havia sido muito forte.

Fechei meus olhos, para sentir melhor aquela deliciosa sensação. Respirei fundo aquele aroma floral maravilhoso...

Senti minha nuca arder, como se me observassem demoradamente. Abri meus olhos e olhei para trás, que era de onde vinha àquela sensação.

Era Shoran.

Imediatamente uma lágrima caiu de meus olhos sem que eu pudesse fazer nada. Só o fato de ver sua face me trazia recordações. Recentes e antigas.

- Sakura, eu...

- Não fale nada! Não quero ouvir uma só palavra que seja pronunciada de sua boca! Não mereço ouvir tanta perplexidade novamente e nem desejo. Portanto, cale-se, Shoran Li!

Não queria mais ser ferida pelas palavras dele. Eu acho que não agüentaria. Ele já havia me feito sofrer o suficiente, com suas palavras e ações. E ainda se não fosse o bastante, havia me feito recordar meu passado.

- Sakura, por favor...

- Não! Eu não quero!

O que eu precisava fazer para que ele entendesse que eu não queria e nem iria falar com ele novamente? Pelo menos por um tempo, para que eu possa refletir. A quem estou enganando... Eu tenho medo de falar com ele. Medo de ouvir ele dizer coisas como as que me disse de novo, medo de saber que ele não sente nada em relação a mim além de desprezo...

Não agüentei mais. Deixei minhas lágrimas cobrirem meu rosto, saindo de meus olhos sem parar. Eu não conseguiria esconder minha tristeza, dor e frustração por muito tempo, de qualquer jeito. Veja o que me fez Shoran Li...

Fiquei surpresa ao vê-lo baixar a cabeça, evitando me encarar e tentar falar comigo novamente. Quando vi aquilo, a curiosidade tomou meu ser, e eu só queria saber o que ele iria fazer.

- Sakura, eu lhe imploro. Apenas ouça o que tenho a dizer, por favor!

Senti o desespero em sua voz e resolvi escutá-lo de uma vez. O que ele estava tentando fazer? Como não disse nada, ele entendeu que estava pronta para escutar suas palavras...

- Eu sei que cometi um erro. Um terrível erro. E entenderei se não puder me perdoar, afinal está em seu direito. Mas... Eu só quero que você saiba que eu vim aqui para suplicar por seu perdão, e te contar que eu sei que agi errado e que não deveria ter feito o que fiz. Minha consciência pesa, meu coração dói. Se ao menos fizesse idéia do quão arrependido eu estou... Eu não estava conseguindo conter meus atos ridículos, e estava dominado pela raiva. Me... Desculpe. Sakura...

Ele finalmente, me olhava nos olhos.

Não acredito. O orgulhoso Shoran Li estava me pedindo desculpas? Senti a dificuldade dele em pronunciar aquelas duas palavras: me desculpe. Homens sempre acham difícil, e dificilmente possuem a humildade de dizê-las. Mas eu sentia suas palavras chegando em meu coração. Ele havia engolido seu orgulho e me pedido perdão por tudo o que fez. Nunca havia imaginado que ele faria uma coisa dessas. E a maneira como ele disse meu nome... Fez um arrepio percorrer meu corpo, enquanto eu sentia meu rosto esquentar...

Vou ser bem sincera: fiquei chocada com seu ato. E gostei. Resolvi perdoá- lo, então... Espero um pouco! Não caia nessa de novo, Sakura! Você já cometeu o terrível erro de confiar na palavra de um homem no passado e vejo o que se sucedeu. Ele pode estar mentindo!

- Você me magoou muito, Shoran Li. Se você soubesse o que passei por causa do que me fez. Eu sofri tanto, Shoran... Não sei se posso te perdoar tão facilmente, ainda estou muito brava com você.

Tudo o que dizia era verdade. Ele havia feito eu sofrer muito! Eu não poderia desculpá-lo assim, de repente. Vi ele baixar sua cabeça novamente. Senti uma grande tristeza emanando de seu ser. Isso me deixou confusa...

Eu precisava descobrir se ele me dizia a verdade. Não queria continuar naquela indecisão. Então coloquei minha mão em seu queixo, levantando seu rosto de modo que pudesse ver seus olhos. Quando encarei aqueles olhos castanhos e profundos, senti o tempo parar ao meu redor. Eles eram tão belos e encantadores. Fiquei olhando-o nos olhos por um breve momento.

Eles não demonstravam maldade alguma. Somente uma grande tristeza e dor. E isso me deixou estarrecida. Não pode ser que... Sim!

Shoran não é como ele...

- Eu te perdôo, Shoran.

Finalmente havia me decidido. Ele não estava com intenções maléficas. Pude ver a verdade em seus olhos. Minha mãe sempre me dizia, que se você quer conhecer uma pessoa como ela realmente é, e não o que ela demonstra ser, olhe em seus olhos. Eles não escondem nada.

Vi um brilho tomar conta dos olhos de Shoran. Fiquei imensamente feliz e satisfeita. Virei-me de costas para ele, olhando mais uma vez para aquele campo de flores. Minha colina. Quantas emoções boas você me deu, minha amiga...

- Por que você me perdoou assim, tão de repente? Não que eu não tenha gostado, pois fico muito feliz, mas... Não consigo entender...

Olhei novamente para ele, reparando no sorriso bobo estampado em sua cara. Sorri com pura alegria.

- Porque eu enxerguei a sinceridade em seus olhos.

Vi o quão surpreso ele ficou com minhas palavras. É estranho como a verdade, às vezes, tem efeito arrebatador nas pessoas. Mas uma pergunta ainda pairava em minha mente, sem resposta. E eu queria obtê-la.

- Shoran...

- Sim?

- Eu só queria saber uma coisa: por que você agiu daquele jeito no jardim?

Ele ficou um tempo quieto, me encarando, sem nada falar. Ele parecia estar dividido. Deveria estar pensando se me contava ou não. Olhei em seus olhos novamente. Ele estava nervoso. E muito ansioso. Mas que motivo seria esse que o deixava desse modo?

Ele se aproximou um pouco mais de mim, me olhando nos olhos. Ele estava muito sério...

- Sakura, eu... Eu agi daquele modo porque eu...

Continua...

E agora? O que será que o Li vai dizer para a Sakura? Talvez ele revele seus sentimentos, talvez não... Só saberão se leram o próximo capítulo!!!

N.A.: Oi, galera! Sim, eu sei que demorei muito. Não precisam nem me lembrar disso... Mas, de um jeito ou de outro, cá estou eu com um capítulo novinho em folha!!! Só espero que gostem dele! Agora eu virei Beta também. Isso mesmo! Vou começar a betar uma fic maravilhosa da Rafinha Himura Li, chamada "Anjos de Luz". Eu adoro esta fanfic, então fico muito feliz! Quem tiver a oportunidade dê uma passada e leia. Tenho certeza que não se arrependerão!

AVISO: O trecho em que a Mieko conta o que sua mãe lhe disse no passado, não foi escrito por mim. O autor, infelizmente, me é desconhecido...

Também já dou os parabéns adiantados para a minha querida amiga Carol Higurashi Li! Ela faz aniversário dis 5/06. Parabéns, querida! Você é uma pessoa maravilhosa e merece tudo de bom!

AGRADECIMENTOS

Como sempre, à Deus, minha família, meus amigos, minha querida betinha Carol, a quem devo muito, e às pessoas que me mandaram reviews. Agradeço de coração todos vocês!

Carol Higurashi Li: Muito obrigado, amiga! Não importa o que aconteça você sempre está lá para me ajudar, não? Você é uma amiga de ouro! Sinceramente não sei se farei tanto sucesso quanto diz. Mas não tenho do que reclamar, para minha primeira fic eu acho que está ótimo. E saiba que estou adorando sua fanfic cada vez mais! Agradeço todo o apoio que me dá! Você é especial, garota!!!

Anna Lenox: Oi, querida! Que bom que gostou do capítulo anterior. Também imagino que os dois juntinhos daquele jeito, deve ser a coisa mais fofa do mundo! Ai, que inveja da Sakura... Como queria estar no lugar dela! Ah, sim... Já estou quase terminando de ler sua fic. Provavelmente você receberá um comentário hoje ou amanhã! E o que acha de atualizar "Uma Chance Para Amar"? Estou morrendo de curiosidade!

Yoruki Hiiragisawa: Oi, amiga! Concordo, o Li estava sendo muito irracional! Bom, para ser sincera sempre gostei dele assim: bem nervosinho. Nunca entendi porque. Claro que ainda prefiro quando ele está romântico... Não sei se esperavam que o Li se desse conta dos seus sentimentos antes que Sakura. Pelo rumo que as coisas tomavam parecia que ela iria perceber antes. No final acabei mudando de idéia...O que aconteceu com ela ainda não posso cantar, mas não vai demorar para descobrirem! Já dei umas dicas nesse capítulo!

Lilaclynx: Oi, fofa! Primeiramente: me desculpe não ter esperado você me mandar a paródia, mas é que eu já estava bem atrasada e vou viajar depois de amanhã, então provavelmente se eu não postasse logo, ainda iria demorar mais de uma semana para publicar este capítulo. Perdão! Bem, espero que tenha gostado deste capítulo também!

MeRRy-aNNe: Oi, querida! Realmente, receber um review dela é de deixar qualquer um feliz da vida! Só recebi um, mas para mim foi mais que o bastante. E nem esquente a cabeça, não faz mal que não tenha mandado review naquele capítulo! Claro que eu preferia que sim, mas desde que você continue lendo a fic e dizendo o que acha tudo bem. Sua opinião é muito importante! Bem, ele já admitiu, agora só falta ela!

Rafinha Himura Li: Oi, Rafinha! Não se preocupe com demoras, desde que você mande...(nem um pouco exigente) Eu estou muito bem, felizmente! Sim, realmente foi a maior confusão para postar o capítulo anterior, mas agora já está tudo resolvido. Fico feliz que tenha gostado da minha descrição dos sentimentos deles. Vindo de você, uma mestra no assunto, é uma honra! E não se preocupe, não vou deixar a Tomoyo 'chupando o dedo', já estava em meus planos o aparecimento do Eriol. E sabe que você me deu uma ótima idéia no seu review? Adorei a sua segunda 'opção'. Se importaria se eu usasse a idéia? Eu é que tenho que lhe agradecer por tudo! E não se esqueça: caso estiver com alguma dificuldade nas fics, não exite em me chamar! Por favor! Muito obrigada! Você é demais, querida amiga!

Anaisa: Oi, amiga! Que bom que gostou do capítulo! Para ser bem sincera, achei que receberia bem poucos reviews neste capítulo. Sabe, quase nenhum falando a verdade. Então se divertiu lendo aquele pedaço? Que bom! Bem, espero continuar agradando!

Patty Sayuri Suyama: Oi, querida! Na minha opinião, o capítulo 5 foi o melhor dos que escrevi até agora. Fico muito feliz que tenha sentido precisamente o que eu queria passar. Muito mesmo! Então o Touya é seu pai? Que pai, hein! Queria ter um lindão como aquele, hehehe (desculpe, como pode ver também tenho uns surtos às vezes...). E também acho que um desenho daquela cena ficaria lindo. Talvez eu faça um desenho assim...E eu não tinha comentado o fato 'das empregadas' porque não achei que fosse um problema. Sei que isso acontece, é normal. Já fiz muitas dessas enquanto escrevia meu fic e quando me dava conta mudava o nome. Portanto nem se preocupe! Achei muito boa a sua idéia de dizer as cenas preferidas e emocionantes. Vou fazer o mesmo! Bom, resumindo... Fico imensamente feliz que esteja gostando da fic. Não faz idéia, amiga! E muito obrigado por tudo! Ufa... Consegui dizer tudo!

Kag1520: Oi, querida! Que engraçado o modo como nos conhecemos, não? Acho que nunca esquecerei. Se não me engano, tem uma fic do Inuyasha parecida com nossa história... Muito obrigado pelos elogios! Fico feliz que pense isso da fic! E já comecei a ler uma das suas! Logo, logo termino! Então aguarde por um comentário na sua caixa de e-mails!

Muito obrigada todos vocês!

Estou aguardando por seus reviews!!! Não se esqueçam de deixar um!

M-chan