Uma Mulher Chamada Sakura

By M. Sheldon

Revisão: Carol

Paródias: Lila-chan

Capítulo 14 - Nunca Me Subestime

Capítulo dedicado a RubbyMoon.

§ Shoran §

Segui Sakura, que ia na direção do que provavelmente seria o salão de lutas. Curioso, passei a observar a sua postura. Era de alguém confiante, decidido. Ela não estava com receio ou medo algum.

Estreitei meus olhos, ainda desconfiado e temeroso de que algo pudesse dar errado com aquela coisa toda. Ela era uma mulher... Uma luta praticamente corpo a corpo seria algo que a deixaria em completa desvantagem. E ela sabia que eu era especialista nisso quando propôs o desafio...

Mas, mais uma vez, aquela não se tratava de uma simples mulher. Tratava-se de Sakura. E ao se tratar dela, nada poderia se considerar certo... Ela era totalmente imprevisível, cheia de mistérios... Um enigma.

Que eu, com muito prazer, iria desvendar, passo a passo...

Um sorriso surgiu em meu rosto com o pensamento e eu desviei minha atenção para a dona dos meus pensamentos, que, muito distraída, escolhia sua arma em um armário repleto de espadas.

Finalmente achando uma que a satisfez, ela virou-se para mim, com a arma em punho e um brilho perigoso nos olhos, e estendeu o braço em direção às armas, como se me desse passagem.

Por um segundo, hesitei.

- Sakura... Tem certeza de que quer fazer isso? ... Quero dizer, é muito perigoso. Eu tenho medo de acabar te machucando acidentalmente...

Ela arregalou os olhos por um breve instante e com um olhar de quem não havia gostado do que ouvira me respondeu.

- Tenho absoluta certeza, Shoran. Começo a temer pelas escolhas de meu pai... Pelo jeito ele não estava tão certo quando me disse que você era um dos melhores guerreiros que conhecia. – Levantei uma sobrancelha, indagador, exigindo uma explicação. – Afinal... Uma das principais 'regras' do bom guerreiro não é nunca subestimar um adversário?

Reparei que por mais que ela tentasse esconder o fato, um leve tom zombeteiro podia ser notado em sua voz.

- Está completamente correta. Procurarei não cometer este erro novamente, assim, talvez, você me considere um bom guerreiro.

Sakura respondeu com um sorriso leve e um meneio de sua cabeça. Pisquei meus olhos, e quando os abri novamente ela já estava posicionada e pronta para a luta. Fiz o mesmo, e passei a observá-la. Sua posição não me era conhecida... Aquele fato por si só já era algo grande.

Continuei a analisá-la, e reparei que Sakura fazia o mesmo. Não foi uma surpresa muito grande para mim quando ela saltou, rápida, em minha direção, iniciando a luta. Não planejava fazer o primeiro movimento mesmo. Apenas aguardaria.

Mas mesmo assim, me surpreendi com a sua velocidade. Não pensei que seria tanta... Tive que me apressar e bloquear o seu golpe com a minha espada, chocando aço contra aço.

Mal tive tempo para iniciar meu movimento quando ela já saltou um mortal para trás, pousando no chão apenas para conseguir impulso, e vir em minha direção mais uma vez, a ponta da espada em minha direção...

Arregalei meus olhos levemente... Ela não planejava me alcançar daquela distância, planejava? Nunca que iria conseguir!

Mas, para meu espanto, sim, ela me alcançou. E arrisco dizer que se hesitasse um segundo mais... Talvez não estivesse mais aqui para contar a história...

Reparando que seu alvo não se encontrava mais na mira, ao invés de se chocar contra o chão, ela deu uma pirueta no ar e pousou com delicadeza no solo. Ela finalmente olhou em minha direção, e eu podia jurar que seus olhos estavam em um tom de verde mais escuro. E com um brilho de prazer.

- Você com certeza sabe fazer um bom número de acrobacias...! – Falei, a surpresa muito bem visível em minha voz. Ela sorriu de lado, posicionando-se de um modo diferente agora.

Seus joelhos estavam flexionados, sua espada apontava levemente para o chão, numa posição bizarra para mim e sua mão perto do tronco, seus dedos em uma posição que eu poderia dizer que se pareciam muito com as usadas pelas bailarinas no balé clássico. Quase ri ao pensar na comparação...

- Esperava mais de você, Shoran... Pensei que poderia ao menos me divertir um pouco, mas nem mesmo esse prazer você está me dando...

Não tive nem mesmo tempo para rebater suas palavras provocativas, quando ela disparou naquela velocidade aterradora de novo. 'Ah, não... Duas vezes com o mesmo golpe você não me pega, Sakura...'.

Pronto, e conhecendo o ataque, posicionei-me na defesa que bloquearia totalmente o golpe, quando agilmente, ao invés de prosseguir com ele, ela jogou-se no chão e rolou para o lado, indo parar atrás de mim!

Saltei rapidamente, me desviando do golpe certeiro de sua espada, com facilidade. Já estava acostumado com golpes que vinham pelas costas.

Sem dar um segundo de descanso, ela correu em minha direção, naquela sua posição bizarra, e, surpreendendo uma vez mais, ela fincou a ponta da espada no chão, e usando-a como ponto de apoio, firmou o corpo e, erguendo as pernas, acertou-me um chute certeiro no peito que me fez voar longe.

Levantei-me do chão e sacudi a poeira de minhas vestes. Um sorriso foi surgindo aos poucos em meu rosto, e logo estava gargalhando loucamente no meio do salão, com Sakura me lançando um olhar de quem não estava compreendendo nada...

- De fato, não devia tê-la subestimado, Sakura. Bem, lamento que não tenha se divertido até então... Não se preocupe, não pretendo mais pegar leve com você. Já vi o suficiente. Está na hora da diversão...

§ Sakura §

Shoran começou a gargalhar no meio do salão. E eu simplesmente não sabia o que fazer diante daquela reação inesperada. A expressão em meu rosto deveria ser ridiculamente patética, de tão surpresa que eu estava.

Mas o que diabos ele estava fazendo?

- De fato, não devia tê-la subestimado, Sakura. Bem, lamento que não tenha se divertido até então... Não se preocupe, não pretendo mais pegar leve com você. Já vi o suficiente. Está na hora da diversão...

Ouvi cada palavra com espanto crescente. Hum... Se era assim... Ótimo! Eu que não iria reclamar. Queria ver do que ele era capaz. E me divertir um pouco. Sorri de lado e acenei que 'sim' com a cabeça, me posicionando uma vez mais.

'Seja lá o que for que você tem escondido na manga, Shoran... Eu estou pronta.'

Mas fiquei sem reação ao perceber que Shoran disparou... Em que direção não soube dizer. Não fazia a mínima idéia de onde ele estava...

Aflita, passei a observar ao meu redor repetidamente. 'Para onde você foi?'

Ouvi um pequeno estalo, quase inaudível, e se não fossem pelos meus ouvidos apurados, tinha certeza de que jamais perceberia. Aquele som vinha de cima.

Aconteceu tudo rápido demais... Olhei com os olhos arregalados e tudo o que vi foi Shoran caindo em minha direção, cada vez mais perto. Tudo o que pude fazer foi estender minha espada, segurando-a com as duas mãos...

O choque me fez cair no chão, e o mais rápido que pude, levantei-me, voltando à luta. Ele me atacava com golpes ágeis e velozes, muito bem estudados. A maioria tinha como alvo meu baixo ventre e pernas... Exatamente os pontos em que eu mais tinha dificuldade para defender...

Como ele havia descoberto isso em tão pouco tempo?

Shoran não era um lutador qualquer. Notava-se que ele sabia exatamente o que fazia. E fazia muito bem. Mas eu também não era uma lutadora qualquer... Ele poderia até talvez me derrotar. Mas não seria fácil... Nem um pouco!

Num golpe veloz, girei o corpo trezentos e sessenta graus, como se quisesse pegar força no golpe com a espada. Era por isso que Shoran esperava, tinha certeza.

Mas não era isso o que eu pretendia fazer.

Ao invés de tentar acertá-lo novamente com a espada, uma vez mais a finquei no chão. Uma das maiores lições que me avô havia me ensinado, era a de que a espada não precisava ser somente a arma que você usa no ataque. E sim o que contribui no ataque surpresa.

Ao invés de usar um golpe repetido, que com certeza não surtiria efeito algum em Shoran, usei-a como apoio e impulso para dar mais um volta completa. Sem dó ou piedade acertei a face bonita de Shoran com os dois pés, em dois chutes seguidos.

Tirei a espada do chão e soltei todo o peso de meu corpo em minha outra mão, que agora se encontrava no chão. Uma vez mais, dei um volta completa, e pousei os dois pés no chão.

Quando olhei novamente para Shoran ele passava a mão no queixo e me olhava com um sorriso.

- Isso doeu um pouco... – Ele riu. – Você não fica tonta? Esqueça, não precisa responder. – Ele dizia, zombeteiro. E então, voltou à luta.

Nossas espadas se chocavam constantemente, uma impedindo o ataque do outro. Mas eu já estava me cansando daqueles golpes consecutivos, enquanto Shoran aparentava não estar nem perto do cansaço.

Fui pega de surpresa por um puxão no braço, pela manga do kimono, e Shoran me rodou, fazendo com que desse as costas para ele. Colando o corpo no meu, ele posicionou a face ao lado da minha, cheirando meus cabelos.

Eu tentava soltar meu braço, mas ele o prendia firme perto do meu ventre. Meu corpo arrepiou-se todo quando ele passou a beijar-me o pescoço e a nuca. Meu coração bateu acelerado... Já não tinha certeza se queria escapar ou não...

Espantei aqueles pensamentos. Aquilo ainda era uma luta. Não poderia me dar por vencida desse jeito. Apesar do movimento dos meus braços estarem quase que totalmente bloqueados, consegui acertar o seu estômago com o punha da espada.

Aquilo deveria ter doído... Senti um pouco de pena de Shoran, mas pelo menos ele havia me soltado agora...

Abri a boca para pedir desculpas, quando ele ergueu uma mão como se pedisse que eu não fizesse aquilo. Com aquele seu tradicional sorriso matreiro, apesar de que sua face não negava a dor que sentia.

- Isso é uma luta. Você está certa. Nada de desculpas.

Ele ficou totalmente ereto, mais uma vez, e me chamou num movimento provocativo da mão. Não neguei seu convite nem o fiz esperar.

Continuamos nossa luta, muito acirrada. Aquela pausa havia me proporcionado o tempo necessário para repor minhas energias. Mas algo me dizia que ele ainda não lutava com toda a habilidade e força que possuía...

Foi quando no meio da luta, num golpe certeiro de sua espada, Shoran fez com que minha arma voasse longe. Agilmente desviei dos seus golpes de espada, mas estava em completa desvantagem.

Falsifiquei um tombo meu, e, aproveitando o momento de distração rápido de Shoran, usei agora como ponto de apoio meu próprio braço e acertei um chute na mão dele, fazendo com que perdesse também a arma que empunhava. Ele me lançou um olhar surpreso, porém assim que me levantei, ele rapidamente segurou meus dois pulsos com as mãos e os prendeu nas minhas costas, firmemente.

Num movimento ágil, ele puxou meu corpo em direção ao seu, colando cada centímetro de pele nossa mais uma vez. Com um sorriso zombeteiro, ele me encarou, os olhos brilhando perigosamente, como quem planeja algo. Estreitei meus olhos levemente. Se ele queria jogar sujo...

Inclinei meu corpo mais ainda, ficando com o rosto a míseros centímetros do dele... Aproximei nossas bocas, de modo com que elas quase se tocassem. Quase. Tornei minha respiração mais ofegante, com o intuito de fazer com que ele a sentisse. Virei meu rosto, como se quisesse beijá-lo... Para logo em seguida, me distanciar levemente. Olhei brevemente em seus olhos e reparei que eles brilhavam de desejo. Satisfeita, sorri levemente comigo mesma. Deixei que meus olhos pousassem em sua boca.

Havia cometido um erro... Quase que perdera o controle sobre meu próprio corpo e vontade. Aquele homem me descontrolava totalmente... Era preciso muita força de vontade para resistir aos seus encantos. Mas eu estava decidida a fazê-lo provar do próprio veneno! Finalmente acabei com a distância que nos separava e capturei os lábios dele com os meus.

Foi um beijo quase que violento e cheio de desejo. De fato, em circunstâncias normais nunca que eu conseguiria me controlar e pensar com clareza. Mas aquelas não eram circunstâncias normais... Senti quando Shoran afrouxou a pressão que impunha sobre meus punhos e passou a envolver minha cintura, num abraço possessivo, porém sem usar muita força.

Coloquei uma de minhas pernas entre as dele e deixei que meus dedos se entrelaçassem em seus cabelos, numa carícia leve. Sorri ainda em contato com a boca dele ao ouvir o seu leve gemido. Aquele era o momento... Rapidamente engatei minha perna na sua esquerda e puxei com força, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio. Joguei todo o peso de meu corpo sobre ele, fazendo com que nós dois fossemos ao chão.

Sorri vitoriosa e meus olhos encontraram os olhos surpresos de Shoran, que estava logo abaixo de mim. Comecei a gargalhar quando ele falou.

- Isso foi um truque sujo, Sakura...

- Não dizem que no amor e na guerra vale-se tudo? - Respondi matreira. Porém minha felicidade não durou muito. Senti Shoran levantar-me do chão, não sei dizer como, e quando reparei, quem se encontrava em contato com o chão agora era eu... E Shoran estava com o corpo sobre o meu, me encarando com aquele seu tradicional sorriso. Abri a minha boca para protestar.

- Não, Sakura...

- O que quer dizer com...

- Sakura... Não... - ele disse mais uma vez e pousou a mão sobre a minha boca, me calando sutilmente. Lancei um olhar indagador e ultrajado. Como ele ousava me calar!

- Prefiro que exercite sua língua em outro tipo de tarefa, Sakura... Que sei que você sabe fazer muito bem. - Arregalei meus olhos. - Sem querer menosprezar o seu talento com as palavras, é claro, minha flor... Mas não são nelas que se encontra meu interesse agora...

Não tive tempo para protestar, pois os lábios de Shoran já se encontravam em contato com os meus. E de repente percebi que eu já não queria dizer mais nada. Esqueci completamente de meus protestos e insultos. Esqueci completamente de que estávamos em minha casa e que qualquer um poderia nos pegar naquela posição comprometedora...

Quando estava nos braços de Shoran, eu me esquecia do mundo...

§-§-§

- Homens, quero lhes apresentar Sakura Kinomoto. Podem considerá-la seu novo capitão. – ouviram-se alguns resmungos e sussurros entre os soldados. Pelo jeito não estavam muito felizes por terem como superior uma mulher... – Ela irá me auxiliar no treinamento de vocês. Vocês serão divididos em quatro grupos diferentes, cada um terá como superior um de nós quatro.

Olhei para o lado. Shoran anunciava as novas para todos. Eriol me olhava com uma cara estranha, como se estivesse surpreso, e um outro homem, musculoso demais em minha opinião, se postava ao lado de Eriol com uma cara de desgosto para mim...

- Entendido? – Shoran terminou seu discurso, olhando soldado por soldado. – Alguma reclamação ou pergunta? – O olhar que ele lançava deixava bem claro que quem se pronunciasse, apesar da pergunta, estaria em maus lençóis. Ninguém disse nada. – Ótimo!

O homem musculoso dirigiu-se até Shoran, perto o suficiente para que os soldados não ouvissem o que ele iria dizer.

- Que palhaçada é essa, Li? Uma mulher? – Sua voz denotava desprezo. – Deve estar louco! Não sabia que estavam assim tão desesperados...

- Senji, - Ah, então esse era o seu nome... – Eu sei o que faço, não se preocupe. – Shoran respondeu em tom frio. – Ela é uma boa guerreira. Melhor até mesmo do que você, ousaria dizer.

Senji arregalou os olhos, ultrajado. Fechou os dois punhos com força e encarou Shoran, os olhos ardendo em fúria. Quando respondeu, havia desprezo em sua voz.

- Cuidado com as palavras, Li. Sabe muito bem de que precisa de minha ajuda para treinar este bando de incompetentes. Estou aqui prestando um favor, não por obrigação alguma.

- Você tem a obrigação de servir seu Imperador. – Pronunciei-me pela primeira vez. Ele virou-se para mim.

- Não dou a mínima para o Imperador. Ele estando vivo ou morto não vai mudar nada na minha vida, nem o fato de que continuarei trabalhando como escravo para sustentar minha família e sobreviver. O Imperador que vá para o inferno!

Não pude esconder minha surpresa ao ouvir suas palavras. Como ele ousava se referir à figura do Imperador daquele jeito rude? Antes que pudesse rebater suas palavras, Shoran nos interrompeu.

- Então por que ainda está aqui? Não nego que vá nos fazer alguma falta. Mas não se dê tanto valor, Senji. Pode até ser que não encontremos um substituto a sua altura. Mas com certeza encontraremos um. Se deseja partir, a saída fica naquela direção. – E apontou o dedo para o norte. Aquilo fez o sangue do homem borbulhar, tive certeza, pois seu rosto agora era tomado por uma leve coloração vermelha.

Tinha certeza de que após ouvir aquelas palavras ele iria tomar uma destas atitudes: partir para cima de Shoran, ou dar-nos as costas e ir embora, como lhe havia sido sugerido.

Mas fui pega totalmente desprevenida quando ele apenas desviou os olhos, virando a cabeça para o lado, tentando se controlar a todos os custos, e voltou para o lugar onde estava antes de tudo aquilo começar.

Shoran estreitou os olhos por um momento, curioso, mas pareceu não se importar muito com o fato, pois logo em seguida ele voltou-se para os soldados. Eriol pousou sua mão em meu ombro, complacente, e me deu um sorriso incentivador. Sorri de volta em agradecimento.

- Muito bem... Vamos dividir vocês agora... – Ouvi a voz de Shoran.

§-§-§

Olhei para os soldados, separados em quatro grupos, sendo que cada pelotão se posicionou diante de seu devido capitão.

Já havíamos treinado-os, fazendo condicionamento físico, simulações de lutas na floresta, assim como com as armas de fogo. Discutimos se devíamos treiná-los no usa da espada e do arco e flecha. Chegamos à conclusão de que seria melhor ensinar o máximo possível para todos eles, deixando-os o mais preparados possível.

Porém, agora, Shoran iria dar-lhes uma aula de estratégia militar básica e posicionamento. Eu, Eriol e Senji estávamos sentados na grama, apenas ouvindo Shoran falar. Sentia-me um tanto desconfortável com aquele homem perto de mim, após a conversa que tivemos horas atrás.

E para piorar ainda mais a situação, Eriol levantou-se e olhou para mim com um pequeno sorriso, daquele de quem vai pedir desculpas.

- Perdão, Sakura. Porém receio ter de sair um pouco. Não irei demorar, prometo. Apenas alguns negócios dos quais me lembrei agora e que preciso resolver.

Forcei um pequeno sorriso, um pouco desconfortável. Não podia ordenar que ficasse ali. Quase havia me esquecido de que Eriol era um homem de negócios e tinha mais o que fazer além de nos ajudar.

Nervosa, olhei para Senji pelo canto do olho. O homem acompanhava a saída de Eriol com os olhos. Quando a figura do rapaz sumiu no horizonte, ele virou-se para mim. Olhei, então, diretamente para ele, encarando-o olhos nos olhos. Meu olhar frio, mostrando que não seria a primeira a ceder naquela pequena batalha.

Ele estreitou levemente os olhos, revelando a leve surpresa que sentiu ao perceber o meu desafio. Provavelmente continuaríamos daquele jeito a tarde, a noite, a manhã seguinte e mais a tarde também, se não fosse pela interrupção de Shoran. Nenhum de nós estava disposto a admitir a perda.

- Meu Deus... Vocês estão praticamente se matando pelos olhos! – Ele disse, um misto de brincadeira e preocupação na voz.

- Não se preocupe, Shoran. Era apenas um pequeno desafio que impusemos um ou outro. – Nós dois olhávamos para ele agora.

- Hum, se você diz. Bem... De qualquer jeito, preciso de vocês agora. Está na hora de treiná-los no corpo a corpo. – Fizemos um movimento com a cabeça, concordando. – Onde está Eriol? – Ele perguntou, só então notando a ausência de seu amigo.

- Ele lembrou-se de alguns negócios inacabados e pediu licença para resolvê-los. Disse que não iria demorar, não se preocupe.

- Falo com ele depois, então. Venham comigo, não temos muito tempo. Eles têm que estar prontos em duas semanas, pois esse é o tempo aproximado que levará para que o General Fujitaka retorne com os capitães Touya e Yukito.

Seguimos Shoran e logo estávamos diante dos soldados.

- Iniciaremos o treinamento de luta corpo a corpo. Vocês aprenderão o básico da auto-defesa. Sakura e Senji lhes farão uma demonstração, sugiro que se mantenham focados na luta e tentem extrair dela o máximo possível.

Eu não estava esperando por isso, admito. Mas não havia motivo para fazer rodeios, estávamos lá para ensiná-los e já que Eriol não estava ali, não podia colocá-lo no meu lugar. Não que eu desejasse isso. Queria mostrar para Senji que ele não era superior a mim apenas pelo fato de ser um homem.

Nós nos direcionamos para o centro do campo. Cada um fez a sua reverência, como era comum antes de brigas pacíficas, e nos posicionamos para a luta. Notei o pequeno – mas presente – sorriso presunçoso no rosto de Senji. Pena que ele não iria durar muito mais, pensei, suprimindo um sorriso irônico.

Ao invés, explodi em sua direção rapidamente e não consegui conter meu sorriso de satisfação ao notar que ele não tinha a mínima idéia de onde eu estava. Apenas quando estava a centímetros de distância ele me encontrou, e por pouco não teve tempo de estender os braços perante seu corpo para defender-se de meu golpe.

Em seguida ele tentou acertar-me um soco, porém com agilidade desviei seu punho e lhe acertei um chute no queixo, atingindo-o de baixo para cima. Senji cambaleou um pouco para trás, mas logo se equilibrou novamente e me lançou um olhar irado.

Ele partiu para mim desferindo diversos golpes, chutes e socos, com agilidade também. Eu desviava um por um, mas aquilo estava me cansando já. Finalmente, não consegui desviar de um de seus socos, que me acertou em cheio no estômago. Caí no chão, pressionando a mão no local atingido.

Aproveitando minha posição, ele partiu uma vez mais para cima de mim, mas aquele golpe havia me deixado nervosa. Não iria perder de maneira alguma aquela luta. Iria acabá-la agora mesmo.

Com raiva, acertei um chute em seu rosto e saltei por sobre ele, inda parar atrás de Senji. Dei um chute forte na dobra da sua perna, entre a panturrilha e a coxa, e seu corpo pendeu para frente. Aproveitando seu momento de fraqueza, dei-lhe uma rasteira baixa, fazendo-o ir de encontro ao chão de uma vez, com um forte baque.

Tudo o que ele pôde fazer foi virar-se, ficando com as costas no chão. Mas todos os movimentos que planejava executar contra mim foram esquecidos, pois meu pé agora estava firme sobre sua garganta. Ele fez uma investida, tentando levantar-se, e eu apenas aumentei a pressão em seu pescoço. Finalmente ele pareceu desistir.

Retirei meu pé e estendi minha mão em sua direção, lhe oferecendo ajuda para levantar. Para minha surpresa, ele a aceitou. E notei o modo diferente com que me olhava agora. Parecia haver um brilho de... Respeito em seu olhar.

- Perdão, suponho ter subestimado a senhorita.

Sorri para ele, feliz com suas palavras.

- Que bom que reconhece seu erro, Senji. Espero que não despreze a força das mulheres futuramente como desprezou a minha... – Apesar de se tratar de uma reprimenda, falei com doçura na voz, para não ofendê-lo, já que aquele não era mesmo o meu objetivo. – E chame-me de Sakura, por favor. Não há motivo para se referir a mim com esses nomes de tratamento. Somos iguais, meu caro.

- Sim, Sakura. Procurarei não cometer o mesmo erro duas vezes. – Ele disse com um meio sorriso.

- De fato, muito emocionante ver a reconciliação de vocês. Porém temo dizer que quem lhes dará uma reprimenda agora sou eu... É isso que chamam de movimentos de auto-defesa básicos? – Ele perguntou, irônico.

Soltei um riso gostoso ao escutar suas palavras. Senji não se permitiu isso, porém reparei o brilho diferente em seus olhos e as leves curvas nos cantos de sua boca.

§-§-§

Duas semanas depois...

Observando os soldados, enchi o peito de orgulho. Considerando-se que havíamos tido apenas duas semanas para treiná-los, o progresso alcançado era muito grande. Eles já conseguiam andar a cavalo com a destreza necessária, aprenderam a defender-se com a espada e com os punhos, atiravam e, o que era mais surpreendente, normalmente acertavam o alvo.

Foram poucos os que conseguiram dominar o arco e flecha, entretanto. Porém não podíamos exigir demais, sendo o tempo tão curto e a experiência da maioria deles tão pequena...

Não foram todos que haviam absorvido todos os ensinamentos que Shoran lhes dera sobre estratégia militar, mas o básico pelo menos todos saberiam, o que, no momento era o mais importante.

Os homens se retiraram, sendo que o período de treinamento hoje acabara mais cedo. Papai estava para chegar a qualquer momento. Passei a catar todo o material que ainda permanecia no chão: flechas, espadas, bastões...

Soltei um leve sorriso ao perceber que Senji havia se aproximado e começara a imitar meus movimentos. A ajuda foi muito bem vinda. Havia aprendido a respeitar aquele homem. Não sei ao certo por que, mas depois daquela luta, o modo com que ele passou a me tratar mudara muito. De pólo a pólo! Era quase como se ele fosse um servo meu, e eu sua senhora. Pelo menos ele parou com a idéia boba de me chamar de senhorita ou lady...

Foi quando ouvi o som dos trotes dos cavalos se aproximando. Sorri feliz. Só podia ser meu pai, junto com Touya e Yukito! Comecei a correr com as armas na mão, largando-as assim que me vi fora do campo de treinamento. Corria em direção à entrada principal.

Não demorei em avistá-los. Eles ainda estavam desmontando de seus cavalos quando corri em direção a eles.

Mas fiquei surpresa ao reparar nos olhares em suas faces. Yukito mostrou-me um sorriso amarelo, nem um pouco parecido com os seus normalmente devastadores e simpáticos.

- Olá, Sakura... – ele me disse. Porém o desânimo em sua voz era visível, muito embora ele tentasse esconder. Olhei para meu pai que mantinha um semblante sério e fechado e então para meu irmão. Esse, que não escondia a raiva no rosto, deixou seu cavalo em mãos de um dos empregados, e passou reto por mim, praguejando baixo.

Fiquei mais do que intrigada com aquilo tudo: fiquei preocupada...

O que diabos estava acontecendo?

§ Shoran §

Não soube nem o que dizer ao ver como estavam os três homens quando chegaram. Obviamente alguma coisa estava muito errada. Olhei preocupado para Eriol, que me devolveu o olhar.

- Alguma coisa não correu bem... – Ele sussurrou para mim. Concordei com um aceno de minha cabeça. Fui falar com os três imediatamente e descobrir de vez o que estava acontecendo.

- Fujitaka... Aconteceu alguma coisa?

O homem me olhou. Por longos segundos ele ficou apenas me encarando, os olhos cansados, sem dizer nada. Achei que ele não iria me responder, até que ele finalmente se pronunciou.

- Venham comigo. Precisamos conversar em particular. Urgentemente.

Estreitei meus olhos, preocupado. Eriol e eu seguimos os três em direção à sala da biblioteca, onde sempre debatíamos os assuntos militares. Algo me dizia, porém, que essa conversa não seria nem um pouco parecida com as anteriores que tivemos...

§-§-§

- Como assim sabotados? – Perguntei, meu coração acelerando ao ouvir o que Fujitaka havia acabado de nos contar.

- Isso mesmo. Nosso plano era simples e perfeito. Quase todo o regimento permaneceria em guarda no castelo imperial, enquanto uma pequena parte escoltaria o Imperador até o local secreto que havíamos selecionado. Todos pensariam que ele ainda estava no castelo. Quando chegamos lá, porém, encontramos um regimento inteiro dos Ki Katsu nos aguardando, pacientemente.

Arregalei meus olhos ao perceber o perigo. Defender o Imperador com apenas uma ou duas dezenas de soldados contra um regimento inteiro...

- Como conseguiram escapar? – A verdade é que estava surpreso de ver que eles ainda estavam inteiros, sem ferimentos sérios e até mesmo vivos.

- Não tivemos outra escolha... Tivemos que fugir... – Touya disse, amargura na voz por ter de admitir isso.

- Mas... Como eles descobriram tudo isso? Como sabiam da exata localização? Do nosso plano? – Perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

- Como Fujitaka disse, estamos sendo sabotados. – Yukito disse com voz impassível e olhos fechados. Fujitaka soltou um suspiro. Estava totalmente fatigado, corpo e mente. – Isso quase custou a vida do Imperador... – Como sempre, o rapaz dizia o que todos pensavam, mas se recusavam a dizer.

O rosto de Fujitaka pareceu ter sido tomado por uma máscara. Abandonando o sorriso caloroso e os olhos carinhosos, o general assumiu uma expressão fria e dura que assustaria qualquer um. Suas palavras soaram frias e mortais como a lâmina de uma espada.

- Temos um traidor entre nós...

Continua...


Olá, minna-chan!

Como havia prometido... O capítulo novo! E só passou-se um mês, mais ou menos, desde que postei o outro! É quase um recorde para mim!

Esse capítulo é dedicado a nossa querida Rubby-chan, como leram lá em cima, já que hoje é aniversário dela! (17/03)

Também preciso agradecer essa anjinha que me deu a idéia para esse capítulo! Isso mesmo! Graças a Rubby-chan também que ele saiu assim! Não sei como não pensei em Sakura no exército antes! (xD) Obrigada por estar lá e me falar da idéia! Muito obrigada mesmo!

Feliz aniversário querida! Tudo de bom para você, muitos anos de vida e muitos, muitos presentes nesta data tão especial! Espero que tenha gostado do meu presente, fofa...

Bem, como todos sabem, uma vez que eu já disse, essa fic está chegando em sua reta final. Uns cinco capítulos mais e eu acho que termino, gente. Mas vejamos isso com mais calma, com o tempo. O que importa é que já entramos na fase final!

Outro aviso importante... Março é um mês especial! Farei uma bateria de lançamentos nesse mês, então se preparem para ver muitos posts meus aqui.

Espero que todos vocês tenham gostado desse capítulo, foi a primeira vez que escrevi uma cena de luta. Ah, sim! Proponho um desafio a vocês, também! Quem vocês acham que é o traidor? Ou traidores? Ou seria só engano? Ou, na verdade, todos são farsantes? (tentando confundi-los) E então? Dêem seus palpites, vejamos se alguém acerta!

AGRADECIMENTOS:

Lan Ayath: Sim, querida... De fato. Todos nós precisamos de férias. Não sou uma exceção ( . )! Muito abrigada pela compreensão, não são muitos os que entendem isso... Que bom que gostou!

Yoruki Hiiragizawa: Olá, querida! Muito obrigada pelo seu review. Como sempre, uma honra! Gostei muito de seus elogios, me fizeram muito feliz! E veja só... Não demorei muito dessa vez, não é mesmo? Espero que goste desse capítulo também!

Hikari Nakao: Bem, aqui está a cena de luta. Espero que tenha aprovado-a, pois é a primeira que escrevo! Também me derretia enquanto imaginava como seria se o Li se declarando daquele jeito pra mim... Quem dera assim fosse! Sua resposta: sim, eu considero um final feliz. É possível que vocês não gostem, não aprovem, não achem feliz. Os dois ficarão juntos sim, apenas de uma maneira diferente! Que bom que gostou... Até mais!

Lori Nakamura: Nossa... Que bom que gostou tanto do capítulo! Fico muito orgulhosa de ter conseguido agradar! Não diga isso... Nenhuma de nós tem esse destino, não! (espero, pelo menos! xD) Que bom que venceu a luta, pois fez uma garota (eu) muito feliz!

Bella Lamounier: Muito abrigada, querida! Também acho que evoluí de tempos para cá, desde que comecei a postar no site. Que bom, isso é ótimo! Agradeço pelos elogios! É verdade... Faz tempo, mesmo. Andava ocupada por causa da preparação para a minha 'bateria de releases', mas agora já está mais tranqüilo! Assim que der, recapitulo onde parei em suas fics e conversamos melhor!

Origami: Espero que tenha conseguido manter a data! O que me diz: ultrapassei? Ainda mereço morrer apedrejada? (ç.ç) Espero que tenha aprovado as cenas de luta! Diga-me o que achou depois! Obrigada pelos elogios!

Cleopatra-cruz: Nossa... Obrigada! Obrigada, mesmo! (vermelha) Que bom que gostou tanto dele... Bem... A luta está aí, nesse capítulo. Espero que esteja de seu agrado, me esforcei para escrevê-la de um jeito aceitável. Sim, seu review me deu muito ânimo na hora de escrever o capítulo passado e começar esse. Também me ajudou muito nesse! Arigatou!

Lillyth: Acho que é sim, querida. Que bom que decidiu deixar-me um comentário. Não faz idéia de como fiquei feliz e animada! Aqui está a luta, fofa!

Rafael Thompson: Hai! Que bom que está gostando da minha fic! Perdão se não pude antes, prometo ler se possível nesse fim de semana ainda! Aguarde meu review!

RubbyMoon: Ahá! Nossa aniversariante! Espero que tenha gostado do meu humilde presentinho... Foi feito com carinho! (rimou!) Sim, o 'M' é de Mara! Que bom que gostou da declaração! Foi o ponto alto do capítulo e ficaria sem sentido se eu não conseguisse passar a emoção que desejava. Maravilindo... Haha! Adorei! Nossa... Fiquei até sem jeito com todos esses seus elogios! (corada) Você é uma escritora magnífica também! Comecei a ler seus novos fics e prometo que assim que terminar tudo te mando comentários, dizendo o que achei! Vamos tagarelar muito, sim!

Kao-chan: Filhinha amada do meu coração! De fato! E me deixou muito nervosa com isso! ( . ) A Yoruki é uma pessoa bacaníssima, imagino o quanto se divertiu ao se encontrar com ela pessoalmente! Sim... Eu amo o Li da minha fic... Como eu queria alguém como ele! Mas acho meio impossível... (gota) Que bom que conseguiu sentir todos os sentimentos que procurei passar com minhas palavras! Gênio? Que exagero! Sim, eu não queria que a declaração fosse só um 'eu te amo' depois de tanta espera. Tinha que ser algo especial! Também estou muito feliz por ter te conhecido! Ai, ai... Coisas tristes virão... Mas onde há sombra, sempre há luz, não se esqueça, linda! Sim, ela é nova ainda! O problema é a doença que veio cedo. Sim, nós somos phoda! o Adoro seus reviews por serem tão longos... Obrigada! Te amo, fofa!

Kalilah: Pois é... (envergonhada) Demorei um pouquinho. Mas dessa vez até que fui rápida, não acha? Que bom que gostou tanto do capítulo É um dos meus preferidos entre todos, pois uma declaração é sempre mais tocante! Obrigada por tudo, linda!

MeRRy-aNNe: Tudo bem! Eu entendo completamente! Não posso dizer nada também... (gota). Sim! O capítulo não demorou muito dessa vez, certo? Não, é claro que eles estão juntos. Mas eu pulei essa parte porque não achei necessário salientar isso, uma vez que estava claro. São ambos de personalidade forte, por isso uma luta! E a Sak tinha que provar ser uma excelente lutadora! Obrigada, linda!

Carol: Nem se preocupe com isso, mãe! Também tenho esse costume seu quando sou revisora, totalmente normal! ( . ) Pode deixar que eu dou, sim! Apesar de achar isso meio difícil de acontecer... Hehe! Obrigada por tudo... E que bom que gostou! Te amo!

M-chan agradece todo o apoio dado! Espero que tenham gostado desse capítulo!

Até a próxima...

§ Mara §