Na Ilha

Fazia algumas semanas que Lisa não conseguia tirar aquele desejo de sua mente. Estar presa em uma ilha paradisíaca com sua melhor amiga não contribuía pra que ela mudasse de ideia. Seu corpo já havia decidido por ela. Fazia quase dois anos que estavam na ilha e não havia perspectiva de nenhum resgate. Não havia outra pessoa por milhas além dela. Talvez essa fosse a única opção que ela tinha mesmo para se aliviar, mas não parecia ser essa a causa de seu desejo por Kyle. Seu sorriso não saía da sua cabeça.

Todos os dias, Lisa acordava em seu acampamento, bebia uma água de côco e ia se banhar nas águas do lago no interior da floresta. Enquanto isso, Kyle ia pescar para fazer o almoço. Pois é, do high society de Beverly Hills ao acampamento do largados e pelados.

Nessa manhã o dia estava particularmente quente e Lisa podia sentir a pele queimando debaixo do sol. Recostada em uma pedra ela olhava o céu azul anil sem uma única nuvem. Isso a lembrou de um dia que visitou o Rio de Janeiro. Parecia milênios atrás. Era outra vida. Como estaria Ken? Será que ainda estaria tentando achá-la? Será que achava que estava morta? A água escorria por seu rosto e refletia a luz das onze da manhã. Mas é claro que ela não tinha noção de horas. Isso fica entre nós.

Kyle chamou-a para voltar ao acampamento. Ela sempre voltava radiante do mar. Lisa estava fixada em seu corpo que escorria água salgada. Estava com sede e de repente se viu caminhando mais depressa do que de costume para perto de Kyle.

Esses pensamentos a confundiam pois não era acostumada a se sentir atraída por mulheres. Ela sempre soube no fundo que sentia alguma coisa, mas nunca tinha chegado a concretizar nada, mas agora, na ilha, sozinha com ela, não tinha como negar a atração que experimentava. Seu coração acelerou quando Kyle lhe entregou seu peixe pronto e deu um beijo em sua bochecha.

-Por que fez isso? - seus olhos verdes escancarados sobre suas bochechas rosadas e bronzeadas. Sentia que estava quase um pimentão.

-Simplesmente tive vontade. - Deu de ombros. A verdade era que Kyle se sentia cada vez mais carente e sozinha na ilha. Sentia falta de Maurício e de suas filhas. Conforme a esperança de voltar para casa ia diminuindo, mais desesperada se sentia. A frieza dos modos de sua amiga inglesa não ajudava, então tentou ser mais carinhosa. Ela só queria um pouco de afeto.

-Obrigada pela comida, darling. - Olhou-a de cima e percebeu que estava cabisbaixa. Sabia o quanto estava doendo nela estar longe de casa. Sentia-se inclinada a confortá-la. As duas passavam muito tempo em silêncio. Nos primeiros meses o desespero e a dor foram tão grandes e tudo foi tão difícil que agora sentiam que precisavam de toda a força que tinham. Era melhor não falar sobre o problema. Focar nele parecia só fazer a esperança diminuir, recentemente. Elas acreditavam que era possível que viesse um resgate. O avião delas não parecia ter caído tão longe da costa. Pelo menos é o que pensavam. Não tinham como ter certeza de nada. Imaginavam suas famílias procurando por elas até hoje. Ken e Mauricio nunca iriam parar de procurá-las até encontrar. Esse era o pensamento norteador da sanidade e da esperança das duas.

Assim elas seguiam firmes, tentando criar uma rotina minimamente confortável em uma ilha deserta, com poucos recursos e sem outras pessoas.

-O que vamos fazer hoje, Richards? - a olhou com um sorriso, tentando passar tranquilidade.

-Pensei em tirar um cochilo na sombra depois do almoço e caminhar na praia depois. Queria ver o rochedo que tem ao longe. Subir na pedra. Podemos levar água de côco e ficar até o pôr-do-sol. Que tal, Vamderpump? - brincou.

-Soa como um plano.

As duas estavam deitadas no acampamento debaixo da sombra da barraca que -pasmem - construíram. Um vento suave quebrava o calor intenso do verão e trazia alívio e calmaria. Kyle estava de costas pra Lisa. Não queria que visse seus olhos lacrimejando. Não conseguia conter sua tristeza. Queria muito ser abraçada, mas não sabia como pedir sem que sua voz saísse como um grande soluço e liberasse o dique de seu choro. Era tarde demais. Seu corpo tremia enquanto seu peito arfava e ela tentava silenciar em vão sua dor. Não precisou dizer nada. Os braços de Lisa a envolveram e abraçaram forte. A inglesa enterrou seu rosto em seu pescoço tentando conter também sua tristeza.

Abafada contra sua pele, disse-lhe que podia chorar, que não precisava se segurar. Sentia o corpo da amiga arfando contra o seu e lhe causava uma ansiedade por envolvê-la protetoramente.

-Estou contigo. - Dizia repetidamente. Mal percebeu que chorava também de saudade da própria família e por sentir-se um pouco culpada por se sentir atraída por ela quando seus maridos deviam estar procurando por elas.

Kyle finalmente se acalmou em seu abraço e conseguia respirar fundo. Não queria soltar Lisa e apertou a mais forte contra si. A pele de suas costas estava quente contra suas mãos e um arrepio passou por todo seu corpo. Sentiu que havia um ímã entre elas. Levantou o rosto para encará-la depois de todo aquele tempo e a visão de seus olhos vermelhos e inchados fez seu coração falhar. Enxugou as lágrimas que teimavam em escorrer pelas bochechas de Lisa, que riu dizendo que agora era ela quem estava sensível.

O toque de Kyle em seu rosto despertou uma reação imediata, e lisa inclinou-se para frente depositando um beijo em seus lábios. Afastou-se de súbito pronta para pedir desculpas, mas Kyle a puxou de volta e a beijou mais intensamente. As duas se encararam por um momento estupefatas, mas já não havia volta. Lisa colocou a mão atrás da nuca da morena e a trouxe para perto colando suas bocas semi-abertas em um beijo ardente. Kyle segurava a gola de sua camisa e puxava forte. Enrolou uma das pernas na cintura de Lisa e a rolou para baixo. Em resposta, lisa subiu sua perna oposta encaixando seus pontos perfeitamente. Em um movimento rítmico elas começaram a se mover pra cima e pra baixo, sarrando com prazer.

Mal conseguiam manter suas bocas coladas. Lisa sentia todo o desejo antes reprimido sair e pedir por mais. Puxou o cabelo de Kyle para o lado com força e mordeu seu pescoço. Sentia-se primal. Kyle soltou um gemido alto e apertou ainda mais seu corpo para baixo intensificando a fricção entre suas pernas. Lisa ergueu-se e agora as duas estavam sentadas. Seus corpos encaixavam em uma dança e o êxtase era um caminho inevitável.

Aproveitando-se da nova posição, Kyle desceu sua mão para as nádegas de Lisa e apertou forte contra o interior de suas pernas fazendo-a finalmente se soltar e gemer. Lisa gemia alto e sabia que iria gozar. Imitou o gesto de sua amiga puxando-a pela bunda e fazendo-a quicar mais forte. Deslizavam uma na outra e já não podiam mais segurar. Kyle gemeu alto puxando seu cabelo em um gozo que a tirou de órbita. Lisa sentia o corpo dela em convulsão sobre o seu e, como se tivesse sido eletrocutada, atingiu também seu clímax, curtindo cada gota de endorfina no seu sangue.

A noção de tempo e espaço havia sido perdida e por um momento, elas estavam livres de toda angústia e tristeza. Elas estavam juntas. Caíram lado a lado, arfando, e se abraçaram pouco antes de entrarem em sono profundo, enquanto o Sol já começava a abaixar no horizonte. O pôr-do-sol no rochedo seria inesquecível.