Cap. 8 – Olhos de Jabuticaba
Chris subiu até o dormitório e Ciça foi em direção à Julius, parou ao lado do amigo, que fingiu não perceber a presença da garota, mesmo assim Ciça se sentou no braço da poltrona onde Julius admirava o luar, olhando para a mesma direção que o garoto, e assim permaneceu durante longos minutos.
A noite estava linda, o céu completamente negro, sem nenhuma nuvem, a lua cheia iluminava todos os arredores do castelo. Ciça teve muito tempo para admirar o céu, Julius parecia não querer falar com ela, mas mesmo assim a menina resolveu cortar o gelo.
-O que aconteceu com você Julius? – Ciça abaixava a cabeça para poder olhar nos olhos do amigo.
-Nada – o garoto continuava a olhar para o céu.
-Então diz isso olhando para mim – ela colocou a mão sob o queixo do garoto e trouxe seu rosto para que ficasse de frente para o seu.
-Ciça, não aconteceu nada, só meu pai... Ele... Ele quis falar comigo, só isso – Julius dizia isso fitando o chão.
-Só isso. Olha nos meus olhos Julius – o menino virou o rosto e a encarou, Ciça pode perceber as lágrimas que se formavam nos olhos do amigo – pode chorar Julius.
-Meu pai disse que só os fracos choram.
-Seu pai não sabe de nada! – o menino a olhou indignado – Só os fortes assumem seus sentimentos, se você quer chorar, chore meu amigo – Julius olhou para a amiga, e caiu no choro, Ciça o abraçou, e ali permaneceram, Julius chorando e Ciça afagando seus cabelos. Depois de algum tempo, o menino parou e olhou para a amiga.
-Quero te contar – Ciça apenas o olhou com carinho, ele continuou – meu pai disse que não era certo eu estar na Grifinória, disse que eu deveria ser como ele, eu comecei a chorar, eu não deveria ter chorado Ciça, ele me chamou de fraco, falou que a mamãe me mimava muito, que eles deveriam ter tido outro filho, uma menina, que de repente assim eu me tornaria mais homem – Julius estava chorando muito agora - falou que eu não deveria andar com você e a Chris, eu disse que vocês eram minhas amigas, ele me mandou procurar garotos para me tornar amigo, e por fim disse que eu sou uma vergonha para ele.
-Eu disse que seu pai não sabia de nada! – Ciça também chorava agora, mas pouco, ela se controlava, tinha que ajudar o amigo – Você não é fraco! É bravo e corajoso! Por isso esta na Grifinória!
-Eu envergonho meu pai!
-Olha para mim Julius, ele irá se orgulhar de você! Mas cedo ou mais tarde. E eu estarei com você, para ver a cara de bobo do Snape! – o menino deu um leve sorriso – e sua mãe, o que ela acha dessa conversa sua com seu pai?
-Ela não sabe, mamãe chegou no final da conversa não ouviu nada, disse que estava muito feliz por eu estar aqui, e que me amava muito.
-Essa sim sabe das coisas! Sou fã da sua mãe! – Julius ficou sem graça – vamos parar de falar de coisas que te deixam triste, que tal ficarmos aqui olhando o luar lá fora, quietos, só admirando o belo.
-Tá Ciça, vamos ficar quietos.
-Então chega para lá, e me deixa sentar nessa poltrona com você – Julius chegou para o lado, Ciça se sentou, o menino ficou um pouco sem graça por estarem dividindo um lugar tão estreito – Vem aqui meu amigo, – abraçou o amigo e começou a mexer nos cabelos do menino, que já estava com a cabeça encostada no ombro de Ciça – meu amigo com olhos de jabuticaba.
-Olhos de que?
-Jabuticaba! Minha fruta preferida, lá no Brasil tem muita, aqui não? – o menino balançou a cabeça negativamente – ela é negra como seus olhos, escuros e fortes, mas ela é muito doce, como você, como seus olhos.
Continuaram ali durante um bom tempo, até que Julius se lembrou que teriam aula no dia seguinte e que precisariam estar descansados, então os dois subiram para os seus respectivos dormitórios, Ciça demorou mais para chegar ao seu destino, pois como se perdeu não sabia o caminho, depois de algum tempo de procura a menina encontrou o dormitório, lá encontrou cinco camas, sendo dois beliches e uma cama normal, todas as meninas dormiam um sono profundo, nos beliches, e Ciça se encaminhou até a cama onde suas coisas estavam depositadas, se sentou e olhando para seu malão e as outras quatro malas menores, pensou "eu disse para a mamãe que tinha roupa demais".
-Bom, então bem vinda a Hogwarts Ciça! – disse ela, para si mesma – Espero que tudo isso não seja um sonho!
Ela colocou seu pijama e se deitou. Levantou de novo para apagar a luz do abajur, mas antes se encaminhou para a janela, olhou para o jardim e viu uma coisa muito estranha, o homem que ela havia seguido pelos corredores estava parado, perto do lago, com uma coruja negra no braço, ele entregou um pedaço de papel negro para a coruja, depois a soltou, e Ciça viu-a sumir na escuridão do céu. O homem virou-se para o castelo e olhou em direção á ela, Ciça assustou-se, ele pousou o olhar na menina e sustentou por alguns segundos, depois desviou e caminhou até a orla da floresta proibida.
Ciça ficou apavorada com aquela situação, saiu rápido de perto da janela, apagou o abajur, deitou-se em sua cama e como fazia sempre que estava com medo se cobriu deixando apenas os olhos bem fechados e o nariz para fora da coberta, a menina queria chamar a mãe, mas ela não estava lá, foi a primeira vez que Ciça pensou se realmente deveria estar ali.
Pela primeira vez também Ciça desejou que tudo fosse apenas um sonho, que ela acordaria e sua mãe iria ver se ela estava bem e seu pai chegaria com uma caneca de leite morno. Foi assim que a menina adormeceu, pensando em como seria bom ter os pais ali naquele momento, e chegou até a sonhar com todos os acontecimentos das últimas semanas, mas quando acordou pela manhã e olhou em volta, percebeu que não era sonho, e que ela realmente não tinha os pais ali com ela, isso doeu em seu coração. Ciça se levantou, as meninas ainda dormiam. Saiu do dormitório esperando achar o banheiro, encontrou-o, tomou um bom banho, e seguiu para o salão comunal, onde ficou sentada esperando os amigos, não demorou muito e Julius apareceu.
-Teve uma boa noite? – perguntou com um sorriso.
-Mais ou menos, mas você esta bem melhor né? – após Ciça comentar, Chris apareceu e se juntou aos dois com um "oi " bem baixinho.
-Como eu poderia estar triste, tendo duas amigas como vocês? – e passou o braço de leve no ombro de Chris que sorriu – Vamos tomar café, estou cheio de fome.
-Claro, meu amigo Julius Sorridente Snape.
Os três desceram, e Ciça prestava bastante atenção no caminho, não queria se perder de novo. Julius as guiava, ele conhecia muito bem o castelo, claro, já que passou quase toda a infância naquele lugar. Eles sentaram-se à mesa da Grifinória e tomaram o café, Ciça se limitou a comer torradas, enquanto Chris e Julius se deliciavam com os vários tipos de bolos. A mesa dos professores estava completa, Harry observava Ciça junto aos amigos, quando algo tirou sua atenção, o correio havia chegado, e o professor achou muito estranho um aluno na mesa da Corvinal ter recebido uma carta, seria normal um aluno receber uma carta, se essa carta não estivesse em um envelope negro e sido entregue por uma coruja muito negra com olhos amarelos, assim como a coruja que quase arrancou sua cabeça no Beco Diagonal, Harry anotou mentalmente que iria ter uma conversa com esse garoto na primeira oportunidade.
Ciça também recebeu uma carta, mas a dela foi entregue por uma coruja muito branca, e meio idosa.
-Edwiges! Carta para mim? – a coruja estendeu dignamente a pata, para que a menina tirasse o pedaço de papel que estava preso, que Ciça prontamente leu.
-O que será que o professor Potter quer com você? – Chris perguntou curiosa para ler o bilhete.
-Saber como eu estou, e pedir para que eu vá à sala dele depois das aulas.
-Por quê? – era Julius que perguntava agora.
-Ele é meu amigo, não contei a vocês? – os dois balançaram negativamente a cabeça, e Ciça contou toda a sua história desde que conheceu Harry, eles andavam enquanto conversavam, e quando ela terminou estavam os três sentados na sala onde teriam a primeira aula de feitiços.
-Estranho ...
-O que é estranho, Julius? – Chris perguntara.
-Tudo bem que Ciça é bruxa e não sabia, mas por que ela tinha uma vaga em Hogwarts e não em uma escola no Brasil?
-Tem escola de bruxaria no Brasil?
-Claro Ciça, umas três eu acho, você deveria ir para lá, e não para a Europa, isso é realmente estranho.
-É, muito estranho mesmo, vou perguntar ao Harry hoje quando for vê-lo.
-E tem mais – Chris fazia cara de inteligente – por que mandaram logo o Harry Potter buscar você? Ele é um auror muito importante e é famoso, e ainda é professor agora, tem muita coisa para fazer... Largar tudo para ir buscar uma aluna... Hospedá-la na casa dele... Isso realmente é muito estranho!
-Vocês sabem que eu não tinha pensado em nada disso, mas agora que vocês falaram... – Ciça colocava a mão no queixo e pensava – Mas vamos mudar de assunto que a professora chegou.
Uma mulher alta de cabelos castanhos estava parada atrás da mesa, esperando que os alunos se calassem para que ela pudesse começar a falar.
-Sejam bem vindos à Hogwarts! Eu sou a professora de feitiços, meu nome é Sra. Snape, tenho que avisá-los que não permito confusões em minhas aulas, enquanto eu estiver falando exijo silêncio, quando eu estiver calada vocês podem se comunicar, mas num tom de voz baixo. Quando estiverem praticando, desejo bastante concentração. No final de cada aula o aluno que tiver melhor desempenho ganhará 15 pontos para sua casa, assim como o que tiver pior desempenho perderá os mesmos 15 pontos. Esse é o meu método, siga-o e terá sucesso na minha matéria. Vou começar a chamada – sentou-se e pegou o pergaminho com os nomes dos alunos – Então hoje temos Corvinal e Grifinória. Aplle Mary.
-Presente!
-Curly Paul. – a professora ia parando e olhando para cada aluno, à medida que o mesmo respondia a chamada.
Ciça estava sentada ao lado de Chris, e Julius estava na carteira de trás junto de um garoto loiro chamado Jhon Parcker. Todos os alunos mantinham-se em silêncio enquanto era efetuada a chamada, os nomes dos alunos da Corvinal estavam quase no fim.
-Stwart, Martim Stwart.
-Presente professora!
-Bem, agora os alunos da Grifinória, – a professora olhou para o lado esquerdo onde estavam reunidos os grifinórios – Carter , Magg Carter – a menina levantou a mão e disse um "presente" sem muito entusiasmo – Fogli , Alicia Fogli.
-Presente! – a menina estava toda sorridente, e sua alegria ficou ainda maior quando a professora lhe deu um olhar doce e um sorriso tímido, porém sincero, a mesma expressão que fez para Julius quando chamou seu nome, que foi o último a ser citado.
-Senhores e Senhoritas – agora a professora Hermione Snape caminhava pela sala – todos vocês que estão nessa sala possuem poderes mágicos, nós professores vamos ensiná-los a canalizar esses poderes através da varinha. A arte dos feitiços é uma arte, ao mesmo tempo simples e complexa, mas para que um feitiço seja realizado é preciso confiança e acima de tudo vontade, por isso é necessário que se digam as palavras, para se ter certeza do que você está querendo. Hoje nós vamos praticar um feitiço simples, peguem tinta, pena e pergaminho, agora escrevam uma frase ou uma palavra, o que vocês quiserem – a professora foi até a sua mesa, pegou um pergaminho grande e escreveu um "Sejam bem vindos!" enorme, e mostrou para a turma – vamos praticar o feitiço delectus, é simples, vejam! – a professora apontou a varinha para o papel e disse "delectus" alto o suficiente para que toda classe pudesse ouvir, e o que estava escrito na folha desapareceu – funciona apenas em papel, você só pode apagar palavras e figuras. Esse feitiço foi descoberto há pouco tempo, se eu soubesse dele em minha época de escola teria economizado um grande número de pergaminhos! Agora vamos, pratiquem!
Todos os alunos começaram a praticar, a maioria sem sucesso, Ciça ficou super feliz quando depois de dez minutos tentando sumiu o "M" da palavra (mamãe) que ela havia escrito. O tempo passava e o sucesso dos alunos não progredia, Hermione já estava ficando impaciente enquanto caminhava pela sala tentando tirar dúvidas.
-Com licença professora – um rapaz loiro alto, com os olhos azuis escuros como o início da noite, estava parado na porta, Benjamim Sanandell.
-Oh! Sr. Sanandell! Entre, venha até a minha mesa – o garoto seguiu a professora.
-A senhora pediu para eu vir vê-la assim que fosse possível, estou aqui!
-Eu quero lhe entregar um papel, é só eu encontrar – a professora começou a procurar nas gavetas.
Enquanto Hermione se preocupava em encontrar o papel, a classe começava a entrar em confusão. Os alunos não estavam conseguindo apagar os escritos, mas ninguém se encontrava em situação pior que Christinne, tentando apagar o nome escrito no papel, o que Chris conseguiu foi multiplicar as palavras, agora o pergaminho estava escrito frente e verso, a menina estava apavorada, com medo de que logo no primeiro dia de aula ela fosse perder preciosos pontos. Benjamim percebeu o desespero de Chris e efetuou um feitiço, o excesso de palavras desapareceu, restando apenas a palavra inicial (Leonardo). A menina levantou um olhar agradecido a Ben, e ele lhe sorriu.
-Aqui está! Benjamim, coloque este aviso na sala Comunal da Corvinal, é muito importante, sobre o material que os alunos do 7º ano deverão trazer na próxima aula.
-Pode deixar professora, se eu puder me retirar...
-Ah! Claro, está dispensado – o garoto se retirou, não sem antes dar uma piscadinha para Chris que ficou toda vermelha – e vocês, espero que tenham conseguido efetuar a tarefa.
A professora caminhou pela sala, examinou todos os pergaminhos, elogiou alguns, criticou outros e por fim anunciou:
-Por hoje é só, alguns de vocês tiveram bastante sucesso e outros não foram muito felizes, o único aluno que conseguiu apagar toda a palavra foi o Sr. Samuel Hurman, portanto concedo 15 pontos para a Grifinória – os alunos da casa deram "vivas" – e quem infelizmente perdeu pontos foi a aluna Justine Lanne da Corvinal, uma dica Srta. Lanne, na próxima vez tente esse feitiço com uma palavra, e não com uma frase de quase três linhas!
Alguns minutos depois a aula acabou, os alunos saíram da classe meio irritados, pois logo na primeira aula já ganharam dever de casa.
As aulas daquele dia passaram muito rápido. Ciça estava junto com seus amigos no salão comunal conversando sobre o dia e os professores, quando Chris a lembrou que o professor Potter havia chamado Ciça para uma conversa, a menina saiu em disparada, mas alguns minutos depois voltou correndo, as crianças levaram um susto quando Ciça apareceu pelo retrato da mulher gorda.
-Ué! Mas já? – Chris olhava incrédula para a amiga.
-É que eu preciso do Julius.
-De mim? Para quê?
-Eu me lembrei que não sei andar pelo castelo, preciso que você me leve até a sala do Harry.
-Ah! Vamos então – os dois saíram, e após alguns minutos pararam em frente a uma porta fechada.
-É aqui Ciça! Tá entregue, você sabe voltar né?
-Acho que sim, obrigada Julius, mais tarde a gente conversa.
