Cap. 10 – Dizer a verdade?
Quando tudo está indo bem, o tempo voa, e foi assim com eles. Ciça se deparou com o dia 31 de outubro bem na sua frente, seu primeiro dia das bruxas como uma bruxa de verdade.
Esse dia amanheceu bem mais frio do que o habitual. Depois das aulas Ciça, Chris e Julius estavam sentados num canto isolado do salão comunal, conversando sobre o campeonato de quadribol que se iniciará dentro de algumas semanas, quando ouviram a voz da monitora da casa chamando a atenção de um aluno do primeiro ano, Lucas Little Hart.
-Lucas, pare de perturbar o Samuel, a discussão de vocês esta me atrapalhando!
-Você se meta com a sua vida, viu querida? Porque o assunto aqui é particular – Lucas bravejava para a monitora.
-Que mané particular! Eu não tenho conversas particulares com você não cara! Tá me estranhando!
-Samuel! Pare com isso! Parem vocês dois, ou terei que tomar medidas drásticas! Tem gente aqui querendo estudar, eu por exemplo!
Beatriz Lawrence, esse era o nome da monitora e goleira da Grifinória, ótima goleira por sinal, uma atividade normalmente masculina era desempenhada de forma exemplar por Bia, como era chamada pelos íntimos, houveram poucos goleiros tão bons quanto ela no time da Grifinória, mas infelizmente o time havia perdido o campeonato duas vezes consecutivas pela falta de um bom apanhador.
Depois da pequena confusão, Samuel foi se sentar ao lado de Chris.
-Não gosto dessa monitora! Ela é muito mandona, só pensa nela! – reclamou Chris, assim que Samuel se sentou.
-Concordo com você Chris, só que hoje ela me livrou de uma boa, aquele garoto é muito esquisito.
-Não fale assim Samuel – Ciça olhava na direção de Lucas do outro lado do salão, ele agora conversava animadamente com Magg Carter – você nem o conhece direito, não o deixa se aproximar.
-É verdade Sam, toda vez que ele chega perto, você sai dando patada.
-Patada? Você diz isso, Julius, porque ele não vem com umas conversas moles para cima de você!
-Ih! Olha quem vem ali! – exclamou Chris.
-Quem, Chris?
-A super-monitora-goleira-modelo!
-Você não gosta mesmo dela né?
-Sei lá Ciça, ela me olha estranho, não gosto de quem me olha como ela.
-Mas você ...
-Oi! – Bia chegava interrompendo a conversa.
-Oi, tudo bem? – respondeu Ciça simpática.
-Tudo, e aí, vocês estão ansiosos? Primeiro Dia das Bruxas em Hogwarts né?
-Óbvio! Nós somos do primeiro ano! – disse Chris mal humorada.
-Certo! – Bia tentava continuar sorrindo, mas era visível o seu desagrado – Claro que é! Bem gente, eu só vim avisar que eu encontrei o professor Potter e ele me pediu, se por acaso eu encontrasse você, Ciça, para te avisar que ele quer que você vá à sala dele antes da festa, ok?
-Obrigada Bia. Eu vou sim.
-E Ciça, você poderia vir aqui comigo rapidinho?
-Claro!
As duas se distanciaram dos outros.
-Ciça, você sabe por que a Chris não gosta de mim? Ela fica me olhando estranho... Sabe, não gosto que me olhem do jeito que ela me olha. – dito isso Ciça não segurou uma alta risada – Que foi?
-Nada, nada não, – reprimindo o riso, Ciça continuou – só acho que você deveria dar tempo ao tempo, um dia vocês se entendem. Se preocupa não!
Alicia saiu da torre da Grifinória assim que terminou a conversa com Bia, estava distraídamente caminhando pelos corredores, indo à sala de Harry, quando Victor Seheisse apareceu bem na frente dela, e quando a viu, sorriu para a menina.
-Passeando Fogli?
-Você ainda existe, garoto? Até tinha me esquecido de você.
-Mesmo? – comentou sarcasticamente – Você não deveria andar por aí com esse nariz tão empinado Fogli. Não mesmo.
-Resolveu me dar conselhos agora é? Sai da minha frente que eu não tenho o dia inteiro.
-Oh! Ela está nervosinha! – continuou em tom ainda mais sarcástico – Estou até com medo!
-Se eu fosse você...
-Não! – interrompeu Victor – Se eu fosse você, abaixaria a minha bola. Tá entendendo, garota? Eu sei mais sobre você do que você imagina.
-Ah! Tá bom! Nada que você saiba sobre mim pode me prejudicar, quem não deve não teme. E eu não devo nada para ninguém!
-Claro que não deve. – e voltou a sorrir – Vou corrigir minha frase, ok? Eu sei mais sobre você do que você mesma, Fogli! E você não perde por esperar!
-O que você quer... – mas não adiantava mais terminar a frase, pois o garoto já havia ido embora.
Ciça chegou à porta do escritório de Harry ainda nervosa, pensando na conversa que teve com Seheisse, "o que será que o garoto poderia saber que ela própria não sabia? Só podia estar blefando" chegou a essa conclusão já dentro do escritório do professor, que não se achava lá, pelo menos numa primeira olhada era impossível encontrá-lo, mas olhando cuidadosamente pôde perceber que Harry encontrava-se em uma sala particular, conversando num tom muito baixo com o professor Weasley, Ciça o identificou ao olhar na fresta da porta e perceber os cabelos vermelhos de Rony, ela então preferiu não interrompê-los.
A menina caminhou pelo escritório, olhando cada detalhe, observou os livros, alguns pequenos animais que estavam num canto da sala, quando chegou a mesa percebeu um porta retrato, pegou o objeto e sentou na cadeira em frente a mesa, ficou um bom tempo admirando a foto, era a família de Harry. Ele já havia contado sua história para Ciça, falou-lhe sobre a mulher e a filha, mas a garota nunca tinha visto uma foto da família, mesmo nos dias que passou na casa do professor, ela não tinha visto nenhuma foto, Ciça sabia que as fotos estavam todas no quarto do professor, mas nunca pediu para vê-las, ela tinha jurado para si mesma que não tocaria nesse assunto com Harry, já que ele sempre se entristecia ao lembrar da família.
Mas agora a foto estava ali, diante dos seus olhos, e não era pecado ser curiosa, ou era? Ah! Para Ciça isso não importava naquele momento. A foto era em frente à roseira da casa de Harry, o casal estava abraçado e Nathalie estava grávida, a gestação devia estar quase no fim, pois a barriga estava enorme. Era um retrato bruxo (mesmo Nathalie sendo trouxa), e o casal ficava se olhando de uma forma muito terna, demoraram algum tempo até perceberem que estavam sendo observados pela menina, mas assim que notaram viraram-se para ela e acenaram alegremente, Nathalie tocava na barriga e Harry acariciava o futuro bebê enquanto davam freqüentes olhadas para Alicia.
Ciça se levantou ainda com a foto nas mãos e foi até o sofá que ficava num outro canto da sala, onde se sentou e ficou a observar a foto até que adormeceu.
Harry e Rony saíram da sala ainda conversando, mas calaram-se assim que avistaram Alicia deitada de mau jeito no sofá, onde dormia serenamente, Rony foi calmamente até a menina e se ajoelhou ao lado dela.
-Parece uma anjinha.
-Ela é uma anjinha – Harry sorria meio abobado – Linda, não?
-Sim, ela é uma dádiva Harry. Quando vai contar a ela?
-Acho melhor esperar mais um pouco, quem sabe quando ela estiver maior.
-Harry, meu amigo, para que esperar mais, ela já anda desconfiada, você me disse que ela andou perguntando...
-Não, ela só quer saber por que está em Hogwarts, e, além disso, nunca mais me perguntou nada, ela não desconfia. Não vamos mais falar sobre isso ok?
-Tudo bem, vai acordá-la? A festa é daqui a pouco.
-Não, vou deixá-la dormir mais, se ela não acordar eu chamo para festa.
-Então eu vou indo Harry. Até mais tarde.
T-chau Rony.
Harry ficou um tempo refletindo sobre tudo que estava acontecendo com ele, se deveria ou não contar a verdade a Alicia. Foi até a menina e, como Rony, ajoelhou-se ao lado do sofá, viu que nas mãos dela estava sua foto com a mulher grávida de Cecília, Harry sorriu ao olhar a foto, pegou, levou até a mesa e pôs no lugar onde estava anteriormente. Ele sentou na cadeira em frente à mesa e ficou a observar a menina dormir por um longo tempo, até que algo lhe tirou a atenção de Ciça, alguém batia a porta, era Snape.
-Olá Snape! O que deseja?
-Vim trazer sua poção do sono. - ao ver Ciça adormecida acrescenta – O que a menina faz aqui?
-No momento? Dorme.
-Não faça gracinhas, por que ela dorme aqui?
-Veio me visitar e adormeceu enquanto eu conversava com Rony.
-Acorde-a para a festa. Ela não vai querer perder.
-Estou com pena de acordá-la, veja, dorme tão serenamente. Mas eu sei que ela não ia me perdoar se perdesse o dia das bruxas.
-Quando vai contar a ela?
-Sabe que você não é a primeira pessoa que me pergunta isso hoje? Todos vocês estão preocupados demais, eu sei o que é melhor para ela, e Ciça estará segura enquanto não souber de nada.
-Você não gostava quando Dumbledore escondia as coisas de você, não é justo você esconder as coisas dessa menina – Snape apontava furtivamente para Ciça.
-Esconder o que de mim? – Ciça estava acordada a alguns minutos ouvindo a conversa – O que eu não sei? Por que estou segura enquanto não souber? Que tipo de perigo eu corro?
-Satisfeito Snape?
-Agora faça o que já deveria ter sido feito. Adeus Potter – e saiu da sala batendo a porta atrás de si, deixando uma Ciça muito confusa exigindo explicações de Harry.
-Me explica isso!
-Não há nada para explicar.
-Claro que há! Eu exijo saber! Pode me contar.
-Não existe nada que você precise saber – e ao ver o olhar da menina acrescentou – não agora, um dia você saberá, mas não hoje. Vamos para festa, ok?
-Não quero ir para festa – fazendo carinha de choro.
-Como não? Claro que quer. Vamos Ciça, não faz essa cara.
-Quero que você me conte.
-Um dia eu te conto.
-Não quero ser enganada! Tenho o direito de saber! Não sou mais um bebê! Me conta!
-Não! Agora vam... Ciça! – ela havia passado correndo por ele e batido a porta, Harry correu até a porta e ainda viu os cabelos loiros de Ciça virando o corredor – Volta aqui Ciça! – mas já era tarde – Muito obrigado por estragar tudo, Severo Snape.
Ciça foi correndo para o salão da Grifinória, mas não encontrou ninguém lá, estava decidida a não ir para o jantar de dia das bruxas, mas ficou pensando o que realmente ganharia se não fosse, e além do mais, precisava contar o que tinha acontecido para Julius e Christinne. Decidiu então descer para jantar. Chegando ao salão principal se deparou com uma magnifica decoração, digna de seus maiores devaneios enquanto apenas lia nos livros. A menina logo encontrou os amigos que tinham guardado um lugar para ela.
-Pensei que você não vinha! Por que demorou?
-Ai Chris, você não sabe...
-Claro que não sei, você ainda não me contou.
-O que você tem Ciça? Parece abalada – perguntou Julius preocupado.
-Gente, eu fui lá procurar o professor Potter, aí...
-Hei, peraí, desde quando para você é professor Potter, você sempre o chamou de Harry!
-Desde hoje Chris, mas escuta, o que interessa é que eu ouvi que estão me escondendo algo!
-Escondendo?
-Ah! Mas isso nós já sabemos, ninguém te contou o porquê de você vir estudar aqui.
-Tá Julius, mas eu acho que tem algo mais, o professor Potter disse uma coisa assim: "enquanto ela não souber estará segura", não com essas palavras, mas foi isso.
-Eu tenho uma teoria!
-Que teoria Chris?
-Eu estava conversando com Julius e criei uma espécie de tese...
-Ah não! Nem dá ouvidos Ciça, é muita maluquice.
-Deixa-me terminar Julius, criei uma espécie de tese sobre sua presença aqui. Você nos contou que é adotada, certo?
-Certo.
-Então, e nisso Julius concordou comigo, você deve ter nascido aqui.
-Como assim?
-Isso eu explico – Julius ainda com um pouco de suflê na boca – é muito provável que você tenha sido registrada no nosso Ministério da Magia, isso explicaria o fato de você ter uma vaga em Hogwarts. Você deve ter sangue mágico, e não como fizeram você acreditar, que nasceu trouxa e adquiriu magia. Agora vem a parte que a Chris viaja!
-Não viajo não! Vamos pensar, sua mãe deve ser de uma família tradicional bruxa, pode ter se envolvido com um trouxa, ficado grávida, e como foi perseguida pela família que não aceitou a gravidez, fugiu, e entregou o bebê a um orfanato, e voltou para a sociedade, ou, fugiu teve o bebê, e pode ter morrido.
-E o pai trouxa? – perguntou Ciça.
-Deve tê-la abandonado depois que descobriu que ela era bruxa.
-Já conheço essa história – disse Ciça num meio sorriso – tá parecendo Tom Riddle, só falta eu ficar maluca e revoltada, e resolver matar todo mundo! Que nome do mal eu vou me dar? Me ajuda a escolher Julius.
-Eu heim Ciça! Não fala essas coisas, nem brincando!
-Ah Chris! Mas que parece, parece!
-Concordo com você Ciça.
-Sério agora gente, então vocês dois concordam que eu devo ter nascido aqui?
-Claro, isso é o mais provável, mas para tirar essa dúvida é só você sondar o professor Potter, ele parece que sabe algo.
-Impossível Julius, briguei com ele, mas...
-Mas o quê?
-Seu pai sabe! Ele perguntou ao Potter quando iria me contar! Seu pai sabe Julius!
-Meu pai nunca me contaria isso.
-Talvez sua mãe.
-Esquece Ciça, mamãe é estritamente leal. Se for dito a ela para não contar, esquece.
-Então outra pessoa que nos dará qualquer tipo de informação...
-Quem mais deve saber?
-Seheisse!
-Ele?
-Ele sim Chris, esse garoto sabe de alguma coisa. Me fez insinuações hoje, e se ele pensa que eu não vou tirar satisfações com ele, ah ele tá muito enganado!
-Mas o que você pretende fazer?
-Ainda não sei Julius, mas vocês vão me ajudar.
