Cap. 11 – Contando a verdade e explicando as mentiras

Ciça não tinha idéia de como ia fazer Seheisse lhe contar o que sabia. Ela tinha lembrado que em uns dos livros do Harry eles tinham usado uma poção polissuco para descobrir coisas, mas isso não ia dar certo, primeiro, ela não tinha conhecimento suficiente de poções, se bem que Julius entendia bastante do assunto, e segundo, Ciça se recusava a usar qualquer tipo de idéia que lhe remetesse à Harry. Ela ainda estava muito chateada com ele, e isso até lhe levou a parar um tempo de ler os livros que o tinham como personagem principal.

Pelo menos a escola estava divertida, e isso a entretinha. Usava o tempo livre para escrever para os pais e para a melhor amiga. Ciça estava morta de saudade de todos no Brasil, sentia muita falta dos pais. Eles sempre estiveram perto dela para o que pudesse acontecer, e agora que tudo estava tão estranho ela estava sozinha. Se não fossem os amigos a menina não saberia o que fazer. Viver em um lugar diferente era tão complicado, e piorava muito o fato de estarem lhe escondendo algo, que parecia ser importante, ela tinha que dar um jeito de descobrir o que era, mas quanto mais pensava, mais sua cabeça dava um nó.

Os três amigos estavam sentados no salão principal tomando café da manhã. Era sábado e também o primeiro jogo do campeonato, Sonserina X Lufa-lufa, todos estavam muito ansiosos, e Ciça não ficava de fora, seria a primeira vez que iria assistir a uma partida de Quadribol.

-Quem será que vai ganhar? – perguntou uma Chris nervosa.

-Não sei por que essa animação toda, nem é a Grifinória. E é claro que a Sonserina leva essa.

-Por que Julius?

-Simples Ciça, a Sonserina tem mais tática, fora o fato de que o jogo é mais bruto, e também de que ela ganhou a copa nos últimos dois anos. Vai ser difícil outra casa levar esse ano. A Grifinória, por exemplo, precisa de um novo apanhador. Esse Marcus Tree, ele até que não é ruim, mas também não pode ser considerado bom. Nosso time já esteve muito bom, mas depois que Jonatha Daware se formou, ficou meio complicado.

-É... Sabe, eu tive uma idéia!

-Que idéia? A não ser que você entenda muito de tática de Quadribol, acho que sem um novo apanhador fica difícil mesmo para gente.

-Nada disso Julius, é sobre o Seheisse.

-Que idéia Ciça?

-Derick!

-O que tem esse garoto?

-Ih! Ele é meu amigo viu? E ele é da Sonserina! Dorme no mesmo lugar que o Seheisse. Pode descobrir alguma coisa, então a gente pode usar qualquer informação contra ele e obrigá-lo a contar o que sabe.

-Você tá falando de chantagem?

-Exatamente!

-Você só esqueceu de uma coisa, querida Ciça.

-O que Chris?

-Que a gente não fala com o Derick há séculos!

-Vocês não falam com ele, eu falo. A gente sempre se encontra na biblioteca, ou nos corredores, sempre nos falamos. Vou falar com ele agora – Ciça se levantou e foi em direção a mesa da Sonserina.

-Ciça volta aqui! Droga, ela já foi!

-Que foi Julius?

-Eu não confio nesse garoto, não mesmo! Chris, vai atrás dela!

-Eu não. Ela está determinada, vamos ver o que ela consegue.

Ciça foi correndo até a mesa da Sonserina, seguida de olhares curiosos de várias pessoas de outras casas. Chegando a mesa sentou-se displicente ao lado de Derick, quando o garoto percebeu a presença da menina levou um susto.

-O que você tá fazendo aqui?

-Vim te ver, qual o problema?

-Será que a gente não pode conversar depois?

-Por que você tá falando tão baixo?

-Podemos falar depois?

-Tá, tudo bem, depois do jogo a gente se fala.

Derick foi fuzilado pelos olhares dos colegas de casa, o garoto murmurou algo como "essa aí não larga do meu pé" e voltou sua atenção para o mingau de aveia que agora lhe parecia extremamente interessante.

Ciça voltou desapontada para a sua mesa, sentou-se em silêncio e recebeu um olhar ansioso de Chris.

-E aí?

-Ele não quis falar comigo – enquanto Ciça contava o que aconteceu Julius fazia cara de "eu já sabia que isso ia acontecer".

-Nossa que garoto grosso!

-Não é questão de ser grosso, que nós já sabemos que ele é. A questão é que ele é covarde!

-Julius, que é isso? Não fala dele assim!

-É covarde mesmo Ciça. Ele não quis assumir uma amizade com você na frente dos outros sonserinos.

-Concordo com Julius. Ouvi dizer que ele ignora a irmã, age como se ela não existisse.

-Eu não sabia disso Chris. Mas mesmo assim, eu preciso da ajuda dele. Não posso me dar ao luxo de perder um aliado. Se ele não quer falar comigo em público, eu falo com ele as escondidas. Fico chateada, poxa, ele é meu amigo, ou pelo menos era, mas sem ele o plano não vai dar certo.

-Ciça você está tão estranha.

-Eu, estranha?

-É, eu sou seu amigo e não estou lhe reconhecendo, você sempre foi tão doce, tão meiga, nunca te vi falando assim desse jeito.

-Julius, você e Chris são meus amigos, eu valorizo aqueles que me dão valor. Não gosto de passar por cima de ninguém. E se pudesse, não iria chantagear o Seheisse, mas ninguém facilita as coisas para mim. Ninguém me conta nada. Eu preciso saber que tipo de perigo eu corro, até para poder me proteger. E para isso eu tenho que agir assim.

A partida foi arrasadora, a Sonserina ganhou de 290 a 70. E sem sombra de dúvida a melhor parte do jogo foi a captura do pomo feita por Jhoshy Müller, um garoto moreno e razoavelmente magro, com cara de poucos amigos, do sétimo ano da Sonserina. Ele pegou a pequena bolinha a centímetros do nariz do professor Luar Hevanly Body. A cena foi realmente "interessante", levando em conta o susto que o professor levou ao ver dois jogadores voando a toda velocidade em sua direção, ele ficou sem ação, então depois da captura pareceu que finalmente seu cérebro percebeu a situação, e na ânsia de se proteger (mesmo depois que tudo já havia ocorrido), acabou caindo em cima de alguns alunos que assistiam a partida fileiras abaixo. O professor e os alunos foram levados para a enfermaria, e saíram de lá sem grandes danos.

Após o jogo, Ciça foi se encontrar com Derick. Eles haviam marcado perto da cabana que um dia fora de Hagrid, e hoje pertencia ao Sr. Simpson, o atual guarda caça de Hogwarts. Ele assumiu o cargo e a cabana, depois que Hagrid se mudara para a França, para morar na terra de sua esposa Madame Maxime, há uns dez anos atrás.

Derick demorou aproximadamente quinze minutos para chegar, e Ciça, que já estava ficando nervosa com a possibilidade do garoto não aparecer, abriu um largo sorriso, mais de alívio do que de alegria, ao vê-lo.

-Pensei que você não viesse!

-Eu nunca deixaria de vir ver você.

-Não sei não, depois de como você me tratou hoje no café. - num tom de aborrecida.

-Ciça, você tem que entender que as pessoas da minha casa não suportam a sua. Eu não posso ser visto freqüentemente com você, pode pegar mal – vendo a cara da menina, logo acrescentou – eles vão pegar no meu pé, vão me excluir, pior, vão me humilhar. Não posso parecer um perdedor. Já esta sendo difícil o suficiente para mim.

-Eu entendo. Não quero ser um problema para você. Só preciso da sua ajuda – Ciça parecia muito fria falando assim com alguém que ela considerava um amigo. Mas o pior é que por dentro ela se sentia fria. Ela tinha que descobrir o segredo que a cercava. E para isso passaria por cima até dos próprios sentimentos. Mesmo que isso a ferisse.

-Que tipo de ajuda?

-Estão me escondendo algo muito importante, e Seheisse sabe de alguma coisa. Preciso ter algo contra ele para fazê-lo falar. E é aí que você entra. Já que dorme no mesmo lugar que ele, talvez possa descobrir alguma coisa para mim.

-Ciça, presta atenção no que você está me pedindo! Com o Seheisse não se brinca. Eu não posso fazer nada contra ele. Se me pegam eu tô ferrado.

-Ninguém vai te pegar, se você fizer tudo discretamente, não precisa ter pressa.

-Mas você vai chantagear um aluno, e isso provavelmente é contra as regras do colégio. E se te pegam? Você vai se ferrar e me levar junto. E eu não quero nada de ruim nem para mim nem para você.

-Se me pegarem nunca vão saber sobre você. Eu me viro, mas não te levo comigo. Você vai me ajudar?

-Certo. Eu te ajudo. Mas primeiro você vai ter que me contar toda a história. Que tipo de segredo é esse?

Sentada numa cadeira do Salão comunal, Ciça desejou não ter dito a Derick para não ter pressa. Já fazia mais de um mês que o garoto começara a investigar para ela e ainda não tinha descoberto uma vírgula podre se quer sobre Seheisse. As férias de fim de ano iam ter início no próximo sábado e os alunos estavam alvoroçados pela perspectiva de irem para casa. Mas parecia que o espírito natalino não havia chegado aos professores, pois eles não mediram esforços para garantir dever de casa suficiente para todo o feriado.

Chris estava ao lado de Ciça fazendo sua lista de presentes, a menina tinha nas mãos um pergaminho e uma pena com que cutucava o lóbulo da orelha e sorria distraídamente. Com pouco tempo de convivência, Ciça já havia descoberto algumas manias de seus amigos, como por exemplo, o jeito que Julius coçava levemente o nariz e corava quando estava envergonhado, como Derick estreitava o olho esquerdo quando dizia alguma coisa e estava com medo da reação dela. E agora, como Chris mexia na orelha toda vez que estava pensando em algum menino. E pelo coração com as letras B&C desenhadas artisticamente, Ciça pode concluir que o escolhido da vez tinha sido Benjamin Sanandell, da corvinal, mais conhecido como Ben.

-O que eu compro de natal para o Ben, Ciça?

-Para o Ben?

-É, eu quero dar algo a ele para não esquecer de mim.

-Chris, o Ben é muito legal, sempre educado, mas ...

-Mas o quê?

-Lembra quando você ficou gostando do Léo?

-Sim – Chris abaixou levemente a cabeça envergonhada.

-E ele tinha namorada. Você ficou muito mal e isso foi há dois meses mais ou menos. Eles são mais velhos, aliás, muito mais velhos Chris. Provavelmente Ben tem uma namorada ou gosta de alguém.

-Mas o que eu posso fazer? Eu não mando no meu coração!

-Eu sei disso, só acho que nós somos muito novas para sofrer por garotos. E sobre o presente, é melhor não dar nada. Você nem amiga dele é.

-É você tem razão, ele vai achar super estranho se eu apareço com um presente.

-Falando em natal, você vai para casa?

-Vou, meus pais me querem lá. Eu até queria ficar com você e o Julius, mas esse ano não dá.

-Tudo bem... - Ciça olhou para a janela e de repente seu rosto ficou triste.

-Que foi? Tá triste?

-Não exatamente. É que eu sempre quis passar um natal com neve, falta menos de uma semana, tá muito frio ventando e chovendo, mas nada de neve.

-Ah! Não fica assim amiga! Você vai passar sete natais aqui, algum desses vai ter neve você pode ter certeza.

-Mas não é só isso também. É o primeiro natal que passo longe dos meus pais, tá batendo uma tristeza... Sinto muita falta da minha mãe, do papai...

O natal chegou e passou, e Ciça viu sua tão esperada neve. Na manhã da véspera de natal, Ciça acordou e ao olhar na janela viu todo o exterior do castelo branco, parecia que tudo estava coberto por sorvete de flocos. E toda a tristeza que ela vinha carregando dentro de si desapareceu enquanto brincava com Julius de guerra de neve, ou faziam um boneco, ou apenas sentava, sentido o quão frio estava.

Depois de uma semana de férias, quando tudo era horrivelmente silencioso naquele castelo, as coisas finalmente voltaram ao normal.

Harry estava em sua sala organizando o material que usaria na próxima aula, tinha muitas idéias para tornar as aulas cada vez mais interativas. Tudo estava dando certo para ele como professor, fora alguns alunos que perturbavam sua aula, percebera que já devia ter começado a lecionar a muito tempo. Ele ocupava a mente com o trabalho, para não pensar em suas dores. O Harry professor se sentia realizado, mas o Harry ser humano parecia estar minguando.

Hermione entrou calmamente na sala de Harry, recebeu um sorriso do amigo que estava um pouco ocupado carregando um grande aquário vazio.

-Estou atrapalhando?

-Que é isso Mione!- disse enquanto colocava o aquário num canto da sala – Senta aí – apontou o sofá perto da parede.

-Obrigada Harry!

-Você precisa de alguma coisa, Mione? – ele sorria gentilmente enquanto se sentava ao lado da amiga.

-Eu vim para conversar com você, Harry – colocou a mão sobre a dele – estou muito preocupada com você.

-Comigo? – Harry juntou as sobrancelhas em sinal de confusão.

-Com você, e com Alicia.- agora ele pareceu compreender.

-Eu não quero falar disso.

-Ah! Mas vai falar sim.

-Hermione, até você? – Harry levantou-se de súbito do sofá – Se vocês não perceberam, eu sou adulto. Eu sei o que faço. Todo mundo vem aqui e fala a mesma coisa. Eu não agüento mais!

-Você não tem o direito de esconder nada daquela menina, Harry – a voz calma de Hermione se contrastava com a de Harry, que a essa altura estava bastante exaltado.

-E você não tem o direito de vir aqui e dizer o que eu devo ou não fazer! – gritou ele.

-Não grita comigo. Eu pensei que você fosse o adulto aqui. Mas esta agindo igualzinho como quando era criança.

-E você esta sempre certa, né Mione? Quer saber? Eu estou cansado. Quem você pensa que é para dizer que estou errado?

-Pensei que eu fosse a sua amiga. Me preocupo com você. Mas parece que você não esta nem aí. – as feições de Harry aquietaram-se, ele voltou calmamente e se sentou de novo ao lado da amiga, pegou a mão dela e ficou olhando em seus olhos um longo tempo antes de abraçá-la.

-Desculpa! Me perdoa por favor? Estou muito nervoso. Desculpa Mione.

-Harry vai ser mais fácil contar agora. Talvez ela aceite melhor. Você é o ídolo dela.

-Ela é muito nova. Minha maior angústia é quanto à segurança dela.

-Todos nós podemos protegê-la Harry. O que me preocupa é que quanto mais você demorar para contar, mas ela vai se sentir traída. Você mesmo já disse outro dia, que ela não está mais falando contigo, porque sabe que você esconde algo dela. Quanto mais tarde, pior vai ser.

-Talvez você tenha razão. Mas como eu vou contar tudo?

-Se você quiser, eu te ajudo.

Finalmente a coruja de Derick indicando data e local onde ele e Ciça deveriam se encontrar, para ele contar sobre o que descobriu de Seheisse, chegou. Depois de quase cinco meses de espera, Ciça poderia por seu plano em ação. Até agora ela não havia conseguido mais nenhuma informação. Continuava brigada com Harry, mas agora pelo menos dirigia a palavra a ele de forma educada.

Tudo estava seguindo seu curso muito bem. As aulas estavam cada vez mais puxadas, os exames seriam no final de maio, isso significava dali a pouco mais de um mês. Ciça nem acreditava que o tempo tinha passado tão rápido e tão devagar ao mesmo tempo. Enquanto estava nas aulas, ou conversando com seus amigos o tempo voava, mas quando pensava sobre o que estavam escondendo dela, e a demora da resposta de Derick, o tempo passava extremamente devagar.

Eles se encontraram no mesmo lugar de sempre, perto da cabana do senhor Simpson. Derick relatou o que tinha descoberto, que não era muita coisa, na verdade era um fato específico. Mas para Ciça esse fato era o suficiente. Agora era só junto com Julius e Chris armar um plano para encurralar Victor Seheisse.

Como os exames estavam próximos e eles precisavam estudar muito, Julius conseguiu convencer Ciça que era melhor pensar em um plano depois das provas, muito a contra gosto a menina aceitou.

Demorou cerca de dois dias para os amigos armarem um plano. Ficou combinado que Julius, que já conhecia Victor a um bom tempo, chamaria-o com a desculpa que seu pai tinha um recado para o garoto, e o levaria até uma sala inutilizada no segundo andar, onde Ciça os estaria esperando. Assim que chegassem, Julius deveria tossir para anunciar sua presença, correr e fechar a porta por fora. Ciça estaria preparada com a varinha em punho. Enquanto isso Chris vigiava a extensão do corredor próximo à sala. E assim aconteceu.

-Diz tudo o que sabe sobre mim! Diz agora, e eu deixo você ir – apontando ameaçadoramente para o rosto do garoto.

-Você não é ninguém para me impedir garota.

-E se eu te dissesse que eu conheço o seu segredinho?

-Do que você esta falando?

-Não se faça de bobo. Nós dois sabemos do que eu estou falando.

-Você tá blefando!

-Tudo bem, se você quer assim. Eu sei muito bem que você dorme abraçado a um ursinho.

-Como você descobriu isso?

-Isso não vem ao caso. Agora se você não me disser tudo o que sabe sobre mim, eu espalho a sua história. E em dois tempos Hogwarts inteira vai saber que você de mal só tem cara. E que só dorme se tiver um ursinho do lado.

-Você não faria isso.

-Ah! Faria sim. Você não me conhece.

-Tudo bem, eu conto o que sei. Mas você tem que jurar que não vai contar a ninguém.

-Só depois que você me disser o que eu quero ouvir.

-Na verdade eu não sei muito sobre você. Só sei o que ouvi durante algumas reuniões de... – hesitou um momento – umas reuniões de uns amigos do meu pai. Ouvi dizer que você veio de família bruxa, que pelo menos seu pai era bruxo.

-Eu de família bruxa? Você sabe o nome desse pai?

-Abaixa essa varinha que eu digo.

-Fala!- com a varinha agora apontada para o meio da testa de Seheisse.

-O que esta acontecendo aqui? – Hermione tinha acabado de entrar na sala.

-Professora – Seheisse logo se adiantou – ela estava me ameaçando!

-Ameaçando? Senhorita Fogli, isso é verdade?

-Estávamos apenas conversando.

-Se estivéssemos conversando, você não precisaria estar com essa varinha apontada para mim.

-Os dois para sala do diretor agora, comigo!

Nenhum dos três falou nada até chegarem à sala do diretor. Ciça ficou um longo tempo admirando a sala, percebendo os detalhes, o que mais lhe chamou a atenção foi Fawkes a fênix de Dumbledore. Demorou até que o diretor chegasse. Ciça nunca tinha falado com ele antes, estava mais nervosa por isso do que pela possibilidade de ser expulsa por coagir um aluno.

-Sra. Hermione, o que te trás aqui com esses dois jovens? – Dumbledore já muito velhinho se sentou com dificuldade enquanto fazia a pergunta.

-Professor, estamos com um probleminha. Alicia Fogli foi pega ameaçando o senhor Seheisse.

-Ameaçando? Alicia minha querida, qual o motivo da ameaça? – o diretor olhava gentilmente para a menina.

-Eu, eu... – olhou nos olhos de Dumbledore, e juntou toda a coragem que tinha dentro de si. Se era para descobrir algo, talvez essa fosse a melhor hora – Olha, estão me escondendo alguma coisa muito importante sobre a minha vida. E eu acho que tenho direito de saber. Já que ninguém quis me contar, resolvi descobrir por conta própria. Tinha a suspeita que Seheisse sabia de algo, então resolvi perguntar a ele, e obrigá-lo a me contar. Foi isso!

-E você descobriu alguma coisa? – Dumbledore perguntou serenamente.

-Sim, ele me disse que eu tenho sangue bruxo. Meu pai é, ou era, um bruxo.

-Ele disse o nome do seu pai?- Hermione interrompeu.

-Ele ia dizer, quando a senhora chegou.- Ciça olhou bem em volta – Vocês sabem de alguma coisa não é?

-Eu sempre achei que deveríamos ter te contado antes. Talvez eu possa te contar a parte que me cabe, há alguns anos atrás... – Dumbledore foi interrompido por um Harry muito nervoso que entrava na sala.

-A senhorita Mitchell me avisou que trouxeram a Ciça para cá. Acho melhor não contar nada assim, por favor, professor. – os olhos de Harry quase imploravam ao diretor.

-Harry, não atrapalha, ele vai me contar. Eu tenho o direito de saber! Alguém aqui nessa sala vai ter que falar alguma coisa!

-Que saco! – Seheisse no canto da sala bocejava falsamente – Se ninguém vai falar, eu falo. Seu pai é o professor Potter.

-Quê?

-Senhor Seheisse, por favor, se retire. – Dumbledore convidou gentilmente o garoto. E com um aceno da varinha abriu a porta para ele se retirasse. – Bom Harry, acho que hora de acabar com as mentiras. Conte tudo a ela. Vai ser melhor.

-Que brincadeira é essa? – Ciça estava muito nervosa.

-Não é brincadeira querida – Harry tentava juntar as melhores palavras para contar tudo para Ciça – seu nome é Cecília Potter, você é minha filha.

-Impossível! Eu vim do Brasil, você se lembra?

-Ciça deixa o Harry contar toda a história, sente-se. – Hermione encaminhava carinhosamente a garota até uma poltrona no canto da sala. A menina ficou calada todo o tempo.

-Toda aquela história que eu te contei, quando você estava na minha casa é verdade. Menos a parte que eu disse que eu nunca te encontrei.

"Procuramos por muito tempo, e a encontramos na Mansão Malfoy. Aliás, quem te encontrou foi Severo Snape, que se infiltrou na mansão e te descobriu dormindo em um dos quartos.

Tivemos que esconder você, a fúria de Malfoy e dos outros comensais seria enorme. Eu nunca quis me separar de você, mas para sua segurança achei melhor levá-la para o mais longe possível.

Escolhi o Brasil, as relações desse país com o exterior são as mais pacíficas possíveis. Resolvi que esse seria o lugar que você iria crescer, perto de um povo alegre e acolhedor.

O único problema era encontrar bons pais para educar e cuidar de você."

-Ciça – Hermione interrompeu – é muito importante que você compreenda que todos nós sempre quisemos o melhor para você. A idéia de criar seus pais foi minha.

-Ei! Espera, eu ouvi direito? Você disse criar? Como assim?

-O senhor e senhora Fogli não... – Harry ia completar mas Hermione o impediu.

-Eu explico. Existem alguns animais mágicos que tem como habilidade se transformar em pessoas. Os botos são desse tipo.

"Algumas pessoas contam histórias que outras pensam serem lendas. Mas na verdade, os botos se transformam em pessoas e podem circular livremente entre nós.

Eles ficam na forma humana apenas por algumas horas, e são encontrados com mais freqüência na região Norte do Brasil, mais especificamente no Amazonas. Esse foi um dos motivos da escolha desse determinado animal.

O boto macho é o mais reconhecido por trouxas, pois tem uma tendência a encantar moças para seduzí-las. As fêmeas contentam-se em apenas passear em terra firme."

-Tudo bem, mas o que isso tem haver comigo e minha família?

-Escolhemos um casal de botos, e um bruxo muito poderoso – acrescentou com um olhar significativo para Dumbledore – fez um feitiço pouco conhecido e raramente usado para transformar animais, nesse caso os botos, em seres humanos amorosos e íntegros.

"Alteramos a memória deles para que pensassem terem se casado há pouco tempo, e todo o resto como a infância e adolescência foi também implantado na memória. Criamos uma vida, uma história distinta para cada um.

Tudo estava perfeito, ninguém jamais desconfiou de nada. E só existe uma forma de desfazer o feitiço."

-Qual? – perguntou Ciça, ela estava tão assustada com tudo aquilo que sua voz não saiu mais do que um sussurro.

-No momento em que você ficasse sabendo o feitiço se daria por terminado. Acabou de acontecer. – quem respondeu foi Harry.

-O que vocês querem dizer? Meus pais não existem? – Harry consentiu com a cabeça, Ciça estava em prantos – Meus pais! Eu não tenho ninguém? Eu estou sozinha. – constatou para si mesma.

-Não Ciça, você tem a mim! – Harry aproximou-se e abraçou a menina – Eu sou seu pai.

-Não toca em mim! – Ciça se afastou de Harry e parou instantaneamente de chorar – Você não é meu pai.

-Ciça, nos só queremos o seu bem – interviu Hermione.

-Meu bem? Essa é ótima! – a menina estava histérica – Ninguém aqui gosta de mim! Vocês manipularam a minha vida! Tudo o que eu tenho é falso! Tudo o que eu sempre acreditei é mentira! E tudo por culpa de vocês! Eu detesto todos vocês!

Ciça saiu correndo da sala, Harry apressou-se até a porta, mas a garota já estava fora de vista.