Cap. 15 – Nem tudo é o que parece ser
Harry estava em seus aposentos, sentado olhando para o teto. Ficou assim por um bom tempo. Lembrava-se das palavras de Snape: "... se demorarem muito a fazerem o que ele quer... ele pode perder a cabeça, não sei o que ele pode fazer. Não seria a primeira vez que Draco Malfoy tiraria uma vida inocente".
Era inútil ficar sentado. Ele precisava buscar Ciça de qualquer maneira. Perdeu muito tempo ouvindo pessoas que não sabiam o que ele estava passando. Tinha que tirar a filha das mãos daquele Malfoy. Iria se entregar se fosse preciso.
Levantou decidido, foi até o banheiro lavou o rosto e se olhou no espelho. Reparou como havia envelhecido e lembrou-se de quando era adolescente, nada o teria feito ficar parado enquanto Ciça estava nas mãos de Malfoy. Lembrou-se também das besteiras que fez por ser tão impulsivo...
Saiu do banheiro e voltou ao sofá onde estava sentado. De olhos fechados lembrava que Ciça tinha dormido uma vez ali. Harry sentiu o seu lado direito do sofá afundar, como se alguém tivesse sentado ali. Abriu rapidamente os olhos e se deparou com os castanhos e doces olhos de Nathalie o olhando com carinho.
-Na...Nathalie...você...eu...como?
-Vim visitar você, meu amor.
oOoOo
Ciça entrou correndo pela porta e deparou-se com Draco Malfoy segurando nervosamente o punho. A menina olhou para o chão e pode perceber uma taça quebrada com um liquido vermelho que ela reconheceu ser vinho. Suspirou aliviada ao perceber que não havia acontecido nada de grave.
Draco olhou assustado ao perceber a presença da menina, ela devia estar trancada no quarto e não em seu escritório. Já ia ralhar com ela, quando Ciça pegou gentilmente seu punho e colocou as mãos em torno do ferimento. Ele percebeu que das mãos dela surgia um calor que logo se transformou em uma luz azulada. Um vento forte soprou de uma janela próxima levantando os cabelos de Ciça. A luz azulada foi crescendo e contornou os corpos de Ciça e Draco, em poucos segundos o ferimento estava cicatrizado, e o vento não mais passava de uma brisa suave.
Assim que soltou o punho de Draco, Ciça se sentiu meio tonta e cambaleou para o lado, mas conseguiu se apoiar a tempo segurando na mesa. Ela não sabia o que tinha acontecido, muito menos como fora capaz de curar o ferimento do senhor Malfoy.
Draco sabia exatamente do que se tratava. Ciça não era uma bruxinha qualquer, nunca foi. Essa menina tinha um poder especial, o poder da cura. Ele sabia disso, sempre soube. Por isso foi tirar a menina das mãos da mãe, mesmo que Potter passe a vida inteira pensando que o fato era apenas por uma vingança. Ele se lembrava da necessidade que tinha de usar a menina...
Sua mãe, Narcisa, sofria de uma doença trouxa. Ela possuía um vírus incurável e pegou essa doença graças a Lúcio Malfoy e suas noites de orgias. Mas ela vivia bem, pois por meio de um feitiço feito pelo próprio Lorde das Trevas, enquanto Lúcio estivesse saudável Narcisa também estaria. Sua mãe era uma pessoa muito boa, mesmo que ninguém percebesse isso tão bem como Draco.
Ele balançou a cabeça como se pudesse espantar as lembranças para bem longe de si. Olhou para Ciça que estava sentada em uma poltrona, parecendo bastante fraca.
-Vamos, vou levá-la ao seu quarto.
oOoOo
Harry não estava conseguindo assimilar a idéia de que Nathalie estava ali sentada ao seu lado. Aquilo era uma loucura, Nathalie estava morta há mais de dez anos.
-Não é possível. Você, bem... a Nathalie mor...
-Eu sei. Sei que morri. Mas recebi permissão para vir aqui. Aliás fui quase intimada a comparecer na Terra, para evitar que você faça uma besteira.
-Então você é um fantasma?
-Não, – ela deu um sorriso sincero, Harry sentia tanta saudade daquele sorriso... – não sou fantasma. Olhe, – estendeu o braço para ele – pode tocar. Não tenho carne, mas tenho matéria. Não sou como um poltergaist, nunca seria um espírito do caos, você me conhece. Mas como minha missão é ajudar você, eles me mandaram aqui para baixo. E como nunca fui fantasma, me deram matéria. Não é demais? – ela sorriu de novo – Mas eu suspeito que foi para que se fosse necessário, eu pudesse segurar você.
-Nathalie, eu sinto tanta a sua falta meu amor – ele a olhava como se visse um anjo.
Ela se levantou e foi andando até a mesa, onde se sentou, balançando as pernas no ar. Harry a olhou e sorriu ao lembrar que ela sempre fazia isso.
-Também sinto sua falta, mas infelizmente não vim aqui para recordar o nosso amor. Estou aqui para saber o que você pretende fazer em relação à Cecília.
-Estava indo agora mesmo me oferecer no lugar dela.
-Então, ainda bem que eu cheguei a tempo. Harry venha aqui. – ele andou até ela, Nathalie pegou as duas mãos dele e entrelaçou nas suas – Me prometa que não vai buscar Cecília.
-Ãnh? O que andam te dando lá no céu? É claro que vou atrás da minha filha.
-Harry Potter – ela respirou fundo – você se lembra bem do que aconteceu da última vez que você não fez o que eu disse? Não me responda. Não banque o valente Harry, isso não vai adiantar em nada. Se você for até lá só vai causar problemas a si mesmo. Eu preciso de você bem para cuidar da minha filha. Confie em mim, vai dar tudo certo.
-Não posso deixar minha filha lá com aquele monstro.
-Acalme-se, querido, no fundo Draco é uma boa pessoa.
-Draco? Você o chama de Draco? Nathalie, ELE te matou!
-Até onde eu sei, quem morreu fui eu. E me lembro muito bem. Mas eu o perdoei, não é certo guardar esses rancores, ainda mais depois que a gente morre. Preste a atenção em mim, existe um motivo para que Cecília permaneça onde está. E você vai deixá-la lá.
-Nunca.
-Você não confia em mim Harry? Acha que eu te pediria para manter nossa filha em perigo?
-Claro que eu confio em você, sei que não faria mal a Ciça. Mas não posso deixá-la com Malfoy.
-Não peço que você encerre as investigações, mas deixe que o ministério cuide disso. Por favor, Harry.
-Não posso.
-Por mim, Harry, faça isso por mim, não me deixe voltar para lá sem uma resposta positiva sua. Harry, eu morri... – nesse momento Harry e Nathalie estavam chorando, ainda de mãos dadas – eu morri, Harry, e voltei aqui só para pedir isso para você. Tudo vai dar certo.
-Não sei se posso...
-Por favor, meu amor... Por favor – ela o olhou dentro dos olhos, suplicando para que ele atendesse seu pedido – dessa vez faz o que estou te pedindo Harry...
-Tudo bem Nathalie, uma semana. Não me mexerei por uma semana. Mas se Ciça não estiver de volta, entro naquela mansão e a tiro de lá a força.
-Obrigada, meu amor.
Ela o abraçou forte, e Harry tocava aquele corpo que tanto sentia falta. Nathalie estava exatamente igual a como se lembrava. Linda, sorridente, sincera. Ela afrouxou o abraço, o olhou nos olhos e sorriu. Ele parecia um bobo olhando para ela. Nathalie chegou sua cabeça perto da dele e encostou suas bochechas, depois lentamente seus lábios rumaram em direção aos dele. Beijaram-se docemente, as lágrimas brotavam dos olhos dos dois. Quando o beijo cessou, Harry abriu os olhos e ela não estava mais lá.
oOoOo
Ciça levantou com dificuldade, mas dados cinco passos quase caiu de novo. Dessa vez Draco a amparou, e resolveu que o melhor seria carregá-la no colo. Ela era pequena e bastante leve, não demorou muito para que ele a colocasse de volta a cama.
-Você não deveria ter saído daqui – ele a cobriu com um lençol verde, e passou a mão na cabeça da menina, quase de forma paternal.
-Não resisti. Symon deixou a porta aberta – Ciça deu um sorrisinho maroto.
Naquele momento a menina não se sentia ameaçada por Draco Malfoy. Ele a estava fazendo lembrar do pai. Do jeito que estava tratando-a parecia até se preocupar com ela. "Mas é claro né Ciça! Ele precisa de você viva, para te trocar pelo Potter"- mas a menina não concordava com sua consciência, existia algo a mais.
-Ok, tente dormir um pouco. Você se esforçou muito.
-Sr. Malfoy, posso lhe fazer uma pergunta?
-Com tanto que seja rápida, pode.
-O que foi aquilo? Eu curei seu punho? Fui mesmo eu? Como fiz?
-Você disse que era só uma pergunta. Você tem um dom. Nasceu com ele, mas precisa trabalhá-lo. Não estava preparada para usá-lo, e se eu fosse você não tentaria de novo. Você pode acabar usando energia demais e morrer.
-Por que não me disseram nada?
-Te falaram sobre sua origem? – ela acenou negativamente com a cabeça – Então não teriam como te explicar isso, provavelmente iam fingir descobrir com o tempo.
-Entendi.
-Agora durma, vou ficar aqui para garantir que você não saia passeando sozinha de novo.
Ciça ajeitou a cabeça no travesseiro e não demorou muito para dormir, estava exausta, havia perdido muita energia.
Draco observava aquela menina loirinha e tão pequena. Ela havia crescido muito desde que a tinha visto pela última vez, quando a entregou ao Snape para devolvê-la ao pai.
Ele se sentia um fracassado não conseguira salvar a mãe e arruinou a vida de uma criança. Agora olhando para ela dormindo serena, Draco lembrava-se de todo o passado que o ligava aquela garotinha.
Draco sempre tivera um ódio enorme por Harry, mas hoje sua mágoa era muito maior. Pois graças a Harry sua mãe falecera. Ela estaria bem se Lúcio também estivesse, mas Potter o trancafiou em Azkaban, onde definhou e morreu, levando junto a pobre Narcisa que o maior erro que cometera na vida fora amar o homem errado, amar alguém que nunca em toda sua existência descobriu o significado da palavra amor.
Draco também não conhecia o amor. Seu pai nunca o deixou ficar muito perto da mãe. Tinha receio que o garoto acabasse ficando frouxo. Lúcio criou Draco para ser um grande e temível Comensal da Morte. Existia todo um planejamento para a vida de Draco, onde ele continuaria rico e teria mais poder do que qualquer outra pessoa já teria imaginado. Seria o sucessor de Lúcio Malfoy. O novo braço direito do Lorde das Trevas.
O menino cresceu aceitando as idéias do pai como realidades absolutas e incontestáveis. Draco seria grande e ficaria feliz em fazer o pai se orgulhar dele. Talvez assim um dia recebesse um sorriso sincero do pai. Mas o sorriso nunca veio.
Quando Narcisa ficou doente, Draco já era, há muito, comensal da Morte. Foi só nesse período que ele pode conhecer melhor a mãe. Conhecer a doçura de uma mulher que para ele nunca foi mais que um enfeite. E conheceu também a outra face de Lúcio Malfoy. A face da hipocrisia.
Lúcio pregava uma raça limpa, pura, mas durante os atentados a trouxas, invadia as casas e estuprava as mulheres. Freqüentava bordéis, se misturava com aqueles de quem dizia sentir nojo. E o Sr. Sangue Puro, infectou seu sangue com um vírus imundo. Passou a ser o pior sangue-ruim que Draco já conhecera. E além de sujar-se, Lúcio destruiu a vida de Narcisa.
Durante a doença da mãe, o coração duro de Draco se esforçava para descobrir o amor em sua forma mais pura, amor de mãe e filho. Mas o ódio também era alimentado cada dia mais. Odiava Lúcio com todas as forças, e convenceu o Lorde a deixar sobre os ombros de seu pai a responsabilidade da vida de Narcisa, para que morressem juntos.
A doença quase não se manifestava, Draco estava tranquilo. Porém, Potter prendeu Lúcio, e sua mãe começou a sentir a vida fugir de seu corpo. Não havia maneira de salvar Narcisa, a não ser que...
Na época, Draco se lembrava bem que uma vez tinha ouvido em uma roda de bruxos do Ministério, que Potter tivera uma filha com uma trouxa, e que a menina parecia ser especial. Ela tinha o dom da cura. O único jeito de salvar a vida de sua mãe era capturando a menina do Potter. Ele estava tirando seu bem mais precioso quando prendeu Lúcio, então Draco achou justo tirar-lhe algo, e seria para salvar sua mãe.
Foi tudo muito bem organizado. Fazia tempo que Draco não agia mais como Comensal. O Lorde estava morto e sua mãe precisava dele, não perdia o tempo por uma luta perdida. Mas ainda tinha alguns contatos, e foi direto a duas pessoas que não hesitariam em ajudá-lo: Crabbe e Goyle, eles serviram para o serviço sujo. Draco tirou Potter do caminho, e invadiu a casa dele em busca da pequena Cecília. Só uma coisa deu errado: os dois brutamontes exageraram na dose e acabaram matando a mulher trouxa do Potter.
Com a menina nas mãos Draco a levou para a mansão. Preparou todo o ritual, colocou a menina sentada no centro de uma roda feita de ramos de cerejeira. Trouxe a mãe muito debilitada e a deixou sentada de frente para a garotinha. Narcisa questionou aquela situação. Mas Draco sabia que essa era a única maneira de salvar a vida da mãe.
Começou a proferir as palavras do feitiço, onde a pequena Cecília, com sua áurea azul, limparia o sangue de Narcisa. Mas provavelmente o esforço seria grande demais para a menina, que acabaria morrendo.
Draco não queria mais se lembrar de tudo aquilo. Olhou para Ciça que estava dormindo, e viu um sorriso na face da menina, provavelmente estava tendo um sonho bom. Enquanto Draco revivia seu maior pesadelo: o de ter visto a mãe morrer e não ter feito nada. Não tivera coragem de usar a pequena menina. No momento exato, a pequena lhe sorriu. Um sorriso tão puro que Draco não ousou terminar a frase. Não mataria aquele ser inocente.
Narcisa olhou o filho e o chamou para mais perto, disse que ele tinha feito a coisa certa, beijou-o no rosto, e desfaleceu instantaneamente. Draco deitou a mãe no chão, pegou o bebê no colo e saiu dali.
Agora o bebê dormia tranqüilo. Só que já não era um bebê, era uma linda garotinha. Draco a tirou novamente do pai, mas dessa vez não queria de maneira alguma machucar a garota. Mas se vingaria de Harry Potter pela morte de Narcisa Malfoy.
N/A: Ai.. adoro esse cap!
Tataya Black
