Cap 16 – Nada é tão amável quanto pareceu nem tão frio quanto se pensou
Ciça acordou, abriu lentamente os olhos, a claridade era pouca. Estava cansada, pensou seriamente na possibilidade de voltar a dormir, mas ao invés disso ela sentou e recostou-se na cama, finalmente percebendo a bandeja que estava no criado mudo ao seu lado com algumas guloseimas...
-Bom dia! – Draco estava ali, mas, só agora ela percebera.
-Olá. Está aí há quanto tempo? – pergunta a menina ainda sonolenta.
-Cheguei agora mesmo, você não vai comer?
-Não estou muito disposta para comer... - Ciça olha desanimada para a bandeja e pega rapidamente um bolinho de chocolate.
-Durma mais, então...
-Acho que não... - dá uma primeira mordida no bolinho, e se delicia com o sabor do chocolate. Draco sorri ao ver que Ciça estava gostando do doce - Queria lhe perguntar uma coisa... - ela fala ainda com a boca cheia.
-Hm?
-O que quer com Harry?- colocando um dedo na boca afim de retirar o último vestígio de chocolate, ao perceber que Draco a esta observando ela tira o dedo da boca e continua a falar - Quero dizer, sei que vocês não se dão muito bem, e, você está comigo, para depois matá-lo, mas, não seria só por uma implicância. Por que matá-lo?
-Não quero falar sobre o seu pai agora – respondeu ele, meio atônito, sem saber como continuar.
-Não sei se o considero meu pai, e, não me importo com isso agora, mas, você irá matá-lo, não é?
-Pois ele é seu pai, e você devia se importar com isso. Hm, aconteceram muitas coisas, muito dolorosas a mim. Potter pode até ficar como herói de novo, mas isso não ficará barato, pagará pelo que fez.
-E o que ele fez?
-Me tirou a única chance de amar alguém.
-E a vingança, o Sr. considera uma forma de amor? – Draco não respondeu, e a menina continuou. – Pensava que nós quem escolhíamos se queremos amar ou não.
-Eu escolhi a vingança. Eu sou assim... Eu já havia escolhido ser assim, e, agora, não me cabe outro sentimento.
Ciça gostava de conversar com Draco, ele evitava tratá-la como criança, que, apesar de tudo, ela sabia que era. E uma coisa que ela não imaginava, acabou por descobrir, e então por gostar mais dele: Draco sabia o que era o amor e ainda o tinha. Só que reprimido pelo ódio, pela vingança, este não tinha espaço para se manifestar; e, parecia que com ela era diferente, parecia que quando ele estava ao lado de Ciça ficava tão puro quanto ela, quanto uma criança.
Draco via naquela menina a vida. Uma vida que ele se negou a tirar e que sua mãe Narcisa se recusou a receber. Ciça já estava na mansão Malfoy há três dias, e Draco não a mantinha mais presa no quarto. De vez em quando a menina passeava pela casa, mas era proibida de chegar perto da lareira. Por mais que Draco gostasse da pequena, ele sabia bem filha de quem ela era, e além do mais, precisava de Ciça ali para poder realizar sua vingança.
"E a vingança, o Sr. considera uma forma de amor?" – a voz de Ciça ecoava na mente de Draco.Matar Harry Potter se tornou um objetivo de vida para Draco. Destruir aquele que lhe havia destruído. Mas ao olhar Ciça sorrir enquanto comia um outro bolinho de chocolate ele pensava se era justo tirar a única família daquele ser tão puro.
"Está enganado... a última coisa que disse a ele foi que ele não era mais meu pai. Ele não tem mais essa obrigação, e deve estar com raiva de mim... Ele não virá, seu plano falhou..." – de novo a voz de Ciça, quando estava presa na árvore, na floresta proibida, ecoou na mente de Draco. Não. Seu plano não havia falhado, e agora ele compreendia isso - "Ele não é meu pai" - exatamente isso, Draco havia conseguido se vingar de Potter há mais de três dias e ainda não tinha percebido.
Tudo o que ele mais amava, o Potter que lhe havia tirado. Agora sem que Draco fizesse nada, o próprio Potter perdera exatamente a coisa mais preciosa que tinha: a admiração da filha.
De uma maneira incrível Draco se sentia vingado, mas não se sentia feliz. Anos e anos esperando para ver a ruína de alguém, e quando finalmente ele conseguiu, aquilo não o satisfazia.
-No que está pensando? – Ciça o estava observando há alguns minutos e percebeu como Draco parecia envolto em seus pensamentos.
-Na vida. Na minha vida.
-Ás vezes eu penso que devemos desesperadamente tentar ser feliz.
-Como assim?
-Só cabe a você a sua felicidade. Nós passamos muito tempo culpando os outros pelos nossos erros e pelas nossas tristezas. Eu estava pensando isso agora.
-E você não culpa o seu pai pelo o que está sentindo agora?
-É exatamente por isso que eu estava pensando. Eu só tenho onze anos, hoje eu posso te dizer que toda a minha vida caiu na minha cabeça, mas eu só tenho onze anos. Eu posso melhorar o meu futuro, acredito nisso. Não é porque hoje eu não estou feliz que amanhã eu não poderei ser.
-Você tem toda uma vida pela frente... Compreendo o que você quer dizer.
-E mesmo que eu não tivesse toda ela. Acho que correria atrás da minha felicidade até o último momento. Se não houver esperança, acho que a vida não tem sentido.
-Você é uma garota inteligente. – Ciça sorriu meio envergonhada.
-Eu diria sonhadora. Mesmo triste eu sonho no dia que encontrarei a felicidade.
-Seu pai é um cara de muita sorte. Mesmo fazendo tudo errado ele tem você.
-Ah, – Ciça estava ficando vermelha, ela olhou bem nos olhos de Draco e sorriu, ele retribuiu o sorriso – O Sr. quer ser meu amigo? – ela estendeu a mão para ele.
-Amigo?
-É.
-Então para começar pare de me chamar de senhor. Sou Draco, apenas Draco. - Draco sorriu e pegou a mão da menina.
A partir daquele momento eles se tornaram amigos. E com aquela menina Draco ganhou uma nova oportunidade de conhecer o amor. Um amor puro, quase paterno. Aos poucos Ciça foi ganhando um espaço no coração fechado e amargurado de Draco.
Ciça também aprendia a gostar mais de Draco. Quando ela descobriu a verdade sobre seus pais sentiu um vazio imenso no peito, e agora Draco estava preenchendo esse vazio. Ela havia ganhado um grande presente: mais um amigo; só que esse amigo parecia mais especial. Era com quem ela estava aprendendo e ensinando a viver.
oOoOo
As atividades no castelo estavam seguindo normalmente. Os alunos do primeiro ano da Grifinória estavam nas masmorras para mais uma aula de poções. Chris e Julius estavam dividindo uma mesa, hoje o professor Snape estava ensinando uma poção com efeito curativo. Todos prestavam muita atenção nos direcionamentos do professor. Mesmo que os exames já tivessem passado, aquela realmente não era uma aula em que se podia se dar ao luxo de não prestar a devida atenção.
Snape caminhava lentamente em torno aos alunos enquanto falava. Autorizou que se iniciasse o preparo da poção, e foi calmamente se sentar em sua cadeira no inicio da sala.
Julius pegou seu material e começou a separar o necessário para a poção, Chris fez o mesmo. O menino sabia que o pai, ou melhor, o professor, como ele gostava de ser chamado no castelo, estava tocado com o desaparecimento de Ciça, porque mesmo que os exames já tivessem sido feitos, nunca Severo Snape daria uma revisão tão fácil aos alunos da Grifinória e muito menos passaria meia hora de aula sem descontar ao menos um ponto.
O menino sentia seu pai mais humano, como era com ele quando era pequeno, quando eles brincavam juntos, quando Julius via sorrisos sinceros todos os dias no rosto de seu pai. Mas desde que sua mãe viera trabalhar em Hogwarts as coisas mudaram. E isso deixava o menino muito triste.
-Desça do mundo da lua, Sr. Julius Snape. – a cabeça de Julius variava do presente para o passado, e nem ao menos percebeu que o pai estava ali.
-Ah sim! Perdão, professor.
-Menos cinco pontos para a Grifinória pela falta de atenção. – Julius sorriu discretamente, "é, tem coisas que não mudam nunca" pensou o menino – Não ria à toa. Depois do almoço quero ter uma conversa com o senhor.
oOoOo
Rony saíra do treino com os alunos do 3º ano. Estava exausto, queria ir tomar um banho, descansar, para depois ir almoçar... Estava no corredor do segundo andar, quando alguém o chamou.
-Ronald Weasley, querido professor... – era pirraça, trazendo um balde nas mãos.
-Sai, Pirraça, hoje não estou para brincadeiras...
-Sua namorada está lhe chamando, tem certeza que não está para brincadeiras? – enquanto Rony olhava pros lados, Pirraça jogou o balde com água gelada em cima de Rony.
-Pirraça, já não falei pra você... Rony? – era Hermione, que vinha apressada, enquanto Pirraça passava por Rony e depois pela professora, fazendo-os estremecer, então foi embora, rindo-se.
-Olá... Pirraça falou que você me chamava, queria algo? – Rony perguntava, enquanto passava a mão pelos cabelos, a fim de tirar um pouco d'água.
-Eu não lhe chamei.
-Ok, - Rony continuava seu caminho, agora estava com frio.
-Não, espere.
-Quê?
-Não lhe chamei, mas, queria falar com você. – Ela olhou ao redor e indicou uma sala vazia, ali do lado.
-Que foi, Hermione?
-Bem – A professora fechava a porta da sala. – Compreendi que o que vivemos já se foi, era só um amor infantil, e, queria que você soubesse disso.
-Que bom, Hermione, assim você pode parar de me evitar. – Ela olhava para ele, como se não quisesse ouvir aquilo, com aquela frieza. – Você é legal.
-Não esperava ouvir isso de você. – Ela respirava fundo e mordia os lábios, embora não quisesse fazer isso.
-E o que esperava ouvir de mim? "Eu te amo, Hermione, menti isso a vida inteira, você me ignorou, mas eu te amo"? – ele dizia com frieza e ironia, o que a chocava profundamente.
-Não, fiz minha escolha, eu sou casada, não queria ouvir isso... Só queria que você se importasse o mínimo comigo. – Ela sem perceber, aproximava-se dele. Começaram a escorrer algumas lágrimas em sua maçã do rosto. Rony as limpou delicadamente com as costas de sua mão, e então a moça aproximou seu rosto do dele. A respiração dela estava rápida, mas ele permanecia frio.
-Não, Hermione.
-O último, - ela disse, sem se dar conta do absurdo.
-Não Hermione, você já disse, fez sua escolha. - ele afasta-se dela. E, quando ela se dá conta, leva um susto e também se afasta, quase chorando. - Não me procure mais. Prefiro ficar longe de você, se for para isto.
-Você não é quem eu pensava, fique longe, mesmo, por favor.
-O que quer é que eu fique aos seus pés, não é? Sempre quis. Agora vem me pedir um beijo. Eu fui seu namorado, Hermione, fui! Não sou mais! – Ele falava com uma frieza que ela pensava não existir nele.
-Rony, - ela estava em prantos. – Não fale mais comigo, se é isso o que pensa de mim. Você não me leva a sério... Depois não sabe por que casei com Severo...
-Para traí-lo, não é? Você é repugnante, Hermione. – O professor sai da sala friamente, e encosta a porta.
O que mais irritara Hermione não foram só as palavras, mas como foram ditas, Rony não expressava nada por ela agora, e, o pior, ela se importara com isso.
-Mas só até agora, Hermione, só até agora... – pensou em ela voz alta.
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O salão principal estava lotado, o almoço seguia tranqüilamente. Julius e Chris comiam quase sem vontade. O menino empurrou o prato na mesa olhando para a comida com um certo pesar. Da mesa dos professores Hermione olhou para o filho severamente e ele voltou a comer mesmo contra a vontade.
-Minha mãe está me obrigando a comer. – disse Julius cabisbaixo.
-Também estou sem fome, eu tenho sorte de minha mãe não estar aqui.
Chris empurrou o prato da mesma forma que Julius havia feito pouco tempo antes, e foi apenas olhar para a mesa dos professores que recebeu o mesmo olhar severo de Hermione, rapidamente puxou o prato para perto de si e deu uma garfada grande na comida.
-É, acho que sua sorte não é tão grande assim.
-Julius – Chris bebeu um gole de suco para ajudar a engolir a comida – o que será que seu pai quer com você?
-Não sei Chris, mas não vou demorar a descobrir, olha. – Snape vinha caminhando em direção a mesa da Grifinória, parou em frente aos meninos.
-Acho que você já terminou de almoçar, não é Julius?
-Sim senhor. – Julius olhava para baixo admirando como nunca o botão de sua camisa.
-Então venha comigo. – o garoto ia se levantando devagar – Rápido, menino.
A passos rápidos os dois caminhavam em direção as masmorras. O pai ia à frente com seu andar superior, Julius andava cabisbaixo pensando sobre o que seria a conversa com seu mestre de poções. Era estranho pensar assim de seu pai, mas só assim que lhe era permitido, pelo menos em Hogwarts.
Snape abriu a porta de sua sala para que Julius entrasse, o menino foi em direção à mesa do pai e se sentou em uma cadeira.
-Não, venha se sentar aqui, filho.
O menino olhou para o pai, que indicava um sofá no canto esquerdo da sala, onde já estava sentado. Julius caminhou lentamente e se sentou.
-Julius, eu não venho sendo justo com você. E eu só percebi isso quando vi o Potter chorando pela filha dele.
-Você diz que só os fracos choram...
-Eu estava errado Julius. Os que amam choram. E eu amo você meu filho, mesmo que não diga isso sempre... – Snape ficou um tempo em silêncio - Eu vi o desespero de um pai pela perda de um filho. Então percebi que mesmo você estando aqui, eu estou perdendo você. Eu criei uma atmosfera de medo entre nós dois. Quando você chegou a Hogwarts e ficou na Grifinória...
-Desculpe-me, a culpa não é minha, foi o chapéu ele...
-Não estou dizendo isso Julius. Quem te deve desculpas sou eu, meu filho, lhe disse coisas que jamais poderia ter dito, coisas que não são verdade. Eu sou muito rude, é por isso que ainda vou acabar perdendo você e sua mãe. E se esse dia chegar, não sei o que será de mim. – a voz de Snape começava a embargar, então ele se calou por um tempo. Julius não sabia o que fazer, ou o que falar. – Eu... eu...
-Não precisa falar nada não, pai... vai ficar tudo bem... eu também amo o senhor.
oOoOo
A rotina na Mansão Malfoy era excessivamente calma para o gosto de Ciça, ela sentia muita falta da bagunça do castelo, das aulas, dos professores, dos amigos. Principalmente de Julius e Chris. Ela não sabia o que estava acontecendo com os amigos, se sentiam tanto sua falta quanto ela.
Ciça não gostava de sentir prisioneira naquela mansão. Ter Draco como amigo era ótimo, mas ela precisava se sentir livre de novo. E dessa vez livre para escrever a própria história.
Ela ainda não enxergava Harry como pai, e nem sabia se um dia conseguiria enxergar, seu coração estava machucado e triste em relação a ele. Mas Ciça era uma menina muito doce, e não conseguia sentir ódio por Harry, apenas uma grande mágoa.
A garota passava a maior parte do dia no quarto da mansão, via Draco com bastante freqüência, pois era ele quem a acordava e a colocava para dormir, e vinha conversar com ela quando estava em casa. Symon ela só via durante as refeições, que ela passou a fazer na sala de jantar depois do incidente do corte de Draco.
Fazia cinco dias que Ciça estava na Mansão Malfoy, a menina não agüentava mais ficar deitada no quarto, então resolveu descer até a biblioteca a fim de encontrar algo para ler. A porta do quarto agora ficava destrancada, ela caminhou pelo corredor, evitando o olhar dos quadros. Desceu as escadas e foi em direção à sala dos livros, adorava aquela biblioteca, ela só vira mais títulos em Hogwarts.
A menina caminhou até uns livros de feitiços simples que ela mesma havia deixado na mesa, e começou a folhear. Foi quando ouviu um barulho, parecia um berro de dor intensa. Ela não sabia se devia ou não sair para ver do que se tratava. O berro aumentava, a pessoa estava aflita e desesperada, parecia que alguém estava sendo horrivelmente torturado. Logo Ciça pensou em Draco. Será que os aurores do Ministério haviam descoberto que ela estava ali? Ela precisava salvar o Draco, dizer que ele não havia machucado-a.
Ela correu na direção do som, encontrou uma sala pequena e escura, tentou abrir a porta mas estava trancada.
-E agora? O que eu faço? Ah! Como eu sou burra!- ela procurou a varinha nas vestes, Draco a tinha devolvido, encontrando apontou para a porta - Alorromora.
A porta abriu e ela entrou, andando em posição de guarda, não sabia o que estava acontecendo. Não que ela sozinha pudesse fazer muita coisa, mas ela confiava em sua varinha, ela era especial, e às vezes parecia saber exatamente o que fazer.
Depois da porta havia um pequeno corredor escuro, Ciça andava devagar e os gritos ainda eram fortes, mas agora era possível ouvir uma voz ao fundo.
-Você tem que aprender a fazer as coisas direito! Se é só com castigo que você aprende, então: Cruccius.
Novamente a pessoa gritou. Havia mesmo alguém sendo torturado, mas não era Draco, Ciça sabia. Ela correu e no final do corredor tinha uma sala circular bastante iluminada, haviam duas pessoas na sala, uma caída no chão e outra com a varinha apontada.
-Draco! O que você tá fazendo?
Ele se assustou ao ouvir a voz da menina, ela olhava apavorada de Draco para Symon caído no chão. Sem esperar resposta a menina saiu correndo pelo corredor escuro.
N/A: É o Draco não é tão bonzinho assim né? Afinal ele é um Malfoy. Não xinguem a Mione, ela não é uma qualquer, mas sabe como é né? Seu grande amor ali na sua frente é difícil resistir. E o Snape finalmente resolveu ser um bom pai.
Bju Tataya Black
