A viagem havia sido um sucesso, com seus dias tranquilos e momentos de paz absoluta. Essa era a melhor definição para aquelas duas semanas que passaram juntos viajando por vários países e, simplesmente, aproveitando da companhia um do outro. Eram instantes em que podiam usufruir de pequenos detalhes que ainda os distanciavam das responsabilidades que teriam assim que retornassem.
Snape, assim que regressasse a Hogwarts para concluir os estudos, começaria o seu estágio supervisionado com Slughorn e, posteriormente, auxiliaria Flamel em novas pesquisas. Narcissa, por sua vez, trabalharia na Parfumerie Belles Sorcières. Novos desafios que os afastariam por longos meses... mas, por mais doloroso que pudesse parecer, era necessário para o crescimento profissional de ambos.
Retornando para Paris, nos primórdios de agosto, o jovem organizou toda a papelada para o registro da fórmula e preencheu as fichas que faltavam para que a sua admissão ocorresse de imediato. Porém, a saudade apertava dia após dias, fazendo com que a separação se transformasse em um árduo e constante sacrifício.
Ao se reencontrarem, na metade do mês, passaram horas ouvindo discos até decidirem sair de Caerleon. Poderiam ter seguido para Cardiff, como era o mais óbvio, ou seguido para Glasglow. Contudo, ir até Birmingham lhes trazia mais emoção... uma sensação emocionante de estar fazendo algo proibido às escondidas, os deixava excitados diante de tamanha aventura.
Cokeworth teria o seu menino Snape vagando novamente pelas suas ruas sujas. Decidido a marcar os seus passos pelas calçadas malcuidadas do Spinner`s End, andava olhando a todos de cabeça erguida. Sem temer nada e nem ninguém que estivesse ao seu redor, segurava firmemente a mão de Narcissa, atravessando às esquinas até chegar à casa velha e abandonada.
Se estava retornando ao inferno, abraçaria o demônio e não o decepcionaria jamais... principalmente, quando em seus pensamentos mais obscuros, a ideia de matar Tobias, já desse os seus primeiros sinais. Seria o seu maior presente e o seu único alívio, ainda mais, quando se certificara de que a casa seguira desabitada desde o dia em que partira com a sua mãe de lá.
- Você quer dar um passeio pelos pubs? – perguntou observando que a moça se empenhava em retirar toda a poeira que se ali se instalara.
- Adoraria – Narcissa respondeu, rapidamente, sacudindo mais uma vez a varinha no ar para finalizar o trabalho feito.
- Não havia motivos para fazer isso... nós voltaremos para Caerleon daqui a pouco. Todavia, eu quero agradecer – Snape deu um meio sorriso, colocando as mãos nos bolsos, se deixando levar por uma inexplicável timidez.
- Ora, não seja bobo! Não foi nada demais... peço que não conte a ninguém, mas eu me divirto fazendo essas coisas – falou tranquila o encarando.
Passeando por lojas e pubs, vagavam tranquilamente, debatendo se deveriam ou não dar prosseguimento à pequena incursão. Entretanto, observando que a claridade findava, Snape respirou fundo e encarou o céu... ainda se encontrava estressado por ter sido expulso de um dos estabelecimentos que foram. Ainda mais, pelo fato de que, estava apenas trocando beijos, um pouco mais entusiasmados do que o esperado, com Narcissa.
- Melhor voltarmos para casa – disse com a voz baixa, controlando a raiva que sentia por aquela afronta.
Certamente, se ela não estivesse ao seu lado, retornaria àquele pub e atacaria o homem sem pensar duas vezes. Não aceitava que um muggle o xingasse... aquilo era um desrespeito que ia muito além de todos os limites aceitáveis, na sua percepção. Foi perdido em tais conjecturações que, durante todo o trajeto de volta, decidiu se manter em silêncio. Narcissa não merecia a sua estupidez e não serviria de receptáculo para jogar a sua ira.
Ela, por sua vez, falava animadamente e comentava a respeito de assuntos amenos. Parecia ou fingia não se importar com o que sucedera. Na verdade, tudo não passava de uma tentativa de acalmá-lo, por ter conhecimento do quanto Snape podia ser intratável quando estava nervoso... efetivamente, também o era nos momentos em que estava calmo, sem sequer notar.
- Veja, Sevie... não acha aquilo interessante? – questionou apontando para um prédio que estava sendo reformado.
- Bastante – respondeu, rapidamente, não querendo contrariá-la ou ficar parecendo alguém demasiadamente tedioso.
- Claro... uma hora podemos ir até Londres. Creio que seria ótimo assistirmos algum filme ou espetáculo. O Royal National Theatre vi que estão em cartaz as peças State of Revolution e Bedroom Farce, do Robert Bolt e do Alan Ayckbourn, respectivamente. Os títulos me pareceram muito convenientes aos nossos objetivos – sorriu como uma expressão esperançosa.
Como Snape continuava silencioso, Narcissa optou por dar prosseguimento as suas ponderações. Pontuaria as suas ideias para esclarecer o que pretendia mais à frente.
- Eu adoraria morar em uma daquelas casas vitorianas do Tuffnel Park. Eu sei que me dirá que ali é um bairro onde moram muggles, contudo, eu as considero lindas! Especialmente, porque me parece uma área decente para criar bebês... seria divertido levar as crianças para brincar no Hampstead Heath ou no Hyde Park – respirou profundamente reflexiva quanto ao que acabara de argumentar.
- Eu detestaria ter um bebê ruivo... imagina ter uma criança que se assemelhe aos levantadores de peso soviéticos ou, ainda pior, uma perdida de tragédia francesa?! Em outras palavras, odiaria ter o incômodo constante de ver, diariamente, uma réplica de Weasley e suas expressões vazias. Decididamente, não pretendo ter filhos tolos – comentou sem obter, novamente, qualquer contestação.
De qualquer modo, seria impossível de obter uma resposta, quando Snape parara de prestar atenção no que lhe era falado já na primeira pergunta. Sua mente se localizava em algum ambiente muito distante e sombrio. Tão obscuro que seria complicado perceber todo o restante que se mantinha à sua volta. Ainda desatento ao que Narcissa lhe falava, retrucou preocupado e com a voz um pouco desanimada.
- Seria excelente... contudo, você terá de parar com isso. Uma hora os seus pais podem descobrir o que vem fazendo e prender você na casa deles. Nós não vamos mais conseguir qualquer contato – comentou meditando um pouco e tentando assimilar se ela havia comentado outra coisa.
A curiosidade e o entusiasmo que Narcissa apresentava, por vezes, o assustavam. Especialmente, quando ela se mostrava tão convicta e assertiva em suas argumentações. Eram sentimentos e gestos tão palpáveis que conseguiam arrancar pequenos sorriso de seu rosto sempre fechado e carrancudo.
- Se eles tentarem, eu fujo para sempre... não ousariam me perder. Sou uma joia rara entre os Black, como meu pai expôs para o tio Orion – afirmou confiante.
- Cissy... – murmurou em discordância ao assimilar que, para Cygnus e Druella, a filha não passava de uma moeda de troca.
Mesmo que os seus ouvidos parecessem cobertos pelas suas ponderações distantes e confusas ou por seu coração, que ficava cada vez mais apertado, nunca deixaria que se sentisse preterida ou rejeitada. Ela era muito mais do que isso... e, sem articular qualquer coisa, simplesmente a abraçou forte. A beijando, no meio da calçada irregular, próxima à praça já deserta.
- Você é um bobo! Sabe que não precisa disso para me convencer do contrário... – sussurrou com a voz mais quente, piscando os olhos algumas vezes.
Naquele momento, buscava compreender o que levara Snape a um rompante como aquele. Ainda mais, quando se tratava de demonstrações públicas de afeto. De fato, em instante algum, se mostrara como uma pessoa carinhosa ou dada a arrebatamentos sentimentais ou românticos, como aquele que apresentara.
- Se está sorrindo, eu fiz bem... – falou, um pouco arrogante, dando de ombros.
- Você não passa de um maldito convencido! Eu o odeio muito – riu dando um tapa no braço dele.
Estava desconfiada das suas atitudes. Em nenhuma hipótese cogitaria que, um dia, receberia manifestação de carinho como a que acabara de suceder... mesmo que ele tivesse sido sempre muito gentil e lhe desse alguns indícios de estima, principalmente depois de Roma, ainda sentia que algo estava errado. Sentia que era fundamental descobrir que do que se tratava para que pudesse ajudá-lo.
Desse modo, à vista do novo silêncio estabelecido, perseverou na sua decisão de questioná-lo. Diante desse incômodo, Narcissa, quebrou toda aquela serenidade e reticência. Mesmo que as palavras dele a machucassem profundamente, não desistiria de questionar o que tanto lhe afligia.
- Um galeão por seus pensamentos, Sevie... posso ser informada? Sobrou algum mísero mistério, entre os milhares existentes no seu universo, que possa ser compartilhado? Quem sabe eu lhe dou o socorro e, assim, você decifra esse enigma? Ou você já os revelou sozinho com a sua mente brilhante? – interrogou com várias questões que se impunham umas as outras, permanecendo com um sorriso agradável e decidido no rosto.
Olhando para as sombras profundas que cercavam os olhos escurecidos e nebulosos como ônix, ponderou se valia a pena prosseguir. No entanto, ao perceber que clareavam como duas obsidianas, enquanto a encarava, viu que as feições de Snape se suavizaram. Algo gritava em seu íntimo que, os pensamentos dele, eram desanimadores e macabros. Se estivesse livre de algumas correntes invisíveis, talvez, fosse feliz. Porém, com que palavras lhe afirmaria isso?
- Nada demais... somente constato que é você que está sempre comigo. Me apoia, me suporta e me dá conselhos, mesmo quando eu não os quero. Às vezes, presumo que, mesmo com o céu queimando e as estrelas caindo, você não irá se afastar. Isso é um verdadeiro e gigantesco problema, pois ninguém será capaz de assimilar o significado de sua fidelidade – respondeu com uma sinceridade esfíngica.
Em dúvida quanto ao que lhe era anunciado, Narcissa nada disse, permanecendo bastante reflexiva por minutos. Seguindo ao lado de Snape até entrarem na residência, seu raciocínio estava carregado por ambiguidades e incertezas. Sua única convicção, naquele momento, era a que ele estava, incontestavelmente, escondendo alguma coisa.
- É sério que você não me contará o que está acontecendo? Tem certeza disso, Sevie? Vamos, diga logo! Não seja soturno e me conte qual é o problema... – parou próxima a estante, cruzando os braços junto ao peito, ansiosa.
Deixando clara a sua perturbação com a obscuridade inatingível com a qual fora confrontada, bufou baixinho. Aquele era um dos instantes que mais detestava... Snape decidira se fechar e centrar todos os seus aborrecimentos sobre os próprios ombros, a excluindo de qualquer familiaridade. Sem querer compartilhar o que tanto lhe afligia, tornava tudo mais difícil e doloroso para ambos.
O que ele julgava, a olhando com o canto dos olhos, era que o seu outro eu deveria ter vivenciado o luto e seguido em frente... sem ter jogado um fardo tão pesado em suas costas. Existia muito por ser feito e parecia ter sido desperdiçado completamente a nova chance que lhe fora dada. Se não houvesse a magia de sangue, sua vida seria diferente. Seus sentimentos não seriam errados ou equivocados.
- Eu não quero machucar você, Cissy! Se quer tanto saber, esse é o meu maior infortúnio. É o que me perturba permanentemente... eu não posso fazer isso com você – revelou em meio à respiração pesada e pesarosa.
Não queria magoá-la com as suas adversidades e imperfeições. Acima de tudo, quando era ao lado dela que encontrava todo o carinho e cuidado, ao se achar perdido em dilemas e vícios cada vez mais complexos de serem resolvidos. Ela era a sua luz em meio à sua vida de completa escuridão.
A quietude retornou e os olhos de ambos se alcançaram, com um brilho intenso que reverberava de um ao outro, pelos sentimentos ainda mais aflorados. Era algo que ia além do pequeno efeito do álcool das cervejas roubadas, em um dos pubs visitados, se traduzindo pelos traços mais sutis da paixão não revelada. A proximidade era pólvora prestes a explodir... desassossegando os jovens corações ao acordar a natureza há tão pouco tempo descoberta que os interligava.
Lentamente, ficaram mais próximos, permitindo que os lábios se encontrassem. Sem que qualquer palavra precisasse ser dita, os gestos carinhosos e precisos, davam espaço aos ecos de suas respirações pesadas. Seus corações batiam fortes, desorientados, como tambores fora de ritmo.
Não era a primeira vez que trocavam carícias mais íntimas ou que se tocavam daquela maneira tão veemente. Porém, tudo se delineava para um contexto bastante diverso do rumo dado nas vezes anteriores... Snape segurava Narcissa, atenciosamente pelo queixo, a beijando calorosamente.
Entre um abraço mais apertado e uma troca mais ardorosa de afagos, caíram no sofá puído pelo abandono e o desgaste imposto pelos anos. Ofegantes e zonzos, fosse pela falta de ar ou pelo desejo crescente, se afastaram trocando olhares cheios de significados intraduzíveis.
Faltavam definições concretas, teorias lógicas e romances que abordassem, com exatidão, a imprescindibilidade do retorno das carícias. Gradativamente, as barreiras e empecilhos, que os circundavam, eram derrubados de um jeito tão repentino. Caindo um após o outro, os muros e as proibições que os inibiam de se entregarem ao que tanto almejavam... a cor do desejo se revelava, empurrando a sensatez às profundezas da mente.
- Narcissa... eu não posso. Eu me nego a fazer algo que você se arrependa depois – disse se distanciando.
Esbaforido e perdido nos próprios sentimentos, Snape estava disposto a renunciar a suas vontades e inclinações. Temia que, por conta da ânsia violenta que queimava nas profundezas de seu âmago, acabasse a machucando de alguma forma. Ainda mais, num ponto em que as suas fantasias mais vivas e impetuosas, envolvendo Narcissa, estava tão próxima de serem efetivadas.
A cobiçava para si, a desejando o tempo inteiro e sonhando como sua sede libidinosa seria saciada. Contudo, aquele não poderia ser o instante precioso em que o faria... pelo menos, era o que lutava para crer cegamente.
- Você não me quer, Severus? Eu... eu não sou suficientemente atraente para você? É isso? – questionou ofendida, arrumando a saia para se levantar e partir.
Com algumas lágrimas querendo sair de seus olhos, se ajeitava ao máximo, desamassando a roupa... sua revolta pela rejeição que acabara de sofrer, fazia com que a sua magia vibrasse pujante e ardente. Percebendo o que sucedera e sentindo o trepidar rigoroso que se expandia pelo ambiente, Snape se ergueu e tentou abraçá-la novamente. Era uma tentativa vã para que se acalmasse, que apenas serviu para que Narcissa ficasse ainda mais abatida. Entretanto, o resultado fora um empurrão para que se separasse dela.
Sem notar, aquela negativa recebida, havia lhe despertado os seus traumas de infância. Sempre comparada com as duas irmãs, era tida como a mais fraca, a menos apta para adquirir ou conquistar o que quer que fosse. Sequer era vista como digna de escolher com quem gostaria de se casar... seu compromisso com Lucius não envolvia sentimentos. Continuava sendo um acordo absurdo para renovar laços entre as famílias e uma jogada financeira.
A atitude de Snape, somente comprovava que era inferior às outras e digna de pena... nunca seria amada como deveria, tampouco, um homem se aproximaria se não fosse por compaixão. Tais pensamentos, lhe deixaram com um nó na garganta, uma vontade imensa de gritar e se retirar dali para nunca mais voltar.
- Não, Cissy... o que nos verdes campos de Salazar a faz ter essas ideias tão absurdas? Não seja obtusa e teimosa, mulher! Eu só disse que não quero forçá-la a nada – argumentou a puxando para si.
A apertando entre os braços, o mais forte que pode, tomou alguns pequenos socos no peito. Derramando algumas lágrimas de raiva, aos poucos, ela foi se tranquilizando e se sentindo segura. Era um abraço que sempre a deixava confortável e em paz...
Snape estava assustado. Não conseguia sequer imaginar a possibilidade de que Narcissa pudesse se sentir coagida para que cedesse aos desejos alheios. Ou, pior, aos seus desígnios naquele momento. Esperava que ela fizesse apenas o que fosse de sua própria vontade.
- Eu não estou sendo forçada a nada. É o que eu quero agora! Eu desejo que você continue me tocando, assim como, eu espero o acariciar muitas vezes – sussurrou afirmativamente, com o rosto encostado no ombro dele.
Encostando os lábios nos de Snape e o apertando, como se a sua vida dependesse da permanência nos seus braços, por um tempo indefinido. Não o largaria até que comprovasse o quanto estava sendo sincera em suas declarações... da sua total convicção a respeito da sua própria libido.
- Ora, se você soubesse o que eu fantasio, jamais diria que eu não a considero atrativa aos meus olhos... só que não será desse modo. Você bebeu, não está no seu juízo perfeito e eu não estou aberto a esse tipo de discussão – asseverou impondo a sua opinião.
Determinado a não abrir precedentes para sucumbir às vontades e ao calor que emanava do corpo de Narcissa. Ela ficou calada, a contragosto, com o rosto novamente encostado em seu peito.
- Eu sinto muito medo, normalmente... só que ele some quando eu estou com você. Ao seu lado, eu sou mais corajosa que o normal, sabe? Aliás, eu não estou bêbada e tenho total consciência do que eu pretendo fazer nesse exato instante – murmurou com as frases sendo abafadas pela proximidade de sua boca e o tecido da camisa.
Subindo aos poucos, se encheu de determinação e o beijou mais uma vez. Suas mãos suavam frio, na expectativa do que sucederia ali, convicta de que, a partir daquele momento, tudo viria com mais intensidade e luxúria do que se desenrolara anteriormente.
- Tem certeza mesmo? Absoluta? – seus nervos, músculos, fibras e células incendiavam a cada ideia que cortava a sua imaginação.
Percepções que se chocavam furiosamente, no debate interno e profundo, sobre como proporcionar a ela toda a gentileza merecida. Narcissa deveria se sentir respeitada e cortejada o tempo inteiro... o que o deixava mais nervoso, à medida que, a angústia de fazer o necessário se reclinava à dominação de seus instintos.
Os seus impulsos e intentos sempre selvagens, possivelmente, acabariam por ofendê-la de alguma maneira. Teria de evitar a todo o custo que os seus costumes se apresentassem demasiadamente primitivos ou sádicos, em um átimo em que só o afeto teria de ser entregue.
Ao mesmo tempo, as suas dúvidas evidenciavam o claro distanciamento entre a teoria e a prática. Atinava o que deveria fazer, entretanto, se via incapaz de realizar algo que jamais consumara.
- Muita... eu estou segura do que eu quero – revelou o atiçando ao morder o lóbulo de sua orelha.
- Você é a minha flor de Narciso. A mulher mais bonita que existe no mundo inteiro. Não esqueça disso... jamais – desabafou com um ar sôfrego.
O mar de chamas que rompeu o seu corpo o fez agarrá-la com firmeza pela cintura. Não havia mais escapatória... no exato momento em que a colocou em seu colo, a beijando febrilmente.
Ao fundo, o rádio tocava Love is a drug da Roxy Music, como se quisesse guiar o agitar de pernas, braços e quadris. Demorados, calmos, vagarosos... experimentando o contato e a proximidade, até então desconhecida e nova.
Uma batalha acontecia em seu interior, enquanto em que lambia, lentamente, o pescoço de Narcissa e a ouvia gemer baixinho. O acariciando, passando os dedos por entre os seus cabelos lisos, ela o obrigava a subir o rosto para que as suas bocas voltassem a se encontrar.
Suas línguas famintas se acarinhavam, envolvendo, circulando a ponto de levá-los a perderem à cabeça. Roçando o freio dos lábios, a deixando completamente afogueada... entorpecida com o estranho ar de romantismo não dito.
Snape se perdeu na sua profunda exploração do corpo feminino, a colocando de pé, contra a parede próxima à escada... sincronicamente, as mãos se buscavam, gravitando na procura de botões, zíperes e laços. Se convertendo em um rastro de roupas e de sapatos jogados pelos degraus até chegarem ao andar superior.
Era incandescente, descomedido e forte. Sua intenção era a de deixá-la completamente nua... de tornar Narcissa sua e de mais ninguém, a partir daquele dia. Atingindo o seu objetivo com êxito, se dedicaria a admirar cada um dos contornos, delicadamente, curvilíneos sem pressa.
Contemplativamente, a tocou com a ponta dos dedos, a deitando na cama. Admirando os fios dourados se esparramando pelo lençol, Snape ficou a admirando em silêncio. A achava linda... o jeito como se movia, era sensualmente revelador, quando mansamente era beijada. Aos poucos, os olhos dela se abriram e o encaravam. Os olhares fulgurantes e negros contrastavam com os cinzas e seus traços azulados, revelando uma dor inexplicável e entranhada.
Narcissa estava enfeitiçada e se entregava, completamente, àquele precipício que tanto queria chamar de seu. Era o momento... se aconchegando ao lado dela, Snape prosseguiu com a troca de beijos e abraços. Nada muito rápido ou voraz. Era um processo tranquilo, lento e gradual.
A acarinhando, ao tocar os ombros com os lábios, focava sem pressa nos milímetros revelados de pele que iam se dispondo ao toque. Colo, seios, barriga... não existia qualquer ponto abandonado ou ignorado ao seu tato raivoso e insinuante. Suas mãos eram calejadas e ásperas pelo trabalho que realizava, o deixando inseguro quanto ao fato de estar ou não a ferindo com a rusticidade.
Notando que Snape lutava para ser cauteloso em seus gestos, gentil em seus atos e delicado durante os toques, Narcissa sorriu encantada. Seriam um só e ele lhe devotava um cuidado absurdo. Ele nada dizia, se movimentando como um predador, enquanto lhe beijava os pés e a ponta dos dedos. Era como se estivesse, constantemente, lidando com a flor mais rara do deserto.
Ainda tentando disfarçar a sua aspereza, trilhava o caminho tortuoso da panturrilha aos joelhos, encostando com cautela. Parecia continuar temendo a possibilidade de lesionar a pele branca como porcelana se ousasse usar o mínimo de força... foi assim que se esqueceu de si mesmo. Envolto aos longos afagos, destinados aos ligamentos e aos músculos dos membros inferiores, se perdeu em seu desejo.
A energia harmônica de Narcissa, o agitar dos seus dedos delicados, enlaçava os seus cabelos pretos. Com certa firmeza, os puxava como se buscasse detê-lo, deixando claro que também não sabia com efeito como reagir. Snape, com um meio sorriso no rosto, subiu aos beijos à região das coxas. Distribuindo leves apertões, a fazia suspirar cada vez mais alto.
Respirando fundo o cheiro de jasmim com rosas, que exalava dela a cada movimento, baixou novamente a face a direcionando para a parte íntima. Roçando os lábios na calcinha, seu sangue fervilhava, como um mar de lava incandescente percorrendo as suas veias. Tanto, que se sentia vibrar, impulsionando a ter mais...
Encarando o rosto de Narcissa, atento a agitação de sua respiração, ficou maravilhado admirando como os seios subiam e desciam ao entrar o ar em seus pulmões. Descompassada e forte, nada mais era do que um dos muitos resultados da impetuosidade e o calor do contato... do quanto ansiavam por aqueles instantes de profundo entusiasmo.
Sem aviso ou justificativa aparente, a segurou pelas pernas, se erguendo e colocando os joelhos entre elas. Fazendo com que se separassem, inclinou o corpo para a frente, arqueando um pouco as costas, para aspirar o perfume novamente. Estava viciado e seduzido por aquele cheiro... precisava dar mais atenção aos pormenores de suas reações.
Cada linha daquele rosto se mostrava planejado para o enlouquecer por completo. Narcissa mal conhecia o poder que tinha ao ser tão doce, tão absurdamente diferente de outras meninas, com os seus olhos fechados e lábios entreabertos de expectativa.
Sua expressão de prazer e entorpecimento, inflamava ainda mais o ambiente já arrebatadoramente apaixonante. Ia muito além da temperatura externa o calor e o fogo que se estabelecia. A concupiscência se modificava, reduzindo todo o ardor em pequenas gotas de suor, transbordando a luxúria compartilhada.
Isso foi o agente fundamental para que Snape a beijasse com voracidade e urgência. Impulsionado pelo querer, deixou que seus corpos se tocassem levemente, enquanto mordia o lábio inferior de Narcissa. A provocava esticando a carne macia com os dentes, sentindo suas unhas curtas o arranharem.
Antes que a respiração falhasse e seus pensamentos fossem interrompidos, deixando a lógica de lado para dar vazão aos instintos, a prendeu pelos pulsos com uma das mãos. A deixando com os braços sobre a cabeça, apreciou as claras manifestações e olhares de curiosidade quanto ao que faria.
Com a mão livre, usou a ponta dos dedos para iniciar uma jornada de investigação e prazeres. Sensações indescritíveis pelos atributos que tanto lhe atiçavam. Inquieta, ela se mexeu roçando o quadril ao dele. Fazendo com que, involuntariamente, os sexos atritassem e as sensações fossem intensificadas.
Gemidos baixos e sussurros escapavam por parte de ambos... nada precisava ser dito. Narcissa o queria tanto que era difícil assimilar, os motivos que o faziam se negar a libertá-la. Descobriria com Snape quais eram as emoções e percepções, tantas vezes descritas a ela por Andromeda e Bellatrix com empolgação, quanto ao instante em que o amor fazia o corpo cantar.
Sem revelar o quanto a cobiçava e que o seu desejo apenas crescia a cada segundo, os olhos dele brilharam intensamente, estimulado pela chance de prolongar aquela tortura deliciosa. Não se tratava somente de sexo com a mais pura penetração e obtenção de diversão para si. Se pensasse assim, teria muitas mulheres à disposição para lhe satisfazer em troca de dinheiro. Contudo, com Narcissa, era diferente. Talvez, sempre fosse ser assim...
Passando a língua pelo pescoço, mais uma vez, Snape fez um caminho de beijos pelos ombros até chegar aos seios. Aflorando a sensibilidade, se dedicou a chupar e a lamber cada um, oscilando os movimentos dos lábios com o das mãos.
Abrindo os olhos, ela o observava interessada, analisando como a própria pele era marcada. Com palavras desconexas e roucas, cada vez mais abafadas pela ausência de sentido no que queriam significar, sentia que o seu ventre queimava. Em outras definições ocultas, aquela cena era mais do que suficiente para deixá-la ainda mais excitada e entregue.
- Sev... Severus, por favor... – pediu com o fio de voz que lhe restava.
Ainda era um pouco estranha a sensação, do corpo dele, tão intimamente próximo ao seu. Ainda mais, quando o preenchimento esperado, parecia demorar mais do que o necessário... não conseguia entender o porquê Snape esperava tanto para tomá-la para si e a reivindicar como sua de imediato.
A boca e a língua voltaram a percorrer linhas imaginárias, retas ou circulares, entre a clavícula e a barriga. Deixando vestígios da veemência com que empregava cada chupão ou mordida, a cada vez que se aproximava da linha do baixo ventre.
Roçando o rosto na parte interna e externa das coxas, chegou ao ponto desejado, dando pequenos beijos. Por um minuto, Snape parou... como se analisasse o que fazer naquele vale úmido e quente entre as duas. Decidindo, por fim, simplesmente soprar contra a vulva e causa um arrepio em Narcissa.
Ela se contorceu nos lençóis, demonstrando nitidamente a sua aprovação ao gesto e o quanto se encontrava em um estado deplorável de furor pela volúpia. Calmamente, puxando a última peça de roupa que os separava e a tocando, moveu os dedos levemente. Indo e vindo... mexendo a língua, circularmente, os olhos tempestuosos de Narcissa nublaram. O desejo lhe retirara totalmente o foco, sua mente escureceu e as suas costas arquearam.
- Severus... – a sua voz saiu mais alta e forte do que conseguira constatar, ao gemer o nome daquele que se transformava, ali, em seu homem.
Tão quente, excitada e absorta, era difícil controlar a sua busca por libertação. Principalmente, quando Snape a agarrava pelas coxas, colocando as suas pernas sobre os ombros. Usando uma certa força para segurá-la e intensificar a velocidade com que agitava o seu rosto e a língua na intimidade, agora latejante. Lambendo e sondando, cada pedacinho dos grandes lábios e clitóris, a deixava rendida aos prazeres que lhe eram proporcionados.
Definitivamente, os pensamentos de Narcissa estavam perdidos... era como se não compreendesse qualquer coisa que estivesse distante de seus sentimentos ou das reações de seu corpo. Qualquer rasgo de juízo estava abandonado no meio daqueles braços. Especialmente, naquele instante em que, Snape, lhe chupava e esfregava o nariz no seu sexo. Quando parecia estar embriagado pelo gosto da sua excitação.
- Ainda está com vontade? – questionou antes de a beijar.
- Sim, eu tenho – respondeu com os olhos semicerrados.
Saboreando o próprio gosto, durante o tempo em que Snape a beijava com avidez, o sentiu se ajustar entre as suas pernas. Os olhos castanhos escuros eram profundos e intensos, anatomizando completamente a sua alma. Fazendo questionamentos silenciosos que, logo, teriam as respostas.
Sem precisar dizer qualquer coisa, Narcissa, deu a permissão que lhe fora pedida... deixando os joelhos dobrados, enquanto era penetrada lentamente. Mordendo os lábios, soltou um gemido baixo, franzindo um pouco o cenho dado o desconforto inicial. Na verdade, sentia incômodo e um pouco de ardência nas suas paredes internas com o atrito, como se não houvesse espaço suficiente para que ele entrasse totalmente.
- Cissy, você quer que eu pare? Eu vejo que está ficando tensa e... – Snape sussurrou, próximo ao seu ouvido, preocupado.
Sem movimentar um músculo sequer, com medo de a machucar ainda mais do que já imaginava estar fazendo, ficou a encarando. Seu maior medo era ter sido bruto com ela. Ainda mordendo o lábio inferior, Narcissa o envolveu com as pernas, sacudindo a cabeça em negação.
- Eu quero continuar... – disse movendo o quadril para que prosseguisse com as vagarosas investidas.
Snape, um pouco mais calmo, soltou a respiração pesada... a qual sequer se recordava de ter segurado, como se o receio imenso de ser o causador de algum sofrimento estivesse se dissipando. Narcissa sentia que, aquela experiência um tanto desagradável, era momentânea. Provavelmente, seu nervosismo estava a impedindo de aproveitar a transformação de sua pequena dor em um prazer cúmplice.
Suavemente, imprimia toda a intensidade e força dos seus sentimentos em cada estocada lenta e profunda. Nessa dança dos corpos, o tempo passou, abandonando o desconforto e as incertezas... o ventre dela pulsava, no instante em que ela decidiu se deixar levar. Aumentando o volume e o ritmo da penetração, sentiu quando ela o mordeu para abafar os gemidos de gozo.
Entrando mais fundo e um pouco mais forte, Snape a levou ao ápice com o auxílio dos dedos. Passara a gostar da ideia de que ambos derramariam os seus fluídos orgásticos ali... faria com que Narcissa desfrutasse primeiro, antes de se permitir o mesmo.
Mantendo os movimentos até que os gemidos fossem mais controlados... se deixando fundir em apenas um só, sem feitiços ou ligações de sangue. Nem acreditando mais nas grandes promessas, os dois se pertenciam até o final dos tempos e isso bastava.
