Caminhando lentamente, Snape constatou que o seu coração morrera. Contudo, via aquele como apenas mais um tema, entre tantos outros, que jogara para os confins das suas prioridades. Não havia motivos para se importar com tão pouco, quando existiam coisas bem mais urgentes, com as quais deveria se preocupar, e não permitiria que ideias ou assuntos menores atrapalhassem os seus objetivos mais imediatos.
Era impossível escolher outro destino que diferisse daquele que lhe fora traçado... quanto mais tentava se afastar, mais era jogado para o abismo de sua aliança com Voldemort. Era desesperador que, o desejo cego e obsessivo, o tivesse obrigado a assumir um compromisso quando não era nada mais do que uma criança.
Aquilo o atormentava, principalmente, pelo fato de que jamais deixaria de ser um homem de palavra... mesmo quando sequer tinha maturidade suficiente para sê-lo, sempre se manteve firme em suas promessas. Especialmente, por ter lhe sido ensinado que a palavra era lei.
Por mais que cruzasse todas as fronteiras do sofrimento e da cólera, nada justificaria voltar atrás. Era uma questão de honra. A destruição completa de si mesmo e o abandono dos seus verdadeiros sonhos em zonas obscuras do esquecimento. Todos os preciosos momentos vivenciados, até aquele dia, deviam ser transformados em partículas de bálsamo lançadas ao ar, celebrando o fim da própria existência.
Sussurros, gemidos, brados, rastejos e súplicas profundas... a dor se metamorfoseando em graves crises de ansiedade e ataques de pânico, que o deixavam muito próximo da imprudência. Sua cabeça doía, suas têmporas latejavam com o pulsar o sangue, sua visão ficava cada vez mais turva com as fortes batidas de seu coração. Tudo apontava para a torturante certeza de que estava vivo, perdido e solitário.
O mundo não passava de um lugar vazio de esperanças, coberto de incertezas e sem espaço para os sonhos. Nada mais era que um monstro cruel que devorava a todos, abrindo espaço somente para os que se ajoelhavam e aceitavam tamanhos horrores.
O pessimismo e a falta de perspectiva, se apresentavam como novos quadros, se somando a irremediável animosidade e as inumeráveis mentiras. Mais artifícios para justificar a sua necessidade de desencadear conflitos, confusões de todos os gêneros e, acima de qualquer coisa, brigas violentas com quem atravessasse a sua frente.
A madrugada ainda não tinha terminado e a raiva crescente o dominava. Agora, sentia ódio por ver o remorso crescer em seu peito... não queria se arrepender por ter assassinado Tobias. Atordoado e se esforçando para crer, firmemente, que aquele homem merecia morrer, queria comprovar sua teoria procurando outros iguais.
O silêncio, a ira, o fascínio despertado... tudo o dominava, o levando a desejar mais daquela emoção nova. A necessidade de ar em seus pulmões e a sua ambição, naquele instante, o conduziam a abrir espaço para o despertar dos seus instintos mais sombrios. A luta interna, entre o seu senso de justiça e os seus impulsos mais cruéis, estava travada.
Queria voltar a ter o seu velho amigo e receber os seus conselhos. Entretanto, as únicas companhias que possuía eram as inúmeras dúvidas que o torturavam. O que fazer? Para onde ir? Como resolver e destruir os seus medos?
Dobrando a esquina, Snape entrou na avenida quase deserta, fechando os olhos e resfolegou. O cinza chumbo das casas, davam um cenário depressivo e assustador, aumentando a sua vontade de sair dali o mais rápido possível... voar para longe até onde o seu coração estava ordenando que fosse. No entanto, não poderia. Não antes de fazer alguns rápidos curativos e tentar fechar os cortes abertos pelas facadas que recebera.
Fazendo alguns pequenos feitiços, conseguiu barrar um pouco o sangramento, porém, não era o suficiente. Necessitava de ajuda médica se quisesse viver... mas, como explicar? Não poderia alegar que havia sido assaltado, muito menos, contar que se envolvera em uma briga. Também, não possuía meios de chamar os medibruxos que trabalhavam para o Lord das Trevas, por ainda não ter a Dark Mark.
- Evanescet – sussurrou, desaparecendo imediatamente, como um borrão se perdendo em meio à pouca luminosidade.
O Videntur, o fez parar em uma rua com pouca movimentação, muito longe do Spinners End ou de Birmingham. Há 200 km daquele lugar, em que deixara um rastro de sangue e horror, respirou fundo com uma pequena sensação de alívio.
O ar quente, esfumaçado e úmido lhe invadiu os pulmões, como um sopro de vida. Sem dizer nada, Snape analisou a beleza intensa e caótica da nebulosidade soturna de Londres. Era um espaço que lhe dilacerava e acolhia... se sentando próximo ao Tâmisa, observava mais um amanhecer que se avizinhava no horizonte, com os seus pensamentos muito distantes daquela realidade.
- Maldito seja você, Tobias... pode ter certeza, eu não deixarei nem o seu espírito descansar, seu desgraçado – afirmou, franzindo o cenho, pelo desconforto das lesões que voltaram a se abrir.
Eram mais algumas cicatrizes profundas, em seu corpo, para contar a história de sua infeliz e trágica biografia. Seguramente, alguém lamentaria as suas dificuldades, fraquezas e receios. Outros, alegariam que, desde que nasceu, merecia ser humilhado e torturado. Porém, de que valeria se importar com a opinião alheia? Não perderia segundos preciosos se preocupando com as considerações da maioria, quando os julgava como uma tropa de ignorantes e fracassados.
Seguiria o seu próprio caminho. Sozinho, desamparado, miserável e exposto, ali, no meio do povo que transitava de um lado ao outro. Aqueles que se interessassem por sua presença, veriam mais um infeliz, andando com passos largos às vias mais tortuosas dos ventos e tempestades que assolavam a vida de tantos outros.
Os primeiros raios de sol cortaram o horizonte, se escondendo entre as nuvens, machucando os olhos negros cansados de Snape. A perda de sangue, a luta noturna e a falta de descanso, o deixavam exausto. Porém, mesmo que quisesse dormir um pouco, a chegada de seus companheiros muggles de gangue, lhe dava um novo entusiasmo e o impedia de repousar.
Na sua perspectiva, era um indício de que as próximas horas seriam ocupadas por eventos interessantes. Com luzes, sombras, sons, matizes espetaculares de canções intensas e furiosas, os ecos de suas ponderações vibravam em suas veias. Os pixies murmuravam ordens em sua mente, ressaltando que havia se tornado um dos monstros que tanto temia... ao regressar da noite, tudo ficou mais claro, ao chutar um corpo desacordado e estendido no chão.
Se identificando como invencível e forte, pisou algumas vezes no homem, enquanto zombava dos demais que corriam para as suas casas. Parando por um segundo, para admirar o seu reflexo distorcido pelas águas turvas do rio, uma imagem rápida atravessou a sua alma... era algo que o fez desistir de continuar com tais abusos.
O universo lhe pagava o tributo devido, no crepúsculo mórbido, ao vagar sem direção ou qualquer propósito claro. Naquele momento, poderia muito bem retornar a Caerleon... no entanto, sua consciência afirmava que perdera o mais importante nesse partir e andar. A matéria essencial, independente do trajeto o qual escolhesse se direcionar, desaparecera.
Certamente, a razão eram as comemorações de algo semelhante à noite de Santa Walburga. Aquele era sempre um dia em que as pessoas tendiam a se entregar à loucura... mas, como era possível? Estavam em agosto e, aquele pandemônio, só acontecia em abril. O que estava ocorrendo?
Com um meio sorriso, ficou encarando às lápides de um cemitério distante, ao refletir que muitos temiam andar lado a lado com o demônio. Não era difícil facilitar o desespero desses condenados, os enviando com as próprias mãos para o inferno... que aprendessem a abraçar e pedir passagem aos próprios receios. Não suportava ver quantas pessoas fracas viviam se escondendo por medo.
Pensando nisso, Snape se sentou em uma mureta e ficou olhando para o nada. As imagens que se formavam na sua mente, justificavam que, as horas que divisavam as doze baladas e o clarear do novo alvorecer, eram um instante bastante digno para que os mortos se erguessem de suas covas.
Adoraria conversar com alguns e incentivá-los a buscar àqueles que lhe deviam... cobrar dívidas eternas e perseguir desafetos eram uma boa maneira de passar o tempo. Mesmo que parecesse bizarro, aquela ideia lhe trazia paz absoluta e o animava.
A liberdade, que flamejava e torturava as suas ideias, lhe proporcionavam a força que procurava. Era a escuridão que o impulsionava a querer abraçar o diabo e aceitar as suas origens... as que tanto renegara por anos. A terra, o chão, as raízes, o ar e as águas, sussurravam em seus ouvidos, o convidando para pular de olhos fechados no precipício. Ele sempre seria aquele homem que atravessara a divisão da vida e da morte.
Definindo os detalhes, sempre tão silenciosos, soturnos, austeros e caóticos, se deixou levar pela calmaria barulhenta de suas explosões transgressoras. A paz era a maior afronta que alguém do seu tipo poderia fazer à vida ou a qualquer noção de existência.
Deixaria que, o bafejo morno, jogasse os seus cabelos contra o rosto... estava desamarrado e imune a qualquer sensação de apreensão ou temor, com relação a tudo aquilo. Sabia que sempre foi destinado àquele horror, desde que, sua avó paterna previra o nevoeiro denso que o cercava. Fosse nas folhas de chá, ou nas linhas de sua mão, tudo apontava que a serpente se transformaria em príncipe.
Era a realidade... por mais dura e macabra que fosse, aos olhos inocentes, aquela velha cigana acertara com relação à sua sorte. O mal o cercava e o seduzia, sendo o seu único companheiro permanente e fiel. Eventualmente, fantasiava que, os fantasmas dos antigos curandeiros, conduziam os seus passos. Parecia preso aos dissabores que, constantemente, o sufocavam.
Ao mesmo tempo, sempre lhe ofertava amigos e pessoas que lhe ajudariam a alcançar os seus intuitos... apenas os que o afastavam da luz e daqueles a quem amava, tornando mais interessante e inusitado o seu conceito de pertencimento a algo. A manutenção de uma ideia fixa que o coagia, diariamente, a seguir os ideais de juventude hitlerista misturada com a Ku Kux Klan como corretos. Um rumo para que pudesse realizar o que fosse melhor para si mesmo.
Os ditos heróis jamais o quiseram por perto ou o aceitaram como igual. Sempre o julgaram como o pior tipo de escória. Para eles, os iluminados pela clareza e sabedoria inspiradora, quase divina, Snape estava impossibilitado de abandonar sua condição impura e estranha. Imagine se organizações, que renascessem das cinzas, aceitariam alguém de estranhas condições? Quem sabe, o enxergassem como um mestiço imundo saído do lixo, o qual não merecia qualquer tipo de reconhecimento?
Por outro lado, os tais vilões... os mais horríveis, cruéis e perigosos, o acolhiam e o chamavam de irmão. Inventavam teorias para justificar a sua presença entre eles. Criavam inúmeras razões, das mais diversas, que faziam com que fosse aceito como um igual e parte daquele todo.
Nada mais que a curiosa contradição do bem e do mal, das suas luzes e sombras e, elementarmente, a obviedade de como alguns são cegos em acreditar em dualidades ou maniqueísmos baratos. Nos dois lados havia humanos e as suas tendências constantes a transitar por escalas de cinza mutáveis. Jamais alguém seria estático ou sólido como uma rocha... especialmente, quando até as pedras rolavam em alguns atritos ou instabilidades na terra. Foi com tais meditações e pensamentos intensos que reapareceu, em casa, após quase uma semana desaparecido.
Eileen, notando que o filho chegara lavado de sangue e com um olhar falsamente inocente, decidiu confrontá-lo. Seus gestos e a postura comprometedora, denunciavam que entrara em um profundo processo autodestrutivo. Como mãe, não permitiria que se enterrasse daquele jeito... ainda mais, após uma tentativa fracassada de suicídio.
Snape estava diferente. Não era mais o seu menino doce e cheio de sonhos... não passava de alguém rígido, frio e desalmado consigo mesmo. No seu ponto de vista, era um verdadeiro absurdo que, um rapaz de 17 anos, se visse como um completo peso para si próprio. Ou já estivesse entregue a tamanha descrença quanto a uma vida melhor. O futuro maravilhoso que sonhava encontrar mais à frente.
- O que está acontecendo, Severus? – perguntou considerando todos os seus olhares e movimentos.
Sua inquietação era justificável... queria esconder algo importante e, cada segundo que passava, ficava mais clara a crescente fraqueza que testemunhava diante de seus olhos. Ainda era tão jovem e já estava tão despedaçado.
Pesando as palavras, Eileen decidira que não lhe daria um sermão pelo sumiço arbitrário, durante a maior parte das férias, muito menos, o interrogaria quanto as suas atitudes ou o estado em que entrara em casa. Se aproximaria de uma outra forma... se esforçaria, ao máximo, para verificar quais eram as suas mais evidentes necessidades e desvendar o desespero que o corroía. Definitivamente, o ingresso na idade adulta, não fora um momento afortunado para o seu único filho.
- Não é nada, mãe... não está acontecendo absolutamente nada! Não existe qualquer coisa com a qual deva se incomodar ou perder o seu precioso descanso – respondeu com uma expressão cansada, carrancuda e pensativa.
Estava abatido e tudo o que mais ansiava, naquele instante, era se manter quieto. Queria apenas se cercar com as suas próprias ambiguidades e medos que surgiam. Sussurrando frases inaudíveis, como se conversasse com as suas próprias reflexões e ignorasse todo o resto, Snape retirou a camisa suja e jogou em um canto da cozinha. Se via sem forças, se arrastando até a cadeira para se sentar.
O caminho nunca fora tão longo, entre a porta e a mesa, até conseguir se ajeitar e pôr as duas mãos no rosto. Com a respiração desregulada, suportou nelas o peso de sua cabeça, como se pudesse dispersar os seus pensamentos e concepções de tempo, espaço e realidade, daquele modo.
Em segundos, a sua visão escureceu... a voz de Eileen começava a ficar cada vez mais distante e incompreensível, até que seus ouvidos não escutassem mais nada. De uma maneira imprecisa, o tempo agiu, o fazendo não saber mais ao certo onde estava quando acordou.
Esquecendo, quase completamente que os pontos haviam cedido e, alguns cortes, estavam reabertos e sangravam, apenas refletia quanto ao fardo de responsabilidades que o soterravam. A aflição e o calor sufocante, o deixavam tonto... parecendo estar sendo enterrado dentro de um túnel tortuoso, longo e infinito.
Sem precisar ao certo o tempo em que estava ali, o sol bateu na janela da cozinha, refletindo os seus raios nos olhos de Snape, lhe devolvendo os sentidos há pouco perdidos. Ainda estava confuso e tonto... piscando algumas vezes, recomeçara a ter alguma noção de tudo o que aconteceu desde que se sentou ali.
Se não tivesse plena consciência de que, ainda era agosto de 1977, se questionaria quanto as motivações que levavam tudo sempre a parecer mais difícil. Da mesma forma, se perguntava se não ingressara em alguma espécie de looping temporal, em que os dias se repetiam continuamente.
- Creio que toda a sabedoria proporcionada por aquelas memórias, se tornou um fardo pesado demais para você – afirmou, Eileen, se sentando em frente a ele.
O examinando atentamente, ainda não conseguia notar que Snape estava ferido, devido a posição em que se encontrava. Entretanto, via que, a cada minuto, o filho ficava cada vez mais pálido e com as olheiras ainda mais proeminentes.
Evitando encará-la a todo o custo, buscava qualquer ponto interessante no chão, olhando para baixo em uma tentativa de desviar do assunto que se iniciaria. Queria evitar as perguntas e os discursos que viriam, os quais ignoraria solenemente, se esquivando do confronto.
O seu silêncio e a vigia de Eileen contrastavam e se chocavam, como forças conflitantes, a deixando mais convicta de que identificaria o que estava o incomodando. Se fosse necessário, o forçaria a contar tudo detalhadamente. Estava ciente de que, o controle, a reprimenda e a sua insistência em ser informada do que sucedia, acarretariam uma briga. Justamente, o conflito, que Snape vinha evitando há meses.
- Diga, em que briga se envolveu dessa vez, Severus? – perguntou sem receber qualquer resposta.
- Ora, me deixe fechar esses cortes, antes que infeccionem – prosseguiu, quase em estado de choque, ao ver a poça que se formava no chão da cozinha e a camiseta lavada de sangue, na região do abdômen.
Pouco a pouco, atingindo um aspecto quase cadavérico pelos ferimentos, Snape, novamente, não viu mais nada... era como se as suas últimas forças tivessem se esvaído, sugadas por forças ocultas. Desmaiara, mais uma vez, caindo de lado no chão com os olhos abertos. Parecia estar morto, com o seu olhar fixo e vazio para o nada.
- Severus? Severus?! – a voz de Eileen soava mais alta e, o cheiro do álcool, mais forte.
Sentia o seu corpo sendo sacudido pelos ombros por duas mãos ou recebendo pequenos tapas no rosto. Ela poderia usar algum feitiço para fazer com que o filho recobrasse a consciência, contudo, era perigoso em uma situação como aquela. Qualquer erro, o quadro seria agravado, colocando Snape em coma profundo.
Minutos, que pareceram horas, passaram até que ele a encarasse e visse as suas feições transparecendo o mais profundo temor e agonia. Aquilo foi o suficiente para o entristecer, até o fundo de sua alma, pois não gostava de ser o motivo de sua infelicidade.
Intimamente, Snape receava que, ao relatar os seus vícios e distúrbios crescentes, a assustasse. Não desejava que Eileen descobrisse a que nível de depravação havia chegado... um bruxo, sob qualquer hipótese, poderia se envolver em brigas de gangues ou conflitos em bares muggles. Apenas a presença de um já representava uma afronta a tudo aquilo o que lhe ensinara a respeito de bom senso e costumes nobres.
Fatalmente, ela se enojaria de reconhecer que o filho se aproximava cada vez mais das características dos antigos vizinhos. Ou pior, que era uma incômoda cópia do pai, se envolvendo em confrontos e bebendo a alma dos outros. Um maldito indigno que rastejava mais baixo do que a rés do chão em que pisava.
- O quê? Como? – Snape indagou ao recobrar um pouco mais de lucidez.
Mesmo que ainda estivesse estonteado, tentou se levantar, olhando para o rosto dela. Estava buscando compreensão... que, talvez, jamais viesse. Eileen, possivelmente, já estava ciente de tudo o que sucedera e esperasse apenas a confirmação de seus incontáveis crimes. Alguém devia ter lhe contado sobre a morte de Tobias.
- Está tudo bem, Severus? Isso foi algum treinamento do Lord das Trevas? Eu... eu não posso acreditar que se rebaixariam a esse nível e lhe dessem quatro facadas. Eu vou levar você ao Saint Mungus e você me conta quem fez isso – foi falando, enquanto se arrumava para saírem de lá, com urgência.
- Eu estou bem e isso não é nada – respondeu sem forças, apoiando o braço no tampo da mesa para se erguer.
- Eu o conheço bem para saber que, quando me diz que não é nada, significa que há muita coisa ocorrendo. Me diga o que aconteceu, Severus! Desabafe, logo... quem foi o canalha que fez isso com você? – questionou, o segurando para que atravessassem à porta, rumo à lareira.
- Eu não quero ir... uma poção cicatrizando vai fechar esses ferimentos de dentro para fora. Essa merda só não foi costurada direito e eu já me certifiquei que nenhum órgão foi atingido – afirmou se desvencilhando da mãe, com uma certa brutalidade.
- Foi o seu marido... aquele porco do Tobias é o responsável por isso – disse sem olhar para trás, fazendo com que Eileen se assustasse.
- Como ele encontrou você? – o interrogou abalada.
Mesmo que fingisse serenidade, diante de tal declaração, aquela notícia fazia com que as suas mãos tremessem. Tentando focar a sua atenção nos frascos de poções, nos quais mexia apressadamente, esperava uma resposta... temia que todo aquele pesadelo retornasse à vida dos dois.
Sem prestar atenção nos gritos e na série de palavrões que Snape gritava pela dor, a medida em que a poção era jogada nos cortes, ela parecia estar em outra dimensão. Seu semblante estava lívido, sem esboçar qualquer sentimento, enquanto controlava a própria respiração. Precisava, mais do que nunca, manter a calma... pensando ainda na condição que o filho se encontrava, vez ou outra, Eileen o analisava e reconsiderava se o melhor não era levá-lo ao hospital para uma revisão.
A conduta inquieta e confusa, com a qual Snape parecia lidar com a situação, a afligia e a consternava. Havia algo muito mais profundo e sério o desestabilizando, mortificando o seu ponto de equilíbrio o deixando próximo à explosão de ira.
- Eu acabei brigando com um daqueles imbecis do Spinners End. Nada que a senhora deva se desesperar... aquele vagabundo apareceu e aconteceu isso. Certamente, planejavam invadir a minha casa – mentiu, colocando as mãos nos bolsos, para conter a ansiedade.
- Mãe, o que nos interessa é a minha rápida ascensão e que, logo, atingirei o meu lugar de honra junto ao Lord das Trevas. Sei que, ele ficará muito feliz, quando souber que eu fui o responsável por menos um muggle no mundo – continuou, sem prestar muita atenção no que dizia, apertando as cicatrizes recentes.
- O melhor disso tudo é que, parte do meu acordo com ele, já foi cumprido – sorriu ao concluir as suas ponderações.
Tinha que ficar feliz e esquecer das preocupações que o faziam se sentir como se estivesse deitando em uma cama de espinhos. Tinha de apagar da sua memória as lembranças cruéis, as mais difíceis, que o levavam a se ver como atravessando fortes trincheiras que cercavam todo o entendimento quanto à importância do sopro vital.
Crendo que estava prestes a medir as marcas de sua natureza errante, de maneira errada, Snape se limitou a dar continuidade ao que noticiava. Não perderia o prumo... mesmo que, prematuramente, os tambores da solidão e das trevas retumbassem. Fizessem com que, mais do que nunca, a sua alma se distanciasse das estrelas de ouro.
- Entendo... – Eileen se limitou a falar, reparando no jeito com que ele falava tais absurdos, com tamanha naturalidade.
- Eu estava convicto de que a senhora compreenderia. Bellatrix teve aquela menina estranha, em junho, e nosso milorde está satisfeito com isso... ainda mais que, aquele pequeno demônio, parece utilizar legi mentis o tempo inteiro, enquanto nos olha – comentou, resumindo, na tentativa de mudar o foco do assunto.
Evitaria entrar em detalhes e toda a exposição que começava a acuá-lo negativamente. Usar o nascimento de Delphini, como um desvio significativo de argumento, era uma boa estratégia para ocupar a curiosidade de Eileen por alguns minutos. De preferência, até que esquecesse por completo, de como ele havia chegado em casa...
Snape sondava todas as possibilidades e perspectivas mais próximas, as quais pudessem lhe fornecer tempo suficiente para inventar qualquer desculpa, para sair da cozinha. Só queria se isolar no silêncio... tudo se resumia a isso, a necessidade de calmaria.
- Aquela criança é o Augurey que ele tanto desejava? – perguntou, Eileen, franzindo o cenho desgostosa com o que supunha ter acabado de escutar.
Com um ar de reprovação contida, o encarava friamente, esperando pela resposta. Principalmente, quando testemunha o pouco caso com que ele tratava a gravidade daquela profecia. Ignorando, completamente, o quão prejudicial era a existência de um ser nefasto destinado, exclusivamente, a trazer desgraça a vida dos outros.
A tragédia e a desestruturação das bases mais sólidas dos Sacred Twenty-Eight, a extinção completa dos Black... significava um dos termos mais importantes do reinado do demônio alado, sonhado e planejado por Voldemort. Caso se confirmasse essa informação, era o anúncio da chegada de dias difíceis que antecederiam o fim próximo.
- O que a senhora supõe? Delphini o encherá de orgulho e glória, isso basta! Que o mundo queime e carregue a maioria desses animais... eu não me importo – enfatizou quase sussurrando, sem se mover, pelo incômodo diante do questionamento.
Cravando o olhar novamente no chão, Snape, evitava descontrolar o seu gênio furioso e os rompantes de profundo asco por tudo e todos. Desde que assimilara a clara divisão do mundo, entre aqueles que manipulavam e aqueles que insistiam em se iludir, se tornara um cético. Nada mais teve o prestígio satisfatório que pudesse ser capaz de ter a sua atenção ou receber algum significado de importância.
Tal desinteresse estava traduzido na sua conduta e a maneira com que conduzia as suas decisões... claramente, não respeitava muito dos padrões que lhe foram demonstrados. Na verdade, se não resguardava a si mesmo.
- Infelizmente, a sua mente brilhante não se preocupa com isso no momento, não é, Severus? Você também não se abala com o fato de que foi esfaqueado pelo seu próprio pai e, muito menos, com as demais coisas que estão acontecendo. Estou convicta de que deve existir algo mais sério o corroendo aos poucos e, você, não se digna a me falar qualquer coisa... se nega a receber a minha ajuda – explicou tentando atingir o ponto que o abalava e fazer com que se abrisse, mesmo que fosse, minimamente.
Sabia de todo o esforço que teria de ser feito, para que articulasse os seus medos. Sobretudo, quais as causas o impulsionavam a ficar cada vez mais rebelde e revoltado.
As razões de sua ira não poderiam estar relacionadas às agressões que ambos sofreram de Tobias. Se fossem, Snape, não se mostraria tão indiferente a isso. O que, para Eileen, tornava aquilo uma página virada. A miséria era outro tema vencido... não eram ricos, mas tinham uma vida bastante confortável, em que nada faltava, e estavam livres da fome. Tudo fazia parte do passado, como as tantas humilhações sofridas.
O que obrigava a se desvencilhar te todas as hipóteses, até então levantadas, para tentar entender o que de fato estava sucedendo. Era difícil, quase impossível, captar quais eram os problemas que o deixavam em um estado tão doentio e soturno.
- O que mais a senhora quer ser informada? Se quer saber, eu não desisti da minha vingança... ainda falta uma parte. Aquela que vai destruir o coração daquela idiota. Eu vejo sempre as memórias na Pensieve e, o que me revolta, é que eu não a odeio o suficiente para conseguir cumprir a promessa que eu fiz a ele – falou abertamente parte das suas incertezas.
Ficava muito claro que, apesar de não aceitar a conjuntura de estar muito perto de perdoar e colocar um fim definitivo naquele sofrimento, era libertador apontar para aquela desgraça. Era como se, a cada frase dita, despejasse toneladas de concreto que pesavam sobre os seus ombros...
Percebendo que estava mais leve e tranquilo, Snape recuava do iminente ataque de fúria e do esquecimento dos reais motivos que o conduziam, diariamente, ao abismo e a destruição. Passando as mãos nos cabelos, compulsivamente, encarava Eileen como se procurasse a solução para as perguntas que se acordava em expressar.
- Ora, esqueça isso, então. Você não é ele e, aquilo que você vive olhando, não existe mais... é simples. Bellatrix ainda é uma menina, com pouquíssimo juízo, no entanto, está muito longe de ser aquela mulher sádica. O que faz com que qualquer uma de suas justificativas, não façam mais qualquer sentido. Eu, sinceramente, não vejo por que continuar – afirmou o olhando decidida.
- Agora eu compreendo, Severus... é, por isso, que eu o vejo agindo como um moleque vil e canalha com aquelas meninas. Não foi apenas uma vez, mas em diversas situações – continuou ainda mais enfática, endurecendo as palavras.
Eileen queria deixá-lo chocado com o que estava ouvindo, queria que ele entendesse em que ponto estava chegando com tamanha cegueira... era uma barreira a qual, se atravessasse, não teria como voltar depois. Snape, por sua vez, queria que lhe desse apoio e compreensão. Porém, recebera somente uma enorme repreensão por parte dela.
Agora não adianta mais pensar em outra alternativa... mesmo ciente do quanto estava sendo implacável com o filho, prosseguiria. Pelo jeito que ele a olhava, seguiu intenta nas suas decisões, tinha que fazê-lo desistir. Obrigá-lo a retomar à razão e perceber o óbvio. Com essa postura firme, Eileen, supunha que era preferível que Snape sofresse um baque, do que continuasse tendo atitudes desprezíveis e vergonhosas com todos os que o cercavam.
- Eu vou lhe dar um aviso... pare de cercar as meninas Black! Isso já passou dos limites. Você se mostra incapaz de amar quem quer que seja. Insiste em uma vingança sem sentido e num romance com alguém que sequer existe – apontou, indignada, tentando moderar a voz para que soasse mais tranquila.
O jeito paciente, com que evidenciava as considerações feitas, o atingiam como flechas em chamas. Feriam o seu íntimo profundamente e não sabia como se defender. Estava atordoado... Eileen, de sua parte, não via outra alternativa para resolver aquela situação tão perturbadora. Aquele era o momento em que perderia completamente a confiança do filho, ou o faria recuperar a lucidez que, a cada minuto, se perdia.
- Nunca mais se atreva a dizer que eu devo descumprir a minha promessa. Eu disse ao meu pai que o vingaria, que traria a rainha dele de volta... aquela que o fez atravessar os oceanos do tempo, para ter novamente! – esbravejou socando a mesa com força.
- Preste atenção nas suas próprias palavras! Você mesmo sabe que, aquele homem, era você... com uma outra realidade e sendo o resultado de uma vida a qual desconhece. Ele nunca foi o seu pai! A presença dele entre nós, só serviu para mostrar o quanto você pode ser um completo egoísta e canalha, quando colocou tais ideias na cabeça de um inocente. Você, Severus, já deveria ter esquecido de tudo isso e seguido em frente! – Eileen perdeu a paciência, gritando, extravasando todo o seu aborrecimento.
Snape estava revoltado diante daquelas frases assertivas e justificativas tão certeiras, que o cortavam internamente. Assimilava que havia dado muitos passos equivocados e, somente mais um, decretaria o fim de qualquer possibilidade de que seus sonhos de ascensão e a sua promessa virassem realidade. Era só mais uma constatação dura, entre inúmeras, que só serviam para o confundir e o matar aos poucos por dentro.
Antes daquela discussão e, enquanto estava longe de casa, era feliz e vivia bem. Mesmo que, para isso, tivesse de fingir que nada acontecera e atravessar todos os contratempos que surgiam, como um soberano, sem se abalar... agora, com todas as críticas recebidas, se sentia um miserável.
- O que mais me impressiona é que chegamos na questão! Se você julga que tudo vale à pena pela promessa que fez, ou que não está se divertindo às custas de ninguém, dê um fim nessa história. Pare de tratar a Bellatrix ou a Narcissa como duas prostitutas que estão a sua disposição... eu venho repetindo isso há anos e você sempre ignorou os meus conselhos. Agora, eu vejo que a sua consciência está pesando e que o desespero já o afeta – repreendeu, se aproximando e o sacudindo pelo braço, com tanta força que o deixou assustado com a agressividade que ela demonstrava.
Eileen estava desesperada e manifestava os seus medos com essa conduta violenta. Tinha de expressar o quanto estava indignada com tanta teimosia, soberba e falta de empatia... fazer com que, Snape, visse que não era o dono da verdade absoluta. Principalmente, o quanto estava errado nas suas determinações e ações com relação aos demais.
- Não encoste mais em mim... – afirmou se afastando com um olhar raivoso.
- Eu não vou sofrer, um segundo que seja, sem ter vingança. Eu vou destruir um a um... todos os que foram responsáveis por isso. Tobias, já está morto, se quer saber. Logo, terão outros. Eu não admito que se meta nas minhas escolhas ou na minha vida! Entendeu? – cuspiu as palavras furioso, se segurando para não destruir os móveis da casa e descontar todo o seu ódio.
Suas entranhas queimavam, o deixando cego pela crescente ira que se apoderava de todas as suas células. Não aceitava se ver tão insultado e hostilizado, por aquela que deveria protegê-lo e lhe dar apoio. Naquele instante, observava a mão como apenas mais uma a atacá-lo moralmente... não a perdoaria.
- Sai da minha frente... – disse se retirando para ir embora.
- Ah, claro... agora está ofendido! Entretanto, você vai me ouvir, seu estúpido – Eileen foi atrás dele o agarrando pelo braço.
- A Bellatrix, que não existe mais, tirou o amor da vida daquele a quem você se refere como pai... e, você, que não está nem perto de ser aquela pessoa que invadiu a nossa casa, decidiu roubar todos os sonhos dela. Ou, realmente, acredita que aquela menina está feliz com o que tem? Ela finge que não ama o próprio primo! Mesmo que o Sirius seja tudo na vida dela, foram tantos anos com você colocando ideias erradas e afirmando que o melhor era o poder, que ela renunciou ao que importava – acusou apertando o braço de Snape com mais força.
- Quanto à Narcissa, o que ela lhe fez para que a trate como uma idiota? Está tão obstinado que sequer é capaz de perceber o que está debaixo do seu nariz – continuou, agora, com o dedo em riste.
O espancaria, se fosse necessário, até que confessasse todos os problemas que causara ao longo dos anos. Com os nervos a flor da pele, gritava a plenos pulmões e decidiu estapeá-lo ao receber como resposta uma espécie de rosnado... uma atitude que foi a gota que faltava para esgotar o que ainda lhe estava de paciência.
Não havia outra solução, além de uma surra, para que Snape voltasse a se comportar como uma pessoa decente. O que mais a deixava possessa era a falta de respeito. Ainda mais, quando o via como um rapaz sábio e digno, porém, que se deixava guiar por uma ânsia estúpida de condenar o mundo inteiro por horrores que não vivenciara.
- A senhora é louca! A Bella ama o Lord das Trevas e é fiel, unicamente, a ele... a Cissy, nunca me fez nada. Eu não aceito que fale que eu não tenho qualquer consideração por ela. Jamais a trataria como uma puta ou como uma obtusa. Cissy é uma pessoa doce e sensível, eu a... só quero que se afaste daquele crápula do Lucius Malfoy e não se case com ele – argumentou contrariado pelos tapas que recebia.
Estava irritado pelo modo ardiloso com o qual o assunto fora abordado. Não admitiria sequer uma mera alusão, rude e afrontosa, de que tratava as irmãs Black como prostitutas da Knockturn Alley. Ainda mais, quando, o que sucedera com Bellatrix não havia sido nada mais que uma idiotice de criança. Aquilo o enojava, ao pensar no quanto as afirmações de Eileen eram censuráveis em muitos níveis, o ofendendo diretamente. Especialmente, pelo fato de que o nome de Narcissa havia sido citado em meio àquela podridão...
As palavras vindas de sua mãe desconsideravam, quase em sua totalidade, que a relação dos dois era de confiança e amizade desde a infância. O que fazia com que o sexo tivesse se transformado em uma consequência do carinho que compartilhavam. De qualquer forma e, independente, do que sentisse, não concordaria com qualquer afirmação que depreciasse a honra das duas.
- Muito bem, Don Juan! Deixe-me ver se eu sou capaz de atingir o seu mais alto grau de sabedoria... você afirma que ama ou vai amar, isso pouco importa, uma menina que nascerá em 1979. Estou certa? No entanto, o tão nobre sentimento, não o impede de ser moralmente sujo e se envolver com a tia e a mãe dela – Eileen o recriminou sem mais rodeios.
- Eu já disse que não tive merda nenhuma com a Bellatrix! Pare de me acusar por coisas que eu não fiz – a sua raiva explodiu, o fazendo quebrar a mesa ao meio.
- Ah, então, admite que está envolvido com a Narcissa! Sabe o que você é? No meu ponto de vista, Severus, você não passa de um cafajeste do pior tipo e é digno de nojo. Você pode ter matado e seu pai e a metade de Birmingham, que nunca vai deixar de ser um vagabundo igual a eles – berrou o empurrando ao constatar que não estava sendo ouvida.
Agarrando Snape pelo queixo, para que a encarasse, conseguiu que todo o ódio dele viesse ainda mais à tona. Sentindo o chão e os vidros trepidarem, dando o descontrole do núcleo mágico do filho, Eileen continuou firme e segura. Não declinaria, mesmo que a temperatura caísse até chegar às escalas mais negativas... não permitiria que ele a confrontasse ou teimasse novamente. Teria de obedecê-la e se separar das jovens definitivamente.
- Eu não tenho culpa de que a senhora se casou com aquele estuprador para dar o mestiço perfeito que tanto o Lord das Trevas desejava como general. Eu também não sou o responsável pelo seu romance com o Rosier... ou acha que eu não sabia disso? Além do mais, me agradeça, porque se dependesse da sua burrice e dos seus enormes esforços em agir como uma tola, já estaria morta – gritou, impulsionado por toda a raiva que corria em seu sangue, não medindo o peso ou a gravidade do que acabara de falar.
Sem ter tempo de reação, foi esbofeteado, quase se desequilibrando na tentativa de segurá-la para que parasse de o agredir. Surpreendido, pela fúria assassina quem em tempo algum Eileen havia apresentado, procurou se afastar. Contudo, foi jogado contra a parede por uma espécie de golpe de vento.
- Quem você acha que é para me insultar? Eu não tenho medo de uma criança boba, birrenta, mimada e que se julga um grande general. Você não passa de um bostinha, supervalorizado graças ao Lord das Trevas! – sibilou, perigosamente, se aproximando de onde o prendera.
Estava injuriada com tamanho desrespeito e a postura hostil adotada por ele ao enfrentá-la. Não toleraria que o filho a atacasse verbalmente ou desafiasse a sua autoridade, com tanta veemência. Muito menos, esqueceria a tamanha desconsideração... aquele era o ponto final.
- Cale a boca, Severus! – disse o silenciando com um feitiço.
- Você teve inúmeras oportunidades para construir uma vida linda e jogou tudo fora. Essa é a verdade! Como insiste em se portar como um maldito bastardo, esteja ciente de que, a partir de hoje, você não mora mais nessa casa – afirmou lhe dando às costas, o deixando sozinho na cozinha, sem olhar para trás.
O que era para ser mais uma descompostura, se transformara em um profundo rompimento entre os dois... definitivamente, nada mais seria como antes. Aquele era o instante em que desabara as últimas estruturas e amarras. Ruía os parâmetros que ainda o sustentavam.
