A partir daquele dia a guerra estava declarada pelos corredores, esconderijos, passagens e em todos os lugares quer que fosse... Snape não estava mais seguro para transitar em Hogwarts. Aquela era a mais pura constatação. Os anos de paz e tranquilidade, quando ele e os Marauders se ignoravam, mutuamente, terminaram.
Entretanto, o grupo intitulado por Walburga como saqueadores, arruaceiros e ladrões, desejava vingança... especialmente, por parte de um que, agora, reconhecia em Snape a possibilidade de que fosse o verdadeiro pai de Delphini e se ressentia por isso. Na verdade, sentia raiva e ciúmes, ao constatar que, Bellatrix, voltara a conversar com Snape. Era a única justificativa depois de semanas de afastamento inexplicável.
Sirius estava irritado. O ciúme o cegava, fazendo se tornar quase doentio e violento. Sua intensa sede de vingança parecia não ter fim. Foram necessários meses para formular um bom plano, perfeito o suficiente para convencer Pettigrew e James a colaborarem com a sua ideia inofensiva.
- Será apenas uma brincadeira simples para ensiná-lo a não se aproximar das meninas que são superiores a ele. Daremos um banho naquele porco morto de fome. Quem sabe a aparência do Snivellus não melhore e deixe de ser repugnante? – os questionou com um sorriso sádico no rosto.
- Se você garante, Padfoot, que as suas patinhas fofas não serão descobertas... nós concordamos. Principalmente, porque eu vou me divertir muito afogando aquele encardido – comentou James rindo do que imaginara.
- Vai ser ótimo! Vocês sabem bem o quanto o seboso envenenou a Bella contra a Marlene. Sujeitinhos iguais a ele vivem desse tipo de intrigas, levantando calúnias em relação aos demais... não duvidaria que, tenha sido o próprio que a atacou na aula de Transfiguração. O Snape tem todo o perfil de quem gosta de abusar das meninas – assegurou Sirius encarando os amigos com um olhar confiante.
- Só assim para um animal, como aquele, transar com uma menina... quem ia ser a imunda que iria querer um lixo? – perguntou Pettigrew aos risos.
- Alguma desesperada, certamente... tipo, aquela... qual o nome mesmo daquela horrorosa cheia de espinhas? – James seguiu com a indagação, fazendo com que as gargalhadas se tornassem mais altas, rompendo qualquer possibilidade de silêncio no ambiente.
- Se estávamos esperando a oportunidade certa, a sorte acabou de nos sorrir agora mesmo – Sirius fez um gesto com o rosto apontando em direção a Snape, que se encontrava sozinho e desatento.
Olhando para os lados, os três aproveitavam que ele parecia um alvo perfeito. Sentado, debaixo de uma árvore, lendo um livro, estava indefeso diante dos seus objetivos de descarregarem todo o ódio e raiva que sentiam. Foi uma questão de segundos e tudo aconteceu rapidamente... ouvindo a voz dos Marauders, quase aos gritos para chamar plateia, tentou compreender o que estava prestes a ocorrer à sua volta.
- E aí, Snivellus? Tudo bem? Já lavou os cabelos e a sua boca hoje? – o questionou lhe direcionando um olhar de profundo ódio, em alto e bom som, para chamar ainda mais a atenção de todos.
Antes que pudesse assimilar ou reagir, Snape se moveu como já esperasse um ataque, jogando a sua mochila para o lado e enfiando as mãos nas vestes para pegar a varinha. Entretanto, antes que pudesse fazer algo em própria defesa, sentiu uma espécie de puxão no seu corpo. Uma força oculta que o jogava para o chão e o obrigava a se manter impotente, fazia com que Sirius gargalhasse, o encarando com uma fúria insana nos olhos.
Quem se encontrava nas proximidades se virou para assistir a briga. Snape estava deitado, tentando se debater e se libertar do feitiço que haviam lhe lançado, ao mesmo tem que James e Sirius avançavam sobre ele e apontavam as varinhas ameaçadoramente. Ambos, riam se divertindo com tudo aquilo, olhando por cima dos ombros para paquerarem as meninas sentadas na beira do lago.
Pettigrew os acompanhava, mais atrás, se espichando desesperado por cima de Lupin, para ter uma visão melhor do que sucedia. Dando gritinhos entusiasmados para incentivar os amigos a continuarem com a agressão, fazendo com que o outro soltasse um pequeno bufo de desaprovação.
- Como estão os estudos? Os miseráveis sabem ler? Onde você encontra os livros? É no lixo ou no prostíbulo que a sua mãe trabalha? – perguntou James com um falso tom de seriedade e um extremo sarcasmo.
- Eu estava vendo, Prongs, a ponta do nariz dele chega a encostar no papel... um nojo, não é verdade? – falou Sirius cruelmente.
- Desconfio que as folhas possuem marcas de graxa e seja impossível ler qualquer palavra – prosseguiu, entusiasmado pelas risadas da plateia que obtiveram, se sentindo ainda mais poderoso.
- Batam nesse imbecil! – Pettigrew balbuciou estridentemente.
Snape seguia se debatendo e tentando se levantar, porém, o feitiço ainda operava sobre ele e não permitia qualquer movimento mais brusco. Parecia que, quanto mais se virasse, mais as cordas invisíveis o amarrassem ao chão.
- Você... só espere! Só espere, seu merda! – ele ofegou olhando para James com uma expressão de raiva, experimentando a sensação de ira, há tanto tempo esquecida.
- Teremos que aguardar pelo quê? O que você acha que vai fazer, Snivellus? Vai limpar o nariz em nós? Você pensa que é quem, afinal, seu... seu bosta? – indagou Sirius friamente.
- Por que você não diz o que está pensando, Black? Tem vergonha de falar para todos que me considera um mestiço imundo? Alguém que deve se rebaixar para lamber o chão em que o seu namorado pisa? – inquiriu, antes de soltar um turbilhão de palavrões e encantamentos, se amaldiçoando por não ter a sua varinha para se defender do que viria.
- Lave a boca, seu morto de fome! – esbravejou James deixando que a sua aversão se expusesse.
- Merda... – Snape sussurrou indignado, vendo o seu corpo sendo lançado para frente, para que ficasse de quatro como um boçal.
No instante seguinte, o Borrire fora lançado e milhares de bolhas de sabão saindo de sua boca. Estava sufocando... a espuma rosa e gosmenta escorria, cobrindo os seus lábios, o fazendo engasgar e lhe levando a ter consciência de que poderia morrer ali sem socorro. Sua magia adquiria tons avermelhados de gana e se descontrolava a cada passo que dava. Um vermelho sangue que se escurecia, diante da revolta crescente, no seu íntimo e transbordava por seus poros.
Snape se via sozinho e indefeso, com os seus amigos longe de toda aquela cena hedionda... todos os que ainda se aproximavam, para assistir o que ocorria, somente riam de sua desgraça. À sua volta, só existiam apoiadores para aquele bando, os incentivando o tempo inteiro para que a agressão continuasse.
- Meu velho Sniv, não chore! Estamos aqui entre amigos e só queremos ajudá-lo a tomar um banho decente. Imagino que viver no esgoto e comer lixo deva ser muito difícil – James gargalhava, o agarrando pelos cabelos para que se erguesse.
Era assim que agia, humilhando os outros e o violentando diante dos olhos de seus comparsas. Conseguindo toda a atenção desejada, desde o início, lhe deram alguns socos e pontapés. Queriam mostrar a sua força e como quem ousasse se opor ao que queriam era punido publicamente. Sairiam impunes de qualquer modo e isso os alegrava ainda mais.
- Quero saber se alguém aqui quer ver o que eu vou fazer agora com esse morto de fome? Esse porco imundo aqui achou que poderia chegar perto do que nos pertence. Achou que poderia tocar nas nossas propriedades. Acreditam? – Sirius interrogava os demais em alto e bom som.
A resposta foram inúmeros acenos positivos para que prosseguissem com toda aquela agressão. A multidão, formada majoritariamente, exigia um linchamento daquele que ofendera os seus reis. Sem pressa, James o içou no ar com o Convertat, virando Snape de cabeça para baixo. Sorrindo abertamente, movimentava a varinha para que, a qualquer momento, batesse com o rosto no chão... de preferência, desejava que caísse e quebrasse o pescoço, seria menos uma escória no mundo para se preocupar.
Lupin, presenciava tudo de longe, com um ar de imenso desgosto impresso em seu rosto e sem qualquer reação para impedir que continuassem com aquilo. Mesmo que não confessasse, sentia medo do que os seus amigos poderiam fazer com ele, no instante em que se opusesse a qualquer um dos desmandos que tanto os divertiam. Ao mesmo tempo, Pettigrew aplaudia para encorajá-los ainda mais.
- Desce ele, imediatamente, Potter! O que o Snape fez a vocês? Deixe-o em paz! – uma voz feminina gritou, tentando amenizar a situação, cada vez mais tensa e absurda.
James e Sirius olharam em volta para ver quem ousara interromper o seu show. A mão livre de James, imediatamente, se ergueu para mexer no próprio cabelo e se exibir mais um pouco ao ver de quem se tratava. Lá estavam quem eles tanto ansiavam que surgissem e lhes elogiassem pelo o que realizavam.
Arrastando Marlene pelo braço, Lily era a única que protestava e se mostrava incomodada com aquele cenário hediondo. Estava decidida a parar com aquele inexplicável ataque moral e físico, que o colega sofria... também, era um jeito muito eficaz de chamar a atenção de quem lhe interessava.
- Tudo bem, Evans? Estamos nos divertindo aqui! Por que não podemos auxiliar um miserável a tomar banho? Nós que somos ricos e mandamos em tudo, devemos ser solidários com quem vem do lixo e com os bastardos! Ser bondoso virou crime? – perguntou James, com um tom de voz mais maduro, profundo e agradável, se valendo de uma expressão falsa de abatimento.
- Eu já disse que é para deixá-lo em paz! O que ele fez contra você? – repetiu, o questionando, enquanto o encarava com antipatia e repulsa.
- Bem... é mais o fato de que ele existe, se é que me entende... eu vejo apenas um animal, que julga ser humano, pensar que pode conviver com aqueles que nasceram para governar – comentou, parecendo deliberar o ponto, expressando o que realmente acreditava.
Muitos desandaram a rir, às gargalhadas, incluindo Sirius, Marlene e Pettigrew. No entanto, Lupin e Lily, permaneceram sérios diante das frases e da situação como um todo.
- Você acha isso engraçado? Você acha que é superior a ele? Eu tenho algo a lhe contar... você não passa de um idiota, arrogante, valentão e presunçoso, Potter. Deixe o Snape em paz! Eu estou mandando que pare com isso! – esbravejou com uma certa violência na voz.
- Eu obedeço se você sair comigo. É só você começar a fazer o que eu quero, que eu não encosto a varinha no Snivellus novamente. É uma boa troca, não acha? – respondeu altivo e com um sorriso arrogante emoldurando o seu rosto.
Atrás dele, o feitiço começava a se desfazer, aos poucos. Snape se inclinava em direção a sua varinha caída, rastejando e cuspindo a espuma, sempre que se contorcia a cada movimento. Aquilo o revoltou... rastejando até a sua varinha, escondida no meio da grama, esticou o braço para pegá-la rapidamente. Pela primeira vez, em toda a sua vida, se sentia sujo e violado.
- Eu não sairia com você, nunca, Potter! Nem que eu necessitasse escolher entre você e uma lula gigante – afirmou Lily indignada.
- Não foi dessa vez, Prongs! Na próxima, ofereça dinheiro, elas sempre aceitam – brincou Sirius, se voltando em direção a Snape.
Contudo, foi tarde demais. Ele apontou a varinha para James e houve uma explosão de luz... um pequeno corte apareceu ao lado de seu rosto, salpicando as roupas com algumas gotas de sangue. Ele errara o feitiço por ainda estar um pouco atordoado e aquilo o irritava.
James se voltou enraivecido e cego de ódio, criando um feixe de luz e, em seguida, Snape estava pendurado de cabeça para baixo no ar. Suas vestes caindo sobre a cabeça, revelavam as suas pernas magras e pálidas, até que as suas calças foram arrancadas... e a sua cueca de cor cinza foi exposta. Era o ápice da humilhação.
A multidão que, agora, assistia irrompeu em aplausos. James, Sirius e Pettigrew rugiam de tanto gargalhar... Lupin se mantinha impassível, cruzando os braços junto ao peito, balançando a cabeça em negação e repúdio a todo o ato que presenciava.
A expressão de repugnância e execração de Lily se desfez, por um instante, a forçando a morder as bochechas para também não rir da cena. No fundo, aprovava tudo aquilo e era uma oportunidade de ostentar o quanto era difícil para quem lhe interessava tanto.
- Desça-o agora! – ordenou sem que houvesse uma real força em suas palavras.
- Certamente, minha ruiva – falou James, erguendo a varinha, imponente.
Girando para que Snape caísse no chão, fez questão de cuspir no rosto dele, para rebaixá-lo um pouco mais. Seus olhos queimavam de raiva, enquanto se desembaraçava de suas roupas com exasperação, conseguindo se levantar rapidamente com o ímpeto de revidar.
- Petrificatus – Sirius murmurou rapidamente, o imobilizando novamente, duro como uma tábua.
- Parem já com isso! – berrou Lily, apontando a própria varinha para James e Sirius, que se entreolharam com cautela.
- Olha, eu quero transar com você, sabe? Só que, sinceramente, não me force a lhe golpear também – James se pronunciou calmamente.
- Retire a maldição – asseverou bastante séria, ignorando o que acabara de ouvir, por alguns instantes.
Suspirando profundamente, para demonstrar o desconforto que sentia, sussurrou a contra maldição. Entretanto, não esperava que Snape fosse reagir... quase assobiando as letras, o Lacriman, foi mais uma vez proferido. Seu ódio extravasou ao escutar James urrando de dor, como um animal ferido, com as duas mãos no rosto.
O sangue vertia dos cortes abertos e nada fazia parar... queria que ele definhasse na frente de todos. Finalmente, aquele feitiço criado para imitar as navalhas, tinha alguma utilidade e, se preciso fosse, utilizaria em qualquer um que aparecesse na sua frente.
- Aqui está o que eu recebo em agradecimento! Você tem sorte de ela estar aqui, Snivellus... senão, eu o mataria aqui mesmo – exclamou, ao mesmo tempo em que cambaleava, tal qual o seu adversário, para ficar de pé.
- Eu não careço de auxílio de malditos mudbloods, iguais a Evans, para me defender! Você é que necessitava dessa insignificante para ser alguém – declarou com rancor e ojeriza aquelas frases.
- Mas, como? O que você fez com o James... seu maldito Death Eater! – gritou Lily, correndo para socorrer o pretenso futuro namorado, que berrava de dor e se debatia em sofrimento.
Um pouco atordoada com o que vira e o que ouvira, não assimilava o que fora dito e nem entendia de que forma, ou em que momento, James fora atingido por alguma coisa. Parecia que mil facas rasgavam a sua face e nada do que dissesse fazia parar... aquilo o desesperava e, quanto mais o tempo passava, maior era a angústia que lhe sufocava e queimava o seu peito.
- Cala a sua maldita boca, mudblood! Você não passa de uma sujeitinha de sangue ruim! Ninguém a chamou aqui... eu não preciso da ajuda de gentinha repulsiva na minha vida – Snape sibilou a agarrando pelo braço, a jogando para longe do outro.
- Eu sou um Death Eater, Evans? Se eu fosse, mataria você agora mesmo e acabaria com boa parte dos meus problemas – afirmou apontando a varinha em direção a ela.
- Você não tem coragem, Snape – Lily o enfrentou, mesmo com medo.
- Me desafie, mais uma vez, e você aprenderá que a morte é um presente perto do que eu posso fazer – disse se aproximando perigosamente.
- Tudo bem, então... eu não vou mais me preocupar com um vagabundo, morto de fome, igual a você. Aliás, eu lavaria essa cueca suja, Snivellus – respondeu friamente.
Seus olhos estavam cobertos por uma nuvem de nojo e indiferença, não se importando com quais eram as verdadeiras intenções que a fizeram sair em sua defesa. A única coisa que lhe afetava eram os seus mais profundos sentimentos de ódio que o atordoavam.
Que toda a história se repetisse, que fosse tudo exatamente igual a partir daquele instante... encarando Lily, via uma menina falsa, fútil e interesseira, que se valera de uma situação de horror para gracejar para James. Isso, só o fazia constatar que se tratava de alguém asqueroso, em vários níveis torpes, que usava cabeças como escada para ascender socialmente. A julgava como digna de pena e nojo, nada mais. Talvez, sua morte fosse a melhor coisa planejada por Voldemort mesmo.
No entanto, antes que pudesse argumentar qualquer outra coisa ou tivesse uma nova reação, foi golpeado pelas costas... Sirius acompanhado por Pettigrew, o socava sem parar, até que James tivesse alguma condição de se reunir ao linchamento. Para eles, Snape não passava de um animal perigoso que precisava ser abatido na frente de todos.
Lily e o restante da escola, que ali se encontravam, riam e o chamavam de vários xingamentos... a multidão incentivava para que não parassem. Já estava julgado, condenado e, faltava muito pouco, para ser executado. O fato de ser slytherin o impedia de ter direito à defesa ou apelação. Deveria morrer.
- Agora, a melhor parte do show... preparados? Nós vamos arrancar o resto das roupas do Snivellus! Achamos que não basta apenas ver o quanto está encardida a cueca dele! Querem ver mais? Esse lixo tem todo o jeito de ter o pau pequeno – Sirius gritava a plenos pulmões para ter toda a atenção para si.
Nesse ponto, ao ver que os amigos chegaram ao cúmulo de rasgar e tirar as vestes de Snape, em público, Lupin foi se debatendo entre os demais até alcançá-los e parar com aquele espetáculo horroroso. Estava convicto de que, se deixasse, o matariam sem pensar duas vezes. Os três tinham uma expressão assustadora de raiva em seus rostos e isso o chocava... não lhes era suficiente uma situação de desorientação e de pânico, causada a quem consideravam mais fraco e inferior? Até que ponto eram capazes de ir?
Ouvindo os comentários dos alunos da Hufflepuff sobre os acontecimentos e o quanto estavam horrorizados, Bellatrix apressou os seus passos... chegando ao pátio às pressas, ao ver a cena, jogou um Praeveni contra os quatro e um Defendat em direção a Snape. Não importava quem iniciara a briga, o que via era apenas covardia e injustiça.
Regulus, que vinha mais atrás, acelerou o passo para ir auxiliar. Empurrando alguns gryffindors e ignorando a presença do irmão, ou que o mesmo tentava dar alguma justificativa, se abaixou para erguer o amigo do chão. A indignação os consumia e, com uma ira assassina nas feições, testemunhavam que Snape estava semiconsciente e nu... o suficiente para que fossem capazes de arrebentar o maior número de pessoas que ainda estivessem ali presentes.
- Pode me dizer o que aconteceu aqui? – Bellatrix deu um empurrão forte em Sirius, colocando a varinha em seu pescoço ameaçadoramente.
Não era porque namoravam, ou o enxergar apenas como a sua primeira grande missão dada pelo Lord das Trevas, que ficaria proibida de amaldiçoá-lo... na realidade, essa era a sua maior vontade desde as suas memórias mais remotas de infância, por ele sempre a deixar irritada. Porém, deixaria esse seu impulso para uma outra ocasião. Ainda não era o momento certo.
- Esse idiota chamou a namorada do Prongs de mudblood... sujeitinha de sangue ruim! Ele também fica cercando você o tempo inteiro, Bella... – Sirius começou a tentar se explicar em um tom solene de convicção quanto à validade de suas atitudes.
Daria todas as suas motivações e, certamente, lhe apoiariam em tamanha barbárie. Ele estava certo e essa era a única verdade a ser compreendida. Mas, ao contrário do que esperava, foi imediatamente interrompido.
- Não me diga que o seu amiguinho chupa bolas está namorando essa vadia?! Que interessante! O que eu não assimilei é qual a razão da sua revolta? Essa cadela é o que exatamente? Para que esteja tão incomodado, com a realidade, essa vagabunda já deve ter fodido com você – afirmou de um jeito afrontoso.
- Aliás, para seu aviso, eu converso com ele quantas vezes eu quiser e quando eu quiser. Você não manda em mim, Sirius. Nem que eu me case com você, terá o direito de pensar que pode impor alguma coisa ou decidir sobre qualquer assunto que me diga respeito – prosseguiu séria e sem dar chances para qualquer nova alegação.
Nada fundamentava uma situação como aquela... Sirius poderia um dia ter conseguido toda a sua admiração e respeito, se tivesse atitudes condizentes com a sua postura sempre corajosa e destemida. Entretanto, nada mais era do que um covarde, que necessitava agir em bando para conquistar uma vitória em meio à briga. Simplesmente, Bellatrix ficava enojada de ser obrigada a seguir envolvida com um homem igual àquele.
- É sempre assim... você, a Cissy ou a Andy sempre defendendo esse ranhoso de merda! Esse filho de uma puta que dá para o Rosier – gritou, cruzando os braços, ao se certificar de que ela se afastava.
- Vai se foder, Sirius! Modere a sua maldita língua antes de falar da senhora Eileen Prince ou do meu tio Jules. Você não passa de um vagabundo rasteiro, que não é bosta nenhuma para se achar no direito de julgar os outros! Quem você pensa que é, hein?! – o encarou com ódio, deixando os seus olhos escuros como a noite.
Vê-la agir assim, o feria profundamente, seu coração doía. Tudo o que fizera, e se pudesse iria mais além do que estivesse ao seu alcance, era para que Bellatrix o amasse mais. Porém, só recebia em troca desprezo e censura, por conta de alguém que o ignorava. Um ser que o tratava como se fosse um nada.
- Agora você se cala?! Não era o macho que estava cagando regras aqui? Seus amigos oportunistas, fugiram assim que tiveram a chance e o abandonaram aqui. Parabéns! – ironizou soltando um pequeno bufar de riso pelas narinas.
- Saiba que eu não tenho tempo e, muito menos, paciência para o seu ciúme! Se continuar assim, pode procurar outro rumo na sua vida, porque eu não vou aguentar – disse sem demonstrar qualquer emoção ou abalo.
Se voltando na direção de Regulus e Snape, que se solidarizava e revelava o quanto era empático a dor que o amigo sentia, viu que ambos conversavam e ignoravam a discussão para não se estressarem ainda mais. A questão é que nada disso importava... pois, Bellatrix estava preocupada. Analisando os ferimentos, para atestar se eram graves ou não passavam de cortes e arranhões, o examinou mais algumas vezes até ter certeza de que estava tudo bem.
- Quebraram o seu braço e algumas costelas, esses animais... mas, você ficará bem – disse, com o cenho ainda franzido, incomodada.
A reaproximação entre eles trouxe clareza e honestidade aos gestos que destinavam um ao outro. Nada poderia destruir ou desestabilizar isso. Estava além da compreensão daqueles que testemunhavam como meros expectadores.
- Estou bem e vou sobreviver, Gamma Orionis... ninguém ocupará o meu posto de honra, nem mesmo você, que é uma oportunista – comentou, dando um sorriso sarcástico, de um modo que a fez bufar e revirar os olhos em desaprovação.
- Admita, uma vez que seja, que não passa de uma completa idiota! – riu, fazendo uma expressão de dor pelas pontadas que se espalhavam por todo o seu corpo, não podendo mais dissimular o que sentia.
- Ora seu imbecil, você deveria começar a ser mais grato com a sua única salvadora! Confesse que me ama e que eu sou a melhor pessoa que você conhece, cunhadinho – respondeu a provocação com um ar arrogante e divertido.
Detestava quando alguém se deleitava ao notar qualquer traço sentimental, ou empático, em seu rosto. Sobretudo, quando essa pessoa era, justamente, Snape. Ele jamais deixaria de rir das suas fraquezas ou implicar com os menores detalhes que percebesse em seus gestos.
- Melhor pessoa... sei – ironizou, crispando os lábios, para prender o gemido baixo de dor que tentava sair.
- Deixe de ser birrento e encrenqueiro – comentou, semicerrando os olhos, cruzando os braços junto ao peito e mostrando a língua para ele.
- Bella, eu já falei para o Snape que todos serão avisados do que aconteceu aqui... o ataque que ele sofreu não ficará assim – comentou Regulus, o ajudando a dar alguns passos, olhando para a prima com um olhar cheio de significados e cumplicidade não revelados.
- Bella? – Sirius a chamou, tentando se reaproximar, recebendo um empurrão do irmão como resposta.
- Vê se não enche, seu idiota! – disse dando às costas e seguindo, por estar cada vez mais cansado dos gestos infantis por parte dele.
Aquela não era a hora e nem o momento para tentar conversar ou procurar um tipo de reconciliação. Quanto mais, buscar qualquer esclarecimento, com Bellatrix furiosa... tanto que, assim que encontrou Lily nos corredores, a ameaçou de morte na frente de mais da metade de Hogwarts, sem se importar se haveria ou não consequências.
Com o conflito encerrado e os alunos dispersados, novamente, Slughorn e McGonagall tiveram de levar todos os envolvidos para se explicarem com Dumbledore. Andando pelos corredores, o diretor da Slytherin reclamava que, em pouquíssimo tempo, seus alunos haviam sofrido dois ataques.
Evan mal saíra da ala hospitalar, após um bom período de internação, por ter os dentes arrancados e alguns ossos do rosto tendo de ser reconstruídos, agora era Snape, com as costelas e um braço quebrado. Mais um sendo obrigado a receber tratamento médico graças à impunidade que ali era exercida.
Mas, o que mais lhe preocupava, era o corte no supercílio esquerdo e a poça de sangue que se formara dentro do olho do aluno. Não falaria a respeito de sua apreensão, mas temia que ele tivesse sofrido algum tipo de dano grave na retina e pudesse perder a visão. Aquilo seria o fim da carreira brilhante que teria...
O assunto ultrapassou os corredores... a agitação demonstrada pelos demais professores, que se revoltaram diante de uma situação inadmissível como aquela e a complacência com determinadas atitudes agressivas dos Marauders, já expunha qual era o tema principal daquela reunião forçada. Na sala da direção, dos quatro apenas Lupin permanecia em silêncio, ouvindo de cabeça baixa toda a discussão sobre o ocorrido.
Estava reflexivo quanto a sua omissão e como poderia ter impedido o desenrolar daquele episódio, perturbadoramente, violento. Por mais que pensasse, não assimilava qualquer razão verdadeira para aquele ataque, muito menos, os motivos que levaram Sirius a ficar tão enciumado... jamais ele ou Bellatrix esconderam as traições e, muito menos, o quanto se divertiam envergonhando um ao outro. Era uma relação em que a degradação era reciprocamente afrodisíaca.
No entanto, o problema não era esse... havia alguma intenção oculta em tudo aquilo. Um propósito não dito. Bastava descobrir a finalidade que o incentivou a ir tão longe. Contudo, nada disse, seguindo na sua postura negligente e reclusa.
- Expliquem... – disse Dumbledore, sem a mansidão habitual na voz, ao ver que seus meninos de ouro estavam novamente metidos em confusão.
Ao contrário do que sucedera com Evan e quatro alunos da Ravenclaw, nesse caso, não conseguiria acobertá-los alegando que a inexistência de provas os fazia ficar livres das acusações. Tinham muitas testemunhas para ameaçar ou apagar as memórias... o que tornava tudo mais difícil.
Intimamente, estava preocupado pela certeza de que, a qualquer instante, algum slytherin enviaria uma coruja aos pais relatando tudo o que acontecera desde o início do ano e o seu cargo estaria em risco. Ainda mais, se a mais alta cúpula do Ministério da Magia fosse alertada. O que sucedera, ultrapassara todas as questões que validariam a tese de uma troca de insultos ou desentendimento entre adolescentes descontrolados... foi uma agressão moral, física e sexual, tornando a baderna séria demais para que pudesse ser escondida.
Respirando fundo, ponderava todos os cenários e justificativas, para fundamentar aquela como mais um deslize. Uma afirmação que apoiasse o seu argumento de que, não passava de uma simples quebra de regras... uma detenção de duas semanas seria suficiente para que pusessem as ideias no lugar. O problema é que, isso não seria aceito tão facilmente por todos.
Interrogando a todos, explicações exaustivas foram dadas. James gritava, batendo no peito, que não era culpado de nada. Que era uma vítima de armação. Sirius, por sua vez, chorava compulsivamente... jurava que havia sido atacado e que estavam prestes a serem sacrificados na execução de algum plano maquiavélico e absurdo para desmoralizá-los. Tudo isso, porque eram pessoas amadas por todos e eram alvos da inveja alheia.
- Deve ter sido alguém, professor, se passando por nós... certamente, aqueles canalhas da Slytherin – alegou Pettigrew.
- Professor Slughorn, solicito que o senhor Snape venha até aqui e dê a sua versão dos fatos – Dumbledore disse massageando as têmporas, dada a dor de cabeça que sentia, por conta de toda aquela confusão.
Com passos lentos, pelas dores na coluna e as costelas em recuperação, Snape seguiu com o professor para dar o seu depoimento. Bellatrix, que os acompanhava de perto, discursava quanto a todo aquele absurdo. Alegava que, aquela era uma grande oportunidade de Slughorn decretar uma rebelião contra tamanhos desmandos e abusos que muitos estavam sofrendo em Hogwarts.
Detestava Dumbledore e considerava que o diretor da Slytherin era a pessoa mais indicada para assumir o posto máximo na escola... e, enquanto ela seguia discursando sobre isso, por cerca de 40 minutos, os três entraram no escritório. Ali, encontraram os quatro Marauders ainda sentados com expressões de contrariedade em seus rostos. Deviam ter sofrido algum tipo de repreensão, mas, era improvável que isso tivesse acontecido.
- Senhor Snape, fico feliz que já esteja recuperado do pequeno acidente no pátio da escola. Obviamente, foi uma brincadeira malsucedida por parte dos seus colegas e... creio que, o melhor para todos é esquecer esses desentendimentos irrelevantes que vem ocorrendo aqui – afirmou o diretor, lançando a ele um olhar compassivo e gentil.
Sua atitude visava convencê-lo a não prestar queixa, caso os Aurors aparecessem... Snape o encarou, com o olho ainda completamente negro pelo sangue acumulado, segurando o ódio profundo que sentia ao se ver desprotegido. Era revoltante e, ao mesmo tempo, revelador.
- Deixe-me entender, professor... eu sou humilhado, espancado e, para o bem desses anormais, eu devo ignorar tudo o que eu sofri? É isso mesmo, senhor? – questionou, tentando se movimentar o mínimo possível.
Medindo bem as palavras, considerava cada frase e como as colocaria de forma a ficar mais convincente. Qualquer coisa daria a Dumbledore a oportunidade que esperava para reverter a situação... conhecia o jogo o suficiente para saber com quem estava lidando. Ainda mais que notava, dentro daqueles olhos azuis, uma clara procura por uma brecha para o acusar de ser o único responsável e gerado aquela briga.
- Francamente... como o senhor ousa dizer que ele deve esquecer disso? Esses imbecis quase o mataram! – Bellatrix se envolveu na discussão, com o dedo em riste.
- Senhorita Black, creio que o seu comportamento está quebrando muitas regras irrevogáveis de Hogwarts – asseverou.
Sem se dar por vencida ou se abalar com a ameaça velada que acabara de receber, prosseguiu. Nada a faria desistir de reclamar de tamanha injustiça, muito menos pararia de se revoltar com uma humilhação ou desrespeito total pela dignidade alheia. Nunca tinha visto um abuso naquele nível...
Por mais ambiciosa e cínica que fosse, não se via descendo tão baixo por um cargo ou a manutenção de poder... era nojento e, incomodamente, vergonhoso alguém se prestar a um papel daqueles. Aquilo a nauseava e a ofendia em graus extremos.
- Senhorita Black, por que criar ou levantar questões tão problemáticas desnecessariamente? Imagine o seu tio tendo de vir aqui por uma bobagem feita pelo seu primo? – respondeu, tranquilamente, para deixá-la ainda mais impaciente.
Queria evitar ao máximo que Orion ou Walburga fossem até lá... ainda mais depois que o filho lhes desejara uma morte cruel e dolorosa. Principalmente, quando atestara que, para Bellatrix, aquele assunto não seria esquecido. Certamente, já notificara mais da metade da família com notícias sobre os acontecimentos.
- Senhor Snape... infelizmente, tenho que lhe recordar o quanto ofendeu a senhorita Evans gratuitamente e, ela, não está aqui o acusando de nada. Então, não darei continuidade a esse tema tão pequeno. Os rapazes já concordaram em lhe pagar pelo uniforme rasgado e o cumprimento de uma semana de detenção, o que faz com que isso esteja resolvido. Agora, podem ir – concluiu, fazendo um gesto com a mão para que se dispersassem.
Mesmo que notasse o olhar desgostoso de três dos diretores das casas em sua direção, se negaria a prejudicar os seus protegidos. Snape não era nada... qualquer coisa, apagaria a memória dele e tudo seria esquecido. Os Marauders eram valiosos demais para serem perdidos em prol do bem-estar de um qualquer. Pelo menos três deles seriam muito úteis, aos seus planos, em breve.
No dia seguinte, o Conselho Diretivo, chefiado por Abraxas Malfoy estava atravessando os portões de Hogwarts. Acompanhando Eileen, Rosier e os primos Black, Orion e Cygnus, intimaram Dumbledore a ir prestar esclarecimentos quanto às acusações recebidas contra a sua administração. Pois, a gravidade do que receberam no Ministério da Magia, deixara muitos indignados... não se tratava apenas de descaso, aquilo ia muito mais além, por se tratar da mais profunda conivência com atitudes criminosas e uma tentativa de homicídio.
Tal preocupação, por parte de alguns, era impulsionada pela ordem dada por Voldemort para que medidas drásticas fossem tomadas imediatamente. Embora não tivesse sentimentos, não admitiria que, o seu menino brilhante e promissor, fosse atacado e nada fosse feito. Snape era o seu braço direito e seu general que lhe prometera a vitória absoluta na guerra.
Ao mesmo tempo, Sirius deixava de ser apenas um mero reprodutor de luxo, para o cumprimento de seu acordo com Snape, se transformando em um dos seus alvos. Para o Lord das Trevas, assassiná-lo pessoalmente, passara a fazer parte dos seus planos futuros.
