Uma semana após o casamento de Evan e Elizabeth, tudo parecia ocorrer com a tranquilidade que os dias felizes trazem aos corações. O tempo passava devagar, como se o relógio preguiçoso se negasse a mover os seus ponteiros. Entretanto, as nuvens carregadas e cinzas, expunham uma visão diferente das sensações que os dias proporcionavam... como se os deuses planejassem uma virada no destino, as sombras espreitavam às almas no horizonte.

Em uma virada repentina, com as horas seguindo, morosamente estranhas e conflitantes, o céu começava a refletir toda a escuridão e a tormenta que recaía em cima dos ombros de alguns. Era a tormenta, a tragédia que chegava e romperia a qualquer momento.

Indignado, Lucius, andava de um lado ao outro. Sua mente estava perturbada e soturna... seus desejos hostis e violentos o asseguravam de que Narcissa jamais teria o direito de abandoná-lo. Nunca seria algo sem ele ao seu lado. Como pode desonrar a sua imagem? Abandonar a promessa que seus pais fizeram de que se casariam assim que concluíssem os estudos?

Ela era a sua melhor propriedade, o seu brinquedo predileto que lhe concederia o que almejasse... mesmo que fosse por obrigação e à força, já se encontrava submetida ao seu domínio, desde que Abraxas a comprou por um preço alto. Passando as mãos nos próprios cabelos, sua pulsação vibrava e seus olhos eram como dois infernos celestes, planejando como torturá-la até que implorasse o seu perdão.

Não perderia o seu troféu, a única Black que nascera com os cabelos loiros... Narcissa era uma raridade que, apenas o herdeiro dos Malfoy, tinha o direito de expor publicamente como sua e usufruir como quisesse. Qual era a dificuldade em compreender esse simples detalhe? Só podia ser burra o suficiente para crer que toda a sua enganação sairia impune.

Porém, os esboços mais cruéis e maníacos que se desenhavam na sua imaginação, não seriam executados de uma maneira simples e transparente... contar para Druella e Cygnus o que sucedera não era suficiente. Faria mais e melhor. Teria que perder o emprego na Parfumerie Belles Sorcières e tudo aquilo que amasse.

Narcissa teria que rastejar, sofrer, o premiar com o seu desespero... retornar ao seu completo controle e concordar que merecia ser subjugada o tempo inteiro. Lucius sorriu com as idealizações formadas por seus pensamentos. Dedicaria, diariamente, um catálogo de xingamentos ofensivos e destruiria a autoestima dela totalmente.

- Você jamais deixará de ser uma bruxa fraca e desprezível... sua desgraçada! Vai me pagar por toda a vergonha que eu senti, quando aquele mestiço imundo me ameaçou, Narcissa – disse esmurrando a mesa.

Explodindo todos os cristais à sua volta, seu sorriso doentio e presunçoso emoldurava o seu rosto, o deixando com uma expressão demoníaca. Pegando um pobre elfo, que passava naquele instante pela sala, o socou até que o brilho insano e psicótico sumisse de sua face.

Chutando o pequeno corpo assolado e irreconhecível, riu abertamente... faria isso com todos aqueles que não obedecessem às suas ordens. Sempre seria superior até mesmo entre os sangues puros e, logo, os obrigaria a se curvar a todas as vontades que tivesse. Talvez, futuramente, os controlasse e entrasse nas casas para estuprar as suas filhas. Um tributo, mais do que aceitável, para ser pago ao seu senhor absoluto.

Alheia a todos aqueles projetos absurdamente hediondos, Narcissa caminhava tranquila pela Rue Auber com a sua imaginação projetando cenários interessantes e exitosos. Analisando a rua movimentada, com os traços serenos marcando a sua face, respirou fundo e olhou para o céu. Infelizmente, não conseguiria ver a Lua Azul daquela madrugada, devido ao tempo nublado... um pouco chateada, com aquela constatação, deu mais alguns passos até o Café de la Paix, para observar as primeiras gotas batendo contra o vidro.

Gostava do tempo chuvoso, das nuvens escuras e tristes, que parecia decretar a morte de algo e incentivar os sonhadores a não desistirem de suas ilusões. Aquele clima a fazia recordar de vários lugares no Reino Unido, dos momentos felizes que vivenciara ao lado de Snape ou com as irmãs, a deixando emotiva diante de tal espetáculo poético que se delineava diante de sua visão.

Como se tudo estivesse se movendo mais devagar, o som da Moonlight Sonata ecoava generosamente, naquele grande salão projetado no governo de Napoleão III. O que mais esperar quando, o destino, esfumaça os seus propósitos? Quando o seu sexto sentido lhe garante que, a sua profunda paz, será abalada pelo caos interior que luta para emergir?

A música, nos seus timbres chorosos saídos de cada uma das teclas, expunha a orquestra dispare a respeito de si mesma. Límpida, objetiva, distanciando os sonhos das noites agitadas que a atormentavam desde a infância.

O que mais a assustava era que, não se enxergava mais capaz de lembrar, quando os seus pais converteram o mais importante em uma verdadeira farsa. Refletindo quanto àquele tema, pediu ao garçom um chocolat viennois para acompanhar o sablé fraise. Morangos e chocolate sempre compunham as engrenagens que a amparavam, sobretudo, ao necessitar de uma pausa para colocar os pensamentos em ordem.

- Por que eles são incapazes de me proteger daquele estúpido? – murmurou, colocando um pouco de canela sobre o chocolate quente, enquanto movimentava a colher calmamente.

Cada vez mais farta de tudo aquilo, Narcissa bufou baixinho, olhando para a pequena torta à sua frente. Se enxergava nervosa, acuada e perdida, especialmente, após receber diversas cartas de seus pais a interrogando quanto retornaria à Inglaterra.

Contrariamente ao que esperava, ao invés de expressarem sentimentos e preocupações saudosas, o conteúdo expunha cobranças sobre quando se casaria com Lucius. Aquilo a revoltava. Eles ignoravam, totalmente, o fato de que o noivo a agredia verbal e fisicamente... tudo girava em torno do dinheiro, dos privilégios que desfrutavam e, acima de qualquer coisa, das honrarias que estavam por vir.

Desviando a mente daqueles conceitos e meditações ruins, sorriu levemente ao recordar de Snape. Sempre interessado nas suas opiniões e sonhos, a incentivava a ir mais além das suas ambições e investisse nos seus próprios projetos. Por mais absurdas que fossem as suas intenções, as palavras dele eram doces e elogiosas, a fazendo não desistir das coisas que almejava.

As atitudes se faziam suficientes, para deixar claro o quanto a respeitava, a admirava e, acima de tudo, a amava. Sem impor limites ou fazer exigências, lhe dava provas concretas de que, o afeto que lhe devotava, era sincero e ultrapassava as demandas meramente carnais.

Isso foi o suficiente para que lágrimas queimassem os olhos de Narcissa... qual seria o preço de sua liberdade? Como manifestar para toda à sociedade bruxa que abandonaria o ilustríssimo, lindo e bem-sucedido, Lucius Malfoy para se casar com Severus Snape? Para ir viver com alguém mais jovem e que mal descobrira como se sustentar?

Foi, após esse longo tempo absorta em suas próprias ponderações, que notou como o clima se estabilizara. Secando uma lágrima teimosa, chamou o garçom para pagar a conta e sair do café. Caminharia por mais alguns minutos, desfrutando do vento gélido, antes de retornar para casa e se arrumar para a festa de lançamento de seus cosméticos à noite.

Aquele seria o seu primeiro passo para se afastar do ambiente tóxico e abusivo, que ainda a cercava e a sufocava... era o reconhecimento, após meses de trabalho duro, que a alegrava profundamente. O bastante para que o sorriso orgulhoso de satisfações iluminasse a sua face.

Os minutos passaram depressa e, quando percebeu, já passava um pouco das 6h da tarde. Se tencionasse prosseguir com o seu passeio e fazer algumas compras na Givenchy, acabaria se atrasando para o seu compromisso inadiável. Nada a faria desistir de ir o mais exuberante possível e, em parte, tinha tudo planejado para que desse certo.

Se apressando um pouco, dando alguns passos largos que os seus sapatos de salto permitiam, procurou um local discreto para utilizar o Evanescet e o Videntur, para retornar o mais rápido possível. Em uma fração de segundos, se deparou com a porta da residência e entrou, com aquele sentimento de felicidade queimando o seu coração. Vibrante, pulsando e cortando como navalha, sua alegria se esvaiu ao se defrontar com Jaiane servindo um copo de whisky para Lucius.

- Tarde... – o cumprimentou, discretamente, subindo as escadas para se manter o mais longe possível.

Não concederia a ele o poder de destruir o seu contentamento... cogitando, naquele ponto, que o melhor a ser feito era o de ignorar a sua presença. O odiava o suficiente para desejar que tivesse um mal súbito e caísse morto, no meio da sala, para que não fosse mais forçada a aguentá-lo.

- Demorou, Narcissa... onde estava? Já arrumou algum amante na rua? – questionou, recebendo como resposta, o barulho dos saltos se chocando contra os degraus.

Nesse mesmo ritmo, cruzou todo o corredor, até chegar ao quarto e proteger a entrada com uma série de feitiços... se deitando um pouco na cama, encarando as sombras que se formavam no teto, planejava como se livraria dele antes da festa. A ideia de matá-lo envenenado, estava descartada, pela possibilidade de ser descoberta. No entanto, o amaldiçoar, era uma hipótese a ser refletida.

- Por que esse imbecil foi aparecer aqui, justamente, hoje? Será que os meus pais o avisaram da festa de lançamento? Como podem ser tão desagradáveis e se dedicarem tanto a estragar a minha vida? – se interrogava baixinho, com um olhar avaliativo e vago.

Respirando fundo e imprimindo a si mesma o ânimo necessário para seguir, Narcissa se ergueu e caminhou até o banheiro, para tomar o seu banho tranquilamente. Se despindo dos medos e das próprias roupas, fez uma expressão desgostosa ao sentir os seus pés tocando o chão gelado.

- Merda... eu sempre esqueço do quanto esse chão pode ser frio, quando eu não o aqueço previamente – reclamou, imergindo na banheira completamente, para relaxar envolta aos vapores da água quente.

Descansando um pouco, permitiu que a sua imaginação fluísse livremente e a carregasse para perto de quem a interessava. Com calma e com os olhos fechados, abriu um sorriso contente, ao sonhar acordada com o sucesso que a aguardava naquele dia confuso.

Foram muitos minutos, talvez horas, de serenidade absoluta. Saindo da banheira, se cobriu com a toalha, retornando ao quarto para pegar um dos seus vestidos novos. Indecisa, se admirava com alguns modelos, até escolher qual seria o mais adequado para a ocasião. O segundo passo era selecionar qual das joias combinaria mais... o que a fez, novamente, se apreciar diante do espelho.

- Narcissa Rosier Black... você está fantástica hoje! Linda – afirmou, com um sorriso irônico e altivo, ao destinar um elogio a si mesma.

O preto discreto e fosco do vestido contrastava com o vermelho sangue do batom que tingia os seus lábios, revelando o quanto o seu humor fora alterado com a presença de Lucius na casa. Retirando os feitiços de proteção, o viu abrir a porta sem emitir qualquer comentário depreciativo ou desprezível. Por longos minutos, com uma expressão crítica e sombria, ficou a encarando a obrigando a ponderar qual era a sua verdadeira intenção.

- Algum problema? – o indagou com a sua melhor máscara de indiferença.

Não existia grandes alternativas, além do fingimento, para enfrentar e lidar com toda aquela situação perturbadora. Quem sabe a sua vida inteira fosse uma série de imposições afetadas e pérfidas? Não importava... aguentaria o máximo possível e se sairia vitoriosa, jamais concederia a desonra de se rebaixar ao nível grotesco dele.

Sempre fora o seu maior dom gerenciar todos os fatos e as ações vindas dos outros. Se fosse necessário, distorceria toda a conjuntura que a cercava a seu favor, era uma Black e, dependendo das atitudes de Lucius, reagiria diante das circunstâncias e mostraria a ele às brasas que forjam a alma dos Black.

- Vamos? Não é hoje a tal festa ridícula para destacar a sua futilidade? Espero, sinceramente, que você não me faça passar vergonha e decida largar esse emprego idiota! Às vezes, creio que é tão burra que esquece da sua obrigação comigo... pelo visto, também não se recorda que se tornando uma velha descartável, porque não servirá nem para me dar um herdeiro – afirmou, cruzando os braços sobre o peito, a encarando autoritariamente.

- Claro, querido. Você tem toda a razão... se eu não me casar com você, inevitavelmente, ficarei sozinha e terei de me prostituir na Knockturn Alley - disse, estremecendo um pouco pela raiva, mantendo o tom de voz baixo e seco.

- Fique bem bonita, assim, eu posso esfregar na cara de todos que possuo uma Black como prostituta de luxo – prosseguiu, abrindo um sorriso arrogante, a agarrando pelo queixo com força para beijá-la.

- O que mais eu seria, não é? – respondeu, sentindo a dor se espalhando por seu maxilar, que continuava sendo apertado.

Com uma clara expressão de nojo nas feições, buscava virar o rosto, para evitar que a tocasse. Seus pensamentos eram rápidos e se chocavam... precisava ater toda a sua atenção naquele momento, para que os seus gestos fossem inteligentes e implacáveis. Sempre calculara, impiedosamente, os seus movimentos.

Quem sabe, realmente, fosse a mais fraca das três irmãs. Porém, sempre foi a mais fria para lidar com situações extremas, se conservando confortável e segura. Isso foi o que a tornou diferente... ser capaz de ter sentimentos genuinamente humanos e, em meio aos problemas, criar estratégias precisas de sobrevivência que lhe fossem oportunas.

- Ainda bem que você concorda, Narcissa... se algum dia, cogitar em se opor ao que eu digo, eu rasgo ou quebro o seu pescoço. Entendeu? Eu sou o seu único dono! Faço com você o que eu quiser. A prova é que, se eu decidir que eu quero transar agora, eu posso lhe estuprar e nada vai me ocorrer. É o meu direito como noivo e cabe a você aceitar – declarou a puxando violentamente pelo braço para que saíssem juntos.

Com o olhar gélido e apático, Narcissa dava passos lentos, buscando não se perturbar com o caos que se desvelava à sua frente. Tinha de transparecer tranquilidade e leveza... não daria para Lucius a felicidade de vê-la desestabilizada e confusa. Era superior a tudo aquilo e, principalmente, a ele.

- Os Black nunca morrem – pensou consigo mesma.

Tirando daquela frase a força motriz que a impulsionaria, seguiu soberba e destinando aos outros um semblante desdenhoso. Era necessário, quando todas as suas armas teriam de ser usadas... aquele era um caminho do qual não poderia voltar.

Ao chegarem ao local da celebração, Narcissa se desvencilhou de Lucius, indo ao encontro de Dominique Dubois para cumprimentá-la. Não deixando nada transparecer, para a dona da Parfumerie, fingiu que se achava radiante por estar ao lado dele e, mais uma vez, mentiria publicamente ao expressar que o amava.

- Esse é o Lucius Malfoy, o meu tão adorado noivo... a senhora já deve ter ouvido falar que ele trabalha como Conselheiro do Ministro da Magia no Reino Unido – o apresentou educadamente.

- Prazer, monsieur Malfoy, eu sou Dominique Dubois... fico satisfeita em conhecer um rapaz tão bonito e com um futuro brilhante. Estou feliz em ver que a mademoiselle Black fará um ótimo casamento – ressaltou sorrindo, cumprimentando Lucius, com um sorriso no rosto.

- É o que eu ressalto à Cissy continuamente... ela nasceu para ser minha e me dar um herdeiro que faça jus ao sangue dos Malfoy – comentou com um sorriso cínico e dissimulado, olhando para a noiva com o canto dos olhos.

Não contestando e permanecendo calada, Narcissa se mostrava um pouco distante e indiferente aos comentários que ele fazia. Conservando uma postura esnobe e aristocrática, continuou dando breves sorrisos e congratulando aos demais conhecidos, com quem esbarrava no salão. Era isso o que esperavam da sua conduta. Educada, impecável e exemplar diante das mais diversas oportunidades e contextos.

As horas passaram, em meio aos risos, as piadas sem sentido, os elogios e os comentários quanto as expectativas criadas a respeito do que fora apresentado. Segurando uma taça de champanhe, atenta ao relato de um colega sobre um acidente em um dos laboratórios, atestou que Lucius desaparecera... era um fato curioso e estranho, que a preocupava demasiadamente.

Vindo dele, aquele era um gesto suspeito e procuraria investigar às causas. Em hipótese alguma a abandonaria em uma comemoração, ou qualquer ocasião que fosse, em que tivesse a oportunidade de a expor ao ridículo e a humilhar em frente aos demais.

Uma dúvida e receio que perduraram menos de uma hora... ao avistá-lo retornar à festa, estremeceu um pouco. Com as feições triunfantes e sombrias, ele foi em sua direção com passos largos e decididos. O olhando ambiguamente, sem assimilar que espécie de plano Lucius passara a ter em mente, Narcissa se assombrou ao receber o primeiro tapa no rosto.

- Essa vagabunda que vocês homenageiam, me traiu com o primeiro morto de fome que encontrou pela frente. Como uma prostituta barata, rastejou e deve ter pagado para que ele a fodesse – afirmava, alterando um pouco a voz, com um olhar de profundo ódio e desprezo.

- Me solta, Lucius! Você... – se debatia, tentando se defender, sem conseguir reagir de forma precisa.

Dando um soco no rosto, que a deixou atordoada, ele aproveitou para arrastá-la pelos cabelos para fora da festa. Ninguém fez qualquer coisa para impedi-lo, assistindo a agressão como se fosse algo comum e aceitável. Narcissa chorava e tentava se proteger em vão... suas lágrimas não eram de medo, mas de ódio e raiva, o que desestabilizava o seu núcleo mágico.

A esmurrando várias e várias vezes, até que perdesse a consciência, os seus olhos eram escuros e psicóticos. Se pudesse a mataria... contudo, queria mais. Como projetara, ela sofreria muito antes de definhar em suas mãos.

- Agora vem a melhor parte, vadia... seus pais vão ser informados de quem você é – sussurrou, próximo ao ouvido, do corpo inerte.

Chegando à Black Manor, Narcissa acordou desnorteada. Piscando os olhos algumas vezes e sentindo o sangue quente escorrendo por seu rosto, tentou se erguer do chão ao vislumbrar que os pais a olhavam. Estava fraca e seu corpo doía... não conseguia se mexer direito, certamente, por conta de um braço ou costela quebrada durante aquela série de golpes que recebera.

- Mãe? Pai? Por favor, me ajudem – implorava, segurando os gritos de dor que lhe rasgavam a garganta.

- Lucius nos explicou quanto a essa cena deplorável – Druella disse com uma expressão fria e a voz sem esboçar qualquer emoção.

- Qual homem não se descontrolaria, Narcissa, ao presenciar a sua futura esposa o traindo? Nós entendemos o quanto ele se desesperou ao testemunhar como você foi baixa – Cygnus enfatizou.

A encarando da cabeça aos pés, seu semblante era uma mistura de nojo e desgosto... Narcissa se encontrava machucada, com hematomas e cortes, que se distribuíam pelo rosto e nos braços. Com o vestido rasgado e descalça, era o retrato de tudo aquilo que os sangues puros mais abominavam. Não passava de uma traidora de sangue.

- É mentira! Ele invadiu a minha casa e foi comigo para a festa de lançamento dos cosméticos que eu criei... Lucius me perseguiu e me agrediu na frente de todos! Essa é a realidade que os senhores se negam a enxergar – argumentou desesperada.

- Não há justificativa... você o traiu com um mudblood, pelo o que ele nos relatou. Por mais que isso possa me doer, que ele foi bastante benevolente em apenas lhe dar uma surra. Se eu estivesse no seu lugar, você estaria morta – Cygnus enfatizou pausadamente.

- Mas, pai... – Narcissa tentou, novamente, expor a verdade em vão.

- Não há mais nada a ser dito! Estamos fartos das suas mentiras e insinuações contra um rapaz que sempre foi tão generoso e gentil. Você não passa de uma vergonha para a nossa família... eu serei bondoso de lhe dar 1h para retornar à França e pegar os seus trapos. Depois, suma das nossas vidas! A partir de agora, não é mais a nossa filha – concluiu lhe dando as costas.

- Pai... eu juro que não fiz nada de errado. Por favor, me ouça uma única vez – implorou, se ajoelhando aos pés dele, para que lhe desse atenção.

- Não se refira ao Cygnus como seu pai, sua amante de mudbloods! Saia daqui – Druella lhe deu um tapa no rosto, a fazendo tombar para o lado.

- Sujou o nome da nossa família e ainda quer sair como vítima? Você não passa de uma sonsa! Não sei como eu pude criar alguém que, ao invés de nos encher de orgulho, age como uma prostituta barata – afirmou indignada, despejando toda a repulsa que sentia.

A agarrando com força pelo braço, a expulsou de casa, lançando contra Narcissa o Doloribus. Gritando de dor, como se os seus músculos e ossos estivessem se rompendo, foi se afastando desesperada. Nunca imaginaria que os seus pais, um dia, a torturariam e se orgulhariam de testemunhar o seu sofrimento.

Lucius, que estava escondido próximo a uma árvore, aproveitou a chance para a espancar mais um pouco. Não se sujaria a estuprando... teria outras oportunidades para o fazer e aproveitar de todo o sucesso de seu plano.

- Para... eu odeio você, seu porco imundo! Eu quero que morra, covarde – esbravejou, enquanto ele lhe apontava a varinha contra o peito.

Aquele seria o seu fim... na melhor das probabilidades, em minutos, estaria morta e o seu corpo ficaria abandonado ali mesmo. Entretanto, sua mente girava rapidamente e lhe dava forças. Com o olhar afrontoso e irado, Narcissa começou a sussurrar palavras estranhas, como se estivesse delirando. Seus olhos escureceram, deixando Lucius assustado.

- Você pensa que é forte, Malfoy? – indagou com a voz sombria.

- O que pretende, Narcissa? – questionou se afastando temeroso.

- Está com medo? É isso? Eu não sou uma fraca, uma imprestável, uma vagabunda? Responda – ordenou se aproximando, com a mão esquerda apontando em direção ao peito dele.

Analisando as circunstâncias e todas as probabilidades do que poderia suceder, Narcissa em um gesto rápido, pegou a varinha escondida na manga de seu vestido. Evocando o Tormentis, sorriu sadicamente, ao observar o raio dourado o atingindo... em segundos, Lucius se debatia no chão angustiado, como se estivesse convulsionando.

- Cadê a sua noivinha inútil, seu merda? Nunca mais você vai voltar a me bater – falou ainda com mais raiva o escutando gritar.

- Funiculos in igne – murmurou com todo o ódio que abrasava o seu coração naquele momento.

Cordas em chamas o cercaram... as mesmas que Walburga a ensinara a invocar para se proteger. Urrando de dor e sentindo como se a sua pele derretesse, a última visão que Lucius teve, foi a da chegada de uma escuridão profunda e densa.

As sombras da noite atingiram Narcissa. O vento forte e vibrante, aos poucos, foi tirando parte do brilho solar de seus cabelos... criando um contraste entre a luz e as trevas, representados pelos fios castanhos e loiros.