Foram horas expondo os seus projetos e as suas propostas mais sérias, demonstrando quais eram as expectativas com relação a cada um deles. Relatando os últimos eventos do mundo bruxo e quais os caminhos, até aquele momento, traçados para que a guerra tivesse resultados positivos para o lado das trevas, Snape se mostrava um pouco otimista. Enquanto isso, Grindelwald sorria, ao escutar uma das questões mais relevantes de tudo o que observara até então.

Inicialmente, ele prometera a vitória para Voldemort. Porém, nunca assegurara ou dera garantias irrevogáveis de que não estivesse disposto a assassiná-lo quando a oportunidade surgisse. Aquilo era, definitivamente, um tema que lhe interessava seriamente. Traição, orgulho, ambição, raiva e todos os sentimentos que não se difundiam sem uma avaliação daqueles olhos sagazes que o fitavam imperturbáveis.

Uma série de particularidades que, por mais irrelevantes que parecessem, possuíam a propensão de se transformarem em chaves essenciais para o delineamento de uma terceira via naquele jogo de xadrez. O vencedor não seria aquele que desse o squeeze, expondo os seus lances arrojados e certeiros, para impor uma má situação ao adversário. Entretanto, o que providenciasse o mais elaborado zugzwang, levaria vantagem. Uma jogada que jamais tivesse sido vista, como o modo mais correto de agir naquela batalha de egos e de forças.

Colocando todas as peças que se encontrassem nas melhores posições, em uma terrível circunstância onde não existiriam alternativas além do erro, ao dominar as paixões obteriam o êxito. Na perspectiva de Grindelwald isso bastava. Snape carecia de doutrina, de uma nova retidão, de ensinamentos sérios e solenes, para que aprendesse a se conter e moderar a sua cólera. Aquele era um ponto indispensável para que exibisse um incontestável polimento e cortesia, um refinamento de sua astúcia, para lidar com os dois maiores bruxos que o mundo já conhecera. E, por mais árdua que fosse a sua tarefa, era um desafio que valeria destinar todo o seu tempo. Seria primoroso lograr esse triunfo.

- Então, meu jovem Prince... Tom ainda não notou qualquer rasgo de quais são as suas reais intenções? Não deixou transparecer alguma desconfiança quanto as suas atitudes nas últimas semanas? – perguntou, cogitando as possibilidades para não permitir qualquer possível deslize, com um aspecto meditativo.

Se aproximando, com um semblante amistoso, fitava contemplativamente o brilho intenso dos olhos cor obsidiana que o afrontavam. Beirando uma coloração ônix, desconfiada e insolente, eram de alguém um pouco impertinente e extremamente acautelado no comportamento. Uma verdadeira serpente, como gostaria de ser reconhecido pelos seus oponentes. No entanto, se almejasse virar o mundo do avesso, teria de mudar verdadeiramente.

Ainda o encarando, a visão de Grindelwald brilhou com um estranho e obscuro lampejo de ambição, que iluminou todo o seu rosto. Verificando as minúcias no rosto de Snape, se achava mais do que convicto a respeito de sua vitória... o seu olho interior predizia, naquele jovem de 19 anos, os desígnios promissores e um futuro assustadoramente próspero se seguisse as suas orientações nos próximos anos.

Com a mesma força e dedicação, que estabelecera para criar uma conversa que fosse interessante para ambos, empregaria todo o seu discernimento para a leitura das pessoas. Enquanto aguardava pela resposta, o seu olho esquerdo cinzento e deformado não se movia, focado em alguma cena invisível que se desenrolava à sua frente.

Dando um meio sorriso, entreviu que, logo, desabilitaria o descrédito que ainda rondava o ambiente. Quem sabe funcionasse ao revelar a sua verdadeira aparência? Pois, ao derrubar a primeira barreira, quase intransponível e extremamente transparente, as demais romperiam em sequência ante a familiaridade e a convivência honesta.

Estufando um pouco o peito, se orgulhou de ser um militar e, aquele rapaz emburrado, se apresentava mais acessível e predisposto do que pretendia sê-lo quando entrara naquela sala. Não o julgaria... a juventude lhe oportunizava ser teimoso e ser pertinaz. Diferentemente de Voldemort, cuja obsessão lhe ofuscara qualquer percepção do que sucedia em seu entorno, Grindelwald era mais versado do que o outro desejava ser ou que Snape aspirasse naquele instante. Não eram todos os que possuíam o dom de prever o porvir e calcular as variáveis existentes em qualquer profecia. Sobretudo, quando já conjurara uma delas em seu benefício, no passado.

- Morgana, novamente foi feita pelo fogo sagrado... Mordred se enlaçará com Niniane e, juntos, terão Arthur e Lancelot... Viviane e Igraine. Avalon se reerguerá. O filho será pai e o amor proibido poderá se realizar... finalmente – seu olhar se nublara com os pensamentos e as visões distantes.

Piscando o olhar antes estático, ponderara que o outro era profundo e sombrio como as áreas mais remotas de um oceano. Paralelamente, se expunha límpido e vítreo no que se tratava das suas emoções mais intensas. Havia algo ali... um fogo glacial que remetia a sua origem, ao seu sangue, a quem era por direito e ao que estava destinado.

Depois de séculos, sem divisar, ele retornara como sendo o único da sua espécie apto para governar, ao lado daquela que ainda descobriria como controlar os condões da própria alma. Somente alguém que dispusesse de uma magia elemental inabalável, mexeria com o tempo sem enlouquecer. Era um exímio Dominus tempus... como outrora fora, mesmo que desconhecesse a sua maestria sobre esse poder ancestral.

Fixando os seus dois olhos, especialmente o direito escuro e arredondado em Snape, Grindelwald julgava que um bruxo, daquele nível, lhe proporcionaria uma séria vantagem. O ciclo da Ilha do Dragão seria, enfim, iniciado e os seus sonhos de ascensão se realizariam. Como negar o apoio que lhe pedia?

- Senhor? – indagou com uma expressão de dúvida, relacionada ao vislumbrar distante que o mais velho exibia, buscando recobrar a sua atenção.

- Eu estava só mensurando algumas questões antes de me concentrar no que tem a me expor – falou com um tom indecifrável.

- Explicando a respeito do que o senhor me interrogou, eu estou em uma posição de comando, junto ao Lord das Trevas. Eu sou o seu braço direito, o seu general e ele incentiva as minhas ações por piores que sejam. Creio que ele considere ter a minha fidelidade de maneira irrestrita e, acima de tudo, que seja a quem dedico a total admiração. Desse modo, eu pressinto que ele esteja seguro de que eu não seja capaz de contradizê-lo... igualmente, acredito que se encontre mais preocupado em rastrear a recém-formada Order of the Phoenix e desmoralizar Dumbledore, do que com a minha postura diante de seus comandos – argumentou, especificadamente, sem qualquer esboço de emoção ou inquietude nos gestos.

Internamente, apreciava e pesava o que deveria evidenciar para aquela pessoa tão dúbia e indecifrável. Um verdadeiro enigma, altamente temeroso e perigoso, se achava na sua frente curioso no que se refere a uma guerra que não o afetava em absolutamente nada. Como confiar em alguém que exprimia tão pouco? Quais eram os seus reais interesses para o auxiliar? O que pressentira e lhe escondia tão obstinadamente?

Grindelwald, adotava uma postura de quem lhe ofertaria o que desejasse, mas nunca o que genuinamente quisesse. Teria de lutar por merecer a sua saída do túnel desesperador em que se colocara. Vencera a primeira batalha e não se dera conta?

Tal qual Icaro disparando contra o sol com suas asas feitas de cera, Snape, atestava que não se daria por vencido. Não fora por pura sorte que sobrevivera tantos anos em meio a tantos que o odiavam. Contudo, pelo fato de jamais admitir qualquer derrota quando, no horizonte, sempre existiria um cais de porto o aguardando. Por que não tentar?

- Perceba, Prince... elabore o que quer concretizar e compreenderá o porquê Dumbledore é tomado como um grande líder. Na minha opinião sincera e nada humilde, eu o vejo com múltiplas qualidades inegáveis. Porém, não sou cego às suas falhas. Afirmo isso, para ressaltar que, há algum tempo, ele vem perdendo bastante o foco – comentou, apresentando as suas ideias, seriamente.

- É uma pena, pois a sua profunda ambição o transformou no único responsável pelo o que Tom Marvolo Riddle se tornou. Imagine tratar uma joia, como aquela com a qual se deparou, como algo de menor valor? – sorriu, diante do silêncio do mais jovem, continuando com as suas argumentações.

- Veja, que Dumbledore é um homem que gosta de ter o controle total e direcionar os acontecimentos em seu proveito. Ressalto que é, inadmissível, tratar jovens bruxos como inferiores. Especialmente, aqueles que são claramente cheio de talentos e força. Ainda mais, quando esses terão, futuramente, o domínio pleno da Arte das Trevas e podem subjugar quem os originou. E, tal apontamento, serve para você também – seguiu mantendo um sorriso tranquilo no rosto.

Discorrendo a respeito do próprio discurso, considerou o quanto o seu antigo amigo e amante havia perdido a chance de aprimorar prodígios e fazer com que, os caminhos da guerra, fossem diferentes. No caso de Voldemort, mais do que a vida trágica de Merope Gaunt ou o fato dele ter sido o resultado de uma poção entorpecente, a peça fundamental para o seu surgimento foi o abandono e o desprezo ao qual fora submetido.

Uma fera forjada e moldada, no extremo esquecimento e desamparo, se enxergou motivada a se encaminhar pelo caminho tortuoso da insana exploração dos recantos mais obscuros da magia. Aspirando ter, só para si, toda a sabedoria capaz de proporcionar a opressão daqueles que o diminuíram e o renegaram. De homem se transfigurou em anomalia, renunciando a própria beleza para se instituir como Lord Voldemort.

Uma conjuntura que ilustrava, elucidativamente, que a destruição não era só do mundo que lhe desprezara, como também, da própria identidade. Ao deformar o próprio rosto, execrara a humanidade ante o irrefletido extermínio para o renascimento do eu como algo a ser temido e admirado. Algo semelhante poderia ter sucedido com Snape, se não tivesse se apegado tanto em suas mais profundas esperanças e no amor que sentia por Narcissa.

- O aperfeiçoamento da sua mens angustos é invejável. Entretanto, creio que terá de aprimorar mais os seus dons. Você está um pouco indisciplinado, por não acreditar que nasceu para isso, Prince. Não renegue o que e quem é – advertiu, encarando de frente Snape, que parecia absorver cada palavra e análise que lhe era exposta.

A integralidade, do que lhe fora dito, fazia sentido. Fora igualmente definido como indigno e torpe. Um estorvo que deveria ser humilhado e dizimado por seus superiores. Nesse instante, os seus olhos chisparam um ódio homicida, determinado pela raiva que corria em suas veias. Estava muito claro... mais do que em qualquer memória presente na Pensieve, tais constatações o levavam a enxergar de que maneira Dumbledore fora um dos responsáveis pelo destino miserável que o seu outro eu tivera.

Mais terrível do que os espancamentos que fora submetido por Tobias, a perseguição dos Marauders, a falsa amizade oferecida por Lily... a negativa de que fosse digno de confiança, o destroçou, quando sequer podia se proteger. Tratado como um prisioneiro, como um peão, a dor de ser esmagado, o conduziu para regiões muito próximas aos mais altos níveis de loucura. O transformou em uma bomba de ressentimentos e raiva prestes a explodir.

- Pobre homem... – sussurrou para si mesmo, antes de firmar os seus olhos em Grindelwald e esboçar as suas reflexões.

- Eu o agradeço, senhor. O seu apoio e a sua consciência militar vão contribuir com os meus planos e me ajudarão a ser bem-sucedido, como espero. Sobretudo, no que concerne a aproveitar de todas as falhas que existem dos dois lados nesse campo de batalha, através dos seus métodos de persuasão e de julgamento do que está mais à frente – explicou, tendo diversos pensamentos se formando em sua mente, enquanto falava.

Sua sede de iluminação e a necessidade de ter êxito no que almejava, o guiavam a querer descobrir mais, aperfeiçoando os seus dons em um maior grau... provar a si mesmo que era capaz de ser infinitamente melhor do que era naquele momento. Aquela ambição operava como um fator para permanecer sem desviar do foco.

- Aliás, tenho um questionamento... Dumbledore alguma vez soube que o senhor era clarividente? – Snape indagou com um tom de curiosidade.

- Não... não era de meu interesse que ele obtivesse esse conhecimento, quando eu já havia previsto que me trairia. Antes que me pergunte, o que se refere ao meu próprio futuro, as visões não se mostram claramente. Elas se anunciam como flashes rápidos e imprecisos – respondeu com sinceridade.

- A propósito, não me seja grato. Eu pretendo ensinar a agir de acordo com quem é. Você é o último da sua linhagem e, pelo visto, nunca lhe contaram sobre o ser real valor no mundo bruxo. Presumo, por conta disso, que deva se portar como um membro da realeza. Eu sou só um velho general que quer lutar a sua derradeira guerra e assegurar que, um menino-rei, apague a figura de um mestiço cruel de nossas memórias... a verdadeira elite deve nos governar novamente – alegou sem se importar com o peso das suas frases, muito menos, com a forma que era encarado.

- O senhor deve estar ciente de que eu sou mestiço – Snape afirmou, esperando uma explicação, ante ao que acabara de ouvir.

Havia rancor e autoridade em sua voz. O nervosismo revelava a vergonha que carregava por seu status sanguíneo visto como inferior. Deixando que o ar saísse de seus pulmões, sem sequer contar por quanto tempo o prendera, o bafejo pesado se dissipou no vento. Contudo, notava que era essencial fazer tal declaração dolorosa, para evitar qualquer mal-entendido futuro ou erros de interpretação. Principalmente, quando aquilo era o que o ligava a pessoa a quem mais odiava no mundo.

Se quisesse aquele bruxo como seu aliado, resolveria claramente todos os tópicos que parecessem mais problemáticos, para uma autêntica aliança. Não viabilizaria qualquer sombra ou desacerto na sua proposta.

- Há uma enorme diferença entre vocês dois e eu discordo do que está pensando... definitivamente, você não é igual ao Tom. O que eu vejo é que, apenas, fez uma série de escolhas erradas e controversas. Agora, está disposto a buscar alternativas para consertá-las. O seu incômodo reside em se julgar tão mal o tempo inteiro. Eu garanto que sempre estarei o aconselhando a se comportar de um modo adequado, em razão de que deve assumir o seu posto de honra. O seu sangue, jovem Prince, é mágico pelos dois lados – Grindelwald revelou sereno.

Deixando claro que não o inferiorizava e o seu interesse se localizava no quanto dominava sobre a ascendência de Snape, mesmo que parecesse prematuro, via naquela oportunidade a chance ideal para expor o seu conhecimento. Fundamentando cada detalhe, do que teria de relatar, mostraria para ele que era alguém especial. O conquistaria e prepararia o espaço para que confiasse nas suas concepções.

Se desse um passo equivocado, tudo se perderia, afastando qualquer probabilidade de novas glórias. Era uma mera questão de tempo, disciplina e coragem. De preferência, quando a verdade se localizava, em uma conjunção, mais próxima do que qualquer um sonhara.

Com o refinamento das inclinações e a elevação das proezas a que se destinava, as brigas internas se dissipariam e pararia de sofrer tanto por antecipação. A sua insistência começaria a quebrar correntes, romper oceanos, o conduzindo a ver com exatidão toda a realidade que sempre quis se descortinar... a angústia não o impediria mais de mirar o horizonte e observar as respostas que ali se situavam.

- O que quer dizer com isso, senhor? – interrogou, desconfiado, tentando ter a dimensão daquela frase enigmática.

Grindelwald era extremamente habilidoso com as palavras e controlava engenhosamente a arte do discurso, especialmente, como conduzir o diálogo para os aspectos que mais lhe interessavam. Isso o instituía muito quanto a quais seriam as táticas e os movimentos diplomáticos que careceriam de uma grave articulação, se almejasse atingir o sucesso para os seus intentos futuros.

- Abordaremos a sua importância no confronto e os motivos que me levam a me mostrar interessado nas propostas que me apresentou – falou se ajeitando no sofá, despretensiosamente, manifestando que seria um longo diálogo o que teriam ali.

- Eu não atinjo o seu ponto de vista. O senhor pode me esclarecer o que quer me contar de fato? Porque, particularmente, eu não me vejo como uma peça essencial nesse conflito – comentou, na sua cabeça vários cenários se desenrolavam e, em todos, ele seria novamente usado como uma fração para o êxito de outras pessoas que sequer lhe valorizavam.

- É muito simples... você é neto do Credence Barebone que, factualmente, nasceu como Vespasian Prince. Para que não descobrissem esse segredo, eu alterei os documentos no Ministério da Magia, quando eu o encontrei. Isso só foi possível graças ao emprego de uma série de feitiços e com o auxílio da família Rosier... eles se propuseram a esconder, por debaixo de todos aqueles papéis, toda a verdade dos olhos desatentos dos burocratas – afirmou, com um semblante vitorioso, perante o levantar de sobrancelha que Snape lhe destinara.

Por mais que sempre buscasse ter uma expressão isenta de sentimentos, ter ciência de algo daquele porte, o deixava perplexo. Intimamente, se achava um pouco chocado com tal declaração, que não lhe passava qualquer sentido.

- O Vespasian foi morto... Eileen me garantiu que éramos de um ramo distante da família. Por que ela jamais me contou a verdade? Qual a razão para nunca ter se dignado a me revelar isso, se ele era o seu pai? O que ganharia me mantendo na ignorância, permitindo que eu fosse chutado como um animal, por todos esses anos? – questionava, incrédulo, passando as mãos nos cabelos e andando de um lado ao outro.

- Sua mãe o fez por ser algo sigiloso. Um segredo muito bem guardado. Seu avô foi sequestrado quando bebê, por ser um dos sangues mais puros do mundo bruxo... foram os Prince que fundaram os Sacred Twenty-Eight, como deve estar ciente. Logo, ser um Prince, significava simbolizar a realeza e tudo o que os demais deveriam, um dia, se tornar... se você soubesse, alguém aproveitaria qualquer ocasião oportuna para assassiná-lo – indicou o ponto mais obscuro, que se evidenciaria mais adiante, para detalhar o que importava.

- Isso é loucura! A propósito, caso o senhor queira ter noção de como as coisas funcionam, eu quase fui morto sem ter a menor consciência de toda essa situação... do que o senhor alega ser verídico – expôs com a voz um pouco alterada.

- Não... não é em absoluto. A pessoa que aprovou que você quase fosse executado, como um animal, sempre teve interesse no extermínio dos Prince. Eu creio, sinceramente, que o fim dos Black também esteja em seus planos. Mas, eu não posso certificar com exatidão, o dispondo apenas no campo das hipóteses. Retomando o assunto, quando seu avô foi levado aos Estados Unidos, devido a um dos sequestradores não ter coragem de assassinar um bebê indefeso, confesso que foi extremamente difícil encontrá-lo – ponderou pensativo e com um olhar distante.

- Ele se tratava de um Tenebris... o resultado de ser tão maltratado pela mãe adotiva. Aquela mulher era repugnante, quero ressaltar, por tê-lo feito drenar a própria magia – prosseguiu sem dar espaço para qualquer interrogação que pudesse surgir.

- Sua avó, por outro lado, era uma mulher fascinante. Ela se chamava Queenie Goldstein e era mestiça, por ser filha de uma bruxa com um judeu... – antes de dar continuidade, arguindo os temas referentes a tal notícia, foi interrompido por Snape.

- Quer que eu acredite ser sobrinho-neto do Newton Scamander? O senhor só pode estar fazendo uma brincadeira de muito mau gosto comigo... eu vou embora. Foi um erro eu ter vindo até aqui e perdido horas preciosas – anunciou, andando em direção à porta, sendo impedido de sair.

- Eu não elaboraria piadas com uma questão tão séria e os tempos eram outros. Quando eles chegaram à Europa, casos como os das Goldstein eram vistos como sangues puros de segunda linhagem. Mestiços eram filhos de pais bruxos e mães no-maj. As coisas só foram alteradas, após aquele duelo, em 1945 – disse percebendo o silêncio aterrador de Snape.

Sustentando o seu comportamento altivo, para enfatizar a sua exposição da maneira mais esclarecedora possível, se ergueu buscando passar ainda mais confiança e dar sequência ao seu informe. Confiava que, após concluir o que tinha a expor, seria acreditado.

- Perceba o óbvio, meu mais novo amigo... se as leis tivessem sido preservadas, você seria classificado como um sangue puro. Ninguém contestaria isso e eu não tenho razões para lhe mentir. Por esse pretexto, o Tom se distingue como tal. Ele se graduou em Hogwarts nessa mesma época e empreendeu o seu projeto de poder. Olhe para aqueles que o cercam. Se o tivessem como inferior, por mais persuasivo e cruel que fosse, eles teriam se unido e o matariam. Não se entregariam aos seus desígnios sem uma justificação efetiva – declarou, respirando fundo, esticando o braço para pegar o copo de água que se localizava sobre a mesa.

- Não sou bondoso ou gentil em estar lhe contando tudo isso. Eu tenho ambições e eu quero sair vitorioso. Farei com que possua voz e poder de decisão no Ministério da Magia do Reino Unido. Usufruirei dos benefícios que, na condição de seu conselheiro, eu vou angariar – prosseguiu, antes de dar espaço para que Snape dissesse o que tanto lhe afligia, bebendo outro gole de água.

- Se o que assegura ser verdade, venha a se referir a um fato irrevogável. Quero que me esclareça um tópico. Como uma sangue puro, filha de uma exímia legi mentis e de um Tenebris, se casou com o pior tipo de muggle que já existiu? Por que ela aceitou se rebaixar e se sujar com a escória? – questionou sondando as proposições que ainda não lhe eram totalmente claros.

- Eis aí o aspecto enganoso de toda essa trama! Não lhe ocorreu os motivos que moveram o Tom a ter ordenado que a sua mãe se casasse com o Tobias Snape? Ou quando amaldiçoou a Andromeda Black tivesse a enviado, justamente, para ele? Apesar que, no caso da segunda, eu tenha algumas dúvidas... confesso – respondeu com novas cogitações que amplificavam a gama de incertezas.

- Para Eileen, o casamento com Tobias e o meu nascimento, foram uma ordem para que lhe entregasse um general mestiço que o apoiasse na guerra. Ecce homo, como a prova da sua tarefa realizada com triunfo! Quanto a Andy... foi uma punição hedionda, para a humilhar por não ter aceitado os seus desmandos – declarou aborrecido e sentindo um ódio crescente dentro de si.

Sua vontade era a de esganar Grindelwald e sair de lá o mais rápido possível. A ira já estava latente em cada gota de seu sangue, o obrigando a chegar aos seus limites de autocontrole, para não executar nada que pudesse se arrepender.

- É um belo ponto de vista... porém, raciocinando as informações, levanto o pressuposto de que, a sua irmãzinha, possa ser notada como um auxílio em potencial. Indico isso, porque lhe asseguro de que se não existisse qualquer tipo de sangue mágico em Tobias, você ou ela, não seriam tão poderosos – sorriu triunfante, com o abalo que causara, em consequência daquela certificação.

Sem esboçar qualquer reação ou dizer qualquer palavra, Snape preservou a sua postura rígida e indiferente, com os braços cruzados junto ao peito. Seu olhar era taciturno e interrogativo, verificando os detalhes do que lhe fora dito, o que fez o mais velho a lhe contestar o que não era perguntado.

- O seu pai não era um no-maj qualquer. Ele era filho de uma romani com um bruxo abortado, meu caro. Certamente, você conheceu a sua avó paterna... Ada Laine era uma rainha entre o seu povo. Falava com os mortos e previa o futuro. Ela era uma mulher extraordinária em suas convicções e posturas – avaliou, meditando quanto aquelas palavras, como se estivesse relembrando de muitas coisas que vivenciara no passado.

- O seu avô paterno, se chamava Arthur Shackleford e foi renegado pela família, devido a sua condição. Por consequência desse abandono, ele adotou o sobrenome Snape para se distanciar de tudo aquilo que o feria e homenagear a região que o acolheu. Essa união fez com que, o seu pai, indicasse sangue mágico em suas veias. Mesmo que não tenha desenvolvido qualquer talento, além do voltado à violência física, ele carregava essa aptidão – atestou completando o seu argumento.

- Eu discordo da sua visão otimista quanto aos eventos. Apesar de soar impertinente, os romani não passam de muggles... eles não são bruxos como nós – exprimiu, em face de tantas explicações fortes que lhe eram expostas, em tão pouco tempo.

Não era uma tarefa fácil escutar a história de sua família sendo revelada por outra pessoa, que não fosse a sua mãe. Mais uma vez, Eileen lhe negara algo relevante. Isso o deixava mais cismado e ressentido quanto às reais intenções que ela possuía. De tudo, a única conclusão a que chegara era a de que a relação se romperia irrevogavelmente.

- Bobagem, rapaz! Eles são um dos mais raros povos que fazem a ponte entre os dois mundos com maestria. Muitos são feiticeiros. É por essa razão que são tão perseguidos pelos no-maj. Então, meu estimado e jovem Prince, se orgulhe! – afirmou mantendo a tranquilidade inabalável, que externara desde o início, com os olhos fixos no rosto hesitante de Snape.

- Comece a usar ternos, corte um pouco esse cabelo e pare de agir como um eterno injustiçado. Você é um Prince e pretende se casar com uma Black. Se inspire no seu avô, pois ele sabia se vestir muito bem, depois que se tornou meu amigo próximo – Grindelwald o segurou pelo queixo para que o encarasse.

- Deixe claro que não permitirá que a sua linhagem seja esquecida ou apagada. Não deixe que a história se repita e, os Príncipes Negros, sejam impedidos de existir. Lute por isso! – finalizou o soltando e voltando os olhos para outro ponto do cômodo.

Essa era a resposta que, por anos, procurara de quais eram os verdadeiros motivos para que Dumbledore o quisesse morto. Aquele homem estudara profundamente a História da Magia e queria destruir tudo o que levasse ao retorno da magnificência do antigo império. Aniquilando a perspectiva de uma nova união entre o sangue dos Pendragon e dos Le Fay, ou como o próprio nome afirmava, dos Prince com os Black.

Voldemort, de outra parte, ignorava a dimensão de toda aquela questão que circundava os Príncipes Negros, só enxergando a possibilidade de ter alguém forte para se unir ao seu Augurey. A interpretação de toda essa intriga, que sempre esteve além do seu entendimento, o levou a ponderar que acolheria os conselhos que lhe foram dados.

Contudo, antes que pudesse elaborar novas perguntas, uma dor cortante o atingiu no antebraço esquerdo, o fazendo apertar os olhos para controlar a dor. O grito preso na garganta era torturante, assim como o latejar da Dark Mark, pulsando em suas veias e lhe rasgando a pele. Aquilo significava que o pior sucedera... o Lord das Trevas desvendara o descumprimento da ordem que lhe dera e, sem qualquer sombra de dúvidas, iria punir cada um dos responsáveis pela falta grave.

- Não esqueça de uma coisa... Delphini ainda é uma criança e, se for criada com amor, jamais se transformará no monstro que o Tom tanto aguarda – disse, esboçando um gesto para que partisse, antes que a tortura o impossibilitasse.

A quietude da despedida, atormentada pelo sofrimento e pela sensação de ter os seus músculos abertos, foi a promessa não enunciada de que se encontrariam outras vezes. O assunto não se encerraria, só dera os seus primeiros passos.