Após alguns minutos de rápida conversa, os três saíram rapidamente rumo à Black Manor preocupados, ignorando o findar da madrugada e o clarear do dia. A expressão de Andromeda expunha claramente a urgência existente, acelerando os passos, para que pudessem encontrar um lugar mais reservado e desaparecerem com o Evanescet. Enquanto giravam no tempo-espaço, o coração de Snape batia forte, ansioso em colocar um fim naquele pesadelo ocultado por anos sob o manto de uma falsa hora sonhada.

Quase perdera Narcissa por conta de inúmeras mentiras, por dúvidas infindáveis e pelo medo de amar o amor, se distanciando do que todo que o fazia arder e querer se transformar em alguém diferente do que fora. Lutando contra as estranhas sombras que buscavam impedi-lo de prosseguir, se agarrava ao sentimento que o impulsionava, que o lembrava de que estava vivo e que merecia ser grande... justamente, porque não poderia mais existir sendo resumido a uma metade. Precisava ser um todo, sem exageros ou exclusões, só desse modo receberia o que lhe era de direito.

Com o Videntur, chegaram na residência, sendo recebidos pelos gritos desesperados de Bellatrix no andar superior. De resto, havia sangue tingindo as paredes e o chão, como se ali houvesse acontecido algum tipo de chacina. O ar pesava, o clima era sufocante e opressor, como se algum segredo tivesse sido revelado e trazido a tragédia para quem se encontrasse naquele local maldito.

Ao mesmo tempo, silenciosamente, Voldemort andava de um lado ao outro. Seu semblante era de alguém que meditava a respeito de um tema importante, sendo acompanhado de perto por Nagini, que parecia ler os seus pensamentos mais profundos e compartilhasse das mesmas considerações. Mais ao fundo do cômodo, Cygnus se achava sentado, com um olhar apreensivo em direção às crescentes súplicas.

No fundo, o horror impresso na sua face, apresentava uma culpa e o início de um processo de autopunição... especialmente, depois que Druella desceu às escadas correndo, quase agarrando a primeira pessoa que vira à sua frente, para exigir a presença de um medibruxo. Convertendo, toda aquela conjuntura, em um cenário muito pior do que o imaginado ao saírem do Spinners End.

- O que houve aqui? Pai? Mãe? – questionou, Andromeda, franzindo o cenho com um ar de hesitação quanto ao que sucedera desde que saíra da mansão.

Se sentia aflita por conta do que observava, em seu entorno, com atenção. Sobretudo, quando experimentava uma sensação anormal a cercando, como se investigasse quais eram as suas intenções. Impressão compartilhada por Snape, que percebia o crescimento de um aperto em seu peito, fazendo com que segurasse firmemente a mão de Narcissa. Ambos temiam que algo de mais grave pudesse acontecer, nas próximas horas, porém não sabiam definir exatamente o quê.

- Bellatrix... a menina que ela está esperando decidiu nascer antes do prazo esperado e se encontra na posição errada. Agora me responda, o que essa... essa sujeita está fazendo na minha residência? Eu já não proibira a entrada dela aqui? Há algum fato que não foi explicado sobre o constrangimento que nos causa a sua presença? – Druella interrogou com arrogância.

- Respondendo a senhora, eu vim com o meu noivo ajudar a minha irmã... contrariamente a sua postura, Bella não me renega e nem me trata como uma vagabunda – Narcissa retorquiu indignada, com o rosto sério e sombrio, soltando a mão de Snape para que pudesse subir ao segundo piso.

- Você está bem? – perguntou, antes de deixá-la partir, para lhe passar segurança.

- Sim... eu só não quero ficar no mesmo espaço que eles, amor – falou, com um tom mais tranquilo, dando um meio sorriso.

- Eu me responsabilizo pela Cissy, Severus... não se aflija – comunicou, Andromeda, segurando a outra pelo pulso para que se retirassem logo.

- Os senhores lembraram de avisar ao Black quanto ao nascimento da filha dele? – indagou, enquanto voltava a sua atenção aos demais, com uma expressão e um tom que expressava todo o nojo que sentia dos futuros sogros.

- Não, não somos obrigados a noticiar isso? Principalmente, quando aquele irresponsável geraria mais transtorno do que soluções e acabaria brigando com a Bella novamente. Caso não esteja ciente, Snape, eles romperam de uma forma nada amistosa – Cygnus afirmou com asco, o afrontando, com um olhar que subiu dos pés a cabeça.

- Severus? Entendo que o seu diálogo, com o meu nobre amigo, seja extremamente interessante... no entanto, venha comigo a biblioteca. Atinamos que, o nascimento de crianças, é um assunto destinado às mulheres – Voldemort se pronunciou subitamente, saindo das suas análises, fazendo um gesto para que o seguisse até o outro cômodo.

- Milorde, no que eu posso servi-lo? – sondou, em meio a um gesto de reverência, refletindo o que poderia ser proposto pelo Lord das Trevas.

- Eu reparei em você com a Narcissa e, por isso, gostaria de ser comunicado se ainda quer a menina como pagamento? Você é capaz de assimilar que, o acordo que fizemos não pode ser rompido, em nenhuma hipótese... o que me interessa, nesse momento, é que eu não quero perder a minha serva fiel ou o ver se rebelar. É sua obrigação me tornar vitorioso nessa guerra – revelou, massageando as têmporas, com um aspecto impaciente e raivoso.

- Eu não a quero de presente, senhor... igualmente, não pretendo descumprir as minhas obrigações e os votos que realizamos. Somente, mudei o meu interesse com relação a quem será a minha futura esposa – explicou um pouco confuso com aquelas palavras.

- Eu vou preparar as poções que faltam, para que Bellatrix possa se restabelecer, o mais rápido possível. Se o senhor me permitir, eu vou me retirar para pegar algumas que possuo em casa, para ir aliviando as dores que ela deve estar sentindo – concluiu, o mirando, seriamente.

- Vá, então, Severus – ordenou, recebendo uma nova saudação, antes de ver Snape sumir.

Ainda com as ideias desordenadas e examinando alternativas, optou por se encaminhar à Elixirs. Era a melhor atitude que poderia ter naquele instante... pegaria o máximo de poções possíveis e solicitaria que, Lupin, fosse imediatamente avisar Sirius sobre a chegada de Hermione. Por mais que odiasse o outro, reconhecia que era seu direito estar presente no nascimento da sua primogênita.

Reunindo um número maior que o necessário, após uma curta comunicação dos fatos e a sua emergência, utilizou a lareira da loja para retornar a mansão com a caixa cheia de frascos. Desprezando que, alguns Death Eaters, se localizavam na sala recebendo ordens para uma missão na fronteira da França, subiu as escadas e se apressou para atravessar o corredor o quanto antes. Segurando a respiração, com o coração palpitando freneticamente pelo medo de falhar, ao entrar no quarto, Snape se deparou com Bellatrix urrando e se contorcendo de dor.

- Beba isso – falou a obrigando a tomar as poções de Fortalecimento, Reposição de Sangue, Reconstrução dos Ossos, Restituição de Tecidos e, por último, a da Paz.

- O gosto disso é horrível – reclamou, quase cuspindo todo o líquido, enquanto tinha o suor do rosto limpo pelas irmãs.

- Ora, francamente, você já passou por coisas muito piores para estar resmungando feito uma velha – afirmou, dando às costas, desprezando a quantidade de sangue e líquido amniótico que cobriam os lençóis.

Se afastando, antes de pôr em prática a sua vontade de dar uns tapas para que ela parasse de berrar e se lamentar tanto, retornou ao andar inferior para se inteirar dos novos planos de Voldemort. Não deixaria qualquer especificidade passar despercebidamente, quando poderia colocar a vida de pessoas, às quais estimava, em risco.

- Andromeda... Andy, ajude a tirar logo essa criança de dentro de mim! Eu... eu não aguento mais... Eu acho... tenho certeza de que eu vou morrer – disse a agarrando pelo braço, com força, para que visse o quanto estava sofrendo.

- Bella, pelo amor de Merlin, sossegue! Se você não parar quieta, não terão como desvirar o bebê e vocês duas vão acabar perdendo a vida. Deixe de ser escandalosa e pare de agir como uma vadia louca! – a repreendeu, puxando o braço com uma certa brutalidade, para se desvencilhar.

- Só a Cissy me ama... você só é uma cachorra sem coração, que me detesta e não quer me socorrer – declarou mostrando um beicinho magoado, tentando amolecer o coração da irmã, buscando apoio.

- Todos estão realizando as suas tarefas aqui, Bella. Cabe a você executar a sua parte... basta ficar um pouco parada. Eu tenho certeza de que não é difícil – respondeu, automaticamente, se sentindo um pouco tonta e desorientada por conta do alvoroço.

- A Andy tem razão, Bella. Falta pouco para que, a Hermione, fique na posição correta... colabore – comentou, Narcissa, com uma falsa tranquilidade na voz.

Passando a mão na testa, depois de muito esforço, executou junto à medibruxa a manobra necessária. Estava exausta, saindo do quarto para se sentar ao lado de Andromeda no corredor, fechando os olhos em busca de um silêncio impossível e inalcançável.

- Você sabe o que eu terei que fazer... quando chegar a hora, nada pode dar errado, Cissy – mencionou, com a cabeça encostada na parede, olhando para o teto.

- Ela não vai sofrer, não é? – questionou, preocupada, encarando a mais velha.

- Não... eu não sou nenhum monstro para machucar um bebê. Especialmente, quando essa criança é a minha sobrinha – esclareceu, soltando a respiração baixa, a mirando atentamente.

Se levantando, decidiu que o melhor era descer as escadas para localizar Snape, que desaparecera. Inegavelmente, era fundamental que se concentrassem em cada passo e nos detalhes do que teriam de realizar... até que ouviram um choro alto ecoar pela mansão e o tempo parou.

Hermione era uma menina adorável, gordinha e bonita, que expunha um pequeno tufo de cabelos castanho escuro, iguais ao de Sirius e, um par de olhos, que não negava o sangue dos Black correndo em suas pequenas veias. Sendo limpa pelos elfos assistentes da medibruxa, era examinada atentamente, para que fosse atestada a inexistência de qualquer problema de saúde ou físico. Sobretudo, devido ao parto difícil, em que foi inevitável a sua retirada a ferros para que não sofresse mais.

- Sua filha está bem, senhorita Black. O único problema exposto, foi que ela teve o ombro deslocado... contudo, eu já o coloquei no lugar – certificou, entregando a pequena nos braços de Bellatrix, que a encarava séria e pensativa.

Sem esboçar qualquer reação ou comentário, mirava a filha ponderando o quanto a fizera amargar, mais do que as várias sessões de Tormentis pela qual passara. Foram dias difíceis em que, a quantidade de chutes furiosos ou o quanto se debatia, quase a levaram à loucura.

Definitivamente, nascera com o gênio igual ou pior ao dela e de Sirius, o que a deixava feliz. Seria a sua pequena estrela anã que, no futuro, se transformaria em uma supernova... aquela que iluminaria a vida de todos aqueles que a cercassem e nada lhe faria mudar de ideia com relação a essa possibilidade. Passando a mão no rosto de Hermione, a acalmando aos poucos para que parasse de chorar, respirou fundo e ficou encarando a parede por alguns segundos.

- Mesmo tendo certeza de que será uma peste, eu gostei de você, monstrinha – sussurrou no ouvido de Hermione.

Com isso, aproveitava para ignorar os familiares que passavam a se aglomerar à sua volta, ponderando sobre o interesse de Voldemort naquela criança. Sem saber ao certo o que decidir, visto que a sua missão fora cumprida, somente cogitava que não permitiria que lhe fizesse mal. A protegeria do seu modo... assim como fazia, diariamente, com Delphini.

Abandonando aquelas conjecturações, começou a focar nas manifestações de felicidade e os semblantes alegres daqueles que a cercavam, nutrindo uma leve esperança de que o veria ali... será que seria capaz de desdenhar daquele instante, depois de tantas vezes lhe jurar amor? Foram segundo de incerteza e aflição até que, o enxergou parado junto à porta, segurando a sua outra filha no colo.

- Delph e eu podemos conhecer esse embrulhinho rosa ou é exclusivo para um público mais seleto? – Sirius a questionou, se aproximando lentamente da cama, sem soltar a menina abraçada no seu pescoço.

- Acredito que sim... se essas abelhas lhe derem espaço – falou dando de ombros, se ajeitando, para mostrar Hermione aos dois.

- Veja, agora você é a irmã mais velha e acabou de ganhar uma amiga, princesa. Você gostou da Mione? Ela ainda é bem pequenininha, vai demorar um pouco para brincar, mas já ama você muito – disse dando um beijo no rosto de Delphini, enquanto olhavam o bebê tentando sugar o peito de Bellatrix.

- Depois conversamos, Sirius? – indagou, semicerrando os olhos, como se buscasse uma resposta nos gestos dele.

- Pode ser... eu vou deixar que descanse – retorquiu, resumidamente, sem a encarar.

- Tchau, mamãe! – Delphini se debateu um pouco, acenando, com um sorriso no rosto ao atravessar a porta para seguir para o outro quarto.

Acompanhando a saída dos dois, sentia que a sua paciência estava findando... conseguindo amamentar Hermione, com um olhar contrariado e cansado, não aguentava mais escutar o sermão iniciado por sua mãe e sua tia, quanto a irresponsabilidade de ter uma criança fora do casamento. Ambas, argumentavam quanto a indecência do ato, aproveitando para alfinetar Narcissa sob a alegação de que sustentava um vagabundo... ao mesmo tempo, Cygnus e Orion, se mantinham na mais absoluta reticência, apenas concordando com o que era exposto.

- Que maldito inferno sangrento! Calem a boca e sumam daqui – esbravejou, com tanta raiva que assustou o bebê, que se pôs a chorar com os gritos que ouvira.

- Agora você também se volta contra mim, monstrinha? Por que não fica quieta, pequena traidora? – indagou ríspida.

- Você deveria começar a ter um pouco mais de cuidado para lidar com ela! Hermione é uma bonequinha adorável - Narcissa retirou a sobrinha dos braços da irmã, a tranquilizando e secando as lágrimas que caiam.

- Bella desconhece essa palavra, Cissy – censurou, Andromeda, fazendo com que a outra encarasse as duas afrontosamente.

- Cretinas! – bufou, cruzando os braços junto ao peito, mostrando a língua para elas.

- Ah, cala a boca... idiota – sussurrou, pegando Hermione dos braços de Narcissa, para sair do cômodo.

- Agora vai sequestrar a minha filha recém-nascida, Andromeda? – perguntou, se esticando um pouco para olhar aonde ela iria com o bebê.

- Sim, inclusive preparei as malas para sair do país imediatamente – riu do próprio comentário, antes de se retirar completamente.

- Boa viagem para as duas, então... volte quando, o pequeno centauro enfurecido, estiver com 20 anos. Me poupará muito trabalho – respondeu se espreguiçando, despreocupadamente, fechando os olhos em um gesto de menosprezo aos demais.

Andando pelos corredores calmamente, para não assustar a pequena tão aconchegada em seus braços, à procura de Snape, Andromeda olhava para todos os cantos atentamente. Um ambiente de livre acesso aos Death Eaters não eram um lugar segura para crianças e, o pior, com a presença de Sirius lá poderia estourar uma briga a qualquer momento. Investigando os pontos, escutou ruídos vindos da biblioteca, constatando a presença dele e Voldemort conversando gravemente.

Se escondendo, para não ser vista, esperou para que o Lord das Trevas se retirasse e pudesse entrar. Sacudindo Hermione, que pegara no sono, aguardou por alguns minutos escondida até notar que, finalmente, teria livre acesso ao lugar.

- Preparado? – indagou, assim, que entrou.

- Sim... você sabe que sim – respondeu, olhando diretamente, para o bebê adormecido com um dos bracinhos esticado para cima.

- Eu posso vê-la? – questionou novamente, um pouco incerto, enquanto dobrava a manga da camisa até o cotovelo.

- Claro... ela terá de ficar no seu colo para que isso funcione. Converse com a Hermione, Severus – explicou um pouco ansiosa.

- Há chances de o Sirius aparecer aqui e eu ter de azará-lo? – perguntou abrindo um sorriso sádico.

- Não, não há. Ele está no quarto, brincando de bonecas com a Delph, como um bom pai deve fazer. Isso também é ótimo, porque assim não tem como se deparar com aquele porco e fazer algum tipo de besteira – expôs impaciente com o que acabara de reparar.

- Você já está pronto ou prefere prosseguir com as gracinhas? – interrogou ainda mais séria, retirando a adaga escondida na manga do vestido e apontando para ele.

- Pequena rainha de Shakespeare. O que eu e a sua tia faremos é para o seu bem. Eu anseio que seja livre e muito feliz... – começou a expressar, sentindo a adaga abrindo um pequeno corte em seu braço e as primeiras gotas de sangue quente escorrendo.

- Eu esperei muito tempo para a conhecer e, hoje, eu posso afirmar o quanto eu desejo que você encontre alguém que a adore tanto quanto eu amo a sua tia Narcissa. Se quiser, eu serei seu amigo e sempre vou lhe proteger de todo o mal... você é minha responsabilidade e eu farei o possível para que fique bem longe de certos tipos – concluiu, vendo que Andromeda, passava a ponta da adaga na mãozinha de Hermione a fazendo chorar.

- Repita comigo, Severus... só assim essa maldição será encerrada – disse, colocando a pequena mão sobre o corte para que os sangues se misturassem, com uma expressão sombria.

- Eu me vejo falando e recordando menos das coisas que me guiaram quando criança. No instante em que eu vi a verdade e deixei que o meu coração me guiasse, eu nasci e me dispus a aceitar a posição de meu único e verdadeiro mestre. Cheguei ao lugar em que posso expressar aos outros o que é certo e o que me convém, o que me prende e o que me torna soberano – Snape mordeu o próprio lábio, contemplando os fios brilhantes que os cercavam se desfazendo, sentindo uma dor horrível lhe atravessar o corpo.

- A minha alma e a sua pertencem somente a nós mesmos... desunindo o que antes era um e transmutando o que era escuridão em um poder de paciência, caráter e, acima de tudo, um exercício do nosso livre arbítrio. Você é independente, Hermione... assim como, eu também sou – declarou, rompendo o último filete que ainda restava do elo, notando a presença de Narcissa encostada em uma das estantes e, Andromeda, partindo sem olhar para trás.

- E agora, Severus? – perguntou, passando a varinha na mão de Hermione e no braço dele, para fechar os cortes.

- Creio que devemos nos casar, naquela igreja em que um coitado morreu, em Roma. O que acha? – retorquiu a olhando com o rosto ansioso.

- Eu adoraria! – sorriu o beijando.