A LUZ

Por Jill

Tradução por Nanna

Esta foi a primeira fanfic que eu escrevi. Foi há muito tempo, e temo que não seja muito boa. Eu a escrevi como um presente de aniversário para minha amiga Anne, que estava completamente deprimida depois de 'Metamorfose II' ('Becoming II') e do começo da terceira temporada. Eu não queria publicá-la, mas Anne me convenceu que ela merecia uma chance. Claro, não é a mesma que era quando a escrevi, porque refiz algumas partes. Então talvez esteja melhor do que era no começo.

Dedicatória: Para Anne.

Nota da Autora: Considere que Angel não perdeu exatamente sua alma, mas que o demônio assumiu o controle em 'Surpresa' ('Surprise').

PRÓLOGO

Enquanto o beijo se tornava mais apaixonado, uma luz apareceu acima de Buffy e Angel, e as almas torturadas de professora e aluno se foram para reunirem-se eternamente. Repentinamente, Buffy e Angel desfizeram o beijo e olharam um nos olhos do outro. A caçadora murmurou, "Angel?"

Imediatamente os olhos do vampiro ficaram amarelados, e um rosnado escapou de sua garganta, mas repentinamente os olhos voltaram a ser humanos e ele sussurrou, "Eu te amo".

Buffy estava congelada pelo choque, mas, em um segundo, os olhos ficaram amarelados outra vez, o rosnado ficou mais alto e ele pulou para longe dela. Ela apenas pôde observar sua silhueta que desaparecia.

CAPÍTULO I

Buffy ainda estava andando em transe quando saiu do prédio da escola e encontrou Giles à sua espera. "Você está bem?" Ele perguntou preocupado.

Ela balançou a cabeça para clarear a mente e respondeu, "Os dois estão juntos de novo, em paz". Ela respirou fundo. "Angel estava lá também".

"Meu Deus", o sentinela tomou-a pelo braço. "Você está bem? Ele te machucou?"

"Não", ela balançou a cabeça, "foi tão estranho, Giles. Nós...", ela fechou os olhos. "Preciso ficar sozinha por um tempo".

"Claro", concordou Giles. "Quer que te leve em casa?"

O fantasma de um sorriso cruzou seu rosto. "Não, só ando no seu carro se preciso. Mas, obrigada. Preciso caminhar".

Ele retribuiu o sorriso. "Vejo você amanhã, então?"

"Sim", ela respondeu e andou rua abaixo.

Precisava pensar sobre os acontecimentos da noite. Ela podia claramente se lembrar das palavras 'eu te amo' saindo da boca dele. Mas... Não, ela pensou infeliz. Fora apenas o fantasma da professora que o fez dizê-las. Por que eu minto para mim mesma? Ele se foi para sempre. Mas por que os olhos dele mudaram por um momento, o que teria causado isso?

Ela tinha que falar sobre isso, mas não com Giles. Giles nunca entenderia os sentimentos dela, e ela nem poderia culpá-lo. Mas Willow entenderia, era a única pessoa a quem ela confiava com seus pensamentos. Ela checou no relógio - a ruiva estaria dormindo agora, provavelmente. Que diabos, então ela iria acordar. Ela foi à residência dos Rosenberg, escalou a árvore e bateu na janela do quarto de Willow. Ela sorriu ao som abafado do interior e de repente sua amiga apareceu na janela, piscando sonolentamente. "Buffy?" Seus olhos se arregalaram. "Oh, Deus, aconteceu alguma coisa?"

"Acalme-se, não é uma catástrofe nem nada do tipo, mas eu preciso conversar com você. Eu só preciso".

"Claro, entre", a ruiva convidou-a e deu um passo para o lado.

Quando estavam ambas sentadas na cama, Buffy lentamente começou a explicar os eventos da noite. Quando ela terminou, Willow abraçou a caçadora. "Oh, Buffy, isso deve ter sido tão estranho. O que você acha disso?"

"Não sei", a loira sacudiu a cabeça infeliz. "O que eu devia pensar? Quer dizer, lá não estava o meu Angel, mas, por um segundo, um curto segundo..."

A ruiva concordou. "Posso entender. Mas talvez você queira acreditar nisso. Eu sei o quanto você sente a falta dele".

"Eu sinto", ela escondeu a cabeça nas mãos e disse, "Willow, sinto a falta dele, sinto tanto".

A jovem bruxa tomou a amiga nos braços e a abraçou com força.

CAPÍTULO II

Angelus saiu correndo do prédio da escola, noite adentro, tentando se livrar do cheiro de humanidade simplesmente correndo tão rápido quanto podia. Mas, na esquina seguinte, sua cabeça começou a doer e ele sentia como se não pudesse mais respirar, o que era muito estranho pois há muito tempo que ele não respirava mais. A dor na cabeça ficava mais intensa a cada minuto e finalmente ele caiu no chão, engatinhando para uma parede onde tentou sentar, apoiando as costas na parede atrás dele. Começou a ouvir vozes, a ver flashbacks, Buffy no velho apartamento, a manhã depois do aniversário de dezessete anos dela...

A felicidade que ele sentira e as coisas horríveis que o monstro dissera. Oh, Deus, Buffy! O próximo flashback, Jenny Calendar... Oh, Deus! As imagens vinham tão rápido que sua mente estava desnorteada. Sacudindo a cabeça em seu transe, ele não podia entender o que tinha acontecido. Ele não tinha sido um assassino por cem anos, tinha estado seguro, por que o monstro voltara outra vez?

E então Willow estava de pé na escola, e ele ao lado dela (tentara mordê-la), e Buffy perto deles, seu rosto mostrando o horror que ela sentia, e a confusão.

Dru e Spike na fábrica, o Juiz... Imagens demais a processar, demais...

Mas onde estava Buffy agora? Estaria bem? Estaria... viva? Sim, ela tinha que estar viva, não havia uma imagem dele matando-a, mas então tudo estava tão confuso que ele não podia ter certeza de nada. E então um pensamento entrou em sua mente --- ele cuidaria para que seu demônio nunca mais a magoasse. O modo mais fácil era se livrar daquele corpo; assim, o demônio não teria mais um lar, nem uma oportunidade para voltar!

Em busca, seus olhos vaguearam ao redor procurando por um objeto de madeira para dar fim à vida ali mesmo, quando repentinamente uma imagem se materializou na frente dele. "Oh, Deus", ele sussurrou.

"Olá, Angel", Jenny Calendar lhe sorriu. Não havia raiva em seus olhos, que estavam límpidos e... amigáveis.

"Eu... Eu sinto muito", gaguejou ele.

"Eu sei", ela disse gentilmente. "Mas não há nada para sentir. Você não fez nada, não tinha controle sobre os atos do demônio".

"Não", ele sacudiu a cabeça enfaticamente.

"Não", ela respondeu com firmeza e estendeu-se para tocá-lo. Não era mais humana; assim, seu toque foi como uma brisa. "Tem que acreditar em mim. E depressa, porque não tenho muito tempo para discutir com você. Não quer saber por que recuperou o controle?"

Incapaz de falar, ele simplesmente acenou.

"Lembra-se do momento, ainda há pouco, quando disse a ela que a amava?"

Ele acenou de novo.

"Foi um momento histórico. Nunca antes uma alma venceu um demônio. Nunca antes uma alma foi mais forte que o demônio no controle. A sua foi a primeira - mesmo que por só cinco segundos. Isso foi tão espantoso".

"E por isso eu recuperei minha alma?" O vampiro perguntou cautelosamente.

"Você foi um vagabundo bêbado há 200 anos, um monstro controlou seu corpo por muito tempo depois disso, mas você se tornou alguém, especialmente quando seu amor nasceu. Se tornou uma pessoa mais forte, e sua alma se fortaleceu tanto que você não a perdeu naquela noite; ela apenas foi reprimida pelo demônio. Há um profecia que diz que, um dia, uma alma dominaria o demônio, e parece que foi a sua. Por isso, a alma do vampiro será para sempre restaurada". Ela continuou por um tempo e disse-lhe da cláusula de felicidade, a qual ele não conhecia antes.

"Então não há mais uma cláusula?" Ele perguntou finalmente. Tinha que ter certeza disso, pois isso mudaria seu mundo.

"Não. Não há. Dessa vez, você mereceu a sua alma. Para mim como tataraneta de Janna, a menina que você matou há muitos anos, é um presente final ver uma alma mais forte que o demônio".

"E agora?" Angel se levantou lentamente. "Como posso encará-los? Como posso olhar nos olhos deles? Como posso esperar que eles me olhem? Depois de tudo o que aconteceu, eles devem me odiar".

"Eu não te odeio", ela respondeu simplesmente. "Buffy irá perdoá-lo porque te ama e saber que não era você. E Giles", um sorriso misterioso cruzou seu rosto, "vou cuidar dele esta noite. E agora viva e ajude-a. Este é o seu destino. E não tente se matar de novo".

Surpreendido, ele a fitou, "Você sabia?"

Agora ela sorria maliciosamente. "Eu sou um fantasma!" Com uma risadinha ela se foi.


Buffy ainda estava sentada na cama de Willow e as lágrimas haviam secado, mas o olhar triste, perdido, ainda estava em seus olhos. O coração de Willow se partiu por ela. Especialmente agora que ela namorava Oz, ela sabia o que sua amiga estava perdendo, apesar de saber que o que Buffy tinha com Angel não era comparável aos seus sentimentos ainda muito recentes pelo lobisomem.

Depois de dez minutos a caçadora se levantou e abraçou a amiga. "Obrigada por me ouvir, Will. Eu precisava disso. Acho que ainda espero..." Ela parou.

"Claro que espera", a bruxa disse com um aceno.

"Mas agora entendo que não há mais esperanças restantes. Ele se perdeu para sempre. Ah, Willow, por que não posso deixar de amá-lo? Sinto tanta saudade dele".

Elas se abraçaram de novo. Então a caçadora se afastou. "Acho que vou fazer uma patrulha tardia agora. Não posso ir para a cama. Obrigada de novo".

"Estou feliz que você veio", Willow lhe sorriu. "Cuide-se".


Angel ficou ali, estupefato, por mais uma hora, tentando digerir o que tinha acabado de ouvir. Lentamente, as imagens em sua cabeça ficaram mais claras, e doeu no fundo de sua alma. Ele pôde ver os olhos de Buffy fixos nele quando ele zombou dela pela primeira noite que eles passaram juntos. Tinha que vê-la e explicar a ela que ele nunca quisera magoá-la.

E ainda tinha Acahtla, o demônio forte agora sob a posse de Dru e Spike.

Ele tinha que achar Buffy. O mais rápido possível.


Willow havia acabado de voltar à cama quando ouviu outra batida em sua janela. Discutindo por que todos pareciam amá-la naquela noite, ela se arrastou à janela e segurou um grito no último segundo possível. "O que você quer!" Ela exigiu saber, recordando que ele não podia mais entrar na casa dela.

Desviando os olhos de vergonha, Angel respondeu. "Estou procurando Buffy. Ela não estava em casa, não pensei..."

"Você não tem nada com ela. Deixe-a em paz. Já não fez coisas demais?" Ela estava surpresa de se comportar com tanta valentia, mas sua amiga magoada tinha dado à jovem bruxa mais força.

Angel, por sua vez, sentia-se péssimo vendo o temor de Willow. Ele gostava muito dela e ela sempre fora leal a Buffy, e até mesmo a ele. "Sinto muito", ele disse baixinho. "Sei que não tenho direito de lhe procurar... depois... do que fiz, mas não sabia aonde ir". Pela primeira vez ele olhou-a direto nos olhos.

Willow o encarou. Sentia-se furiosa, era possível que... Os olhos dele estavam diferentes... A expressão fria, zombeteira, se fora. "Quem é você?" Ela perguntou.

"Eu... Eu acabei de recuperar minha alma, ou ela voltou ao controle", ele explicou. "É difícil de explicar, mas preciso encontrar Buffy. Por favor, ajude-me".

Aos poucos, um sorriso se ampliou por seu rosto. "Angel", ela disse "É verdade. Ela estava certa!" A voz dela ficou animada. "Buffy foi em patrulha. Você vai encontrá-la no Restfield".

Ele retribuiu o sorriso. "Obrigado. Você é uma boa amiga, Willow. E eu vou explicar tudo. Mas depois. Agora preciso encontrá-la". Com isso ele se foi.

CAPÍTULO III

Buffy deu uma última volta perto da mansão, cuidadosamente evitando um encontro com seus novos moradores. Geralmente, ela procuraria encarar Spike, Drusilla ou até mesmo Angel, mas estava abalada demais naquela noite. O encontro na escola tinha feito suas feridas internas sangrarem profusamente.

Suspirando interiormente, ela virou-se para ir para casa quando repentinamente cinco vampiros surgiram do nada. São talvez capangas do Angel, ela pensou. Também não era o que ela queria, mas era o seu maldito dever. Ela matou os dois primeiros com facilidade, mas os três restantes atacaram-na de uma vez. Nada bom, ela pensou instantaneamente, e suas piores expectativas se confirmaram quando dois deles a seguraram enquanto o terceiro tentava acessar seu pescoço. A situação era familiar demais, mas dessa vez não havia um belo estranho vindo para ajudá-la.

Ela mal pôde impedir-se de demais quando uma voz rosnou subitamente, "Bom cães não mordem", e o terceiro vampiro desfez-se em pó na frente de seus olhos.

Com seus instintos reativados, Buffy matou os dois sobrantes sem cansar. Ela tirou o pó da camiseta e então ousou virar-se - não que não tivesse imediatamente sentido a presença dele. Erguendo as sobrancelhas, ela o fitou. "Então, por que me ajudou, hein? É um novo tipo de..." As palavras morreram em sua garganta. Ela olhou o vampiro de pé diante dela. Piscou várias vezes e sacudiu a cabeça, tentando desesperadamente livrar a cabeça da imagem que ela considerara só um sonho.

Angel ficou ali, imóvel, sem dizer uma palavra. Ele queria afogar-se nos olhos dela, não queria nada além de estender-se para tocá-la, mas sabia que não havia como fazer isso. Ele nem tinha certeza se ela deixaria que ele se aproximasse.

Engolindo em seco, ela se aproximou, os olhos dela nunca deixando os dele. "Como?" Ela respirou incredulamente. "Como é possível?"

Ela sabia! Ela não o confundira nem por um minuto! Se o coração dele estivesse batendo, ele tinha certeza que falharia agora, e ele estava radiante pela cláusula não existir mais, porque o sentimento que ele tinha agora mesmo era perto demais da verdadeira felicidade. Ele podia ver nos olhos dela, que agora brilhavam de lágrimas felizes. Deus, como ela poderia ficar feliz de vê-lo? Depois de tudo o que ele tinha feito, ela olhava assim para ele? "Eu... Eu não entendi no começo. Mas aí a srta. Calendar... ou o fantasma dela... veio e me explicou".

Ela estendeu uma mão trêmula e tocou sua face. "Então não é um sonho?" Sussurrou. "É você mesmo. Ai, Deus, Angel!"

"Buffy", foi tudo o que ele conseguiu dizer. E, depois de um tempo, "Me desculpe".

"Não", ela respondeu, estremecendo quando percebeu que sua voz tinha soado mais cáustica do que ela planejara. "Senti sua falta. Achei que tinha te perdido para sempre".

"Eu sei. Buffy, eu..."

"Não", ela levantou uma mão. "Só... me abrace". Sua voz era minúscula, e ele pôde ver que ela estava tentando desesperadamente reprimir os soluços que ameaçavam deixar sua garganta. "Pode apenas me abraçar, Angel? Senti mais falta de seus braços do que de qualquer outra coisa no mundo inteiro. É o único lugar onde me sinto segura. Então, você pode? Me abraçar?"

Com um gemido, ele puxou-a para si e a abraçou. Instantaneamente, os braços dela envolveram sua cintura e ela se apertou a ele. "Quando quer que as coisas ficassem difíceis esses meses", ela disse, abafada, contra seu peito, "eu queria correr para seus braços, mas você não estava aqui. Eu fui ao seu apartamento dúzias de vezes, esperando..." A voz dela se partiu e um soluço deixou sua boca.

Tranqüilizadoramente, Angel acariciou as costas dela, e gentilmente beijou sua cabeça. "Não vou a lugar nenhum", ele tentou acalmá-la. "Deus, Buffy, senti saudade. Eu também senti sua falta".

"M-mas", ela soluçou, "t-tudo... p-pode a-acontecer de novo".

"Não", ele disse com firmeza, se afastando um pouco para olhá-la nos olhos. "A srta. Calendar me explicou tudo. Ao dominar o demônio - quando disse que te amava há pouco - eu recuperei minha alma definitivamente. Ela não vai a lugar nenhum".

"Mesmo?" Ela perguntou com uma voz minúscula, mas a esperança brilhava em seus olhos.

"Mesmo", ele conseguiu dar a ela um pequeno sorriso, mas seu olhar ficou sério na hora. "Eu sinto muito por... tudo".

"Não", ela repetiu. "Eu disse antes. Você não tem nada pelo que se desculpar. Você não sabia o que ia acontecer. E, depois, nem estava no controle".

"Foi exatamente o que Jenny Calendar disse".

"E ela estava certa", Buffy disse com um aceno firme.

Eles ficaram juntos pelo que pareceu uma eternidade, apenas abraçados, sentindo a proximidade um do outro, e a caçadora percebeu que esta era a primeira vez em que estava relaxada de verdade desde a noite em que ele se transformara em seu ego mau.

"Isso é bom", ela suspirou e desfez o silêncio contente.

"Hummmm", ele fez e puxou-a para ainda mais perto. Queria ficar assim para sempre, sentindo o corpo dela perto do seu, o coração dela batendo contra seu peito. Mas havia algo que ele precisava contar a ela, algo que não podia esperar. "Buffy", ele disse, e o tom de sua voz fê-la afastar-se e erguer os olhos.

"O quê!" Traços de pânico eram evidentes em seus olhos.

Rapidamente ele beijou sua testa, pela primeira vez ousando aproximar os lábios do rosto dela. "Tem algo sobre o que devemos conversar. E acredite que eu preferia não falar disso, mas... quando eu... bom... quando eu estava com Spike e Drusilla, nós... fomos ao museu e roubamos uma pedra".

"Você?" Ela perguntou com olhos arregalados.

"Você sabia?" Ele respondeu com uma pergunta.

"Sim... Não... Quer dizer, sim, Giles foi lá depois que a pedra foi roubada, mas não sabíamos que era você. Apenas especulamos, mas... que seja. Então você roubou a pedra".

"Sim", ele respondeu com um aceno. "Mas não é só a pedra. Tem uma coisa dentro dela. Um demônio adormecido chamado Acathla".

"Aca... o quê!"

"Acahtla", ele repetiu. "Um demônio muito forte. Esteve ativo há mais de mil anos e matou centenas... milhares de pessoas antes de ser dominado por um bravo cavaleiro. Mas não foi inteiramente destruído, apenas adormecido, como eu disse antes. Eles o enterraram profundamente para que não fosse mais encontrado por ninguém. Mas infelizmente uns arqueologistas o acharam e o trouxeram ao museu. No momento, não é nada além que uma pedra feia e pesada com uma espada saindo do peito, mas, se for ativado, pode sugar o mundo inteiro no inferno - literalmente. Todos os seres humanos... tudo. Agora, pode imaginar como isso seria agradável", ele respirou fundo ao fim de seu discurso.

"Bom, então temos que ir e impedi-lo", ela disse simplesmente depois de tempo.

Incrédulo e confuso ele a olhou, "É tudo o que você vai dizer? Buffy, você ouviu, eu ajudei a roubar aquele demônio... não, apague isso, eu tive a idéia e agora..."

Ele foi interrompido quando a caçadora colocou um dedo sobre seus lábios. "Shhh", ela fez, ficou na ponta dos pés e capturou seus lábios nos dela. "Eu disse antes que não foi você. Lembra do que a srta. Calendar disse?"

"Lembro", ele disse com um sorriso de lado. "Não vai me deixar sentir culpa, não é?"

"Nunca", ela disse firme.

"Contudo, talvez você devesse falar a Giles sobre isto".

"Concordo, há pesquisa a ser feita". Ela o fitou. "Com certeza, quanto mais cedo melhor".

"Spike não é o mais brilhante dos vampiros", Angel disse, "mas eu... o demônio... disse tudo a ele e..."

"Certo", ela acenou. "E eu também vejo que você não quer invadir o apartamento de Giles ou a biblioteca, mas talvez pudéssemos ir ver Willow. Ela é uma verdadeira máquina de pesquisa".


Então, pela terceira vez naquela noite, alguém estava batendo à janela de Willow. Resmungando um insulto, ela saiu da cama e se arrastou sonolentamente para a porta de sua sacada, discutindo silenciosamente por que ela tentara mesmo dormir naquela noite. Talvez deveria mandar uns convites e dar uma festa.

Mas, no segundo que ela viu as duas pessoas na frente dela, um sorriso surgiu em sua face. "Oi. É bom vê-los juntos de novo".

Buffy sorriu para ela, mas foi forçado. "Você é provavelmente a única que acha isso", ela disse apertando a mão de Angel - que não soltara desde o momento em que eles haviam se encontrado no cemitério.

"Oz também vai apoiá-los", Willow assegurou ao casal. "Tenho certeza que vai. Afinal, ele é um lobisomem e pode se relacionar... de algum modo", ela acenou para enfatizar seu ponto.

"Obrigado, Willow. E me desculpe... pelos..."

Ela balançou a mão. "Tudo bem. Quer dizer, não era mesmo você, certo? E os peixes eram meio novos, não tivemos mesmo tempo de criar laços. Mas a idéia de que você... ele... bom", ela sacudiu a cabeça, "de que alguém esteve em meu quarto, era um pouco assustadora".

"Me des..."

"Não", ela levantou a mão, "É a primeira vez que vejo um sorriso genuíno no rosto da Buffy. Isso vale mais que qualquer coisa", ela disse pegando a mão livre da amiga. "Estou tão feliz pelos dois".

"Willow", Angel olhou a ruiva. "Há um motivo pelo qual viemos te procurar".

"Sim", concordou Buffy. "Will, precisamos de sua ajuda. Conte a ela", ela olhou o vampiro. E assim ele fez. Depois que ele terminou, a bruxa o fitou pensativamente.

"Bom, isso exige uma pesquisa séria, mas... quer dizer, Giles..." Ela se calou.

"Foi por isso que viemos agora", disse a caçadora. "Talvez na internet?" Ela deu a sua amiga um olhar esperançoso.

"Ou", o rosto de Willow se iluminou, "podemos ir à biblioteca agora. Giles não vai estar lá e podemos ter nossa festinha de pesquisa tardia. Vou ligar para Oz. Tenho certeza que ele também vai ajudar e pode nos levar". Com isso ela se virou e foi ao telefone.

Buffy olhou Angel e sorriu. "Só mesmo Willow para se animar com uma pesquisa". E então ela suspirou. "Mas eu farei qualquer coisa se você estiver no meio".

CAPÍTULO IV

E foi assim que, uma hora mais tarde, quatro silenciosas silhuetas entraram na escola de Sunnydale e fizeram seu caminho pelos corredores escuros até a biblioteca. Willow deu várias risadinhas, enquanto Buffy e Angel trocavam olhares divertidos. Oz segurava a mão da ruiva e nada dizia, mas havia um sorriso em seus lábios. Não havia nada verdadeiramente engraçado na situação, mas eles tinham estado tão tensos nos últimos meses que precisavam liberar a tensão de algum modo.

Apenas minutos depois, cada um deles estava sentado diante de um livro enquanto Willow ligava o computador. Ela trouxera suas adoradas rosquinhas polvilhadas de açúcar, e Oz abençoadamente tinha levado uns refrigerantes. Já era quatro da manhã quando a jovem bruxa gritou, "Gente, gente, acho que achei algo".

Instantaneamente três expectantes pares de olhos viraram-se para ela. "Tem algo sobre Acahtla e uma chave". Ela franziu a testa. "Não está completamente claro, mas obviamente há uma chave para... trazer o demônio de volta à vida". Ela correu os olhos pela tela e, quando percebeu que os outros ainda a observavam, corou. "Ai, desculpe. Não, isso não parece bom. Obviamente Angel não exagerou em suas histórias sobre o que o demônio pode fazer. Escutem, aqui diz, 'uma vez revivido, o demônio tem o poder de arrastar todos os seres, humanos ou não, à boca do inferno onde humanos estão condenados a sofrer os eternos tormentos do inferno'".

"Definitivamente não é para onde quero ir", Oz disse secamente e abriu uma lata de refrigerante.

"Mais alguma coisa?" A caçadora quis saber.

"Não de verdade. A chave é mencionada várias vezes, mas não elaboram nada sobre ela", ela moveu os ombros num gesto inútil. "Desculpem".

"Não precisa pedir desculpa", Angel disse rapidamente, e lhe sorriu tranqüilizador. "Eu li um livro também, quando... bem, quando estava com Spike e Dru, e tudo o que entendi foi que, para remover a espada e reabrir o portal, é preciso algum tipo de sacrifício. O demônio tinha certeza de saber o que era, mas eu não tenho". Ele fitou Buffy, que tomou sua mão.

"O que Angelus achou?"

Ele respirou fundo sem necessidade. "Ele achou que tinha que matar vários humanos para ser merecedor. Mas não tenho tanta certeza. Esse demônio pode ser malvado, mas isso não parece sagrado o suficiente", ele balançou a cabeça. "Acho que tem algo a mais. Algo que ainda não sabemos".

"Eu encontrei algo", Oz os interrompeu. "Aqui diz que, assim que a espada é removida e o vórtice aberto, só pode ser fechado pelo mesmo sacrifício que o abriu", ele franziu a testa. "Alguma sugestão?"

"Não", Angel balançou a cabeça, e seus ombros caíram. "Sinto muito", ele murmurou. "Se não fosse por mim, não estaríamos lidando com todos esses problemas".

"Pare com isso", a resposta afiada de Buffy veio no mesmo segundo que Willow exclamou, "Não é verdade, não era você!" As duas garotas se entreolharam e sorriram, e então seus olhos viraram-se para o vampiro.

"Angel", disse Willow, "veja minha cara de decisão". Ela ergueu o queixo, e o vampiro não pôde deixar de ficar espantado por o quão incondicionalmente eles o tinham aceitado de volta no grupo. Mas Xander e Giles não estão presentes, ele pensou severamente. "Além disso, não vai ajudar se você se enterrar em pena e em culpa. Precisamos de sua ajuda, Buffy precisa de sua ajuda para parar o que quer que aconteça com esse demônio".

"Ela tem razão", a caçadora apertou-lhe a mão. "Não tem como eu ir contra Spike e Dru sozinha, preciso de sua ajuda".

"Desculpe", ele deu a ela um sorriso tímido. "Mas é tão duro. Eu vejo todas essas imagens. Admito que é mais fácil por causa de Jenny, mas ainda assim..."

"Eu sei", Buffy aproximou-se dele. "Melhor ainda, eu entendo. É claro que não posso saber pelo o que você está passando, mas você não está sozinho. Estamos aqui para você, todos nós. Somos seus amigos".

Angel teve que se controlar muito para evitar desatar no choro ali mesmo. Ele ficou feliz por seus mais de dois séculos, que o ensinaram uma coisa ou outra sobre auto-controle, senão seria muito embaraçoso. Ainda assim, ele sentiu os olhos marejaram e a voz estava rouca quando ele respondeu, "Obrigado. Vocês não sabem o que isso significa para mim".

Depois de um momento, Willow pigarreou, "Hum, gente... Talvez nós devêssemos parar agora e irmos para casa. Podemos nos encontrar amanhã de novo, talvez Giles saiba mais. Quer dizer, ele lê muito e é o sentinela, afinal", ela suspirou, "e o sol vai nascer em algumas horas".

"Tudo bem comigo", Buffy disse quando viu Angel concordar.

"Quer vir conosco?" Oz perguntou, mas já sabia a resposta.

"Não", a caçadora sacudiu a cabeça. "Angel e eu vamos a pé".


Por um tempo, eles caminharam pelas ruas escuras em silêncio. Depois de alguns minutos, suas mãos se encontraram e se entrelaçaram. Eles não se olharam; apenas curtiram a sensação de estarem conectados um ao outro de novo. Mão a mão, alma a alma.

Foi Angel quem rompeu o silêncio ao perguntar, "Posso te levar em casa?"

Imediatamente a caçadora parou e o olhou. "Claro. Minha mãe não está em casa, está em outro lugar comprando arte para a galeria. Mas, pensando bem, eu poderia te levar em casa".

"O que quer que você queira", ele disse e sorriu para ela.

"Bom", ela concordou e voltou a andar. "Tudo está do jeitinho que estava quando você partiu", ela disse quase casualmente. "Quer dizer, no seu apartamento".

Ele parou de novo, olhando para ela. "Você... Você esteve lá?"

"Uh-hum".

Ele engoliu em seco. "Mas por quê!"

"Como eu te disse antes, senti saudade. Era lá que eu me sentia mais perto de você. Na sua cama eu ainda podia sentir o seu cheiro. Quando eu fechava os olhos, podia fingir que você ainda estava lá", ela admitiu.

"Ah, Buffy!" Ele sussurrou. "Eu também senti saudade". Sem aviso ele a puxou para si, fechando os braços ao redor dela e abraçando-a. "Meu Deus, quanto senti falta disso. De você".

"Angel?" Ela perguntou depois de alguns minutos.

"Hmmmm?"

"Você não me disse que Jenny disse uma coisa sobre a sua alma ter voltado definitivamente para você?"

"Disse, por quê?"

Buffy sorriu interiormente. Ele era tão fofinho... "Então por que estamos aqui na rua? Faz alguns meses, mas tenho uma memória muito clara sobre a sua cama sendo muito confortável". Ela o fitou inocentemente, mas havia um brilho travesso em seus olhos.

"Você não pode estar pensando em..."

"Por que não?"

Ele se afastou e deu um passo para trás. "Buffy, nós... nós não podemos fazer isso".

Ela deixou escapar um suspiro exasperado. "Por que não?"

"Depois..."

"Especialmente depois", ela o interrompeu. "E agora fique quieto. Nunca diga algo que pode deixar uma caçadora com raiva".

Ele não pôde deixar de rir. "Com raiva, hein? Deixe-me te dizer que o que eu farejo agora mesmo não é raiva, com certeza".

Ela corou e engoliu. "Você... você pode... farejar", ela mencionou a si mesma, "isso?"

"Uh-hum", ele concordou. "Mas, mesmo se não pudesse, você deixou bem claro com suas palavras e ações".

"Angel", a voz dela estava suplicante de repente. "Quero acordar nos seus braços. Não me mande embora. Pense em Acahtla e no vórtice. Talvez em alguns dias nós todos sejamos sugados pro inferno. Não seria horrível desperdiçar um tempo tão precioso, livre de mãe, se posso lhe lembrar?"

"Não está jogando limpo, Srta. Summers", ele provocou.

"Quem disse que eu tinha? Conhece o ditado, 'no amor e na guerra'..." Ela parou.

"Eu sei", ele deu uma risada e puxou-a para perto de novo. "Desculpe", sussurrou em seu ouvido.

"Pelo o quê agora?"

"Pela primeira manhã seguinte. O que... o que ele..."

"Eu sei", ela o interrompeu. "Foi só no começo que eu fiquei magoada. Assim que eu percebi que não era você..." Ela lhe deu um brilhante sorriso. "Comecei a lembrar do que você tinha sussurrado enquanto fazia amor comigo".

"Bom", ele respirou enquanto começava a mordiscar o lóbulo da orelha dela. Então, parou e olhou-a de novo. "Buffy, tem certeza mesmo?"

"Absoluta", ela disse sem hesitar.

"Certo, então vamos".

E eles correram o resto do caminho.

CAPÍTULO V

Ao despertar na manhã seguinte, Buffy instantaneamente tocou o espaço ao lado, para sentir... NADA!

Ou, mais precisamente, os lençóis vazios à sua esquerda. Ela sentou-se na cama, seus olhos buscando Angel freneticamente à luz fraca do apartamento. "Angel!" A voz dela estava alta e continha uma nota de pânico, que rapidamente virou alívio quando ela ouviu a resposta.

"Buffy?" Meros segundos mais tarde, ele apareceu na porta. "Meu amor? Qual o problema?" Perguntou preocupado.

Ela forçou um sorriso nos lábios. "Nenhum"

Mas ele sabia. "Achou que estava acontecendo de novo, não foi?"

O sorriso sumiu de seus lábios e, constrangida, ela percebeu que suas mãos estavam tremendo. "V-você não estava aqui", ela gaguejou, "e... e-eu..."

"Desculpe", ele sussurrou e a abraçou quando ela começou a chorar. "Estava só me alimentando. Obrigado por ter mantido a geladeira cheia, a propósito. Você estava dormindo tão calmamente que não tive a coragem de lhe acordar e tinha certeza que voltaria a tempo".

"T-Tá tudo b-bem", ela soluçou contra o ombro dele.

"Não está não", ele disse firmemente, "e eu sinto muito. Mas estou aqui e ainda sou eu mesmo".

"Te amo", ela sussurrou no cabelo dele. "Que horas são?"

"Seis da manhã, por quê?"

Ela se afastou de leve, plenamente refeita. "Porque hoje a escola começa às nove".

"Você é insaciável, srta. Summers", ele sorriu.

"Bom, faz muito tempo, então temos muito o que compensar".

"Às suas ordens", ele brincou e se perdeu nela.


Duas horas e meia depois, Buffy deixou o apartamento de Angel, quase incapaz de manter os olhos abertos, mas contente e relaxada pela primeira vez em meses. Mesmo o perigo representado por Acahtla desaparecia diante de sua recém-encontrada felicidade.

Willow e Oz foram os primeiros que ela viu, e ambos sorriram conspiratoriamente para ela. "E aí, curtiu sua reconciliação?" A ruiva perguntou.

"Willow, por favor", a caçadora sacudiu a cabeça, "essas coisas são particulares".

"Mas vocês fizeram... coisas?" A jovem bruxa não desistiu facilmente.

"Coisas?" Buffy perguntou inocentemente. "Que coisas?"

"Bem, não sei, se beijaram ou coisa assim".

"Também nos beijamos", a caçadora sorriu e lhe deu um olhar claro.

"Também... hum... ah, AH!" Willow ficou vermelha como um tomate, enquanto Oz mordia o lábio inferior. Então ficou imediatamente séria. "E Angel é... hummm... quer dizer..."

"Sim, Will, ele ainda é Angel".

"Bom", a ruiva soltou o fôlego. "Isso é mesmo ótimo!" Ela disse e abraçou a caçadora. Afastando-se, ela perguntou, "Contou a mais alguém?"

"Não", Buffy sacudiu a cabeça. "Essa é a parte difícil. Xand e... Giles. Foi ele quem mais perdeu com Angelus. Nem posso culpá-lo se..." Ela parou, indisposta a falá-lo em voz alta. A mera idéia dos dois homens mais importantes na vida dela se odiando - ou, mais precisamente, um odiando o outro - era algo com o qual ela não queria lidar.

"O que quer que aconteça, estaremos do seu lado", ofereceu Willow.

"Obrigada, Will, você é a melhor". Buffy sorriu rapidamente para ela. "Te vemos depois das aulas na biblioteca", elas disseram a Oz.


Giles ergueu os olhos do livro que estava lendo quando viu as duas garotas entrando pela porta. "Alguém esteve na biblioteca esta noite", ele disse sem cumprimentá-las. "Eu especulo se foi um dos capangas de Angel. Eles já estiveram aqui antes", lembrou, mencionando o dia em que um dos capangas de Spike tinha roubado um livro.

"Como você sabe?" Willow perguntou, tentando parecer inocente - mas não conseguiu, e parecia mais uma menininha pega roubando chocolate da geladeira.

"Porque os livros estavam espalhados pela mesa", o sentinela contou, sem olhá-las. Buffy e a ruiva trocaram um olhar rápido. "Eles leram sobre Acahtla, o demônio que foi roubado numa pedra do museu. Isso pode ser muito sério", ele ergueu os olhos. "Eles leram sobre como revivê-lo".

"Giles..." A caçadora começou, mas ele proseguiu:

"Este é um demônio muito perigoso. Não tinha contado nada a vocês até agora, mas acho que chegou a hora..."

"Giles!" Buffy o interrompeu impacientemente.

"Sim?"

"Não foram vampiros. Foi...", ela mordeu o lábio inferior. "Fomos Willow, Oz e eu que viemos e demos uma olhada nos livros", ela finalmente admitiu.

"Vocês?" O sentinela perguntou surpreso. "Mas como? Vocês sabem de algo que eu não sei? Vocês esbarraram em algum dos capangas de Angel, alguém se..."

"Giles!" A voz dela estava impaciente de novo. Quando ela viu que ele estava finalmente ouvindo-a, disse, "Não, eu não esbarrei num dos capangas dele. É que... bom, aconteceu algo".

"Algo?" Ele olhava de uma garota para a outra. "Por que não me ligou na mesma hora? Buffy, isso é sério".

"Eu sei!" Ela gritou. E, mais calma, "Eu sei. Giles, aconteceu uma coisa ontem à noite. E não era o momento de lhe avisar", ela respirou fundo. "A razão pela qual não lhe ligamos foi porque havia uma quarta pessoa conosco ontem à noite".

"Uma quarta pessoa? Eu achei que você tinha dito..."

"Eu sei", Buffy puxou uma cadeira e se sentou. "Giles, Angel estava aqui ontem à noite".

"Angel!" Ele se levantou de um pulo de sua cadeira. "Esteve aqui? Ele mesmo? Buffy, isso é completamente..." Ele sacudiu a cabeça, tirou os óculos e coçou a ponte do nariz. Olhando-a novamente, ele voltou a perguntar, muito mais calmo, "O que aconteceu? Vocês lutaram?"

"Não", ela sacudiu a cabeça. "Giles", se inclinou para frente e, assim que ele se sentou de novo, prosseguiu. "Angel veio com a gente. Ele é Angel de novo, Giles".

"Angel de novo? O que está... Não, Buffy", ele sacudiu a cabeça enfaticamente. "Não caia nessa. Ele é uma das criaturas mais perigosas que já andaram por essa Terra".

"Não é mais", ela replicou suavemente. "Ele recuperou a alma, Giles".

"Como?" Ele perguntou, claramente irritado. "Um espírito bom veio e a devolveu, ou o quê?"

"Algo assim", ela disse suavemente, e o deixou espantado. "Ele me disse que foi uma recompensa por..." E assim ela contou a história do jeito que Angel havia contado a ela na noite anterior.

Contrário ao que ela esperava, ele sorriu ao fim de sua história. "Então não foi um sonho".

"Giles?" Willow perguntou preocupada.

"Eu recebi uma visita ontem à noite. Achei que fosse um sonho, mas obviamente foi muito mais que isso", erguendo os olhos ele viu as duas adolescentes olhando-o. "Jenny. Jenny veio ontem à noite e me contou a mesma história. Ela disse que eu deveria abrir meus olhos e ver que Angel não é mais o mesmo. Me fez prometer que eu não esqueceria que ótimo amigo ele tem sido..." Constrangido, ele se interrompeu e pigarreou. Aprumando-se na cadeira, ele fitou sua caçadora. "E eu prometi. Então, se ele quiser vir..." Ele sorriu para ela.

"Ah, Giles!" Ela sentiu lágrimas de felicidade marejarem seus olhos. "Obrigada".

"E vocês têm certeza sobre a alma dele?"

"Sim, está segura. Nós a testamos esta noite". Dessa vez ela riu vendo-o corar.

E então elas contaram a ele tudo o que tinham encontrado sobre Acahtla. Ele as ouviu e concordou no final. "Eu diria que precisamos fazer mais pesquisas".

"Legal, mais um festival de pesquisa!" Willow exclamou alegremente.

Buffy apenas balançou a cabeça e riu. "Qual é a da Willow com pesquisas? Parece que ela está viciada".

CAPÍTULO VI

Eles se encontraram novamente na biblioteca quando estava escuro. Willow chamou Xander e Cordélia para se juntarem a eles para fazerem algumas pesquisas urgentemente, mas deixou de fora qualquer informação sobre Angel recuperando sua alma.

Buffy podia sentir a tensão de Angel a respeito do reencontro com Giles e, apesar de ela ter assegurado a ele que o sentinela não alimentava mágoa, ele não estava inteiramente convencido. Relembrando todos os eventos dos meses passados, a caçadora não podia culpá-lo por isso. A culpa que ele sentia ainda era forte; nenhuma palavra que Jenny ou outra pessoa dissesse iria diminuí-la completamente; e ela só podia esperar que sua presença desse a ele a força para lidar com isso diariamente.

Quando ela o viu parar na frente das portas de vai e vem, tomou sua mão e a apertou com força. Ele sorriu grato para ela, respirou desnecessariamente fundo e empurrou as portas para abri-las. Exceto por Xander e Cordélia, os outros já estavam lá. Willow e Oz sorriram para cumprimentá-los, e Buffy os abraçou interiormente por isso. Ela não podia querer amigos melhores. Foi nesse momento que Giles saiu de seu escritório e parou no meio de um passo ao ver o vampiro de pé ao lado de sua caçadora. A presença dele atingiu-o como um soco no estômago, mas, para sua surpresa (apesar dos dois dividirem o mesmo corpo), ele viu apenas uma leve semelhança entre a versão com alma e a versão sem alma.

Se Buffy não amasse Giles antes, ela o amaria agora. Após uma hesitação mínima, ele foi até Angel e ofereceu sua mão ao vampiro. "Olá, Angel". O sentinela até mesmo conseguiu sorrir e disse, "Acho que Buffy lhe disse que Jenny me visitou ontem à noite?"

"Contou", Angel confirmou, com o corpo ainda tenso, seus olhos meio vacilantes ao fitar o homem que enfrentara tanta dor causada pela mão que ele apertava agora. Sua estima pelo inglês às vezes severo cresceu intensamente. "Ainda assim..."

"Não precisa pedir desculpas", Giles o interrompeu com firmeza. "Você foi uma vítima como nós fomos. Pior ainda, tem de viver com todas as lembranças. Acho que nenhum de nós pode começar a imaginar o que isso significa".

"Giles, eu..." A voz de Angel estava rouca de emoção e ele não podia mais falar.

O sentinela colocou uma mão no ombro de Angel. "Nunca esquecerei o que o demônio fez", ele disse olhando Angel direto nos olhos. "Mas também nunca esquecerei que você não estava no controle quando tudo aconteceu". Soltando o vampiro, Giles deu um pequeno passo para trás. "E estou feliz porque isso não pode mais acontecer".

Angel apenas acenou em resposta, ainda sem palavras.

Tentando diminuir a comoção, o sentinela voltou aos negócios. "Buffy, Willow e Oz me contaram tudo o que você disse a eles sobre Acahtla. Há mais alguma coisa que você possa lembrar?"

O vampiro sacudiu a cabeça. "Não, temo que já tenha contado tudo o que sei. Acho que é seguro dizer que Spike e Drusilla estão com o demônio agora. E, maluca como Dru é, não duvido que eles irão utilizá-lo. Spike não é muito fã do inferno, mas é tão apaixonado por Dru que vai fazer qualquer coisa para deixá-la feliz". De repente ele teve uma idéia. "Quem sabe nos diários dos sentinelas?" Ele disse e dirigiu-se à mesa lendo rapidamente os livros espalhados sobre ela. "Pelo que sei, Acahtla esteve na terra há mais ou menos mil anos. Talvez alguma caçadora..." Deu de ombros. "Não sei".

"Essa é uma idéia magnífica!" O sentinela exclamou, fechando um livro grosso diante dele. "O que faríamos sem você, Angel?" E com isso ele desapareceu dentro de seu escritório e eles puderam ouvi-lo procurando os livros que ele tinha em sua coleção particular.

Buffy espiou Angel e poderia ter chorado vendo o alívio nos olhos dele. Passou os braços por sua cintura e apertou-se contra ele. Os braços dele também enroscaram-se nela e eles ainda estavam assim quando Giles voltou segurando o diário triunfante.

"Eu achei", ele declarou, achou um espaço e começou a folheá-lo, ignorando os olhares divertidos dos outros. Buffy e Willow se entreolharam - Giles estava sentinela total.

"Aqui está!" Ele exclamou depois de um minuto. "Está numa linguagem muito formal", disse-lhes, e ignorou as risadinhas das duas moças. "O sentinela fala muito sobre o demônio", ele disse passando as páginas, "e sobre as dificuldades de achar um cavaleiro bravo o suficiente para combatê-lo". Ele ergueu os olhos por um momento, e estes encontraram os olhos de Angel. E seu olhar voltou às paginas. "Ah, aqui, parece que, para reviver o monstro, o sangue de alguém digno é necessário".

"Não é muita informação", Buffy desvencilhou-se de seu namorado e se aproximou para espiar sobre o ombro de Giles. "E, se posso dizer, eca! Por que esses demônios sempre têm que ser assim feios?"

Seu sentinela sorriu apesar da preocupação e leu alto, "O digno é quem tocou o demônio primeiro". Ele balançou a cabeça e fitou Angel. "É aí que você entra".

"Tocar o demônio primeiro?" O vampiro disse quase que para si mesmo, profundamente pensativo. "Mas esse não seria uma das pessoas que o desenterrou?" Ele olhou Giles rapidamente.

O sentinela considerou isto por um momento e então balançou a cabeça. "Não necessariamente. O demônio estava dentro de uma pedra grande, afinal. Eles podem não ter tocado o demônio propriamente dito".

"Ainda estava na pedra quando eu saí", Angel disse a ele. "Mas duvido que ainda esteja. Dru estava muito ansiosa para olhá-lo. A pergunta é, será que eles também sabem disso?" Angel perguntou o que todos na sala pensavam. "Não gosto disso, Giles. Spike não é o mais brilhante dos vampiros, mas não é totalmente idiota, e Dru..." Encolheu os ombros, "Bom, ela é vidente até um certo ponto".

"Vidente?" Willow arregalou os olhos. "Quer dizer que ela pode ver... coisas?"

"Pode", concordou o vampiro. "Ela podia até mesmo quando era humana. Ser uma vampira louca não o enfraqueceu, ela está apenas confusa na maioria das vezes".

Giles estava imediatamente preocupado. "Isso pode ser sério. Pode significar que ela já sabe que você recuperou sua alma".

"Provavelmente", concordou Angel. "Mas eles adivinhariam que algo está errado de qualquer jeito. Não voltei ontem à noite".

"Bom pra você", Buffy disse e se aninhou no colo dele.

"Você acha?" Ele ergueu uma provocante sobrancelha e ela deu uma risadinha.

Willow - sempre a romântica - quase suspirou vendo-os desse jeito, juntos, e Oz apertou a mão dela, sentindo algo similar. Até mesmo Giles não pôde ignorar o modo com que eles se olhavam; então, eles quase desmaiaram quando uma voz irritada veio repentinamente da porta.

"O que diabos está acontecendo aqui?"

CAPÍTULO VII

Xander, com a mão de Cordélia firme na sua, entrou na biblioteca ignorando a todos, com os olhos fixos no casal, de pé junto e o olhando. Apontando o vampiro, ele perguntou "O que diabos essa aberração está fazendo aqui?"

A animadora de torcida morena ao seu lado soltou sua mão e ergueu uma sobrancelha. "Parece que não sabemos de uma coisa ou duas?"

"Angel recuperou sua alma", Buffy começou a explicar, mas foi interrompida pela voz irritada de Xander, que falou como se não tivesse ouvido nada:

"Pensando bem, não me importa. Vocês todos enlouqueceram?"

"Xander!" A voz cortante de Giles finalmente pareceu passar por sua fúria, e o garoto ergueu os olhos.

"O quê!"

"Ele é Angel novamente. O Angel que conhecemos", o sentinela explicou. "É meio complicado agora, mas é uma recompensa. E agora está aqui para nos ajudar".

"Nos ajudar?" Xander ecoou, olhos faiscando de ódio. "Por quanto tempo? Até que eles se agarrem de novo? Ah, não, muito obrigado, mas eu prefiro vê-lo reduzido a uma pilha de cinzas".

"Xander!" Willow exclamou raivosamente, mas seu amigo de infância ignorou-a.

"Como pode ficar aí", ele disse na cara do vampiro, "e você", seu olhar acalorado foi para Buffy, "de mãos dadas com ele como se nada tivesse acontecido? Ele matou a srta. Calendar. Ele é um assassino a sangue frio, o seu... seu..." Fez um gesto com a mão, "o que quer que você o chame agora. Você me dá nojo, Buffy".

"Controle a língua", Angel rosnou perigosamente. Ele tinha esperado palavras duras e ódio do garoto, e aceitaria tudo, mas isso não significava que ele aceitaria que o outro insultasse Buffy.

Mas Xander não recuou. "Ele matou a srta. Calendar, Buffy. E você está de mãos dadas com ele.."

"Pare!" Giles gritou, e a boca de Xander se fechou instantaneamente. "Não ouse", os olhos do sentinela estavam perigosamente estreitos quando ele veio ficar de pé diante do garoto. "Nunca, me ouviu, nunca coloque Jenny nisso. Não tem direito a fazê-lo. Você nunca gostou dela enquanto ela estava viva, então não a use agora que ela está morta. Pode odiar Angel o quanto quiser, Deus sabe que você já o odiava antes, e sem motivo, se posso dizer, mas deixe Jenny fora disso, me entendeu?"

"Mas..." Xander tentou protestar, mas foi interrompido por Cordélia.

"Desista, Xander", ela disse e sentou-se à mesa. "Isso está ficando cansativo". E seu olhar foi para o vampiro e a caçadora. "Há possibilidade de acontecer de novo? Porque, se houver, estou indo em férias prolongadas agora mesmo. Me cansei disso".

"Não, não vai acontecer de novo", Buffy disse a ela, apenas para ser interrompida por Xander:

"E como você sabe disso?"

"Porque nós sabemos, ponto final". Com as mãos nos quadris, ela se aproximou de Xander, "Não vou me explicar para você, ouviu? De todas as pessoas, você devia entender, senhor 'Eu-Fui-Possuído-Por-Hienas-E-Comi-Um-Leitãozinho'!"

Xander corou de leve e olhou o chão.

"Certíssima!" Willow apoiou o argumento da caçadora. "Você sabe que não era Angel, pelo menos não esse Angel".

"Por minha vez", Cordélia disse atrás delas, "se você pode assegurar que ele não vai mais ficar mau, estou bem com isso. Mas mantenha longe os amassos - eu fico enjoada".

"Quer dizer para irmos e acharmos um armário?" Buffy ergueu uma sobrancelha divertida.

"Exatamente", Cordélia respondeu com um aceno. "Trocar fluidos corporais, mesmo que seja com a boca, em público está fora de moda".

Xander deu à namorada um olhar irritado. "Deixe-me esclarecer isto, enquanto eles não estiverem se beijando, você concorda com isso?"

"Com certeza", ela disse e começou a vasculhar sua bolsa atrás de sua lixa de unhas.

Derrotado, seu namorado jogou as mãos no ar. "Deus, vocês são loucos. Mas", ele deu de ombros, "não tenho outros amigos. Então ele pode ficar aqui. Mas o mantenha longe de mim".

"Não é como se eu quisesse vê-lo diariamente", Angel disparou.

"Ótimo", Xander balançou a cabeça e tomou assento ao lado de Cordélia. "Alguém pode nos dizer as novas? Porque o modo que eles ficam dando olhares amorosos um ao outro é enjoativo".

CAPÍTULO VIII

Não tão longe dali, na imensa mansão, Spike estava rolando de um lado para o outro em sua cadeira de rodas. Dois comandados estavam de pé à porta aberta, enquanto Dru estava sentada no chão, em um vestido meio rosado, completamente inconsciente à tensão em seu amante loiro.

"Onde diabos ele está? Ele só queria pegar uns livros da biblioteca da escola! Isso está uma bagunça! Maldito seja!"

Os vampiros à porta se afastaram quando ele rolou até eles. Tudo bem que ele estava numa cadeira de rodas, mas sua reputação era a de um dos vampiros mais perigosos no mundo. Ele era velho, pelo menos mais velho que os outros; e ainda havia Drusilla a considerar. Ela podia ser louca, mas também era muito forte.

No momento parecia estar em seu mundinho, no entanto, conversando com as bonecas que tinha colocado ao redor de si, mas de repente começou a choramingar como se estivesse em dor, e seu corpo se balançava para trás e para frente. Seus olhos se viravam. "Ah, não!" Ela soluçou, agarrando a própria cabeça com as mãos, "Spike! Meu Angel, não, não, meu Angel! Ela o levou! A garota safada levou meu papai!"

Seu amado virou-se em sua cadeira. "Qual o problema, Drusilla?"

Ainda com a expressão alheia, ela se ergueu e se dirigiu para onde estava o demônio Acathla, com a espada saindo de seu peito. Correndo seus dedos pela lâmina até onde pôde, ela falou para ninguém em particular. "Meu Angel nos abandonou de novo. Posso vê-lo, ele está com ela! Ele os ajuda!"

"Do que diabos está falando?" A paciência de Spike com a vampira insana estava a ponto de acabar. Ele podia amá-la, mas um vampiro só podia agüentar até um certo ponto.

"Eles o recuperaram", Drusilla virou-se e encarou seu amante. "Posso vê-lo", ela começou a choramingar de novo, "com ela!" Gemendo, ela desabou no chão e um grito desumano soou pela mansão. "Não! Eles estão se beijando, posso vê-los se beijando! Ele está perdido para nós, Spike, perdido para sempre".

"Dru, amor, tem certeza?" Ele perguntou cautelosamente. Não gostava de ver sua amante em dor, mas era, antes de tudo, um vampiro - e, como um vampiro, ele odiava completamente seu ascendente. Fora divertido brincar com ele por uns tempos, mas Angelus tinha a idéia de ser um mestre e, se Spike odiava alguma coisa, era obedecer ordens. Sem mencionar o fato de não gostar da competição acerca de sua amante.

Ainda choramingando, Drusilla acenou, "Sim, meu Angel está perdido".

"Então ele não vai voltar!" O grito de Spike era quase triunfante. Com um poderoso movimento, se levantou da cadeira de rodas, empurrando-a para trás. A cadeira bateu na parede contrária e quebrou em pedaços, enquanto os capangas na porta se afastaram ainda mais. Virando-se, Spike os encarou, "Vocês dois, vão à biblioteca e me tragam o livro que Angelus queria. O resto de vocês", gritou pela mansão aos outros vampiros ao redor, "Estamos de mudança. Eles sabem onde estamos. E levem a estátua com vocês!"


Não era nem meia-noite quando Buffy e Angel deixaram a mansão outra vez. Eles chegaram à conclusão que a melhor idéia era destruir Acathla de um modo que revivê-lo fosse impossível. O único problema era como. Apenas quebrá-los em pedaços não resolveria o problema, ou talvez resolvesse, mas ninguém tinha certeza e era perigoso a incerteza com esse demônio.

Eles estavam caminhando pelas ruas de Sunnydale em silêncio, de mãos dadas e curtindo a sensação de proximidade. A sra. Summers ainda estava fora da cidade; por isso, eles estavam voltando ao apartamento de Angel.

"Não consigo entender como você está me aceitando de volta, fácil assim", o vampiro disse, e foi o primeiro a desfazer o silêncio.

"É fácil", Buffy disse sem erguer o olhar. "Vocês dois não são idênticos".

Angel parou e forçou a namorada a fazer o mesmo. "O demônio ainda está dentro de mim, Buffy. Posso senti-lo. É como se ele estivesse sussurrando para mim. Baixinho, insistente. Sempre tentando me convencer a ceder".

"Mas sua alma..." a caçadora começou a protestar, mas foi interrompida por seu amado.

"Sim, minha alma. Sei que é bom saber que ela está segura, mas isso não significa que eu sou humano como você ou Willow. Ou Xander" ele estremeceu de leve. "Não, como Xander não".

Buffy teve de rir a isso. "Foi uma tentativa de ser engraçado?" Ela perguntou.

Ele sorriu. "Não, de verdade. Isso é sério demais. Buffy, o que eu quis dizer é que, alma ou não, eu ainda sou um vampiro. Meu corpo tem quase 250 anos de idade, estaria morto sem o demônio dentro de mim. Você entende isso?"

"Você está morto mesmo", ela tentou brincar, mas ficou séria ao ver os olhos dele. "Angel", tomou as duas mãos dele nas suas. "Eu entendo. Mas você tem que entender que isso não importa para mim! Eu te amo. E... Não, tenho que fazer isso. Importa para mim, sim. Você é forte ao lutar ao meu lado. Não tenho que me preocupar o tempo todo. Você pode se cuidar. É importante, Angel".

"Acredito em você, mas..."

"O quê, você acha que eu estaria melhor com um bom cara humano? Deixe-me te dizer que já estive lá, fiz isso e não, obrigada! Eu tentei com Owen, lembra-se de Owen? Ele era meio como você, sempre quieto, sempre pensativo..."

"Eu não sou sempre pensativo!" Protestou ele.

Ela deu a ele um olhar óbvio e prosseguiu, "O ponto é, nós saímos num encontro e ele quase foi morto. Com você, é diferente. Você não pode apenas se proteger, como também protege a mim. Posso me apoiar em você. Você não pode imaginar como é ser sempre a forte. Angel, eu tenho 17 anos e nem posso contar à minha própria mãe sobre meu dever dito sagrado porque ela enlouqueceria". Havia lágrimas nos olhos dela. "Mas você me toma nos braços e me faz sentir segura e, por um tempo, posso me perder em você. É pedir demais? Talvez um vampiro seja a única escolha para uma caçadora. Afinal, é pouco provável que eu envelheça".

"Pare!" Ele gritou. "Não diga isso. Você vai envelhecer. Não vai morrer tão logo. Eu não vou deixar!" Ele a agarrou pelos ombros e a sacudiu.

"Aí está", agora ela sorria. "Você mesmo disse. Demônio à parte, Angel, eu te amo".

"E eu te amo", ele sussurrou, fechando os braços ao redor dela, enquanto os dela o abraçavam pela cintura. "E eu nunca vou deixá-la. Sempre estarei aqui para você. O que quer que aconteça, eu prometo".

"Bom", ela disse contra seu peito. "Eu preciso de você, Angel. Por favor, nunca esqueça disso".

CAPÍTULO IX

"Buffy?" Angel disse algumas horas depois, quando eles estavam deitados juntos na cama dele.

"Hummm?" Fez ela, sem abrir os olhos.

Ele teve que rir de leve. Ainda tinha dificuldades em acreditar nisso. Buffy, deitada a seu lado, era o presente que o destino tinha dado a ele, um vampiro que tinha torturado e matado humanos por mais de uma geração. Ela parecia tão linda, tão pura; e ele podia vividamente relembrar a noite em que ela entregara a própria virgindade a ele. Provavelmente isso não significava muito para os rapazes crescidos no século XX, mas, para alguém nascido e criado na Irlanda católica do século XVIII, era o presente mais incrível que uma mulher podia dar a um homem.

Ele podia ter sido um bêbado e vagabundo em seus dias de humano, mas isso se fora há muito, e ele sabia que iria adorar a mulher em seus braços enquanto vivesse. E havia algo mais que Buffy precisava saber. "Está dormindo?" Ele perguntou na penumbra de seu apartamento.

"Não", ela respondeu e se apoiou em um cotovelo. "Por quê?"

"Tem algo que quero te contar", ele disse depois de um momento, e tomou sua mão, delineando os contornos do anel que ela usava - o anel que ele lhe dera em seu aniversário de dezessete anos.

"Então conte", ela exigiu, ficando impaciente. "É algo sério?"

Uma gargalhada nervosa escapou de sua garganta. "Talvez", disse misteriosamente. "Talvez não. Depende de você, na verdade".

"Ah, bom", ela sorriu. "Não estou séria agora. Então conte!"

"O anel que eu te dei, você sabe, pelo seu aniversário?" Ele começou, puxando a mão dela para seus lábios e beijando-lhe o anel.

"Eu sei, é um anel Claddagh, as mãos representam a amizade, blá, blá, blá, e daí? Você já me contou o significado".

"Bom, não inteiramente", ele esticou-se e ligou o abajur. Queria ver o rosto dela quando lhe contasse.

"O que quer dizer, não inteiramente?" Ela perguntou franzindo a testa.

"Esse tipo de anel é bem comum hoje, mas, quando eu era criança, na Irlanda, quando duas pessoas trocavam-nos, queria dizer que estavam comprometidas uma com a outra".

"Sei", ela acenou. "Você me contou isso, elas os trocavam em sinal de devoção", repetiu as palavras que ele tinha dito há tantas semanas no cais.

"Bom, isso e..." Ele respirou fundo. "Na Irlanda, quando duas pessoas trocavam anéis Claddagh, elas mostravam a todos que iriam se casar, Buffy".

"Quer dizer, como um noivado?" Ela perguntou, subitamente animada.

"Exatamente", ele respondeu, observando-a ansiosamente. "Tudo o que precisava depois eram os votos na igreja para oficializá-lo. Mas usar os anéis significava que era definitivo".

"Então você está dizendo que somos quase que casados, certo?"

"Estou", ele disse, segurando o fôlego.

"Angel!" Com um gritinho ela jogou suas mãos pelo pescoço dele, chovendo beijos por todo seu rosto. "Isso é maravilhoso, maravilhoso demais!" Repetiu várias vezes.

Com um riso, o vampiro apertou a caçadora contra si. "Eu não sabia como você reagiria".

"Sério?" Ela se afastou um pouco e o olhou. "Por quê? Ser sua esposa... bom, quase... é tudo o que eu sempre quis".

"Mesmo quando você não sabia o que significava, quando aceitou meu anel?" Ele tinha de perguntar, de saber com certeza.

"Mesmo assim", ela replicou sem hesitação. "Além disso, eu não sou uma menina do século XVIII, poderia ter dito não se não tivesse gostado". Observou sua mão e o anel nela. "Adorei". Então tomou a mão dele e beijou o anel idêntico ali. "Eu te amo. Faça amor comigo, Angel, meu noivo".


Willow quase caiu da cama quando ouviu o telefone tocar em seu quarto no meio da noite. Rápida, ela o atendeu, não querendo que seus pais acordassem. "A-Alô?" Ela perguntou, a voz ainda rascante de sono.

"Willow?"

"Sim, quem..."

"É a sra. Summers, mãe de Buffy".

A ruiva quase deixou o fone cair de sua mão. "Sra. Summers?" Ela perguntou, instantaneamente muito desperta. "Algo aconteceu?"

"Era isso o que eu queria perguntar", Joyce respondeu, sua voz cortante. "Buffy está com você?"

"Buffy?" Ai, Deus, Willow pensou, ela está com Angel. "Buffy! Sim, mas está dormindo", a ruiva mentiu. "Quer que eu a acorde?" Por favor, Deus, não, ela orou silenciosamente.

"Não", o alívio era audível na voz da sra. Summers. "Eu cheguei tarde em casa e ela não estava em sua cama. E não havia um bilhete em lugar nenhum".

"Mas... bom, Buffy me disse que a senhora não voltaria antes de amanhã à noite", Willow passou uma mão por seu rosto.

"Sim", Joyce respirou fundo. "Bom, se ela está com você... Desculpe-me, Willow, por perturbá-la tão tarde. Por favor, diga a ela para me ligar assim que acordar".

"Eu direi", a ruiva retrucou.

"Bom. Boa noite, Willow. E desculpe-me, outra vez".

"Sem problemas, sra. Summers. Boa noite". Recolocando o fone na base, Willow percebeu que não sabia o número do telefone do apartamento de Angel. Será que ele tem um telefone, perguntou-se ela.

C O N T I N U A