A Luz

Por Jill

Tradução por Nanna

Esta foi a primeira fanfic que eu escrevi. Foi há muito tempo, e temo que não seja muito boa. Eu a escrevi como um presente de aniversário para minha amiga Anne, que estava completamente deprimida depois de 'Metamorfose II' ('Becoming II') e do começo da terceira temporada. Eu não queria publicá-la, mas Anne me convenceu que ela merecia uma chance. Claro, não é a mesma que era quando a escrevi, porque refiz algumas partes. Então talvez esteja melhor do que era no começo.

Dedicatória: Para Anne.

Nota da Autora: Considere que Angel não perdeu exatamente sua alma, mas que o demônio assumiu o controle em 'Surpresa' ('Surprise').

CAPÍTULO X

Batidas frenéticas na porta despertaram Buffy e Angel na manhã seguinte. A caçadora apenas puxou as cobertas para cobrir o rosto resmungando algo ininteligível. O vampiro sorriu, saiu da cama e colocou as calças. Vestindo uma camiseta, ele abriu a porta.

"Willow!" Ele disse com surpresa. "Alguma coisa errada? Entre?" Convidou-a.

"Não, nada errado", ela rapidamente assegurou-o. "Pelo menos nada como o fim do mundo. Mas a mãe de Buffy me ligou no meio da noite porque ela não estava em sua cama. Então achei que era seguro dizer que ela está com você".

O rosto do vampiro tinha uma expressão chocada quando ele perguntou, "E você disse isso a ela?"

"Não", respondeu a ruiva. "Não, eu disse que ela estava comigo. Mas tive que prometer à sra. Summers que Buffy lhe telefonaria logo cedo", Willow disse a ele, seus olhos divagando pelo apartamento de Angel, observando as obras de arte, os desenhos. "Belo apê", disse então.

"Obrigado", ele respondeu distraidamente. "Só um segundo".

Com isso, ele desapareceu por trás de uma cortina, e logo Willow podia ouvir a voz sonolenta de Buffy e um alto, 'O QUÊ? OH, DEUS!' Apenas segundos depois, a caçadora apareceu com Angel atrás dela. "Willow, eu te devo muito", ela se postou diante da jovem bruxa. "Obrigada por me acobertar".

A ruiva sorriu para ela. "Não foi nada. Um pouco de privação de sono. Acho que ela engoliu. Mas você tem que ligar para ela, eu prometi".

"Claro", Buffy concordou e desapareceu de novo atrás da cortina; então, vampiro e bruxa puderam ouvi-la falando ao telefone.

"Você é uma boa amiga, Willow", Angel disse depois de um momento, e gesticulou para um sofá. "Já tomou café?" Perguntou.

"Não", a ruiva balançou a cabeça.

"Então fique. Eu ia levantar mesmo para preparar algo para Buffy".

Ela ergueu uma sobrancelha surpresa. "Você cozinha?"

"Hmmm", fez ele, e já estava em seu caminho para a cozinha. "Tudo bem com torrada e ovos mexidos?"

"Por mim sim", ela disse para as costas dele, "e obrigada".

"Sem problema".

"Obrigada de novo, Will", disse Buffy, voltando do quarto, agora usando suas calças e uma das camisetas de Angel. "Ela nem estava com raiva". Com um suspiro contente, se deixou cair numa poltrona grande oposta à sua amiga. "Angel está fazendo café?"

"Está. Eu não sabia que ele podia cozinhar. Afinal, ele não come".

"Ele come", Buffy corrigiu. "Mas tudo tem o mesmo gosto para ele. Mas pode comer. E pode cozinhar. Pelo menos melhor que eu. E ele gosta de me mimar", ela acrescentou com um sorriso.

"Então ele é o namorado perfeito?" Willow sorriu de volta.

"Ah, é", a caçadora concordou enfaticamente. "Absolutamente perfeito. Eu não o trocaria pelo mundo. E ele é um pouco mais que só meu namorado", acrescentou curtindo o modo como os olhos de sua amiga se arregalaram às suas últimas palavras.


Com um grito, Spike jogou o livro que segurava num canto. "Não há nada, absolutamente nada aí! Droga! E eu achei que meu maldito ascendente seria pelo menos esperto". Começou a perambular pela casa abandonada que tinham encontrado à noite. Bem, estava abandonada agora que eles tinham drenado o dono. Tinha atraído os vampiros porque tinha largos quartos que eram à prova de luz.

Atirando suas mãos no ar, ele fitou Drusilla, que estava sentada no chão. "Que diabos nós vamos fazer agora? Temos esse maldito demônio aqui, mas não sabemos como usá-lo. Deus, eu o mataria se pudesse!"

"Há segredos em todos os cantos", Drusilla disse de olhos fechados, balançando seu corpo para frente e para trás. "Precisamos da chave". Seus olhos se abriram e ela encarou seu amante. "Spike, precisa conseguir a chave. O homem com o livro tem todas as informações de que você precisa".

"Ai, querida", ele suspirou, odiando que sua maravilhosa princesa da escuridão estivesse em seu próprio mundinho de novo. "A chave... do que está..." De repente, ele parou de se mover e um sorriso iluminou seu rosto. "Claro! O sentinela!" Virando-se para seus capangas, gritou, "Hoje à noite vamos capturar o sentinela".

Ele se aproximou de Drusilla e a levantou. Ela estava sorrindo para ele e, para Spike, não havia nada mais belo nesse mundo. "Gatinha, você sabe que garota maravilhosa é?"

"Sei, Spike. E sou sua para sempre".

CAPÍTULO XI

"Ainda não posso acreditar nisso", Willow disse, com um olhar sonhador nos olhos, mordendo um pedaço dos ovos mexidos. Ela tinha que admitir que Angel tinha mais qualidades que ela pensara. Os ovos tinham um sabor celestial. "Estes ovos estão mesmo bons", disse a ele apontando para seu prato com o garfo que ela segurava.

"Obrigado", ele disse a ela com um sorriso.

"Te disse que ele era um bom cozinheiro", Buffy disse com um olhar orgulhoso ao namorado, que estava sentado ao lado dela, com uma mão em sua coxa. Não, ela pensou, não apenas meu namorado.

"Então é como se vocês estivessem casados", Willow voltou ao assunto que a havia feito dar um gritinho apenas antes.

"Não casados de verdade", Angel interrompeu-a. "Pelo menos não nesse século".

"É, mas ainda assim", a jovem bruxa pegou outra torrada. "Isso é tão romântico", ela fitou Buffy. "Eu sempre disse que ele era perfeito para você. Pode até mesmo te apoiar numa luta".

Buffy deu a Angel um olhar de 'eu-te-disse', que o fez sorrir, e então virou-se para a amiga. "Mas não conte a Xander. Ele já está muito nervoso. Não preciso de mais. E nenhuma palavra a Giles".

"Ai, Buffy!" Willow quase lamuriou-se. "Não sou boa guardando segredos".

"Willow", alertou a caçadora. "Giles vai ter um infarto. Meu Deus, e mamãe!" Ela suspirou dramaticamente, "Angel", virou-se para seu amado, "temos de falar com minha mãe. Assim que for possível. E também temos que inventar uma explicação para por que você só aparece à noite".

"Que tal a verdade?" Ele disse depois de um momento.

"Você ficou maluco?" O garfo nas mãos dela quase caiu. "Mamãe vai enlouquecer mesmo. Totalmente. Ela.. Ela não pode lidar com isso! Você não conhece minha mãe".

"Ela te ama, não ama?" Ele disse pensativamente.

"Claro que ama. Mas contar a ela sobre vampiros..." Buffy parou, enviando a Willow um olhar suplicante para apoiá-la nisso, mas a bruxa apenas deu de ombros.

"Não conte comigo nisso. Para mim, sua mãe é perfeita. Comparada à minha, pelo menos. Ela mora em Sunnydale há quase vinte anos e ainda está em completa negação. Mas sua mãe é muito melhor".

"Agora vocês estão se aliando contra mim", Buffy recostou-se, fechou os olhos e gemeu. "Mas como vou contar a ela? Angel?"

"Claro que vou com você", ele assegurou a ela. "Que tal esta noite?"

"Esta noite?" A voz dela era uma mistura de pânico e horror.

"Esta noite é tão boa quanto qualquer outra, Buffy. Quanto mais cedo, melhor".

"Deus, e eu que achei que esse era um bom dia", ela finalmente abriu os olhos de novo e olhou o relógio. "Melhor ir me vestir para a escola agora. Então vou falar com Giles de novo, atrás de notícias sobre Acathla. Então, patrulha e aí estou pronta para a execução". Quase podia sentir Angel sorrindo por suas costas enquanto ela desaparecia no banheiro, e tinha certeza que ouviu Willow dar risadinhas enquanto fechava a porta.


"Spike", lamuriou-se Drusilla, "não quero me mudar de novo".

, lamuriou-se Drusilla,

"Mas o que vamos fazer não vai prestar dentro do porão de uma casa, gatinha", ele tomou sua mão na dele. "Entende?"

"Quero papai", ela disse ignorando a resposta dele, e olhando o nada.

Ele suspirou e virou-se. "Ele não vai voltar. Você mesma me disse. Ele está com a caçadora agora".

"Eu a odeio. A vaca levou meu papai", ela aproximou-se dele e colocou uma mão em seu ombro. "Vai cuidar dela, não vai? Spike, prometa! Você já matou caçadoras antes".

Puxando-a para seus braços, ele a beijou apaixonadamente. "O que você quiser, gatinha, o que você quiser". Virando-se para seus homens, gritou, "Estamos nos mudando de novo! Leve tudo com vocês. E não esqueçam da maldita estátua!"

CAPÍTULO XII

"Não tenho certeza se essa foi a minha melhor idéia", Angel disse enquanto ele e Buffy estavam deixando o cemitério aonde eles estavam patrulhando.

"Você não está amarelando agora!" Ela parou e deu-lhe um olhar duro. "Afinal, foi idéia sua. Você me fez ligar para mamãe e dizer a ela que eu levaria alguém para o jantar. Devia tê-la ouvido".

"Não, não estou saindo dessa", ele replicou com um suspiro. "Mas isso não quer dizer que eu goste".

"Bom, isso é problema seu", ela disse com um sorriso amargo e voltou a andar. "Sabe", ela continuou depois de um momentâneo silêncio. "Mamãe ama arte. Ela está trabalhando numa galeria. E você é bom com arte, não é? Quer dizer, você me deixou aquele desenho uma noite e..." Ela parou, repentinamente percebendo que não tinha sido ele em seu quarto naquela noite.

Mas Angel não pareceu ter percebido ou, se notara, o ignorou, porque disse, "Sim, sou bastante bom com arte. Estive por aí, afinal de contas. Na verdade, até conheci alguns dos pintores".

"E você pode desenhar, certo?" Ela perguntou, repentinamente curiosa se apenas o demônio era um artista.

"Posso sim", ele confirmou. "Como você já teve a oportunidade de ver. Mas não sou assim tão bom, Buffy. Não sou um artista".

Então ele tinha ouvido o deslize dela sobre o desenho, mas obviamente não se importara. Bom sinal, pensou. "Mas você é!" Protestou ela. "Não conheço ninguém que desenhe tão bem quanto você". Quando viu seu olhar duvidoso, insistiu, "É a verdade, mesmo".

"Buffy, quantos artistas você conhece?" Ele perguntou sorrindo.

"Nenhum pessoalmente, mas isso não quer dizer nada. Você é bom, pelo menos para mim. Ponto final".

A voz dela tinha um certo tom que ele sabia ser inútil discutir mais o assunto, então só suspirou para si mesmo.

Antes que percebessem, tinham chegado à fachada da casa. Buffy buscou a chave em seu bolso e abriu a porta, franzindo a testa quando ele não a seguiu, e então lembrando de repente. "Ai, desculpe!" Ela deu a ele um sorriso de perdão. "Eu esqueci. Por favor, entre!"

Seus lábios se curvaram quando ele entrou na casa e retirou seu casaco. O aroma de comida estava por todo lado no ar; obviamente, Joyce tinha se superado e Angel sentiu-se arrependido por não poder mais saborear comida normal. Mas, pelo menos, ele podia sentir o cheiro, e isso era alguma coisa.

"Buffy, é você?" A voz de Joyce veio da cozinha, e a porta se abriu. "Ah, bom, e você trouxe o seu a..." Ela parou no meio da frase e encarou o convidado, de olhos arregalados, e parecia lutar com as palavras. Então, depois de um momento, ela apontou a Angel, "O que ele está fazendo aqui? Buffy Anne Summers, acho que você tem muito a explicar, agora!"

"Mãe, por favor", Buffy deu à mãe um olhar suplicante.

"Não me olhe assim", a sra. Summers não se acalmaria facilmente, "Há algumas semanas você me disse que ele estava te perseguindo, me aconselhou a ser tomar cuidado, e agora você o traz de volta para nossa casa? Acho que uma explicação é o mínimo que você me deve". Enquanto ela falava, seus olhos nunca deixaram Angel, que parecia não saber como reagir.

Então ele pigarreou, "Sra. Summers, talvez devêssemos nos sentar em algum lugar e conversar".

"Uma boa idéia", ela deu a ele outro olhar duro, então se virou e os levou à sala.

Quando eles estavam sentados, Buffy foi a primeira a romper o silêncio que se formara entre eles. "Mãe, ai meu Deus, nem sei como começar, mas sou uma caça-vampiros".

Choque, incredulidade, até mesmo divertimento foram vistos no rosto de Joyce quando ela olhou para a filha. Ela pensara que Buffy era membro de uma gangue, mas obviamente isso era muito pior. Ergueu uma sobrancelha. "Uma o quê?" Perguntou.

"Uma Caça-Vampiros. Mãe, por favor me escute, certo, e então pode perguntar. Isso é um papo muito chato, mas, veja, em toda geração tem a Escolhida..."


Giles tirou os óculos e coçou os olhos. Fitando o relógio, viu que nem eram nove horas. Ele sacudiu a cabeça e fechou o livro que estava na frente dele. Senhor, sentia-se cansado naquela noite. Cansado e velho.

Fitando as portas da biblioteca, encontrou-se aguardando que Jenny entrasse e risse dele, chamando-o de um velho verme de livros e seqüestrando-o para ir com ela para ver caminhões monstros ou outra coisa do horrível dito entretenimento. Como sentia falta dela. Sentia falta de seu riso, seus olhos brilhantes, o brilho malicioso neles quando ela o estava provocando.

Ele nunca tivera a oportunidade para dizer a ela que a ama, percebeu. Não, não é verdade, ele corrigiu. Houveram perfeitas oportunidades, mas ele nunca as utilizara, certíssimo de que o tempo certo viria. Mas agora nunca viria. Jenny estava morta e, mesmo quando ele falava com seu fantasma - balançou a cabeça e riu -, não era o mesmo. Ele queria que ela aparecesse pela porta para beijá-la. Queria corar a uma de suas frases, queria até mesmo falar com ela sobre computadores.

Suspirou, se levantou e recolocou o livro de volta no escritório quando ouviu um barulho da porta. "Olá?" Perguntou e estava quase se virando quando seu mundo ficou negro.


Joyce encarou a menina sentada na frente dela, e o homem sentado ao lado desta. Isso não está acontecendo, ela pensou. Era um pesadelo e a qualquer minuto ela acordaria... Não, isso não está acontecendo. Sacudindo a cabeça em uma tentativa inútil de clarear a mente, ela engoliu em seco.

"Mãe, diga algo".

A voz de Buffy ressoou em seus ouvidos, mas parecia muito longe.

"Mamãe".

Dessa vez foi mais alto, e de algum modo, Joyce conseguiu fazer a voz funcionar. "O que quer que eu diga? É muito para entender".

"Nem me diga", Buffy disse com um riso amargo. "Eu surtei quando meu primeiro sentinela me contou".

"Quem diria", a voz da mãe dela estava cheia de sarcasmo. Mas então ela balançou a cabeça, e seus olhos foram até Angel. "E como você se encaixa nisso?"

"Eu... hum... bem..."

"Angel é um vampiro, mãe", a caçadora disse dando um olhar a seu amado.

"Um... vampiro", Joyce concordou apesar de não compreender uma palavra. Bem, ela entendia as palavras, mas ainda assim... "Mas você não me disse que está matando vampiros?"

"Disse", Buffy respondeu com um fantasma de sorriso em seus lábios, "mas Angel é diferente, tem uma alma, não é mau". Ela fez uma careta e acrescentou, "Pelo menos não geralmente".

"Sra. Summers", Angel disse depois de um momento, "eu sei que é muito para aceitar..."

"Não tem idéia", ela interrompeu.

"É, bom, sim", o vampiro lutou para encontrar as palavras certas. "Veja, eu fui amaldiçoado com uma alma há cerca de cem anos. Desde então eu deixei de ser um vampiro comum. Não bebo mais sangue de humanos".

"Mais", ecoou ela, "mas você bebeu. Quer dizer, antes de conseguir sua alma?"

"Sim", ele concordou e sentiu Buffy apertar-lhe a mão. Deus, ele a amava.

"Cem anos", Joyce considerou, e o olhou fatigada. "Quantos anos tem, Angel? Angel, esse é seu nome, certo?"

"É", ele concordou de novo. "E tenho... hum... tenho 242 anos".

"Ah", foi tudo o que Joyce conseguiu dizer. "Bem, você é mesmo mais velho", acrescentou então.

Outro silêncio estranho caiu sobre o aposento. Buffy e Angel trocaram olhares rápidos de vez em quando, ansiosamente esperando a mulher mais velha falar novamente. Ela o fez - depois de uns minutos - e sua voz estava muito mais calma. "Mostre-me", ela disse e surpreendeu sua filha e o vampiro.

"Mostrar-lhe o quê?" Ele perguntou sem entender.

"Você não parece diferente", ela disse a ele, apontando a seu rosto. "Então mostre-me como um vampiro parece".

Angel olhou-a, alarmado, então a Buffy e, quando viu-a acenar, mudou para sua cara demoníaca.

Joyce deixou escapar um engasgo, mas não tentou desviar os olhos. Com certo divertimento, o vampiro notou que ela o estava estudando. Então de repente ela acenou. "Certo, acredito em você".

Ele acenou e voltou a exibir o rosto humano, e Buffy perguntou, "E?"

Sua mãe suspirou alto. "Bem, o que posso dizer? É óbvio que você está falando a verdade". Ela balançou a cabeça e riu brevemente, mas ficou instantaneamente séria. "Como eu disse, é muito para entender. Angel..." Ela virou-se para o vampiro. "O que você me contou semanas atrás..." Ela parou, sentindo-se meio embaraçada de discutir a vida amorosa de sua filha. Sua filha menor de idade que estava caçando vampiros noite após noite, ela percebeu.

"Sra. Summers, não foi exatamente comigo que a senhora falou".

"Não exatamente com você?" Joyce perguntou confusa. "Mas você estava na minha frente".

"Estava", Buffy respondeu no lugar de Angel, "estava sim. Mas, de algum modo, não estava", ela tomou a mão da mãe. "Mãe, a noite em que... bem, a noite em que Angel e eu... você sabe", respirou fundo, "ela fez com que ele perdesse a alma. Ele te falou antes que era diferente por causa dela. E ele também te contou que foi amaldiçoado com ela. Bom, a maldição tinha uma cláusula que nenhum de nós conhecia. Dizia que, se experimentasse um momento de verdadeira felicidade, ele perderia sua alma. E isso aconteceu. Mas não pode mais acontecer, para a sua informação", ela adicionou rapidamente.

"Está me dizendo que perdeu a alma porque você e Buffy estiveram juntos?" Joyce perguntou com espanto na voz e, em seus olhos, sua filha viu, para sua grande surpresa, uma expressão de perplexidade.

"Perdi", Angel disse suavemente e olhou a garota ao seu lado. "Foi felicidade perfeita".

Sem aviso, a sra. Summers tinha lágrimas nos olhos. "Deus, isso é maravilhoso", ela disse, e teve de rir quando viu o olhar incrédulo da filha. "Ah, querida. Não que ele tenha perdido sua alma, é claro, mas pensar que um homem - ou um vampiro - te ame tanto assim... É o sonho de qualquer mulher".

"Então a senhora não está furiosa?" Buffy perguntou completamente boquiaberta.

"Bem, eu não estou feliz por você ter perdido a sua virgindade com 17 anos, mas já falamos sobre isso. Então, não é um grande choque. Você o ama do mesmo modo?"

"Amo sim", a caçadora disse com honestidade. "Muito".

"Bom", Joyce enxugou suas lágrimas e se levantou. "Então não há nada mais a dizer. Talvez apenas uma coisa: aos 242 anos, você cresceu em uma época em que as mulheres se casavam com a idade de Buffy, certo?"

"Sim", disse Angel, "geralmente elas se casavam".

"Achei que sim". E então outro pensamento passou por sua mente. "E... hum... anticoncepção?"

Buffy corou furiosamente, e Angel teria corado, se tivesse circulação. "Sra. Summers..." Ele começou, mas foi interrompido.

"Joyce".

"Joyce", ele sorriu para ela. "Sendo um vampiro, meu corpo na verdade não está mais vivo. É só o demônio que mantém minha vida. Então, eu não posso ter... quer dizer... não posso..." Embaraçado, ele parou.

"Eu percebo", ela deu para ele o primeiro sorriso genuíno. "Bem, então que tal nós jantarmos agora e conversarmos mais um pouco? Eu suponho que sua vida foi mais que interessante e estou ansiosa para saber mais".

Com isso, ela desapareceu na direção da cozinha. Buffy sacudiu a cabeça e então apoiou a cabeça contra o ombro de Angel. "Não posso acreditar nisso! O que aconteceu com a minha mãe?" Ela perguntou com uma risada.

CAPÍTULO XIII

"Então Buffy foi apontada a você?" Joyce perguntou durante a sobremesa.

"Sim", confirmou Angel, tentando fazer idéia de qual era o verdadeiro sabor da musse de chocolate que ele tinha na boca agora. Com um suspiro para si mesmo, ele teve de admitir que era em vão. A comida parecia boa, tinha um aroma delicioso, mas tinha o mesmo sabor. Mas Joyce era mãe de Buffy e, por isso, uma pessoa importante na vida de ambos, e ele tinha de reconhecer que gostava dela. Então, sorriu e disse, "Isso está fantástico", porque ele tinha certeza que estava.

"Obrigada", a sra. Summers retribuiu o sorriso, então sacudiu de leve a cabeça. "Ainda não posso acreditar que o bibliotecário, sr. Giles, é parte disso tudo", ela fez um gesto com a mão e a colher. "Não admira que ele ficou tão preocupado no hospital, quando sua criadora?" ela deu um olhar questionador a Angel e, quando o viu confirmar, prosseguiu, "sua criadora, Darla, me mordeu". Ela estremeceu. "Deus, uma vampira me mordeu e eu nunca soube. Será que alguém pode ser mais distraído?" Com outra sacudidela de sua cabeça, ela tomou um golinho de seu café.

"A senhora não faz idéia", Buffy disse e olhou para Angel por um momento, e então de volta para a mãe. "Pense na quantidade de pessoas que cresceu aqui. É de se pensar que eles teriam notado a extraordinária taxa de mortalidade, mas é muito mais fácil viver em constante negação".

"Não seja tão dura com eles", o vampiro recostou-se em sua cadeira. "As pessoas tendem a negar as coisas que não querem ver. Se eles aceitassem que vampiros existem, viveriam em pânico constante".

"Tá, tá", a caçadora disse com um aceno. "Ainda assim..." Ela raspou o resto da musse com a colher e a lambeu para limpá-la. O gesto foi incrivelmente erótico para Angel, e ele rapidamente desviou os olhos. Ele duvidava que uma dureza visível em suas calças seria um ponto positivo no livro de Joyce para ele. Ela podia saber que ele e a filha dela eram íntimos, mas uma prova visível era outra coisa.

"Como é estar vivo por tanto tempo?" A sra. Summers perguntou depois de um curto silêncio.

"Bem", começou o vampiro, mas eles foram interrompidos por uma batida frenética na porta. Os três à mesa trocaram olhares curtos, e então Buffy foi abri-la, apenas para ficar cara a cara com Willow, que quase tropeçou nas próprias palavras.

"Giles... a biblioteca está revirada", ela estava respirando pesadamente, e o suor corria por sua testa; Xander estava atrás dela, com a mesma aparência.

"Acalme-se, Will", Buffy agarrou o braço da amiga e a puxou para dentro. Xander seguiu por si mesmo. Quando viu Angel saindo da sala, ele ergueu uma sobrancelha.

"Jantar em família, pelo jeito", a voz dele estava carregada de sarcasmo, mas foi calado pelo olhar mortal que sua amiga de infância lhe deu.

"Essa não é a hora para seu comportamento infantil", a ruiva sibilou a ele, "Buffy", ela voltou-se à caçadora, e também incluiu Angel, "fomos à biblioteca. Tudo está revirado, os livros por todos os lugares, e então encontramos isso".

Ela remexeu no bolso de sua calça, e apresentou os óculos de Giles, que estavam quebrados. "Algo terrível aconteceu. Ah", ela fitou o garoto atrás dela, "e Xander encontrou algo".

Sem hesitação, ele abriu a mão e, na palma desta, eles viram um broche. Era de prata e meio antigo, e à vista disto os olhos de Angel se arregalaram. Ele tomou a mão de Buffy. "Isso é de Drusilla".

O olhar dela voou para ele. "Tem certeza?"

"Claro que tenho", ele respondeu, já pegando seu casaco. "Spike está com Giles", ele disse enquanto o colocava sobre os ombros.

"Olá, Willow, olá, Xander", Joyce entrou na sala também.

"Sra. Summers", a jovem bruxa nervosamente fitou Buffy, que sorriu.

"Mamãe agora sabe de tudo", ela disse e sorriu para a mãe.

"OH! Ah, bom!" Willow deixou escapar um suspiro de alívio. "O que vamos fazer agora?" ela perguntou.

"Vamos à mansão, os espancamos, resgatamos Giles, e aí podemos comer o resto da deliciosa musse da mamãe". Ela já estava a meio caminho das escadas para pegar seus acessórios de caçada quando a voz de Angel a parou.

"Buffy, você acha mesmo que eles ainda estão na mansão?"

"Hum..." Ela sorriu meio constrangida. "Agora que você diz isso, não".

"Precisamos nos dividir em grupos", ele disse, olhando os adolescentes humanos. "Willow, você vem comigo; Xander irá com Buffy. Nos encontramos aqui de novo em uma hora". Capturando o olhar da namorada, ele acrescentou, "E nada de ataques por sua conta. Você não pode lidar com eles assim. Nós temos que nos encontrar aqui de novo e ir juntos. Não esqueça".

A caçadora deu a ele um sorriso, antes de correr escada acima e gritar por cima do ombro, "Eu também te amo".

Sorrindo apesar da situação, Angel sacudiu a cabeça e capturou o olhar de Joyce. Para seu grande alívio, ela estava sorrindo. Estava quase se virando e saindo da casa quando sentiu a mão dela em seu braço. "Estou mesmo feliz por você estar aqui para cuidar dela", ela disse e lhe deu um rápido aperto. Então, se virou e voltou à sala.

"Venha, Willow", ele disse à ruiva, e estava feliz por ser um vampiro, porque, se fosse humano, ele teria corado furiosamente.

CAPÍTULO XIV

A primeira coisa que Giles percebeu quando recuperou a consciência foi o fato de que suas mãos estavam amarradas, e estava sentado em uma cadeira em algum lugar escuro. Gemendo por causa da terrível enxaqueca, tentou lembrar do que havia acontecido a ele. Houvera um ruído e aí... Nada. Deus, sua cabeça doía. A última vez que ele podia lembrar de uma dor de cabeça assim fora por uma noitada com Ethan Rayne há vinte anos, depois de magia negra e muito vinho tinto. Mas ele era mais novo então, e tinha certeza que não estivera bebendo na noite passada. Ou nessa noite... Que horas eram, mesmo?

Ele tentou ver algo, mas estava tão escuro onde quer que ele estivesse, que ele não podia ver uma única coisa. Certo, ele disse a si mesmo, se você não pode ver, tente ouvir ou sentir.

Bem, sentir estava fora de questão, com as mãos presas atrás das costas, os dedos amortecidos dos nós. Isso deixava as orelhas, e ele tentou concentrar-se nos ruídos. Depois de um momento, ele pôde ouvir vozes, uma masculina, mandona, e... isso era choramingos? Era uma suave voz feminina, parecia quase irreal e soava meio... confusa?

A realização o atingiu como um raio. Drusilla. Quem mais teria uma razão para seqüestrá-lo, que Spike e sua amante ensandecida? Ele também sabia a razão. Eles tentariam despertar Acathla, e precisavam da informação que apenas ele poderia lhes dar. Provavelmente iriam torturá-lo. Bem, que torturem, ele pensou. Ele não tinha sido chamado de Estripador por nada, eles certamente aprenderiam umas coisinhas sobre o inglês formal, considerou ele.

No mesmo momento, uma porta se abriu, e luz inundou o quarto. E então ele ouviu a suave voz feminina. "Veja, Srta. Edith, nosso convidado está bem acordado".


"Onde está Xander?" Perguntou Angel quando Buffy entrou pela porta uma hora depois.

"Espero que de volta logo", ela replicou, e respirou fundo. "Encontramos Cordy no caminho, e nos separamos. Eles foram juntos, e eu fiquei sozinha. A fábrica foi um beco sem saída", ela disse com um traço de frustração na voz.

"Aonde você os mandou?"

"Às cavernas", Buffy fitou Willow. "Concluo que também não encontraram nada".

"Nada", disse Angel, e balançou a cabeça. "Sua mãe está fazendo chocolate quente. Tudo o que podemos fazer é esperar por Xander e Cordélia". Quando viu lágrimas nos olhos da caçadora, a puxou para si. "Vamos encontrá-lo, amor. Eu prometo".

"Vamos, sim", disse Willow com um aceno firme, apesar de estar tudo menos otimista no momento.

Eles se viraram quando a campainha tocou e, segundos mais tarde, os scoobies restantes invadiram a casa. "Eles estão nas cavernas", Cordy os informou. "E eles têm uma figura de pedra muito, muito feia... posso dizer ecaaaaaa... meu Deus, eles não tinham espelhos na Idade Média? Como alguém pode querer ter aquele visual?" Tagarelou ela.

"Cordélia", Angel interrompeu-a e, quando tinha a atenção dela, pediu, "podemos nos focar nos fatos, por favor?"

"Tem uns vinte vampiros, talvez mais", completou Xander, lançando um olhar à sua namorada. "Spike e Drusilla também estavam lá. Eu não vi Giles, mas Spike estava lendo um livro que provavelmente ele roubou da biblioteca. Então eu diria que é o fim da linha. Giles está lá".

"Então sabemos que eles estão lá embaixo", Buffy suspirou e se aconchegou no peito de Angel. "Ótimo, simplesmente ótimo! Esse é provavelmente o pior lugar. Nada de luz do dia, nada de janelas. E eu pensei que podíamos atacá-los com dia claro", ela suspirou. "Mais, eles podem guardar as entradas com facilidade".

"Hmm... Gente?" Quando todos a olharam, Willow prosseguiu, "Também temos o problema de Acathla. Ainda não sabemos como combatê-lo quando for ativado".

"Não estava ativo quando o vimos", disse Xander.

"Mas agora pode estar", relembrou a ruiva.

"Tem razão, Will", a caçadora virou-se e fitou seu namorado. "Que inferno vamos fazer?"

"Eu..." Começou Angel, mas foi interrompido quando a campainha tocou de novo. Willow virou-se e abriu a porta. Diante deles, estava um homem bem pequeno com roupas horríveis e, em sua mão direita, ele segurava uma espada.

CAPÍTULO XV

"Whistler!" Exclamou Angel, e fitou o demônio na soleira. (NT: 'Assobiador' na dublagem. TOSCO!)

Quatro pares de olhos viraram-se para o vampiro, uma única pergunta neles.

"Angel, meu chapa", Whistler sorriu e entrou, fechando a porta atrás de si. "Que bom vê-lo outra vez, e tão... melhorado".

"Não posso dizer o mesmo", o vampiro ergueu uma sobrancelha e fitou o demônio, que ainda usava seu velho chapéu e as roupas engraçadas.

"Deus, você ficou preso nos anos cinqüenta?" Cordélia virou os olhos. "Onde você cresceu", ela disse balançando a cabeça, "em outro planeta?"

Whistler sorriu para ela. "Algo assim. Quem é a rainha?" Ele fitou Angel.

"O que você quer?" o vampiro perguntou em vez de responder.

"Olha só", o demônio sacudiu a cabeça, "não precisa ser hostil".

"Whistler", suspirou Angel, "quando quer que eu te vi, sempre eram más notícias".

O demônio arqueou uma sobrancelha e fitou Buffy. "Sempre?" Perguntou ele.

"Certo, não sempre, mas na maioria das vezes, e você é mais que irritante. Então, o que vai ser hoje?" O vampiro estava perdendo a paciência lentamente.

"Alguém poderia nos contar o que está acontecendo?" Buffy perguntou irritada, seus olhos indo de um homem ao outro, que obviamente se conheciam bem. E, de algum modo, ela reconhecia o nome Whistler.

Com um pesado suspiro, Angel disse, "Buffy, este é Whistler. Ele é um demônio bom, ou isso ele diz. Whistler, estes são Buffy, Xander, Willow e Cordélia".

"Prazer em conhecê-los", o demônio fez uma pequena mesura, e então olhou ao redor. "Ouvi dizer que vocês estão tendo alguns problemas com um cara feio chamado Acathla".

"O que você sabe sobre Acathla?" A caçadora o observava por olhos estreitos. Quem diabos era esse cara?

"Nosso chapa aqui, Angel, está destinado a enfrentar o demônio", ele disse depois de um momento de silêncio.

"Com licença", o vampiro deu um passo para perto do demônio, "pode repetir isso?"

"É o seu destino, meu amigo. Você estava destinado a ajudar a combatê-lo. Nós quase pensamos que não iria acontecer", ele rolou os olhos. "Quando a mostrei a você, nenhum de nós poderia saber que vocês seriam incapazes de manterem as mãos longe um do outro".

"Obrigada, eu precisava mesmo da vista", Cordélia resmungou.

Porém Whistler a ouviu. "Prazer meu, Vossa Majestade", ele provocou de bom humor. "Bem", prosseguiu, "agora que você voltou ao seu caminho, esperamos que tudo vá como o planejado".

"Quem diabos é 'nós'?" Exigiu Buffy, perfurando Whistler com seu olhar. Irritação não resumia mais o que sentia. Estava furiosa com a atitude misteriosa do demônio. Ela agora lembrava que Whistler fora o demônio que encontrara Angel nas ruas. Não era de admirar que seu amante vampiro tinha se tornado um mestre nas mensagens misteriosas.

"Nós?" O demônio olhou para ela, e então para a espada. "Não importa, minha bela. Vamos dizer que existem uns poderes maiores, que estão observando você e ele" Ele apontou Angel. "Eu lhes trouxe isso", ergueu a espada no ar. "Esta foi a espada que foi usada para derrotar Acathla da outra vez. Pode ajudar dessa vez também".

CAPÍTULO XVI

Buffy fitou a espada que Whistler ainda segurava na mão. "E vai matar o demônio?" Ela perguntou duvidosamente.

"Não", Whistler sacudiu a cabeça e sorriu quando viu a caçadora rolar os olhos de irritação. Angel, por sua vez, parecia pronto para desmembrá-lo e, apesar de saber que o vampiro tinha uma alma, o demônio decidiu não arriscar muito. "Mas você pode usá-la para jogá-lo na dimensão demoníaca definitivamente assim que o vórtice se abrir".

"Huh?" Buffy arqueou uma sobrancelha. "Então a gente senta aqui e espera o vórtice - que supostamente vai engolir o mundo inteiro no inferno - se abrir. Alguém mais acha que esse plano é uma droga?" Ela olhou ao redor e finalmente capturou o olhar de Angel.

"Ela tem razão", o vampiro fitou o demônio. "Isso é muito perigoso. Não podemos arriscar que o vórtice seja aberto para começar".

"Não tem outra saída, meu chapa", Whistler baixou a cabeça ao ver que Joyce tinha se juntado ao grupinho. "Boa noite, sra. Summers".

"Olá", Joyce tinha escutado apenas a partes da história, mas de repente percebeu que ouvir as histórias de Buffy e Angel sobre caçada era uma coisa, falar de um Armageddon era outra. "Vocês não estão falando daquele inferno, certo?" Ela perguntou, os olhos preocupados pousados na filha.

"Temo que estamos", Angel respondeu colocando uma mão reconfortante no braço dela - o que fez Xander erguer uma sobrancelha.

"Não acredito nisso. Dias atrás, o cara estava correndo por aí chupando o sangue das pessoas, e hoje ele é como o genro mandado do céu", ele resmungou, ganhando um olhar de 'Diga-Isso-Alto-E-Você-Morreu' de Willow e Buffy; e mesmo Cordélia parecia não gostar de sua atitude. Será que todas as garotas são idiotas, discutiu com si mesmo, ou estão gamando pelo tipo culpado, sanguessuga? O que Angel tinha que ele não tinha? Muitas coisas, ele tinha que admitir, e decidiu a hora ou o lugar para provocação comum.

"V-vocês não podem estar falando sério", gaguejou Joyce, com olhos arregalados de medo e uma mão agarrada ao braço da filha, apertando-o com força. "E você tem que ir?" Ela perguntou a Buffy, quase desesperada.

"Sim", confirmou a loira. "É meu dever. Mas não se preocupe, não é a primeira vez, e Angel e meus amigos estão comigo. Já passamos por algo assim antes e vamos passar de novo".

"Quer... quer dizer que já houve mais disso?"

"Claro", assegurou-lhe Willow. "Salvação do mundo em base regular, somos nós!"

"É, nós nos fortalecemos cara a cara com o perigo", acrescentou Xander, e todos os outros voltaram-se para ele. "O quê? Nós fazemos isso. Nos fortalecemos". Então ele sorriu sem graça. "Isso quando não corremos o mais rápido possível".

Sacudindo a cabeça, Angel virou-se para Whistler. "Certo, então está nos dizendo que temos que esperar até que o vórtice esteja abrindo e então atirar a espada nele?"

"Não exatamente, não", replicou Whistler.

"Deus, alguém pode matar esse sujeito!" Cordélia estava farta. "Posso dizer que você é muito irritante? Escuta, parceiro, só nos diga o que é que temos que fazer e deixe de mistério. Já temos tudo o que podemos agüentar", acrescentou ela com um olhar rápido a Angel.

"Como deseja, vossa majestade", o demônio disse com um sorriso. "Certo, crianças, vocês têm que enfiar isso na criatura que abrir o vórtice, e este a engolirá junto com o demônio. A estátua ficará, mas a essência do demônio vai para o inferno e não poderá mais voltar - nunca".

"E como devemos saber quem o abriu?"

"Que tal observarem?" Whistler sugeriu.

"Ah, maravilha", Buffy virou os olhos. "Invadir as cavernas por um Armageddon vampiricamente induzido ao vivo. Era assim que eu planejei passar a minha noite. Mas você esqueceu de um fato importante. Há ainda Giles a considerar. Não podemos sentar e assistir enquanto ele está sendo provavelmente torturado. De jeito nenhum".

"Agora escute, menina, é do destino do mundo que estamos falando", o demônio tentou argumentar.

"De jeito nenhum!" Gritou a caçadora, e lançou-lhe um olhar irritado; então, arrancou a espada dele e saiu da casa.

"Angel, meu chapa..." Começou Whistler, mas o vampiro sacudiu a cabeça e seguiu sua namorada noite adentro.

CAPÍTULO XVII

Willow, Cordélia e Xander quase tiveram que correr para acompanhar o passo da caçadora e do vampiro, que lideravam a tropa. Eram três adolescentes comuns ajudando a salvar o mundo.

Falando de coisas estranhas... Pensou Willow, e olhou rapidamente para Cordélia e Xander ao lado dela, que estavam de mãos dadas o tempo todo. Ela sentia falta de Oz esta noite, mas o quieto lobisomem viajara para o norte numa turnê com os Dingoes e, assim, ela tinha que passar por isso sozinha. Bem, não sozinha, corrigiu ela, mas, ao olhar ao redor, percebeu que era a única a não ter um namorado com ela esta noite.

O relacionamento dela com Oz era muito novo, assim como o de Cordy com Xander, ela tinha de admitir. Nunca, em seus sonhos mais loucos, ela tinha esperado que seu amigo de infância e a animadora de torcida se tornassem um casal, mas essa era a Boca do Inferno e coisas mais estranhas já tinham acontecido.

Seu olhar foi até Buffy e Angel, que caminhavam em silêncio, sem se tocarem, mas pareciam ligados por um tipo de elo invisível, que ninguém podia tocar e apenas pessoas atentas podiam sentir. Willow sempre o sentira. Ela nunca esqueceria da chama nos olhos de Buffy quando ela falava sobre ele, logo depois de tê-lo encontrado pela primeira vez. A conexão estivera lá desde o começo; um vampiro e uma caçadora, inimigos mortais; eles tinham passado por um caminho difícil, mas nunca tinham perdido a fé um no outro. Buffy nunca tinha vacilado em sua afeição; nem mesmo Angelus tinha mudado seus sentimentos. Ela se sentira solitária, com saudades de Angel, mas nunca o acusara. Willow perguntou-se se eles já haviam conversado sobre esses tempos. Mas as lembranças ainda estavam recentes e, com Acathla nas mãos de Spike e Drusilla, não houvera muito tempo para outra coisa.

E agora Giles fora seqüestrado. O coração da ruiva preocupava-se com ele. Ele tinha sofrido tanto com a perda de Jenny, e vendo Buffy, a quem ele amava como se fosse sua própria filha, sofrendo terrivelmente. E agora isso. Willow apenas esperava que ele se segurasse.

Suas divagações foram interrompidas quando Buffy parou de repente, e a jovem bruxa notou que eles estavam na frente do apartamento de Angel; a entrada do sistema de esgotos era logo oposta a ele. "Escutem", a caçadora virou-se e estudou seus amigos. Adolescentes sem super poderes, mas que sempre estavam lá para ajudar quando era necessário. Alguém podia desejar amigos melhores?, perguntou-se Buffy. "A luta é só para Angel e eu. Entendido? Se", ela deixou seu olhar passear de um rosto para o próximo, "for necessário lutar, não enfrentem um vampiro sozinhos. Façam-o juntos. Quando encontrarmos Giles, vocês o levam para fora. Não nos esperem". Trocando um rápido olhar com seu amado, ela o viu concordar.

"Mas como vocês vão enfrentar mais de vinte vampiros, só os dois?" Perguntou Willow.

"Muito melhor se não tivermos que nos preocupar com vocês", disse Buffy. "Giles é a sua prioridade. Angel e eu vamos tomar conta de Acathla", ela fitou a espada que segurava e a entregou a seu amado. "Você ouviu o que Whistler disse, é você quem deve fazer isso".

O vampiro concordou outra vez. "Cuidem um do outro", disse ele aos adolescentes. "Não se percam de vista. Fiquem juntos".

"Desde quando ele se tornou o comandante por aqui?" O olhar furioso de Xander estava em Angel. Os outros podiam aceitá-lo de volta sem reservas, mas ele não conseguia fazê-lo. Desde quando Jesse fora transformado, ele odiava vampiros mais que tudo, e ainda mais Angel por destruir qualquer chance que ele pudesse ter tido com Buffy.

"Agora não, Xand", alertou-o a caçadora. "Você sabe que Angel está certo, e eu não aceitarei isso. No momento em que fomos lá para baixo, precisamos confiar um no outro. Ou você controla seus hormônios e emoções ou fica aqui. O que vai ser?"

Quatro pares de olhos repousaram nele, e ele engoliu desconfortavelmente. "Claro que vou com vocês", ele quase sussurrou.

"Bom", o tom de Buffy não deixava espaço para mais brigas. "Então vamos. Spike vai aprender o que significa mexer comigo".

CAPÍTULO XVIII

Da última vez em que Xander descera o sistema de esgotos, ele e Angel estavam a caminho de salvar Buffy e, felizmente, tinham sido bem-sucedidos. Depois de tudo que Angelus tinha provocado em Sunnydale, era duro para o garoto acreditar que ele estava de novo com o vampiro.

Buffy e Angel lideravam o grupo; todos tentavam se mover tão quietamente possível, e ninguém disse uma palavra até que eles chegaram a uma bifurcação. Lá, eles pararam, e vampiro e caçadora se entreolharam.

"Prometa que vai ser cuidadosa", disse Angel urgentemente, e tomou a mão de Buffy.

"Eu vou ser. Prometa o mesmo", ela replicou com um sorriso duro.

"Eu vou ser". Agora ele também sorria.

Respirando um beijo rápido nos lábios dele, a caçadora voltou-se, ignorando Xander rolando os olhos e Cordélia parecendo irritada. "Certo, gente, sejam cuidadosos. Como dissemos antes, a luta séria é apenas para Angel e para mim. Giles é a sua prioridade. Tentem tirá-lo de lá tão logo for possível. E, mas uma coisa, nada mais de conversa a partir daqui".

Angel concordou. "Vamos nos dividir em dois grupos. Willow e Cordélia vêm comigo; Xander, você vai com Buffy. Estas são as duas entradas para a caverna principal, e é melhor invadi-la dos dois lados". Quando viu os adolescentes concordando, ele voltou-se para a namorada, que apertou sua mão pela última vez.


Buffy trocou um olhar surpreso com Xander assim que eles chegaram à entrada deles da caverna. Tinham esperado guardas, mas não havia... nada. A caçadora não sabia se devia ficar satisfeita com isso ou não. Parecia fácil demais. No momento que eles espiaram na área principal, eles souberam o porquê.

Giles estava amarrado a uma cadeira no centro. Todos os vampiros estavam ao redor dele; no meio deles, estava Spike, que batia impacientemente na própria coxa. Drusilla, por sua vez, estava ajoelhada diante do sentinela, movendo as mãos na frente do rosto dele, olhando intensamente em seus olhos, enquanto seus lábios se moviam. Mas ela estava sussurrando, e estava longe demais para Buffy entender as palavras.

A alguma distância, ela viu a figura pétrea do demônio com a espada no lugar. Rapidamente ela fitou a espada que Whistler dera a ela, e que ela ainda segurava com força.

Giles estava sangrando por várias feridas, e os dedos de sua mão direita estavam torcidos em ângulos estranhos. Buffy controlou o engasgo de choque no último segundo possível; então, seu olhar foi capturado pelo fato de que Giles começava a sorrir... alegremente. A próxima coisa que eles viram foi Drusilla beijando o sentinela, e os olhos de Buffy se arregalaram. Olhando para seu lado, ela viu Xander erguendo os ombros inutilmente. O que estava acontecendo ali?

Quando Drusilla não demonstrou intenção de desfazer o beijo (na verdade, até parecia que ela estava gostando), a paciência de Spike se esgotou. "Já chega, gatinha", sibilou ele, e puxou-a asperamente para longe. "Sabemos de tudo que precisamos saber".

"Sabemos sim", concordou ela com um aceno, e sorriu. Jogou a cabeça para trás e gargalhou, e Spike ficou encantado, por um momento, pela beleza dela. Ela era sua princesa das trevas, a mulher com quem ele passaria a eternidade. Era dado que a eternidade no inferno não era a idéia dele de diversão. Ele gostava de viver na Terra, perseguindo sua presa, bebendo de humanos e, finalmente, matando-os; e gostava de muitas outras coisas, como uma cerveja de vez em quando, um copo de uísque...

Ele se perguntou por que diabos estava fazendo aquilo. Mas então ouviu a risada de Drusilla e soube. Faria de tudo para fazê-la feliz.

"Quem diria, Spike", ela sorriu para ele. "Eu sou a eleita. Sou eu quem vai reviver esse demônio magnífico". Toda a loucura parecia desaparecida dos olhos dela. Com um rápido movimento, ela mostrou uma faca e cortou a pele da palma.

O olhar de Buffy foi a Angel, quem ela vira há algum tempo na outra entrada. Sabendo como ele se sentia por Drusilla, ela não tinha certeza como ele aceitaria essas notícias. Mas estava escuro demais para ela ver a expressão nos olhos dele, principalmente a tal distância.

No momento em que Drusilla virou-se para o demônio, Angel deixou seu esconderijo e entrou no principal espaço, sinalizando a Willow e Cordélia que ficassem escondidas mais um tempo. Spike instantaneamente virou-se. "Fruta, posso ver que o cãozinho está de volta".

"Spike", o vampiro moreno baixou um pouco a cabeça. "Nunca pensei que você gostasse do inferno".

Seu descendente deu de ombros. "O que eu posso dizer? Tudo o que a dona do meu coração quiser".

Angel suspirou. "Achei que você fosse dizer isso". E, sem aviso, seu punho conectou-se com a mandíbula de Spike. Era o sinal para Buffy invadir, com Xander atrás. Os vampiros reunidos começaram a gritar e, logo, a caçadora estava matando vampiros por todos os lados. Enquanto lutava com Spike, Angel matou alguns dos capangas que tentaram se meter entre eles. Um deles, o próprio Spike matou por acidente.

Cordélia, Willow e Xander fizeram seu melhor para ajudar por uns tempos, até ouvirem o grito de Angel. "Levem Giles!" Ordenou ele, fitando o sentinela quase inconsciente. "Agora!" Surpreendentemente, eles obedeceram instantaneamente e, apenas segundos depois, Cordélia e Willow desapareceram por uma das saídas com Giles entre elas.

O punho de Angel acertou de novo o rosto de Spike, e o vampiro loiro tropeçou para trás. "Você melhorou, chapa", rosnou ele, e acertou um chute no estômago de seu ascendente. Angel bufou, mas não caiu, e atacou de novo.

Buffy tinha um vampiro em cada braço e lutava, quando um deles se desfez em cinzas, e um sorridente Xander estava lá, de estaca na mão. "Obrigada", deu a ele um sorriso rápido, apenas para gritar, "Abaixa!" quando outro vampiro cortou o ar. A caçadora (que matara o segundo vampiro facilmente) se afastou rolando e, ao levantar, decapitou o novo vampiro com a espada que ainda segurava.

Estavam todos ocupados, e nenhum deles notou Drusilla, que agora estava de pé diante de Acathla. O sangue pingava da mão que esticou-se e tocou a espada que saía do peito da estátua. No momento em que a mão dela a tocou, a espada começou a brilhar.

"Não, Dru, não!" Gritou Angel, vendo isso com o canto de seu olho. Spike soltou seu ascendente e virou-se para ver sua namorada puxando lentamente a espada do demônio, com um sorriso brilhante em seu rosto. Para ele, ela estava mais bela do que nunca.

Ela estendeu os braços e disse, "Venha, leve-nos a todos!"

No momento seguinte, a boca do demônio abriu-se e um pequeno vórtice começou a se formar na frente dele. Ainda sorrindo, com a espada na mão sanguinolenta, Dru se virou e fitou os outros na caverna. Ninguém estava mais lutando. Alguns dos vampiros fugiram; outros, incluindo Spike, fitavam o vórtice crescente com fascínio. "Eu fiz, eu fiz!" Drusilla repetia várias vezes, dando pulinhos. Um soco bem dado na cabeça do vampiro loiro o nocauteou por um momento.

"Me dê a espada".

Buffy virou a cabeça e viu o namorado, que estendia a mão para ela e apontava a espada que ela segurava.

"Não", ela sacudiu a cabeça. "Angel, deixa que eu faço", replicou, não querendo que ele mesmo o fizesse.

"Você ouviu o que Whistler disse", foi a resposta dele. "Por favor, Buffy".

Lutando contra as lágrimas em seus olhos, ela deu a ele a espada e engoliu em seco. "Angel", disse roucamente.

"Vai ficar tudo bem", ele tentou assegurar-lhe, mas o tremor em sua mão quando tomou a espada dela dizia outra coisa. Respirando fundo, ele virou-se e foi até onde Drusilla ainda estava. "Oi, Dru".

"Angel", sorriu-lhe ela, aproximando-se e tocando-lhe a bochecha. "Meu Angel, você voltou. Você sempre volta para mim".

Buffy cerrou as mãos até que as unhas estavam perfurando a pele. "Me desculpe", ela ouviu Angel sussurrar e então, com um movimento fluido, ele empurrou a espada pelo peito dela, dentro do demônio. Uma luz apareceu e, depois de segundos, a ensandecida vampira se fora. A figura de pedra ficou como se nada tivesse acontecido.

Depois, eles ouviram um grito desumano e, quando procuraram por Spike, o vampiro havia desaparecido.

Angel ainda estava no mesmo lugar, com o corpo todo tremendo. De repente, ele estava convulsionando. Buffy empurrou Xander na direção da saída. "Vá, procure por Cordélia e Willow", ordenou ela, não querendo que ele visse Angel tão arrasado. Então, dirigiu-se a seu namorado e começou a acariciar suas costas. "Tá tudo bem, Angel", sussurrou. "Tá tudo bem".

Depois do que pareceu uma eternidade, ele se virou e a olhou nos olhos. Ela pôde ver as lágrimas e uma dor insuportável nos dele. Não tinha certeza se seria capaz de, um dia, entender o que isto tinha significado para ele. "Vai ficar tudo bem", disse ela, e o tocou no braço.

"Espero que sim", replicou ele roucamente. "Porque eu fiz isso a ela, Buffy. Eu a transformei no que ela era, e agora também tive que matá-la".

"Sinto muito", disse ela com lágrimas nos olhos. "Devia ter deixado que eu fizesse".

"Não", disse ele, enxugando gentilmente uma lágrima que tinha caído pela bochecha dela. "Eu sei que você queria fazê-lo por mim. Mas eu estava destinado a lidar com Acathla, e eu lidei".

E então ela estava nos braços dele, apertando-o contra si. Ambos tremiam, e assim ficaram por muito tempo.

Buffy foi a primeira a se afastar. "É melhor irmos lá para cima", sugeriu ela, e olhou ao redor. "Parece que só estamos nós aqui".

Ela sentiu Angel acenar contra seu pescoço, e o ouviu respirar instavelmente. "Certo", disse ele depois de um momento. "Devíamos também dar uma olhada nos outros e em Giles".

"É", concordou ela, e estava quase se virando, mas parou de novo. "Você tá melhor agora?"

"Não na verdade", replicou ele honestamente. "Mas temos que continuar vivendo".

CAPÍTULO XIX

Os dois encontraram os outros na saída superior, na cripta onde Buffy tinha conhecido Darla e onde Angel tinha contado a ela seu nome. Havia tantas lembranças naquela pequena cripta, mas não havia tempo para relembrá-la. Quando Angel e Buffy chegaram, encontraram Giles ainda com Cordélia, Willow e Xander; agora mais consciente, ele esperava impacientemente por sua caçadora.

"Buffy!" Exclamou ele. "Angel", acrescentou depois de um momento. "Estão ambos bem? O que houve com Acathla? Spike? Drusilla?"

Tomando a mão de seu amado, a caçadora replicou, "Graças a Angel, Acathla se foi e levou Drusilla com ele. Estamos bem. Não sei de Spike, ele desapareceu. Mas, Giles, isso não é importante, antes de tudo temos que levá-lo ao hospital".

"Eu já estou melhor", disse o sentinela, mas estremeceu no mesmo momento.

"Pude ver isso", Buffy disse-lhe sarcasticamente.

"Que tal eu levá-lo ao hospital?" Ofereceu-se Cordélia. "Posso ir pegar o carro bem ali. Não vai demorar muito".

"Obrigada", a caçadora deu a ela um sorriso grato.

A rainha de maio acenou, então se virou e foi pegar o carro. "Vou com eles", disse Xander depois de um momento. "O resto de vocês pode ir para a cama".

"Sim, essa é uma boa idéia", concordou Giles. "Buffy, você parece completamente exausta. Angel?" Ele fitou o vampiro inquisitivamente.

"Eu estou bem", disse ele, e fez um gesto distraído.

"Não está, não", Buffy disse com firmeza, "mas vai ficar".

Eles todos esperaram até Cordélia voltar com seu carro e, depois de se despedirem de Willow, Buffy puxou Angel na direção de sua casa. "Vamos para casa - minha casa. Minha mãe nos espera mesmo". Ele hesitou por um momento, mas ela sacudiu a cabeça com firmeza. "De jeito nenhum, Angel, de jeito nenhum vou deixá-lo sozinho esta noite".

Concordando lentamente, ele a seguiu. Eles foram recebidos por uma ansiosa Joyce que - é claro - não tinha sido capaz de dormir.

"Querida", ela abraçou a filha instantaneamente. "Vocês estão bem?" Perguntou, e olhou por cima do ombro de Buffy para Angel, que estava um pouco afastado, evitando seus olhos.

"Eu estou bem", assegurou-lhe a caçadora. "O mundo está a salvo de novo", acrescentou e forçou um sorriso radiante.

"E ele?" A mãe dela perguntou, e novamente seus olhos vagaram até o vampiro que parecia alheio, completamente diferente do homem comunicativo que ela conhecera horas antes.

"Ele teve uma noite difícil", Buffy replicou simplesmente, sem querer explicar qualquer coisa no momento. "Mãe, ele vai dormir aqui esta noite", disse ela, de um modo que não deixou espaço para protestos; por isso, Joyce apenas acenou.

"Tudo bem. Vejo você de manhã, querida", disse ela. "Te amo. Boa noite. Boa noite, Angel".

"Também te amo, mãe, durma bem".

"Boa noite, Joyce", Angel conseguiu dizer, mas não ergueu os olhos.

Depois de sua mãe ter desaparecido em seu quarto, Buffy apenas tomou o braço de seu amado outra vez e o puxou consigo. Ele a seguiu sem resistência; parecia completamente drenado, e a caçadora podia apenas tentar entender o quão duras as últimas horas tinham sido para ele.

Em seu quarto, ela removeu a camisa de Angel, os sapatos, meias e, finalmente, as calças dele, e gentilmente empurrou-o para a cama. Ele ainda parecia estar em profundo choque. Eles não disseram uma palavra e, tirando as próprias roupas, Buffy apenas aninhou-se nele, puxando as cobertas sobre ambos.

Ele ficou deitado, rígido, entre os braços dela e então, depois de alguns minutos, todo seu corpo começou a tremer; e ela podia senti-lo lutando por controle, mas foi em vão. Depois de mais cinco minutos, ele desmoronou nos braços dela e começou a chorar. Lágrimas pesadas, frias correram por suas faces, e ela apenas o amparou, acariciando sua cabeça e costas, sussurrando palavras sem sentido de conforto em seu ouvido.

Ele continuou chorando nos braços dela até que o sono o engoliu.


Quando Buffy acordou na manhã seguinte, o relógio já apontava 11 da manhã. Angel ainda estava adormecido nos braços dela, e ela gentilmente roçou os lábios em sua testa. Ele sofrera de pesadelos horríveis e acordara deles com os olhos cheios de pânico, ofegando pesadamente, até mesmo gritando de vez em quando.

A caçadora não fora capaz de controlar as próprias lágrimas enquanto o abraçava. Ele parecera muito desesperado e indefeso, mas tinha se agarrado a ela como se ela fosse sua tábua de salvação.

Os pesadelos haviam diminuído pela manhã e, desde que o sol tinha nascido lá fora, tinham desaparecido. Agora ele estava dormindo tranqüilamente, e ela cautelosamente desvencilhou-se dele. Precisava ir ao banheiro e então - tinha certeza disto - sua mãe estaria esperando algum tipo de explicação da parte dela. Então ela saiu da cama e do quarto na ponta dos pés, fechando a porta silenciosamente atrás de si.

Joyce estava no andar inferior, lendo seu jornal e tomando golinhos de seu café, quando Buffy entrou na cozinha. Ela ergueu os olhos quando ouviu a filha entrar. "Bom dia, amor".

"Oi, mãe", replicou a hesitante caçadora. Não tinha muita certeza do que esperar desta manhã. Eles tinham jogado uma bela bomba na sra. Summers na noite anterior, antes de saírem correndo para salvar o mundo, e apenas para voltar e dizer-lhe, decididamente, que o namorado iria passar a noite no quarto de sua filha menor de idade.

"Como ele está?" Perguntou Joyce depois de um momento - e surpreendeu sua filha com a pergunta. "Assumo que ele ainda esteja dormindo? Sendo um vampiro, quer dizer..." Ela repentinamente franziu a testa. "Bem, pelo menos é isso que os filmes dizem. Vampiros dormem durante o dia".

"Eles dormem", respondeu Buffy com um pequeno sorriso. "E sim, ele está dormindo. Foi uma noite difícil para ele", acrescentou, bocejando. Quando viu a mãe erguendo uma sobrancelha, explicou, "Ele teve pesadelos horríveis. Ontem foi... bem, para salvar o mundo, ele teve que matar alguém bem próximo a ele".

"Sinto muito", disse a mãe. "Mas ele vai ficar bem, sim?"

"Vai", a filha concordou, e serviu-se de café. Não apenas Angel tivera uma noite difícil - ela mesma não tinha dormido muito. Estava preocupada demais para adormecer. "Pelo menos espero que vá. Esse outro alguém era uma vampira. Uma vampira que ele fez". Ela tomou um gole de café e, percebendo que a mãe não compreendera, disse, "Ele a criou. Ela era uma menina de Londres há mais de cem anos. O demônio dela a transformou em vampira".

"Entendi", replicou Joyce, sem entender na verdade. Mas ela tinha visto a expressão assombrada no rosto de Angel na noite anterior. "Pensei em todas as coisas que você e seu... Angel me contaram ontem", disse então, mudando um pouco de assunto. "Ele parece muito educado e muito apaixonado por você".

Buffy sorriu. "Ele é maravilhoso. Ah, mãe, ele é tão doce, gentil, carinhoso, sabe de tantas coisas e, acima de tudo, me ama". Tomando um gole de seu café outra vez, sentou-se em uma das banquetas. "E ele me entende. Ele sabe o que significa estar cercado de morte e de trevas". Ela viu a mãe empalidecer e acrescentou rapidamente, "E eu adoro estar com ele".

"Eu quero que você seja feliz, amor. E se ele lhe faz feliz..." Joyce suspirou. "... Não que eu não tivesse outros sonhos para você..." Ela parou, dando à filha um sorriso inútil. "Tem tantas coisas que eu não entendo".

"Eu sei", confirmou Buffy. "Talvez a senhora devesse ir falar com Giles. Ele é muito melhor explicando todas essas coisas, sabe?"

"Isso é uma boa idéia", concordou a mãe. "Além disso, quero conhecer o homem que é tão importante na vida da minha filha".

"Só espere um dia ou dois. Ele não está se sentindo tão bem no momento", disse ela. Não precisava contar a verdade à mãe, decidira. Ela já tinha o suficiente com o que lidar. Abaixou a xícara. "É melhor eu ir dar uma olhada em Angel". Com um sorriso ela deixou a cozinha.

C O N T I N U A