A Luz
Por Jill
Tradução por Nanna
Esta foi a primeira fanfic que eu escrevi. Foi há muito tempo, e temo que não seja muito boa. Eu a escrevi como um presente de aniversário para minha amiga Anne, que estava completamente deprimida depois de 'Metamorfose II' ('Becoming II') e do começo da terceira temporada. Eu não queria publicá-la, mas Anne me convenceu que ela merecia uma chance. Claro, não é a mesma que era quando a escrevi, porque refiz algumas partes. Então talvez esteja melhor do que era no começo.
Dedicatória: Para Anne.
Nota da Autora: Considere que Angel não perdeu exatamente sua alma, mas que o demônio assumiu o controle em 'Surpresa' ('Surprise').
CAPÍTULO XX
No momento que ela esgueirou-se para dentro do quarto, Angel começou a despertar, e aí piscou. Ela rapidamente foi para a cama e sentou-se ao lado dele.
"Buffy", disse ele, tomando-lhe a mão.
Ela sorriu para ele. "Oi", disse gentilmente e o beijou na testa. "Está melhor?"
"Hmmm", retrucou ele e coçou os olhos com a mão livre; então, esticou-se para acariciar a bocecha dela e acariciou-lhe a pele com o polegar. "Eu te amo", disse a ela.
"Eu também te amo", correspondeu ela, e beijou o polegar que traçava os contornos de seus lábios.
Ele fechou os olhos por um momento. "Foi mesmo muito duro", disse finalmente. "Eu a conhecia há tanto tempo. Eu a conheci quando era uma menina humana. Uma linda menina humana. E eu fui responsável pelo que aconteceu a ela". Quando a viu começando a protestar, ele colocou seu polegar sobre os lábios dela. "Eu sei que foi o meu demônio quem praticou a ação, Buffy. Mas as imagens, as memórias, estão aqui dentro", ele apontou para a cabeça. "Eu sei de tudo. Para mim não importa realmente quem estava no controle então. Drusilla não merecia o que aconteceu a ela. Ela era inocente e doce. O que me assombra mais no momento é que não faço idéia do que vai acontecer a ela aonde ela está agora".
"Ela queria ir para lá", Buffy tentou lembrá-lo.
"Eu sei. Mas ela é louca. Não tinha idéia do que estava fazendo, pelo que estava desejando. Ela não fazia idéia do que iria acontecer a ela depois que o portal se abrisse".
"Era o mundo ou Drusilla", a caçadora disse, acariciando o rosto dele com o dorso da mão. "Você a sacrificou em nome da humanidade".
"Eu sei", ele suspirou e se sentou. "Mas isso não muda a culpa que eu sinto. Isso não teria acontecido se ela não tivesse sido transformada em vampira para começar". Ele massageou a testa. "Mas vou ter que viver com isso, não vou?"
"Acho que sim", replicou ela numa voz minúscula, sentindo-se inútil. Então decidiu mudar de assunto. "Quer café? Mamãe fez um pouco e, se você quiser descer, eu posso fechar as cortinas".
"Certo", disse ele, e tentou dar um meio-sorriso. "Só me deixe tomar um banho e me vestir, certo?" Inclinou-se para ela e a beijou outra vez.
Ela lhe apertou a mão e então saiu do quarto.
Angel - por causa da luz do sol - ficou com Joyce quando Buffy saiu uma hora mais tarde para visitar Giles no hospital. Sua mão estava envolta num gesso grosso, e o rosto coberto de hematomas, mas ele sorriu quando a caçadora entrou no quarto.
"Buffy, que bom vê-la".
"Como você está?" Perguntou ela, e sentou-se na cadeira ao lado da cama.
"Bem. Isto", ele acenou ao gesso, "é apenas temporário. Vai sarar logo". Ele estudou o rosto da loira por um momento. "Xander me contou que foi Xander quem enviou Drusilla e Acathla ao inferno".
"Foi", confirmou ela.
"E como ele está reagindo?"
Buffy teve de lutar contra as lágrimas em seus olhos. "Ele ficaria muito comovido se ouvisse você perguntando", disse ela, e fungou. "Mas, para responder sua pergunta, ele já esteve melhor. Teve uma noite terrível, cheia de pesadelos e..." Ela sacudiu a cabeça. "Eu o abracei", deu de ombros. "Não havia mais nada que eu pudesse fazer, a não ser abraçá-lo e dizer a ele que eu o amo".
"É duro ver quem amamos sofrendo", Giles disse a ela com um sorriso compreensivo.
"É", suspirou ela.
"Vocês parecem... muito próximos outra vez. Não apenas fisicamente, quero dizer. Você já me contou isso, mas em seus corações, suas almas".
"Nós estamos", replicou ela. "Ou assim espero. Acho que ele está mais aberto agora. Ele confia em mim. Não espera mais que eu o rejeite ao ouvir sobre seu passado".
Ele teve que sorrir. "Quem diria que um vampiro e uma caçadora fariam um belo casal?"
"Nem me fale", riu ela. "Às vezes eu mesma mal posso acreditar. Mas, depois de perdê-lo, eu ainda só podia pensar nele, nos olhos dele, nos braços, no modo que a presença dele me protegia como uma capa. Eu fiz uma promessa de que, se tivesse a chance de estar com ele outra vez, o que eu achava impossível na época, eu nunca mais o deixaria ir". Ela riu de novo, enxugando as lágrimas. "Deus, olhe para mim. Estou desnudando minha alma para você".
"Vocês dois passaram por muita coisa", Giles tomou a mão dela e a apertou. "E, considerando tudo, isso pode ser para o melhor. Você apenas colocaria um namorado normal em perigo, não que um namorado fizesse parte do conceito da caçadora a princípio".
"Talvez o Conselho precise reescrever o manual um dia", sugeriu ela. "Os tempos mudam, os hábitos mudam. Caçadoras namoram, até mesmo vampiros", acrescentou ela com uma risada. "Willow sempre disse que Angel era perfeito para mim".
"Willow é incuravelmente romântica", disse Giles em um suspiro. "Mas dessa vez ela pode ter sido mais esperta que todos".
"Outra coisa", Buffy mudou de assunto. "Eu vi Dru ajoelhada na sua frente, lá embaixo. O que ela fez?"
"Não tenho muita certeza", ele balançou a cabeça de leve. "Acredito que me hipnotizou. Fez com que eu acreditasse que era com Jenny que eu estava falando, e eu contei a ela sobre o ritual de ressuscitação que havíamos encontrado. Foi... muito estanho". Ele franziu a testa. "Até mesmo achei que senti Jenny me beijando. Muito estranho, de fato".
Buffy desviou os olhos e tossiu de leve, lembrando do apaixonado beijo entre a vampira e seu sentinela, mas não ousando contar isso a ele. "Sim... hum... ela torturou você?"
"Não", ele sacudiu a cabeça. "Quem fez isso foi Spike. Ele adorou. Falando nele, o que lhe aconteceu? Você sabe?"
"Não", respondeu a caçadora. "Não faço idéia. Estávamos observando Angel e Drusilla, e então ouvimos um grito. Era um som horrível e, quando nos viramos, ele se fora".
"Então ele pode ainda estar vivo?" O olhar de Giles era preocupado.
"Provavelmente".
"Isso não é bom", disse ele depois de um momento. "Ele era muito... obcecado por Drusilla. Então talvez ele possa procurar por vingança".
Ela se engasgou. "Você acha que..."
Ele confirmou. "Sim. E, se foi Angel quem matou Drusilla, será por ele que Spike vai procurar. Vocês todos precisam ser muito cuidadosos".
"Nós seremos", assegurou-lhe ela. "Mas nem sabemos onde ele está. Assim, você talvez esteja se preocupando por nada". Mas interiormente ela começava a tremer. Não queria que Angel ficasse em perigo. E, se isso era sobre Spike e Drusilla, ele ficaria em perigo mortal.
"Onde está Angel, a propósito?" Perguntou Giles.
"Em casa com minha mãe". Vendo o olhar surpreso dele, ela disse, "Contamos tudo a ela ontem à noite. Foi idéia de Angel, e estou feliz. Ela aceitou tudo muito bem. Muito melhor do que eu esperava. Mas ela quer falar com você também".
"A qualquer hora", ele deu um tapinha na mão dela. "Talvez você devesse voltar para ele. Ele estará lhe esperando".
"É, você está certo", replicou ela, e se levantou. "Quando vão lhe dar alta?"
"Amanhã", informou-lhe ele.
"Oz vai estar de volta por aí. Talvez ele possa vir com sua van. Vejo você então", disse ela com um último sorriso, antes de deixar o quarto outra vez.
CAPÍTULO XXI
As semanas seguintes em Sunnydale foram estranhamente calmas. A atividade vampírica estava baixa, provavelmente devido ao incidente de Acathla, e as rondas de Buffy seriam chatas se Angel não estivesse acompanhando-a. Ele estava se recuperando lentamente dos eventos daquela noite em especial, e Joyce ficou mais e mais acostumada com o vampiro moreno ficando em sua casa durante as noites, às vezes até mesmo durante os dias. Quando Buffy estava com Angel no apartamento deste, a mãe dela mordia a língua e não dizia uma palavra, de um modo pressentindo que não devia interferir na relação deles.
Giles foi liberado do hospital e, enquanto ele ainda estava usando o gesso, Angel assumiu o treinamento de Buffy e, assim, os três passavam as noites na biblioteca com freqüência - onde o sentinela supervisionava as sessões de treinamento do vampiro e da caçadora, e Buffy ficou feliz por ver como os dois homens mais importantes de sua vida estavam se tornando quase amigos. Quando eles não estavam treinando, o vampiro estava muito disposto a ajudar com as pesquisas, ou passar algum tempo contando a Giles eventos os quais ele mesmo vivenciara, e o sentinela estava preenchendo mais e mais páginas de 'As Crônicas de Angelus e Angel', que ele começara a escrever. Iria se tornar o relato mais detalhado da vida de um vampiro.
Por tudo isso, a vida estava melhor do que fora por muito tempo, e todos começaram a relaxar.
Era Quinta-feira, e Angel estava acompanhando Buffy à casa dela, como ele fazia todas as noites, quando, de repente, um bando de mais ou menos dez vampiros os rodeou. Eles não atacaram de imediato, estranhamente. Um deles, que parecia ser o líder, curvou sua cabeça. "Que linda figura", sua voz soou sarcástica pela noite. "Não queria acreditar. A caçadora e seu vampiro mascote. Desculpem-nos por interromper sua noite, mas tem uma pessoa que quer falar com vocês".
Buffy e Angel ficaram costas contra costas, prontos para lutar o que quer que viesse, mas não tiveram chance, pois dois raios os atingiram, e seus mundos ficaram escuros.
Buffy acordou com uma dor ardente no ombro, onde o raio havia perfurado sua pele. Tentando se mover, ela se descobriu acorrentada a uma parede. Segundos depois disso, a porta se abriu, e luz iluminou a câmara anteriormente escura.
"Caçadora", uma voz britânica bem conhecida veio do exterior, e o vampiro loiro entrou no quarto, um sorriso nos lábios.
"Spike", os olhos de Buffy se arregalaram. "Que diabos você quer?"
"O que eu quero?" Ele ergueu uma sobrancelha. "O que você acha?" O sorriso sumiu e foi substituído por um olhar de puro ódio. "Eu devia saber que vocês iam esquecer facilmente. Bem, eu não posso", sibilou ele. "Não vou esquecer nunca".
"Se está falando de sua namorada pirada..." Começou ela, mas não pôde falar mais, quando Spike lhe deu uma bofetada, e sua cabeça virou-se. Recuperando-se depressa, ela sentiu sangue na boca. "Foi culpa dela mesma", acrescentou, engolindo o líquido viscoso.
"Culpa dela mesma", ecoou ele furiosamente. "Não", sacudiu a cabeça. "Foi culpa do seu belo namorado. Ele a fez, ele a enlouqueceu, é culpa dele".
"E você acha que ele não sabe disso?" Gritou ela, piscando para afastar as lágrimas. "Você acha que ele não sofre porque teve que fazer aquilo a ela?"
"Eu não dou a mínima, de verdade, se ele sofre ou não; na minha opinião, ele ainda nem sofreu o bastante". Um sorriso malicioso curvou os lábios dele. "Você não faz idéia do que ele e Dru fizeram, tem?" Começou, adorando o choque nos olhos dela. Se apoiando na parede, cruzou os braços e observou o rosto dela. "Apenas pense. Eu estava numa cadeira de rodas e Dru é... era... uma mulher muito ardente. E ela sempre teve um interesse nele".
"Quer dizer..." Buffy engoliu em seco. Não queria mostrar a dor que sentia, mas não podia evitá-la. Angel e Dru... A imagem mental deixou-a nauseada.
"Claro", ele sorriu maldosamente. "E eles eram tudo, menos quietos. Os gritos e gemidos ecoavam por toda a fábrica, e na mansão também. Era enjoativo, e eu não podia fazer nada porque você tinha me colocado naquela maldita cadeira de rodas".
Lembrando que fora Angelus, e não o Angel dela, Buffy respirou fundo. "Foi o demônio que esteve com Dru", disse ela a Spike. "Angel não teve nada a ver com isso, e você sabe". De repente ela percebeu. "Onde ele está?" Exigiu ela, o pânico entrando em sua voz. "O que você fez a ele?"
"Você gostaria de saber isso, não gostaria?" Ele afastou-se da parede e se aproximou. "Ele matou a minha deusa, o meu amor. Nós estávamos destinados a ficarmos juntos para sempre, e ele a arrancou de mim".
"O que você fez a ele?" Perguntou ela outra vez, engolindo um soluço.
"Nada", replicou ele, surpreendendo-a. "Isto é, até agora. Você pode se acalmar. Nunca planejamos machucá-la. Pelo menos não esta noite. E Angel..." Ele lambeu os lábios de antecipação. "... Nós vamos levá-lo a um belo lugar. Um belo lugar mesmo. Não muito longe daqui. Então vamos fechar as portas e então deixá-lo sozinho".
"O que...?" A boca dela ficou de repente muito seca, de algum modo sabendo que havia algo mais.
"Não se preocupe com si mesma", disse ele virando-se para a porta. "Tenho certeza que seus amigos vão encontrá-la... assim que o sol nascer". Alcançando a porta, ele parou de novo e olhou-a por cima do ombro. "Ah, esqueci de lhe dizer - a casa onde Angel estará tem janelas, lindas janelas grandes... e não tem cortina nenhuma". Com isso, ele fechou a porta atrás de si.
"Angel!" Gritou Buffy, e tentou soltar-se das correntes que a prendiam. "Não, Spike!" Berrou ela, apenas para ouvir as risadas dele, quando ele e seus capangas a deixavam inútil
Angel não fazia idéia de onde eles estavam indo. A única coisa que ele sabia era que eles estavam em um carro, e que ele fora vendado. Spike não tinha falado a ele diretamente, e Angel conhecia seu descendente bem o bastante para não perguntar sobre Buffy. Mas tinha certeza que ela ainda estava viva, porque sabia que sentiria se ela não estivesse.
Depois de um momento, o carro parou, e ele foi asperamente arrancado, e a venda foi retirada. Ele podia ver um prédio imenso, velho diante de si.
"Agora, Peaches", Spike contornou o carro. "Gostou?" Perguntou, apontando a casa. "Bonita, não é? Vai ser sua..." Ele riu de repente. "... Pelas próximas..." E checou seu relógio. "... Três horas. Então", ele deu de ombros e riu ainda mais. Virou-se para seus capangas. "Levem-no para dentro", ordenou ele. "Ah, a propósito, você nunca perguntou sobre sua pequena caçadora".
Angel parou e virou a cabeça lentamente. "Buffy?" Ele conseguiu finalmente perguntar.
"Não está aqui", respondeu Spike com um sorriso. "Mas você já percebeu isso. Ela está", ele deu de ombros outra vez. "Eu a fiz feliz, se você entende o que eu digo. Muito, muito feliz", ele ergueu uma sobrancelha sugestivamente, deixando muito claro o que queria dizer.
"Você vai odiar o dia que nasceu", os olhos de seu ascendente faiscaram, amarelos.
"Ah, não sei", o vampiro loiro sorriu. "Só pensei que era justo, sabe; você teve Dru, e eu..." Ele parou.
"Vou matar você!" Sibilou Angel para ele, e resistiu contra seus captores, tentando chutar Spike.
"Dificilmente", seu descendente afastou-se dele. "Uma vez que você vai ser cinzas em algumas horas. Agora, levem-no para dentro".
Os vampiros obedeceram-no instantaneamente, e Angel foi puxado para dentro da casa, e acorrentado à parede. As correntes eram recém-instaladas, e ele teve certeza que fora obra de Spike. Ele parecia ter tudo planejado há um tempo.
Angel não resistia mais quando eles o prenderam à parede; sua cabeça estava cheia de imagens de Buffy sendo torturada e abusada por Spike, e ele queria gritar de dor.
"Aproveite o nascer do sol", Spike sorriu maliciosamente e indicou a seus capangas que o seguissem. "Eu diria que foi um prazer conhecê-lo", disse ele antes de deixar a casa, "mas seria uma mentira, e, como você sabe, mentir é pecado". Ele riu e então se foi.
"Buffy", Angel apoiou a cabeça na parede, fechando os olhos. "Oh, Deus, Buffy, eu sinto tanto", sussurrou ele, dor e culpa engolfando-o. "Perdoe-me".
CAPÍTULO XXII
Buffy havia parado de lutar contra as correntes. Seus pulsos estavam feridos, sangrando de sua luta infrutífera. Agora, ela apenas observava a pequena janela sobre si, aonde o céu ficava mais claro, anunciando o novo dia e, com ele, a luz do sol. A luz do sol que iria matar o homem que ela amava.
Um soluço escapou de sua garganta. Ela especulou onde ele estava. Estaria pensando nela? Estaria com medo? Ela quase riu a esse pensamento. Claro que ele não estaria. Provavelmente estaria esperando que ela estivesse bem, seria tão típico de Angel não pensar em si mesmo. Ela prometeu que Spike pagaria por isso. Ela o faria pagar pelo que fizera, e ele nunca esqueceria de não mexer com uma caçadora. Fora um erro não matá-la, decidiu ela. Da última vez, ele acabara numa cadeira de rodas; bem, dessa vez ele seria incapaz de se levantar outra vez depois que ela acabasse com ele.
Ela tinha bastante certeza de que estava no porão da velha fábrica, a que fora queimada na noite que Angelus assassinara Jenny Calendar. Como alguém iria encontrá-la ali? Outra vez seu olhar foi para a janela acima, e ela podia ver os mais leves traços de vermelho. E mesmo que eles a encontrassem, agora seria muito tarde para Angel. Ela não fazia idéia aonde eles o tinham levado, nem de onde começar sua busca. Ela nem percebeu que lágrimas corriam por seu rosto, quando ouviu um barulho fraco de cima.
Apenas segundos depois, a porta foi aberta, e uma lanterna iluminou a sala. "Buffy?"
"Willow!" Gritou a caçadora, reconhecendo a voz da melhor amiga.
"Giles!" Berrou a ruiva enquanto corria para Buffy. "Ela está aqui! Xander, Oz, ela está aqui!"
"Buffy", Giles entrou na sala. "Você está bem?" Perguntou ele instantaneamente.
"Estou ótima!" Gritou ela quase histericamente. "Tirem isso de mim, tirem isso de mim!" Repetiu ela várias vezes, esfregando as correntes que a prendiam à parde. "Precisamos achar Angel, ele vai matar Angel!"
Willow e o sentinela trocaram um olhar rápido, e então Giles perguntou, "Onde ele está? O que aconteceu?"
"Não sei", respondeu a caçadora desesperadamente. "Os homens de Spike nos atacaram e eu acordei aqui. Ele disse que ia levar Angel para uma casa com janelas grandes e sem cortinas", a última palavra foi um mero soluço. "Temos que achá-lo - rápido".
No mesmo minuto, as correntes clicaram e as mãos dela estavam livres, mas ninguém se moveu. Irritada, ela os olhou. "Vamos, temos que ir!"
Xander, que entrara no quarto minutos antes, sacudiu a cabeça tristemente e apontou a janela, por onde o sol matinal entrava e iluminava o aposento.
Angel tinha sentido o nascer do sol se aproximar por algum tempo. Tinha tentado se livrar das correntes, mesmo que fosse apenas para caçar Spike e matá-lo pelo que ele fizera a Buffy. Buffy. O pensamento dela enviou uma punhalada de dor no coração dele. Pensar que Spike... Ele estremeceu ao mero pensamento. Deus, o que ele daria para vê-la mais um vez. Para ver o sorriso dela, sentir sua pele macia e ouvir sua voz.
Ele estava tão imerso em seus pensamentos que quase saiu do corpo quando ouviu de repente uma voz bem conhecida dizer, "Angel, chapa. Parece que você se enfiou em uma enrascada".
"Whistler", sussurrou o vampiro incredulamente.
"É. Quem mais tem que te salvar o tempo todo? Primeiro de se tornar o pior pesadelo dos ratos de Nova York, e agora de uma horrível morte flamejante", o demônio suspirou e curvou-se para observar o rosto de Angel. "Receio que não posso abrir essas correntes, elas são magicamente alteradas".
Angel rolou os olhos. "Que ótimo. Então o quê? Vai ficar aí e assistir enquanto queimo?"
"Não precisa ser sarcástico, meu chapa", Whistler sacudiu a cabeça levemente. "Na verdade, não vai ser necessário. Tem uma mensagem que tenho que lhe dar. Dos Poderes Superiores. Como lhe contei, Acathla era seu destino. Ao impedir o demônio de engolir a humanidade no inferno, você cumpriu o tal destino". O demônio virou-se do vampiro por um momento e olhou ao redor. "Belo cenário. Acho que Spike está ficando criativo".
À menção de seu descendente, os olhos de Angel lampejaram, amarelos, e a raiva que ele sentia reprimiu qualquer outra emoção. "Spike", sibilou ele. "Ele vai pagar por isso".
"Ah, ah, meu garoto. Não esqueça de uma coisa. Você ainda é um vampiro, e o nascer do sol está a minutos de distância". Whistler apoiou-se na parede e cruzou os braços.
O vampiro o olhou, furiosamente. "Você disse que veio para me salvar".
"Ah, nossa, dez pontos para o sanguessuga!" Exclamou o demônio. "Então você me ouviu!"
"Não pressione a sua sorte", rosnou Angel.
"Olha quem está falando", disse Whistler com um sorriso, apontando as correntes. Então suspirou. "Bem, é legal provocá-lo, mas mesmo isso é interessante por um tempo. Assim, vamos falar de negócios". Ele se afastou da parede e bateu palmas. Detrás dele, uma figura materializou-se de um tipo de névoa. Ela usava um vestido branco, até o chão, e seu longo cabelo negro caía livremente por seu dorso.
"Deixe-me apresentá-lo a Siobhan", disse o demônio com uma mesura.
"A feiticeira?" Perguntou Angel com encanto, relembrando o nome da mulher.
"Eu mesma", Siobhan sorriu e se aproximou. "Estou aqui para prepará-lo para sua recompensa".
"Agora vocês dois estão falando da minha recompensa", o vampiro estreitou os olhos. "Qual é essa recompensa?"
"Eu esqueci de dizer?" Whistler sacudiu a cabeça em surpresa fingida. "A recompensa é humanidade. No momento que o sol nascer, você vai ser humano, meu chapa. Isso é, se nossa adorável amiga aqui souber fazer seu trabalho".
Buffy estava sentada no banco traseiro da van de Oz; seu rosto estava sem expressão, e seus olhos mostrava tanta dor e tanto desespero que Willow teve que morder o lábio para não gritar alto. A caçadora não falara desde que eles haviam saído da fábrica, e se recusara a deixar os amigos cuidarem de seus pulsos; estava apenas sentada, olhando o sol nascente.
Eles estavam se dirigindo à casa aonde Angel supostamente estaria. Giles e Willow tinham parado no apartamento dele para pegar um de seus pertences, e o usaram para um feitiço de localização. A questão era: eles encontrariam Angel, ou apenas suas cinzas?
De repente, Willow tocou o ombro de Oz. "Ali", ela apontou para um prédio velho de madeira, com grandes janelas. "Tem que ser ali".
"Tem certeza?" Perguntou o namorado.
"O encanto diz que é aquela casa", respondeu ela, e fitou Giles, que acenou em confirmação e tocou de leve o ombro de Buffy. Ela quase saiu do corpo. Seu corpo estava tenso, e os olhos eram imensos no rosto pálido.
No momento em que o carro parou, ela saiu pela porta e corria para a casa, quando de repente um grito de dor soou pelo ar matinal.
CAPÍTULO XXIII
"Angel!" O grito escapou da garganta de Buffy. Sem olhar para os amigos, que pareciam congelados de choque, ela correu para a entrada da velha casa, gritando por sobre o ombro, "Tragam tudo que puderem para cobri-lo!" E correu para dentro.
E então ela o viu. As mãos dele estavam acorrentadas à parede, as roupas rasgadas e sanguinolentas; seu corpo toda tremia, e outra vez ele gritou do que só podia ser dor. Ainda assim ela não podia se mover. Estava conseglada em seu lugar, e apenas podia olhá-lo.
Xander e Willow, que foram os primeiros a segui-la, quase colidiram com a figura imóvel da caçadora.
"O que foi?" Perguntou a ruiva, sacudindo de leve o ombro da loira.
"Olha", replicou ela com fascínio, e apontou o vampiro.
Lá estava ele, parecendo péssimo, mas também deitado sob plena luz do sol e era bem visível que não estava queimando.
"Angel", sussurrou a caçadora, cautelosamente se aproximando, finalmente alcançando-o e se ajoelhando, mas sem ousar tocá-lo. "Angel", Buffy repetiu o nome dele, e se esticou lentamente para tocá-lo. No momento que a mão dela tocou a dele, seus dedos agarraram os dela e apertaram, quase dolorosamente.
Ele queria falar a ela, mas a dor vinha através dele em ondas, ameaçando consumi-lo, devorando-o. Uma dor que ele nunca conhecera antes. Lembrou-se das palavras de Darla há tantos anos, O nascimento é sempre doloroso, e, por Deus, ela estava certa. Apertando ainda mais forte a mão de Buffy, ele agarrou-se nela, o calor de sua mão e a pulsação que ele sentia eram as únicas tábuas de salvação através da névoa de dor.
Ele gritou de novo, incapaz de conter o som. Ele se odiou por isso, odiou que o grito iria assustá-la. A mulher que ele amava, a mulher que sofrera pela mão de Spike. Buffy, ele queria gritar, mas sua garganta se fechara, as palavras presas dentro dele.
Mais dor.
Mais ondas quentes.
Ele ouviu a voz dela outra vez, sussurrando, chorando, gritando. Mas ele estava longe demais para reagir. Sentiu as mãos ficarem inertes, e então abençoada insconsciência o rodeou.
"Angel, não!" Gritou Buffy no momento em que sentiu a vida deixando as mãos dele. Seu aperto nele ficou mais duro. "Fique comigo, por favor, Angel", chorou ela, as lágrimas caindo de seus olhos. Estava completamente inconsciente de seus amigos atrás dela, ou de Willow que estava ajoelhada ao lado dela.
"Buffy", uma mão cautelosa tocou o ombro da caçadora. "O que aconteceu?"
"Giles", a voz da loira parecia urgente. Ela ignorou a ruiva ao seu lado, pois não conseguia tirar os olhos do que estava vendo bem diante de si, mas não conseguia entender.
"O quê?" O sentinela perguntou e se aproximou.
"Me diga que eu não estou imaginando isso", disse ela.
"Buffy", a voz de Giles estava cheia de compaixão. Ele não entendia o que estava acontecendo; tinha esperado que o vampiro se ateasse em chamas, mas tinha certeza que ele havia morrido. Pôs uma mão no outro ombro da caçadora, trocando um olhar preocupado com Willow no processo. "Buffy, eu sinto muito", disse ele.
"Sente muito?" Perguntou ela confusa. "Não, não quero que você sinta muito. Olhe", ela apontou o peito de Angel, e Giles e Willow quase pularam.
"Ah, meu Deus", sussurrou o sentinela em incredulidade.
"Ah..." Foi tudo o que a jovem bruxa pôde respirar.
"O que está acontecendo?" Exigiu Xander de trás, e então engasgou-se quando notou o que os outros já haviam percebido.
O peito do vampiro - Xander especulou se é que ele ainda era um vampiro - estava se movendo num ritmo estável.
"Angel", sussurrou a caçadora, e hesitante tocou o peito dele. Ela quase se retraiu ao calor estranho emanando da pele dele. E havia algo mais. Buffy moveu a mão um pouco mais e a colocou sobre o coração. "Como?" Perguntou ela, encarando Giles. "Ele respira, está quente e... até mesmo tem batimentos cardíacos", disse ela a seus perplexos amigos. "Giles, como isso é possível?"
"Eu..." O sentinela sacudiu a cabeça e pigarreou; como os outros, ele estava chocado pelo que estava vendo. Vendo com os próprios olhos, e ainda assim incapaz de confiar neles.
"Maldito seja eu", Oz coçou a nuca.
"Quer dizer que ele é humano?" Quis saber a bruxa. "Ou o que ele é?"
Giles observou os quatro expectantes pares de olhos, e tudo o que ele podia fazer era sacudir a cabeça. "Eu não... faço idéia", disse ele depois de um momento. "Talvez ele acorde logo e será capaz de nos dizer. Honestamente, eu nunca..." Ele sacudiu a cabeça de novo.
"Mas... Mas ele estava sentindo dor", Buffy ainda segurava a mão de Angel na sua, acariciando-lhe a palma com o polegar. "Talvez Spike tenha feito algo a ele..."
"Buffy".
Cinco cabeças se viraram.
"Buffy", repetiu Angel, e tentou abrir os olhos. Suas pálpebras pareciam feitas de cimento, mas, depois de um momento, ele conseguiu piscar.
"Angel", sussurrou ela, inclinando-se e acariciando-lhe o rosto. "O que houve?"
"Você está bem?" Perguntou ele urgentemente, ignorando a pergunta dela.
"Estou bem", assegurou-lhe ela.
"Spike", sussurrou ele; sua língua mal funcionava. Ele se sentia tão cansado, tão exausto.
"O que tem Spike?" Quis saber Buffy.
"Ele... ele disse que..." Ele se conteve, percebendo de repente que não estavam sozinhos na sala. "Ele fez algo?"
"Quer dizer, além de falar besteiras?" Perguntou ela secamente. "Não".
"Graças a Deus, ele mentiu", ele fechou os olhos por um momento, apertando a mão dela.
"Pode nos dizer o que lhe aconteceu? Já percebemos que você está respirando, e Buffy diz que você tem batimentos cardíacos", Giles ajoelhou-se ao lado de Willow e de sua caçadora.
Angel lambeu os lábios secos e forçou a língua a se mexer. "Whistler", sussurrou ele roucamente. "Ele... ele veio e disse..." Ele se sentia tonto e cansado, e tinha que unir toda sua força para continuar, "Siobhan..."
"A feiticeira?" Willow arregalou os olhos. "Achei que ela era apenas uma lenda".
"Ela é real", assegurou-lhe Angel. "Ela fez algo e com... a luz do sol me fez... humano", a voz dele estava enfraquecendo. Deus, ele queria dormir por dia. "Minha recompensa..." Então ele lembrou de repente. "Willow... Correntes magicamente..." Disse a ela. "Vai precisar de... raiz de beterraba e... olho de rato... para me livrar..." Com suas últimas reservas, virou-se para a namorada. "Buffy... te amo". E então sua cabeça caiu.
"Angel!" Gritou ela em pânico.
"Ele está bem". A mão reconfortante de Giles apertou-lhe o ombro.
"Mas..."
"Eu assumo que passar por tal processo sugou muito da energia dele. Olhe, ele está respirando estavelmente. Podemos apenas adivinhar, mas eu diria que ele está apenas dormindo. Completamente exausto", o sentinela se esticou e checou a pulsação do ex-vampiro. "Estável e forte. Não precisa se preocupar. Precisamos obter os ingredientes para abrir as correntes e então colocá-lo numa cama". Ele fitou Willow.
"Oz", ela virou-se para o namorado, "pode me levar para a loja de mágicas?" Ela sorriu para a caçadora. "Vamos voltar logo e aí vamos colocá-lo na cama".
CAPÍTULO XXIV
A primeira coisa que Angel viu quando abriu os olhos foi Buffy sentada numa cadeira ao lado da cama dele; ela estava adormecida, com a cabeça no peito. Um sorriso apareceu no rosto dele ao vê-la assim. Tentou mexer a cabeça e gemeu da dor que aquele pequeno movimento provocou. Ele odiara ser um vampiro, mas, honestamente, havia umas vantagens...
"Angel, você acordou", a voz aliviada de Buffy interrompeu os pensamentos dele. Ela se adiantou e acariciou seu rosto. "Como se sente?"
"Como se tivesse sido atropelado por um caminhão", admitiu ele com um sorriso. "Deus, estou todo dolorido".
"Sinto muito", ela o beijou docemente. "Ontem eu pensei que tinha te perdido", disse-lhe com um tremor na voz. "Quando Spike me controu..."
"Spike", sibilou Angel, ódio invadindo seus olhos. "Buffy, eu não queria perguntar..." Ele entendeu de repente. "O que quer dizer com ontem?"
Ela sorria gentilmente quando respondeu. "É, ontem. Você dormiu por quase 36 horas", informou a ele.
"36 horas", ele a fitou incredulamente, então lembrou do que começara a falar. "Sobre Spike, ele me disse..." Ele teve que engolir para ser capaz de continuar falando, "ele disse que... te estuprou", ele disparou as últimas palavras.
"NÃO!" Veio a resposta rápida e chocada dela. "Ele não fez nada disso. Ah, Angel, ele disse isso para te torturar".
"Eu sei, agora eu sei", respondeu ele, apertando-lhe a mão. "Mas antes, ontem, eu não sabia. Eu não queria acreditar nele, mas..." A voz dele se rompeu e ele teve que limpar a garganta. "Pensar que ele pusera as mãos em você... me deixou doente".
"Estou bem. Ele só me acorrentou a uma parede e me deixou no porão da velha fábrica. Era com você que estávamos preocupados", ela passou uma mão pelo cabelo dele. "Ainda não posso acreditar. Você só pôde contar fragmentos ontem. O que aconteceu?"
"É tão surreal", disse ele depois de um momento. "Bem antes que eu esperava romper em chamas, Whistler apareceu e explicou que eu ia virar humano. Era minha recompensa por ter impedido Acathla de sugar a humanidade à dimensão demoníaca".
"Então isso é real?" Perguntou ela, esperando ansiosamente pela resposta dele.
"Sim", respondeu ele com um sorriso. "É. Eu sou humano", ele sacudiu a cabeça e um riso escapou da garganta dele. "Pense nisso, Buffy. Sou humano, ai", ele estremeceu à dor por seu corpo. "E dói como o inferno", acrescentou com um sorriso de lado. "Mas Whistler já tinha me avisado disso".
"Então você agora é humano, como... Xander?"
"Não", Angel sacudiu a cabeça enfaticamente. "Como Xander não. Nunca... como Xander".
Ela teve de rir disso. "Certo, então... como... Giles?"
Ele sorriu. "Não inteiramente. Eu sou mais como... você".
"Eu?" Ela o olhou de olhos arregalados. "Mas... sou a caçadora, tenho superpoderes e tudo o mais e..."
A mão cálida dele interrompeu sua tagarelice. "Sim, eu sei. E também os tenho. Fui feito humano, mas mantive minha força e minhas habilidades curativas proto-naturais. O que Siobhan disse? Vou ser o primeiro caçador homem ou coisa assim. Ela disse que estamos destinados a ficar juntos, e eu não seria de muita ajuda se fosse um humano normal".
"Uau!" Respirou ela, e então deu uma risadinha. "Agora eu pareço com Willow", explicou ela vendo a pergunta nos olhos dele. "Destinados a ficar juntos?" Sorriu ela. "Parece bom para mim. Eu estava assustada, Angel", admitiu repentinamente. "Acho que nunca fiquei tão assustada antes na minha vida. O caminho da fábrica para a velha casa..." A voz dela falhou.
Angel rangeu os dentes contra a dor e sentou. "Mas eu estou aqui", disse ele a ela com gentileza, e a puxou para a cama e seus braços. "E estou com você. Estamos juntos".
"Você parece estranho", disse ela depois de um tempo, com a cabeça contra o peito nu dele. "Tão quente".
"Hmmm", replicou ele. "Parece muito impressionante".
"Vai mudar muitas coisas, não vai?" Perguntou ela depois de outro silêncio.
"Suponho que sim", suspirou ele, e a puxou para ainda mais perto. "Posso sair à luz do dia agora", começou ele. "Posso comer comida", riu, "comida de verdade. Posso até mesmo aproveitar um jantar de verdade com sua mãe. E precisamos ir à farmácia", acrescentou com um sorriso.
"Farmácia?" Ela estranhou e ergueu os olhos.
"Hmmm..." ele deu a ela um olhar óbvio e, depois de um momento, ela entendeu.
"Ah... é", sorriu constrangida. "Não quero mesmo ser uma mãe adolescente", disse. "Mas também posso usar a pílula", acrescentou.
"Veremos. Não é perigoso no momento", admitiu ele. "Ainda estou dolorido demais para fazer algo além de deitar aqui e te abraçar".
"Bom", suspirou ela.
"Bom?" Perguntou ele incredulamente, e ergueu uma sobrancelha.
"Bem, bom por agora", corrigiu ela, "você sabe, comigo não tomando a pílula... ainda e nada de... hum... camisinhas por aqui".
Ele riu. "É, eu acho".
"Giles quer conversar com você, é claro", disse ela a ele depois de um momento. "Ele está louco para saber o que te aconteceu. Para usar as palavras dele, 'Buffy, isso é sem precedentes'". Os dois riram a isso. "Ele disse para telefonar a ele assim que você acordasse", ela se aninhou, "mas", suspirou, "planejo deixá-lo esperando um pouco mais. E você?"
Ele fingiu um bocejo. "Me sinto de repente muito cansado".
"Eu também", riu ela. "Giles vai ter que esperar até amanhã".
"Vai", replicou ele, e capturou os lábios dela com os dele.
CAPÍTULO XXV
O telefone os despertou pela manhã. Angel riu vendo Buffy colocar um travesseiro sobre a cabeça e esticou-se por cima do corpo dela para a base. "Sim?"
"Angel, é Giles", disse o sentinela do outro da linha. "Como você está?"
"Bem", respondeu o ex-vampiro. "Parece que eu só precisava dormir".
"Bom ouvir isso. Suponho que Buffy ainda esteja com você?" Perguntou Giles.
"Está, ainda dormindo. Ela não é uma caçadora matinal", ele sorriu quando ela o socou de brincadeira na coxa. "Bem. Como posso ajudar?"
"Vocês dois podem vir à biblioteca em mais ou menos uma hora? Acho que todos precisamos conversar. Algo aconteceu ontem à noite... Relacionado a Spike".
"Sei", o ex-vampiro ficou imediatamente sério. "Vamos estar aí. Até logo". Com isso ele desligou.
Buffy finalmente conseguiu abrir um olho. "Giles?"
"Ahn-hã", ele confirmou e, rindo, arrepiou o cabelo dela.
"Ei!" Protestou ela, e sentou-se lentamente na cama. "E agora, como vou ficar apresentável?" Ela olhou ao redor. "Nada de espelhos ainda".
"Você está linda", ele assegurou-lhe, e a beijou suavemente na boca.
"Talvez para você", suspirou ela. "Que não é a pessoa mais confiável nesse assunto. Que seja. O que ele queria?"
"Nos ver na biblioteca", Angel ficou imediatamente sério. "Algo aconteceu ontem à noite com Spike".
"Spike?" Perguntou ela em súbito alarme. "Ele vai vir atrás de você de novo?"
Ele deu de ombros, saindo da cama. "Não sei, mas ele vai com certeza nos contar. Buffy" Acrescentou vendo o olhar preocupado dela. "É dia claro no momento. Além disso, ainda tenho minha força, e dessa vez vamos estar de guarda. Não tem como ele nos pegar daquele jeito outra vez".
"Ele te odeia por ter mandado Drusilla ao inferno", ela lembrou, e quis se matar no mesmo minuto. O cintilar de dor nos olhos dele era tão fundo e forte, que sufocava o coração dela. "Sinto muito", disse ela baixinho. "Eu..."
Ele ergueu uma mão. "Tudo bem".
"Não", protestou ela. "Não está". De joelhos, ela fechou a lacuna entre eles e tomou as mãos dele. "Sinto muito. Não devia ter dito nada. Você não precisa que eu acrescente mais culpa à que você já sente". Ela beijou as duas mãos dele e então o olhou no fundo dos olhos. "Eu surtei por um momento. Estou apavorada", admitiu ela, meio constrangida. "Spike quase conseguiu te matar".
"Mas ainda estou aqui", replicou ele apertando-lhe as mãos. "Spike não vai ganhar. Não vamos deixá-lo ganhar. E agora", ele olhou para si mesmo. "Preciso mesmo tomar um banho e trocar de roupa, e você também, por falar nisso," acrescentou com um aceno.
"Está sugerindo que eu estou fedendo?" Ela ergueu uma sobrancelha para ele.
"Não", retrucou ele rapidamente, "mas não estou certo se você quer encarar Xander de roupas amassadas e deixá-lo sugerir o que estávamos fazendo".
"Ah", disse ela, os olhos ficando grandes com compreensão. "AH! Um banho é bom. Muito bom". Ela soltou as mãos dele e saiu da cama.
"Podemos tomá-lo juntos", propôs ele.
"Juntos?" Sorriu ela. "Bem... Nada de camisinhas ainda".
O sorriso de resposta dele era definitivamente travesso. "Tem muitas coisas que se pode fazer sem elas - especialmente num chuveiro".
"É?" Ela ergueu outra sobrancelha, com os olhos brilhando de antecipação.
"Espere e veja", disse ele, e começou a desabotoar a camisa.
Eles se atrasaram para seu encontro com Giles na biblioteca e, de algum modo, seu pedido de desculpas não soou muito honesto. O sentinela inglês apenas ergueu uma sobrancelha e suspirou silenciosamente. "É bom vê-los afinal", replicou ele, e fez um gesto para que se sentassem. "Não chamei os outros porque queria falar com vocês em particular".
"É assim tão ruim?" Buffy fez uma careta e tomou a mão de Angel.
"Não... Bem, sim", Giles fechou o livro que lia e retirou os óculos para limpá-los com seu lenço branco. "A propósito, fui ver sua mãe, Buffy".
"Ai, Deus", a caçadora empalideceu. "Eu esqueci completamente dela".
"Eu sei", o sentinela deu-lhe um caloroso sorriso. "Havia outras coisas em sua cabeça", fitou Angel rapidamente, e interiormente se censurou por observá-lo fixamente enquanto este estava sentado sob a brilhante luz do sol. Ele estava incrivelmente e pálido e, se não fosse por seus movimentos poderosos quando ele e Buffy entraram na biblioteca, uma pessoa pensaria que ele estava doente.
"O que disse a ela?"
"Uma vez que ela já sabe sobre vampiros e tudo, não foi muito difícil. Eu contei a ela sobre Angel virando humano, e ela" Ele teve de limpar a garganta, e corou levemente. "Ela... er... queria que eu lhe lembrasse de... bem..." Deu ao casal um olhar óbvio.
"Nós iremos", o ex-vampiro teve de morder o interior da bochecha para conter um riso, mas Buffy deu uma risadinha suave ao seu lado.
"Bem. Sim", Giles recolocou os óculos. "Eu não contei a ela sobre a parte na qual você ficou acorrentada na fábrica. Ela também quer que você telefone para ela assim que for possível. Voltando à razão pela qual eu os chamei. Ontem à noite, uma festa techno em um armazém velho achou um fim repentino quando um bando de vampiros começou a drenar os convidados".
"Ai, meu Deus!" Disse a caçadora, e trocou um olhar com seu namorado.
"Não há prova de que foram os capangas de Spike, nenhum dos convidados sobreviventes disseram nada sobre um homem loiro platinado, e Spike não é alguém a ser ignorado", o sentinela continuou com sua história. "Mas, de algum modo, tenho a sensação de que ele está por trás disso. Suponho que ele acha que, com Angel morto, ele tem que mostrar quem é o verdadeiro líder de Sunnydale agora".
CAPÍTULO XXVI
Inesperadamente, em Sunnydale as semanas seguintes ao ataque dos vampiros à festa foram calmas e sem grandes eventos. Buffy e Angel patrulhavam todas as noites e matavam um ou dois vampiros, mas eram em sua maioria recém-criados e nenhum deles tinha notícias de Spike ou de seu paradeiro.
Gradualmente, todos relaxaram. Apesar de saberem que Spike provavelmente voltaria, mais semanas se passaram e o vampiro loiro parecia uma ameaça distante, nada pior que as outras coisas que caçadora e ex-vampiro tinham que enfrentar em base regular.
O relacionamento de Buffy e Angel se desenvolveu em algo mais confortável. Com ele não sendo mais um vampiro, eles ficavam juntos muitas vezes. Ele era uma visita constante na casa da Revello Drive, e a sra. Summers passou a gostar muito dele. Buffy não poderia dizer o que fez sua mãe gostar tanto dele: se era o modo que sua educação do século XVIII sempre apareciam, ou o tanto de conhecimento sobre arte que ele tinha, ou se era a maneira que ele parecia sentir quando quer que sua ajuda era necessária.
O que quer que fosse, ela decidiu que não iria olhar os dentes de um cavalo dado. Por que fazer perguntas quando sua mãe e seu namorado se relacionavam muito bem? Depois de ela ter assegurado à mãe que eles seriam cautelosos em relação à contracepção, Joyce nunca disse uma palavra sobre a filha passar noites no apartamento do ex-vampiro, e Buffy não iria questionar isso também.
Ela sabia que a conversa com a qual Giles alimentara a sra. Summers era uma parte da aceitação desta a Angel na vida da filha. O sentinela deixara bem claro que o ex-vampiro era a principal razão pela qual Buffy ainda estava viva e lutando. Até mesmo no sentido literal.
Três meses haviam se passado desde o ataque dos vampiros quando o grupo se reuniu numa mesa do Bronze. Uma música lenta soou, e Buffy se levantou e puxou Angel com ela para a pista de dança.
Com seu olhar acompanhando o casal, Xander passou um braço pelo ombro de Cordy e fitou Willow. "Não acredito nisso. Esses pombinhos, essas demonstrações públicas de afeto são quase enjoativas, mas eu tenho que admitir que o fato de que Angel é humano agora me faz sentir muito melhor. Nada mais de caninos prolongados". Ele franziu a testa subitamente. "Eu sempre especulei como seria beijar..." Parou quando viu sua namorada fitando-o estranhamente.
"Você é um pervertido", ela sacudiu a cabeça e tirou a mão dele de seu ombro.
"Ei, eu só pensei alto", protestou ele, parecendo magoado.
"É, mas ainda assim você é um pervertido. Quem gostaria de beijar... ecaaaa!" Ela estremeceu enojada.
"Na verdade", intrometeu-se Willow, sorrindo para Oz, e voltando-se para o outro par que, a seus olhos, formavam um estranho casal. "Buffy me disse que ela beijou Angel uma vez, quando ele estava com... uh... sua cara demoníaca... deliberadamente".
"Isso é tão nojento", Cordélia tomou um gole de seu refrigerante. Ela nem queria pensar nessas coisas. Já era estranho demais que ela andasse com esses bobocas. E tudo isso por uns beijos no armário com Xander e, claro, por uns amigos. Na verdade, bons amigos. Amigos que não falavam com ela porque suas roupas seguiam a última moda e seu carro era muito legal. Na verdade, para esses amigos coisas assim nem eram tão importantes.
"Eu acho meio doce", replicou a ruiva. "Ela mostrou que o aceitava plenamente".
"Que seja. Sem as presas o cara é quase legal", Xander sorriu e fitou a pista de dança de novo, onde ex-vampiro e caçadora tinham envolvido seus braços ao redor um do outro e estavam balançando ao som da música, sussurrando um no ouvido do outro e beijando-se de vez em quando.
"Eu especulo quando é que ele vai pedi-la em casamento", disse Willow de repente, do nada.
"O quê?" Xander virou a cabeça para ela, e encarou sua amiga de infância. "Do que você está falando? Quem vai pedir em casamento?"
"Eu... hum... estava só pensando alto. Opa!" Ela corou e se ocupou com o canudo em seu refrigerante, mas não deixou de sorrir.
"Não, não", Xander não ia deixar aquilo escapar facilmente. "Preciso saber no que você está pensando".
"Só especulando", disse ela, tentando soar casual. Deus, devia mesmo aprender a manter a boca fechada. "Sério, Xander, não é nada importante". Ela suspirou quando ele finalmente virou-se e começou a conversar com Cordélia. Seu olhar vagou até o casal na pista de dança e, observando-os, ela silenciosamente tentou decidir que cor deveria usar como dama de honra.
CAPÍTULO XXVII
A noite estava quente e pacífica. Buffy e Angel estavam a caminho do apartamento dele depois de sua noitada no Bronze, de mãos dadas.
"Eu gosto disso", disse ela repentinamente, quebrando o silêncio.
"Do quê?" Perguntou ele sem olhá-la, continuando a andar.
"Estar com você assim. Só andando de mãos dadas, como dois namorados. Sem vampiros e..." No mesmo minuto, um vampiro pulou das moitas e ela suspirou alto, mas sacou uma estaca rapidamente e o matou. Franzindo a testa, ela sacudiu a cabeça e tomou a mão de seu namorado de novo. "Pensamento tendencioso, eu suponho". Quando ela o ouviu rir, sorriu. "É, eu sei. Nunca vamos ser um casal normal. Mesmo assim, ainda gosto de estar com você. Acho que nunca vou me cansar disto".
Ele não deu resposta a isso, apenas levou a mão dela à sua boca e a beijou, e então parou abruptamente. "Tem certeza do que acabou de dizer?" Perguntou ele.
Buffy o fitou e sentiu um certo nervosismo que não vira nele desde... nunca. "Sim", replicou hesitantemente, o observando atentamente. "Sim, tenho. Por quê?"
"Porque..." Ele apertou a mão dela, respirou fundo e então viu um banco ali perto. "Por que não nos sentamos por um momento?" Sugeriu. Franzindo a testa, a caçadora o seguiu, sentindo-se completamente perdida.
"Estou sentada", disse ela depois de um momento. "Vai me dizer agora sobre o que é tudo isso?"
"Eu... humm..." ele pigarreou. "Deus", riu nervosamente passando uma mão pelo cabelo. "Eu ensaiei isso provavelmente umas cem vezes, mas é completamente diferente de estar sentado aqui na sua frente, agora".
"Angel", disse ela impacientemente. "Qual é o problema? Está me assustando!"
"Desculpe", ele riu de novo, e de novo soou mais que só nervoso. "Bem, é melhor eu acabar logo com isso... é que... hum... você sabe que eu te amo. Na verdade, eu te amo muito. Vivi por muito tempo, Buffy, e eu tenho certeza... de que... eu te amo. Muita certeza".
Ela estava ficando mais confusa a cada minuto. "Isso é muito bom de ouvir", replicou. "Mas isso tudo tem... vamos dizer... um propósito?"
"Como eu disse", continuou ele, ignorando as palavras dela. "Eu sei que eu te amo e eu... mas você não tem nem mesmo 18 anos e... veja, quando eu era jovem, as mulheres se casavam quando eram ainda mais novas que você. A maioria delas já tinha filhos com sua idade e então talvez seja essa a razão porque isso não é estranho para mim, mas..."
"Angel", ela o fitou com súbito fascínio, "está tentando me pedir em casamento?"
Ele expirou abruptamente e riu, coçando a nuca e até mesmo corando de leve. "É, suponho que tenha sido nisso que eu... falhei miseravelmente ao tentar".
"Angel", ela sussurrou o nome dele, com os olhos se enchendo de lágrimas. "Angel", repetiu.
Confuso pela umidade nos olhos dela, ele tomou-lhe as duas mãos. "Eu não queria deixá-la desconfortável sobre isso, mas tinha que pedir. Eu... até mesmo pedi à sua mãe, e ela disse que tudo bem. Eu podia pedir, se nós... bom se nós adiássemos o casamento por um tempo".
"Você me pediu em casamento à minha mãe?" Ela o fitou incredulamente.
"Foi", ele franziu a testa. "Sinto muito se você não aprova, mas quando eu fui criado era assim que se fazia. Pedia-se aos pais primeiro".
"Isso é tão fofo", ela sorriu para ele, "e eu ficaria honrada de aceitar seu pedido",acrescentou, olhos fixos nos dela.
"Buffy", foi a vez dele de sussurrar, engolfado pela emoção. Então se lembrou de algo e, com dedos trêmulos, tirou do bolso uma caixinha. "Então você também tem que aceitar isso". Ele também sorria agora e abriu a caixinha.
A caçadora engasgou ao ver um anel de ouro com um diamante e pequenos rubis ao redor deste. "É lindo", respirou ela em fascínio, enxugando uma lágrima enquanto ele colocava o anel em sua outra mão e então o beijou. "Eu te amo".
"Eu também te amo", retrucou ele. "Tanto, tanto".
"Deus!" Ela riu alto. "Quero gritar. Isso é a melhor coisa que já me aconteceu. Olhe para mim, estou usando seu anel de noivado. Vou me casar com você, Angel. Isso não é maravilhoso?"
"É, maravilhoso", concordou ele olhando a mulher que ele amava.
"Eu diria para surpreender a mamãe, mas, do jeito que você fez tudo, não será surpresa, eu acho. Mas Willow e os outros... eles vão pirar!"
"Você pode contar a eles quando quiser. Mas, primeiro", ele a puxou para si. "Beije-me, minha noiva", sussurrou, e capturou sua boca com a ele.
CAPÍTULO XXVIII
"Sabe..", murmurou Buffy, quando ela e Angel estavam deitados na cama do novo apartamento dele. Ele o tinha comprado algumas semanas depois de virar humano. Agora que podia aproveitar o sol, ele não mantê-lo lá fora.
"O quê?" Perguntou ele, seus dedos traçando desenhos nas costas nuas dela.
"É bom que a escola tenha acabado", ela se aninhou nele. "Não há nada que mamãe possa dizer de mim passando a noite aqui. Quer dizer, não que ela fale. Qualquer coisa, quer dizer. Na verdade, ela é bem cabeça fria e tudo mais, apesar de saber o que estamos fazendo aqui". Ela corou de leve às últimas palavras e enterrou a cabeça no peito dele.
"Ela é uma mãe maravilhosa", replicou ele, apertando o abraço nela e a trazendo para mais perto. "Não são muitos os pais que entenderiam o fato de você tem um namorado de quase 250 anos".
"Noivo", ela relembrou-o sorridente, "mas aí, eu não sou a namorada mais normal", suspirou ela.
"Não, você com certeza não é normal. É a menina mais linda na qual já pus os olhos. É carinhosa e amorosa e..."
"Pára!" Gargalhou ela, e plantou um beijo no canto da boca dele. "Você está falando como se eu fosse uma santa. Mas não sou. Olhe para o jeito que estamos deitados aqui. Não há nada não-terreno nisso".
"Verdade", sorriu ele. "Mas santos não precisam viver como santos, pelo menos na parte sexual. Há mais de um na Idade Média que não eram exatamente abstinentes".
"Bem", ela o beijou de novo. "Você deve saber. Provavelmente encontrou um ou dois no seu tempo".
Ele gargalhou. "Eu não queria decepcioná-la, mas não sou tão velho. A Idade Média terminou por cerca do descobrimento da América. Eu nem era planejado então".
"Eu não diria isso. Não esqueço da idéia de que há alguém lá em cima", ela fitou o teto, "que sabe exatamente o que está acontecendo e que gosta de brincar com nossas vidas. Pense no que Whistler disse sobre os Poderes. Ele não explicou nada, mas quem são eles? O que são eles? E o que exatamente eles fazem?"
"Suponho que nunca saberemos exatamente", Angel sorriu de repente. "Que seja. Poderes ou não, que tal um pouco mais de prazeres terrenos agora? Toda a conversa sobre poderes superiores..." Com isso ele se inclinou sobre ela e conversa não esteve nos planos por um tempo.
"Olhe para eles", Cordélia agarrou o braço do namorado quando eles entraram no Bronze na mesma noite. "Eles estão se agarrando de novo". Ela apontou a caçadora e o ex-vampiro, que estavam colados pelos lábios.
"Nojento, você tem razão", gemeu ele, e sacudiu a cabeça. "Ei!" Exclamou quando alguém esbarrou neles. Virando-se, seus olhos caíram sobre Willow e Oz, que tinham acabado de chegar. "Não olham por onde andam?" Perguntou irritado, massageando as costas onde o cotovelo do lobisomem havia batido.
"Depende", Oz replicou friamente, "se há algo que valha a pena olhar". Sorriu maliciosamente para sua namorada, que deu risadinhas em resposta.
"Ei, não insulte meu namorado. Ele pode ser um idiota, mas eu sou a única que pode dizer isto", Cordélia olhou feio para o outro casal.
Xander virou os olhos. "E, para sua informação, nós paramos porque ficamos quase cegos com as públicas demonstrações de afeto vindas dali".
Willow seguiu os olhos dele e um sorriso se estendeu por seu rosto. "Eles não são adoráveis?" Suspirou alegre. "Oi, Buffy, Angel", acenou para eles e puxou o namorado com ela para juntar-se a eles em sua mesa. Xander e Cordélia se entreolharam e rolaram os olhos, mas seguiram-nos mesmo assim.
"Oi, Willow!" A caçadora deu um sorriso radiante para a ruiva. "Que bom te ver".
Xander a espiou suspeitamente. "Tem algo errado? Você parece uma lâmpada de mil watts".
"Não", replicou Buffy, sorrindo para si mesma e piscando para Angel.
"Qual é o problema?" Perguntou Willow, curiosa. "Algo importante? Algum demônio novo? Um vampiro perigoso? Vocês precisam que eu faça um feitiço ou algo assim?"
"Você precisa viver", Xander sacudiu a cabeça, "e olhe para ela, ela parece que está preocupada? Para mim, ela está é feliz demais".
"Ei, não gostei disso!" Disse a loira em falsa irritação. "Mas não, não existe um grande perigo esperando por mim".
"Nós", Angel corrigiu-a instantaneamente.
Ela sorriu para ele. "Nós", esticou a mão esquerda para acariciar o rosto do noivo.
"Ah, meu Deus!" Os olhos de Cordélia se arregalaram de repente e ela não pôde deixar de encarar a mão esticada da caçadora. "Isso é o que parece ser?"
"O quê?" A cabeça de Willow se virou e, seguindo os olhos da animadora de torcida, os seus se arregalaram também. "Meu Deus!" Exclamou ela.
Enquanto Oz observava tudo com sua frieza impassível, os olhos de Xander dardejavam da bruxa à sua namorada. "O quê?" Ele gritou finalmente.
"Buffy está usando um anel de noivado de diamante", ela esclareceu para ele. "E que anel. Isso deve ter custado uma fortuna. Suponho que tenha sido algo feito especialmente, certo?" Ela fitou o ex-vampiro.
"Certo", confirmou ele.
"Angel?" Perguntou Buffy. Ela nem dedicara um pensamento ao preço do anel que estava usando. Envolta em sua recém-encontrada felicidade, ela agora se sentia mal. Não fazia idéia de Angel podia bancar algo tão caro. "Você não devia ter..."
Ele a parou colocando um dedo nos lábios dela. "Não se preocupe, amor. Posso bancá-lo".
Ela suspirou de alívio. "Ótimo. Agora me sinto melhor".
"Parabéns, Buffy!" Exclamou Willow, e abraçou a amiga e, depois de uma curta hesitação, também abraçou o noivo. "Estou tão feliz por vocês!"
"Parabéns", disse Oz, e seus lábios se curvaram no que parecia ser um sorriso.
"Estou feliz por vocês", Cordélia também sorria. "Mas exijo ser dama de honra".
"Opa!" Angel levantou as mãos. "Não tão rápido. Acabamos de ficar noivos. Não planejamos nos casar tão cedo. Afinal, Buffy não tem nem 18 anos. Pode ter sido normal quando eu nasci, mas agora as pessoas esperam um pouco mais. Provavelmente não vamos nos casar antes dela terminar a faculdade".
"Isso, isso!" Xander encarou o feliz casal. "Bem, pelo menos uma decisão razoável. Não parece a nenhum de vocês que é estranho uma adolescente ser noiva de um homem de 250 anos, para não dizer que o tal é um ex-vampiro que provavelmente matou..." Ele se calou quando viu todos olhando-o feio. "O quê? Estou exibindo os fatos!"
"Esta é uma ocasião feliz, Xand. Não quero ouvir nada disso hoje, entendeu?" Willow exibiu seu rosto de determinação e ergueu o queixo. "Ou se comporta ou pode ir".
"Tá, tá", Xander ergueu as mãos em defesa. "Deus, não me matem".
Angel sacudiu a cabeça e, quando uma música lenta começou a tocar, ele puxou sua namorada para a pista de dança. Mas então parou de novo, sorrindo malicioso para Xander por cima do ombro. "Dê-se por satisfeito que eu não seja mais um vampiro. Ou eu ficaria muito tentado".
Xander estreitou os olhos para ele, enquanto Cordélia e Willow começaram a rir.
C O N T I N U A
